segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Haroldo Saboia eleito presidente do PSOL do Maranhão




O PSOL, Partido Socialismo e Liberdade, realizou no último final de semana, em São Luís, o III Congresso Estadual do Maranhão, que elegeu o ex-deputado federal constituinte Haroldo Saboia seu novo presidente estadual para o próximo triênio.

Também foram eleitos os 27 membros para o Diretório Estadual que indicarão os 13 membros da Comissão Executiva.

Participaram do encontro, realizado no Sindicato dos Bancários, uma centena de delegados, observadores, convidados de todo Estado e o representante da direção nacional do PSOL, Honório de Moraes.

O PSOL está organizado em São Luis, com mais de duzentos filiados, e em cerca de quarenta municípios, entre os quais Imperatriz, Caxias, Timon, Açailândia, Codó, Pedreiras, Paço do Lumiar, São José de Ribamar, Pindaré-Mirim, Bacabal, Buriticupu e Balsas.

O jornalista e professor Franklin Douglas, ex-dirigente petista, foi confirmado também como presidente do Diretório Municipal do PSOL de São Luís.

Carlos Leen, Denise Albuquerque, Franklin Douglas, Haroldo Saboia e Maria do Socorro Pereira representarão o Maranhão no III Congresso Nacional, em São Paulo, no início de dezembro, quando serão eleitos o novo presidente nacional e próxima direção nacional do Partido Socialismo e Liberdade.

Ao falar como presidente eleito Haroldo Saboia ressaltou que o grande desafio do PSOL, no Maranhão, é lutar para reconstruir uma oposição de esquerda que possa enfrentar com coragem os desmandos dos governos da aliança PMDB/PT.

Fonte: Jornal Pequeno, 31/10/2011, p. 04

domingo, 30 de outubro de 2011

A Comissão da Verdade e o mausoléu da mentira

Franklin Douglas

        
A COMISSÃO DA VERDADE

      E O MAUSOLÉO DA MENTIRA

Por unanimidade, o Senado Federal aprovou projeto de lei 88/2011, da Câmara dos Deputados, que cria a Comissão Nacional da Verdade. Pelo que está proposto no projeto, a comissão deverá examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas no período de 1946 até a promulgação da Constituição de 1988. O objetivo é “garantir o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional”. A nova lei aguarda a sanção da presidente Dilma Roussef.
Ainda segundo o projeto, a Comissão da Verdade tem prazo de dois anos para a conclusão dos trabalhos. Terá uma equipe e dotação orçamentárias próprias. Entre suas prerrogativas, está a solicitação de informações, dados e documentos de quaisquer órgãos e entidades do poder público, mesmo se classificados com o mais alto grau de sigilo, além de poder determinar a realização de perícias e diligências para coleta ou recuperação de informações, documentos e dados.
A Comissão será composta por sete membros, designados pela Presidência da República, dentre brasileiros de reconhecida idoneidade e conduta ética, identificados com a defesa da democracia e com o respeito aos direitos humanos. Esses membros não poderão ter cargos executivos em agremiações partidárias ou cargo em comissão ou função de confiança em quaisquer esferas do poder público. Receberão remuneração mensal de R$ 11.179,36.
Comissões da Verdade espalham-se pela América Latina, especialmente nos países onde ditaduras militares foram instaladas e sufocaram o processo democrático, como na Argentina, Chile, Peru, Equador. Como analisa o professor da Escola de Psicologia da Universidade da Costa Rica, Ignacio Dobles Oropeza, autor do livro “Memórias da dor: Considerações acerca das Comissões da Verdade na América Latina”, a instituição dessas comissões consolida a ideia de que não enfrentar a verdade é liquidar o passado, pois “o problema é que as feridas não vão se fechar nunca para as vítimas”.
A comissão da Verdade é um importante passo rumo à memória da luta do povo brasileiro, especialmente no período no qual a Ditadura Militar (1964-1985) usou todo o aparelho do Estado para reprimir, torturar e aniquilar a oposição – armada ou não – ao regime dos generais, apoiado amplamente também por civis, como José Sarney no Maranhão. Enquanto se nutria do apoio das oligarquias locais, a Ditadura massacrava e perseguia seus opositores, a exemplo do líder camponês Manoel da Conceição, ainda vivo para contar a tortura que sofreu no pau-de-arara.
Em audiência pública na Assembleia Legislativa, os deputados Bira do Pindaré e Domingos Dutra propuseram a constituição de um Comitê da Verdade maranhense, que auxilie a Comissão Nacional da Verdade a recontar também a história de maranhenses que foram perseguidos nesse período, como Augusto Marques, Maria Aragão, William Moreira Lima, Manoel da Conceição, Dom Xavier, Wagner Baldez e tanto outros.
É uma iniciativa correta e coerente com a luta do povo maranhense. Precisa ser aprimorada, com a criação, por lei, de uma Comissão da Verdade do Maranhão, para que, assim, saibamos se a governadora Roseana permitirá que a verdade venha à tona sobre o período que seu pai dizia reinar a paz no Maranhão... seja pelo comitê, seja pela Comissão da Verdade maranhense, o povo do Maranhão ficará sabendo que essa é mais uma lorota da oligarquia, tal como a “estatização” da Fundação José Sarney, proposta exatamente por aquela que já foi musa do neoliberalismo nos tempos de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002, ele presidente da República; ela, governadora do Maranhão). A mesma “neoliberal” que impôs gerências, Plano de Demissão “Voluntária” de servidores públicos e a privatização da CEMAR, do BEM (Bando do Estado do Maranhão), da COPEMA, implantando o neoliberalismo do Estado Mínimo. Agora se vê: é estado mínimo para o povo, e máximo para custear a fundação do próprio pai...
A aprovação do projeto de 259/2011 pela Assembleia Legislativa do Maranhão, em regime de urgência, promovendo uma série de alterações na natureza jurídica da Fundação José Sarney e a criação da Fundação da Memória Republicana Brasileira, nada mais é do que instituir uma fundação, com o dinheiro público, dos impostos pagos por nós, para passar uma mentira às próximas gerações, a de que o Maranhão possuiu um estadista, um promotor da democracia, um homem público republicano, do tudo pelo social, e não um oligarca, a serviço do governo (qualquer que seja o de plantão: de generais a operário), apegado ao mandonismo, ao clientelismo e ao poder a ponto de, mesmo perdendo as eleições nas urnas, tomá-la de seu adversário via golpe judiciário, incapaz de retirar, em quase 50 anos de controle político, o povo de seu estado do analfabetismo, da miséria, da fome, da morte por falta de hospitais: nada pelo social!
Estarrece saber, por exemplo, que, como patrono e tutor da fundação, Sarney terá sua vaga preenchida no conselho da fundação por seus herdeiros, patrimonialismo típico das monarquias e das leis da Constituição do Império, de 1824. Kadaffi é fichinha perto do “nosso ditador”...
Como bem anota o jornalista Emílio Azevedo, editor do jornal Vias de Fato, se o Brasil avança ao criar sua Comissão Nacional da Verdade, o Maranhão regride ao criar o mausoléu da mentira para José Sarney.


Franklin Douglas, jornalista e professor, escreve para o Jornal Pequeno
aos domingos, quinzenalmente
Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 29/10/2011, página 20)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Poesia de Quinta - número 141

Por Deíla Maia

Pessoal, 

Desculpem a demora em postar novas poesias. É que estou passando por um período complicado. As dores e delícias da maternidade.. Enfim. 
 
Ontem ouvi na TV um trecho desta poesia e achei realmente bela. Fiquei até admirada, pois não é muito comum ouvir poesias na Globo. Aí me deu vontade de ler a íntegra e compartilhar com vcs. Espero que gostem. A Poesia é de João Cabral de Melo Neto e se chama "Relógio". Uma bela reflexão sobre o tempo. Espero que gostem. 
 
Ofereço esta poesia carinhosamente à minha amiga Viraneide. 

Beijos.

Deíla


O RELÓGIO | joão cabral de melo neto


1.

Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.

Se são jaulas não é certo;
mais perto estão das gaiolas
ao menos, pelo tamanho
e quebradiço de forma.

Umas vezes, tais gaiolas
vão penduradas nos muros;
outras vezes, mais privadas,
vão num bolso, num dos pulsos.

Mas onde esteja: a gaiola
será de pássaro ou pássara:
é alada a palpitação,
a saltação que ela guarda;

e de pássaro cantor,
não pássaro de plumagem:
pois delas se emite um canto
de uma tal continuidade

que continua cantando
se deixa de ouvi-lo a gente:
como a gente às vezes canta
para sentir-se existente.


2.

O que eles cantam, se pássaros,
é diferente de todos:
cantam numa linha baixa,
com voz de pássaro rouco;

desconhecem as variantes
e o estilo numeroso
dos pássaros que sabemos,
estejam presos ou soltos;

têm sempre o mesmo compasso
horizontal e monótono,
e nunca, em nenhum momento,
variam de repertório:

dir-se-ia que não importa
a nenhum ser escutado.
Assim, que não são artistas
nem artesãos, mas operários

para quem tudo o que cantam
é simplesmente trabalho,
trabalho rotina, em série,
impessoal, não assinado,

de operário que executa
seu martelo regular
proibido (ou sem querer)
do mínimo variar.


3.

A mão daquele martelo
nunca muda de compasso.
Mas tão igual sem fadiga,
mal deve ser de operário;

ela é por demais precisa
para não ser mão de máquina,
e máquina independente
de operação operária.

De máquina, mas movida
por uma força qualquer
que a move passando nela,
regular, sem decrescer:

quem sabe se algum monjolo
ou antiga roda de água
que vai rodando, passiva,
graças a um fluido que a passa;

que fluido é ninguém vê:
da água não mostra os senões:
além de igual, é contínuo,
sem marés, sem estações.

E porque tampouco cabe
por isso, pensar que é o vento,
há de ser um outro fluido
que a move: quem sabe, o tempo.


4.

Quando por algum motivo
a roda de água se rompe,
outra máquina se escuta:
agora, de dentro do homem;

outra máquina de dentro,
imediata, a reveza,
soando nas veias, no fundo
de poça no corpo, imersa.

Então se sente que o som
da máquina, ora interior,
nada possui de passivo,
de roda de água: é motor;

se descobre nele o afogo
de quem, ao fazer, se esforça,
e que ele, dentro, afinal,
revela vontade própria,

incapaz, agora, dentro,
de ainda disfarçar que nasce
daquela bomba motor
(coração, noutra linguagem)

que, sem nenhum coração,
vive a esgotar, gota a gota,
o que o homem, de reserva,
possa ter na íntima poça.

Em tempo:
Atualizando a coluna. Essa Poesia de Quinta nº 141 foi originalmente enviada em 28/10/2011

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Cidadãos do mundo já somam quase de 800 mil em apoio a OCUPE WALL STREET

"Milhares de norte-americanos ocuparam sem violência a Wall Street - um epicentro do poder financeiro global e da corrupção. Eles são os últimos raios de luz em um novo movimento pela justiça social que está se espalhando rapidamente pelo mundo: de Madrid a Jerusalém e a 146 outras cidades, com outras aderindo a cada instante. Mas eles precisam de nossa ajuda para triunfarem." (manifesto de apoio à ocupação de Wall Estreet, no Avaaz.org - o mundo em ação) 

Já somos quase 800 mil em apoio ao movimento OCUPE WALL STREET. Assine você também aqui.

Abaixo, a jornalista e ativista canadense Naomi Klein escreve sobre o movimento.


A coisa mais importante do mundo: "Ocupe Wall Street"
NAOMI KLEIN
Uma coisa que sei é que 1% das pessoas amam as crises.

Quando o público está em pânico e desesperado, e ninguém parece saber o que fazer, o momento é ideal para forçar a aprovação de uma extensa lista de políticas que beneficiam as empresas: privatizar a educação e a Previdência Social, reduzir os serviços públicos, remover os últimos obstáculos ao poder das grandes companhias. Em meio à crise, isso vem acontecendo no mundo inteiro.

Só existe uma coisa capaz de bloquear essa tática, e felizmente é uma coisa muito grande: os outros 99% das pessoas. E esses 99% estão saindo às ruas, de Madison a Madri, para dizer: "Não, não pagaremos pela sua crise".

O slogan surgiu em 2008, na Itália. Ricocheteou para a Grécia, França e Irlanda, e por fim voltou. "Por que eles estão protestando?", indagam os sabichões embasbacados na televisão. Enquanto isso, o resto do mundo pergunta: "Por que demoraram tanto? Estávamos imaginando quando vocês enfim se dignariam a aparecer. Bem-vindos".

Muita gente traçou paralelos entre o movimento "Ocupe Wall Street" e os chamados protestos antiglobalização que conquistaram a atenção do planeta em 1999, em Seattle. Foi a última ocasião em que um movimento mundial, descentralizado e comandado por jovens tomou por alvo direto o poder das empresas. E me orgulho por ter participado daquilo que chamávamos "o movimento dos movimentos".

Mas há diferenças importantes. Por exemplo, nós escolhemos como alvo conferências de cúpula: da Organização Mundial de Comércio (OMC), do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Grupo dos 8. Mas esses eventos são transitórios por natureza, o que nos tornava igualmente transitórios. Aparecíamos, conquistávamos manchetes no mundo todo e em seguida desaparecíamos. E no frenesi e patriotismo excessivo que se seguiram aos ataques do 11 de Setembro, foi fácil nos varrer do cenário, ao menos nos Estados Unidos.

Já o "Ocupe Wall Street" tem alvo fixo. E não definiu um prazo para sua presença, o que é sábio. Apenas quem se mantém firme pode criar raízes. E isso é crucial. Na Era da Informação, muitos movimentos brotam como belas flores, mas logo morrem. Isso acontece porque não criam raízes e não têm planos de longo prazo para se sustentar.

Ser horizontal e profundamente democrático, é maravilhoso. Esses princípios são compatíveis com o árduo trabalho de construir estruturas e instituições firmes para suportar futuras tempestades. Tenho grande fé nisso.

Há mais uma coisa que esse movimento está fazendo direito: assumiu um compromisso para com a não violência. E essa imensa disciplina significou, em incontáveis ocasiões, que as reportagens da mídia tivessem por tema a brutalidade policial, injustificada e repugnante.

Enquanto isso, o apoio ao movimento só cresce.

Mas a maior diferença que a década de distância entre os dois movimentos produziu é que, em 1999, nós estávamos atacando o capitalismo no pico de um boom frenético. O desemprego era baixo, as carteiras de ações propiciavam fortes lucros. A mídia estava embriagada pelo acesso fácil ao dinheiro. Então, todos preferiam falar mais sobre as empresas iniciantes de internet do que sobre os esforços para paralisar atividades reprováveis.

Nós insistíamos em que a desregulamentação que havia possibilitado aquele frenesi teria um custo. Que ela havia rebaixado os padrões trabalhistas. Que prejudicava o meio ambiente. As empresas se tornavam mais poderosas que os governos, e prejudicando nossas democraciasMas, para ser honesta, enfrentar um sistema econômico baseado em cobiça era uma parada indigesta enquanto as coisas iam bem, ao menos nos países ricos.

Passados 10 anos, parecem não existir mais países ricos. Apenas muitas e muitas pessoas ricas. Pessoas que enriqueceram saqueando o patrimônio público e exaurindo os recursos naturais do planeta.

O ponto é que hoje todos podem ver que o sistema é profundamente injusto e está escapando ao controle. A cobiça descontrolada devastou a economia mundial, e está devastando o mundo natural. Estamos pescando demais em nossos oceanos, poluindo nossas águas com exploração petroleira e recorrendo às formas de energia mais sujas do planeta. (...)

Esses são os fatos práticos. São tão gritantes, tão óbvios, que é muito mais fácil agora do que em 1999 promover conexão com o público, e assim expandir o movimento. (...)

Compramos briga com as forças econômicas e políticas mais oderosas do planeta (...)

Temos de tratar esse belo movimento como se fosse a coisa mais importante do mundo. Porque de fato é.


NAOMI KLEIN, 41, é autora de "A Doutrina do Choque -a Ascensão do Capitalismo de Desastre". Reproduzido pelo "New York Times", este discurso saiu inicialmente no "Occupied Wall Street Journal".Tradução de PAULO MIGLIACCI (Folha de São Paulo, 16/10/2011)

O segredo é da... esfinge!

"Esfinge é uma imagem icônica de um leão estendido com a cabeça de um falcão ou de uma pessoa, inventada pelos egípcios do império antigo,  mas uma cultura importada da mitologia gregaAcredita-se que foi construída em torno de 4.500 anos atrás ou 2.500 antes de Cristo (mas há teorias que falam em 50 mil anos atrás, leia aqui).

Havia uma única esfinge na mitologia grega: um leão alado com uma cabeça de mulher ou uma mulher com as patas, garras e peitos de um leão, uma cauda de serpente e asas de águia.

Hera ou Ares mandaram a esfinge de sua casa na Etiópia (os gregos lembraram a origem estrangeira da esfinge) para Tebas e, em Édipo Rei de Sófocles, pergunta a todos que passam o quebra-cabeça mais famoso da história, conhecido como o enigma da esfinge, decifra-me ou devoro-te

Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem três? Ela estrangulava qualquer inábil a responder, dai a origem do nome esfinge, que deriva do grego sphingo, querendo dizer estrangular.


Édipo resolveu o quebra-cabeça: O homem — engatinha como bebê, anda sobre dois pés na idade adulta, e usa um arrimo (bengala) quando é ancião.
Furiosa com tal resposta, a esfinge teria cometido suicídio, atirando-se de um precipício. Versão alternativa diz que ela devorou-se." Mais sobre a esfinge aqui.

domingo, 16 de outubro de 2011

O segredo da esfinge

Franklin Douglas

         
O SEGREDO DA ESFINGE 


Habituada a ser status quo/situação desde que o Brasil é Brasil, parte da burguesia brasileira pena em ser oposição aos governos do lulopetismo (Lula/Dilma): oscila entre uma oposição raivosa e uma docilidade sem projeto. Concebendo o poder apenas como alocado ao aparelho de Estado e ao poder econômico, incompreende a ação política petista fortemente alicerçada na teoria gramsciana, vertente do pensamento marxista que aprofundou o estudo da disputa política sob o Estado moderno.

Para o pensador italiano Antonio Gramsci, em sua concepção ampliada do Estado, temos dois tipos de sociedades:
(a) o que ele denomina de “sociedades ocidentais”, onde há uma relação equilibrada entre a sociedade política e a sociedade civil, e a luta de classes têm como terreno decisivo os aparelhos privados de hegemonia, à medida que visa à obtenção da direção político-ideológica e o consenso. Neste caso o Estado se ampliou e o centro da luta de classe está na “guerra de posição”, numa conquista progressiva ou processual de espaços no seio e por meio da sociedade civil, visando à conquista de posições;
(b) o que identifica como “sociedades orientais”, onde não foi desenvolvida uma sociedade civil forte e autônoma. Nessas, o Estado é tudo e a sociedade civil é primitiva e gelatinosa, na qual a luta de classes se trava fundamentalmente visando à conquista explosiva do Estado restrito, cujo movimento revolucionário se expressa na “guerra de movimento”. Aqui, impõe-se à luta de classes uma estratégia de ataque frontal, voltada diretamente para a conquista e conservação do Estado restrito.
Embora tenha abandonado o objetivo estratégico da teoria de revolução social propugnada por Gramsci, o socialismo, o lulopetismo incorporou em sua ação política os ensinamentos do maior pensador do marxismo ocidental pós-Marx/Engels/Lênin.
Foi assim que Lula firmou-se como liderança metalúrgica no ABC paulista (fim dos anos 1970), criou o Partido dos Trabalhadores (1980), fundou a CUT (1983) e a consolidou como a quarta maior central sindical do mundo, reunindo em torno de si organizações sindicais do campo e da cidade (quase 4.500 sindicatos), incentivou a criação do MST (1984), aproximou-se das comunidades eclesiais bases (CEB´s) da Igreja Católica progressista e atraiu o apoio dos intelectuais de esquerda. Em 30 anos de acúmulo de forças, galgou espaços crescentemente, ocupando, em três eleições presidenciais consecutivas a força política necessária para firmar-se como pólo hegemônico, embora renunciando ao seu projeto de transformação social em 2002 a fim de se eleger presidente da República, com o apoio de parcela da elite que lhe tinha ojeriza.
Eis o segredo da esfinge, caro leitor, cara leitora: sem nunca ter sido oposição, frações da burguesia não cooptadas ao projeto de poder desenvolvimentista do lulopetismo, e não mais socialista, e integrador até mesmo de sua antítese, como o agronegócio, a direita brasileira vê-se nocauteada e sem rumo. Ainda assim, não se afirma e não deixa crescer a opção oposicionista de esquerda que pode lhe tomar o espaço, especialmente porque compreende exatamente a lógica (gramsciana) de construção desse cenário dos últimos 30 anos.
E à oposição de esquerda, o que sobra?
Antes de responder a essa questão, é preciso definir quem é oposição de esquerda no Brasil. Pois bem, trata-se dos sujeitos sociais que contribuíram para a ascensão das teses anticapitalistas defendidas pelo PT, mas não sucumbiram ao encanto do falso poder. Como dizia Frei Betto, o PT chegou ao governo, não ao poder. São, pois, os mesmos movimentos sociais que não se deixaram cooptar, que resistem na realidade concreta a qual vivenciam ao projeto “desenvolvimentista” sem sustentabilidade que continua a massacrar o povo, apesar da válvula de escape do Bolsa Família; que mantém a resistência local às bases políticas que impedem que qualquer tese progressista (como o combate ao trabalho escravo, um código florestal efetivamente que preserve o meio ambiente, o avanço da reforma agrária, etc.) tome corpo sob o governo Dilma (PT/PMDB), a exemplo da oligarquia Sarney, do Maluf, do Collor de Mello, do Renan Calheiros, dentre outros: todos base aliada do lulopetismo no Planalto.
No Brasil e no Maranhão, são sem-terras em conflito pela posse da terra, quilombolas ameaçados de morte, bombeiros ali e trabalhadores dos Correios ou bancários em greve aqui, gente que teima em não ter “vida de gado, (sendo) povo marcado, povo feliz!”, como canta Zé Ramalho, em “admirável gado novo”.
A eles, juntam-se intelectuais de esquerda que reafirmam seus caminhos pela mudança, parte da Igreja Católica e um ator novo: os jovens sob influência das novas tecnologias via internet e redes sociais. Ávidos por dar seu grito, ainda que sem organicidade ou, sob a hegemonia burguesa, refratários a organizações sociais e partidos políticos.
O que resta, então, à oposição de esquerda, aquela que rejeitou o condomínio do Planalto, são as ruas, as lutas! A paciência de acumular forças.
Por isso, a direita, ao mesmo tempo em que enaltece as passeatas contra a corrupção, projetando mobilizações como a de Brasília (com 20 mil participantes) ou de São Paulo (com 2 mil), oculta a segunda maior passeata contra a corrupção realizada no País, a maranhense, com 4 mil pessoas. Isso em sua terceira edição. E por que não a projeta como exemplo? Porque ela recupera a luta orgânica da oposição de esquerda, com direção política anticapitalista e que materializa nas ruas o grito indignado do rock rebelde sem causa do Rock in Rio: “Ei, Sarney, via tomar no...”
Entre os dois pólos que se escolheram como contraponto, o lulopetismo, no governo, e oposição de direita, isolada na sociedade mas absoluta na grande mídia, o caminho da oposição de esquerda é a coerência, a resistência político-ideológica e a (re)construção de novo bloco histórico rumo à efetiva transformação social. Sem medo, como diria Antonio Gramsci, de que é preciso atrair violentamente a atenção para o presente do modo como ele é, se se quer transformá-lo. Nosso desafio é viver sem ilusões, sem nos tornarmos desiludidos. Para isso, basta nos encontrarmos com o povo brasileiro, nas redes sociais, nas lutas e nas ruas.


Franklin Douglas, jornalista e professor, escreve para o Jornal Pequeno
aos domingos, quinzenalmente
Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 16/10/2011 - página 18), originalmente sob o título "O segredo da pirâmide". Equívoco corrigido a partir de observação atenta de leitor do Ecos. Troquei erradamente esfinge por pirâmide muito por conta de ter na cabeça um livro que muito me influenciou na graduação, "O segredo da pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo", de Adelmo Genro Filho. Enfim, sanado o equívoco às 09h52 de 17/10/2011. Vamos ao debate do essencial. 

sábado, 15 de outubro de 2011

15 de outubro - Dia do Professor. Parabéns a todos os colegas...


Tal como na parábola abaixo, 
os professores deveriam cobrar como o caldeireiro!
Parabéns a professores e professoras por nosso dia!!!


O CALDEIREIRO

     Um caldeireiro foi contratado para consertar um enorme sistema de caldeiras de um navio a vapor que não estava funcionando bem.Após escutar a descrição feita pelo engenheiro quanto aos problemas e de haver feito umas poucas perguntas, dirigiu-se à sala de máquinas. Olhou, durante alguns instantes, para o labirinto de tubos retorcidos. A seguir, pôs-se a escutar o ruído surdo das caldeiras e o silvo do vapor que escapava. Com as mãos apalpou alguns tubos. Depois, cantarolando suavemente só para si, procurou em seu avental alguma coisa e tirou de lá um pequeno martelo, com o qual bateu apenas uma vez em uma válvula vermelha. Imediatamente, o sistema inteiro começou a trabalhar com perfeição e o caldeireiro voltou para casa. 
   
      Quando o dono do navio recebeu uma conta de R$ 2.000,00 queixou-se de que o caldeireiro só havia ficado na sala de máquinas durante quinze minutos e solicitou uma conta pormenorizada.

      Eis o que o caldeireiro lhe enviou:
Total ................: R$ 2.000,00
Martelada ..........: R$       0,50
Onde martelar ....: R$ 1.999,50

Parabéns ao Vias de Fato: dois anos de vida


      Esta é nossa 25º edição. Estamos comemorando, neste mês de outubro, dois anos de fundação. (...)
   A imprensa alternativa, na década de 1970, cumpriu um papel político importante no Brasil. A chamada imprensa nanica, ligada diretamente às correntes de esquerda, marcou época, principalmente entre o AI-5 (fim de 1968) e a anistia (1979). Foram dezenas de jornais, casos de O Pasquim e Opinião. Nenhum deles diário. Na ocasião o país vivia dominado por uma ditadura que matava, torturava, censurava, fechava as instituições, reprimia as organizações sociais, as manifestações artísticas, os estudantes e mandava adversários para o exílio.
  Durante a tortuosa “abertura democrática”, já na década de 1980, com o surgimento de partidos progressistas e o avanço de um novo e amplo movimento social, os jornais alternativos perderam espaço no Brasil. Mas, na grande imprensa, a censura (e autocensura) continuou a ocorrer com nova roupagem, sendo driblada na última década pela subversiva comunicação social via internet.
  Consideramos que hoje o Brasil ainda vai muito mal politicamente, com uma “democracia” tão fajuta quanto degenerada. Um regime onde o Poder Judiciário, por exemplo, a cada dia perde mais credibilidade. Ninguém, minimamente informado, deixa de desconfiar atualmente deste Poder. É lamentável, mas é verdade. A começar pelos tribunais superiores. As recentes decisões do Superior Tribunal de Justiça (STF) de anular as provas de três importantes operações da Polícia Federal (PF) - Boi Barrica, Satiagraha e Castelo de Areia - são, sob qualquer aspecto, inadmissíveis. E como se diz em qualquer esquina deste país, é uma merda, mesmo!
  E não tem essa balela de que decisão judicial se cumpre e não se discute. Este tipo de decisão se discute, se critica e se denuncia. Afinal, estas operações da PF investigaram desvio de uma montanha de dinheiro público. Dinheiro da sociedade! Então, esta mesma sociedade pode sim opinar, quando considerar o fato uma cagada feita por alguns ministros do STF.
  Mas, se a coisa está ruim em Brasília, no Maranhão está bem pior, pois o nosso Estado ficou, até hoje, sob o comando de um dos principais representantes da já citada ditadura. Um gangster que se manteve no poder após sucessivas fraudes, criando um ambiente totalitário, que liquidou a oposição, oprimiu e/ou corrompeu os partidos políticos e calou a mídia tradicional, deixando o povo brutalmente submetido à miséria e a diferentes formas de violência.
   É neste contexto, alastrado pelo atraso, que surge no Maranhão, em outubro de 2009, o indiscreto Vias de Fato, um jornal que iria reacender a postura crítica dos anos 70, mas com a marca da contemporaneidade, seis meses após o golpe judiciário que recolocou Roseana no Palácio dos Leões e um ano antes da fraude e do abuso escancarado de poder político e econômico, que manteve no governo a filha do gangster.
  Fundar um jornal é sempre uma atitude política. Independente de ser de direita, esquerda, conservador, progressista, liberal, socialista, capitalista, anarquista, cristão ou comunista. A regra é todo veículo de comunicação nascer a partir de uma vontade de interferir na vida social e política da comunidade onde ele circula. Mesmo quando exacerbam no conteúdo alienado, os jornais colaboram na idiotização de uns, para facilitar a dominação de outros.
  Na atual conjuntura maranhense consideramos que a comunicação alternativa é, antes de tudo, uma necessidade política. Precisamos incentivar no Estado um jornalismo que, além de informar sem medo, estimule um debate quase inexistente, dê voz às organizações de cunho popular e promova uma crítica tão profunda quanto plural. (...) Vamos tocando frente! E obrigado a todos que nos ajudaram a chegar até aqui... (leia o editorial completo aqui)

Ecos 100 mil acessos por UM MILHÃO à favor do Ocupe Wall Street

Ecos das Lutas, em 33 meses - dos quais alguns espaços em branco forçados - alcançou, neste outubro de 2011, a marca superior a 100 mil acessos.

Para um blogue despretensioso e que apenas busca registrar análises e outras versões acerca da realidade maranhense, vamos cumprindo nosso papel.

Assim, não poderíamos deixar de agradecer aos leitoras e leitores, aos colaboradores que nos enviam artigos vez por outra e, especialmente, à Deila Maia, conosco desde o começo (começou com o Poesia de Quinta número 14, já estamos no 140!).

Mas querem dar um presente ao Ecos das Lutas?

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Poesia de Quinta - Número 138

Por Deíla Maia



Ola,
 
Frequentemente, as pessoas têm me perguntado se eu vi o "passarinho verde"... rsrsrs Acho que é porque ando muito feliz ultimamente. Este negócio de ser mãe tem me deixado assim.

E hoje é um dia particularmente especial para mim: meu querido amigo e poeta Pádua irá se tornar um imortal da Academia Maranhense de Medicina às 19h30, no CRM/MA e meu outro amigo e poeta Marcello Chalvinski promoverá um curioso sarau poético entitulado: "Chalvinski Bar: prosa etílica e poesia alucinógena", no Bar Odeon, no Reviver (Rua da Palma) às 23h30. Haja fôlego para hoje...
 
E escolhi um poema do Marcello para abrilhantar a poesia de quinta de hoje. O meu pássaro é verde, o dele é azul...

Vejam mais no blog dele: 
 
Espero que se embriaguem de poesia.

Beijos.

Deíla


Há um pássaro azul no meu coração


Marcello Chalvinski 


há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou muito duro com ele,
e digo, fique aí dentro,
não vou deixar ninguém te ver.
-    há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky em cima dele
e o sufoco com o fumo dos meus cigarros
& as putas & os empregados de bar
& os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
lá dentro.
-     há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou muito duro com ele,
e digo, fique escondido,
quer  me arruinar?
quer foder o
meu trabalho?
quer arruinar
as minhas vendas de livros?

há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou muito esperto,
& só o deixo sair às vezes, à noite
quando todos estão dormindo.

Eu lhe digo: sei que estás aí,
não fique triste.
E depois de algum tempo,
eu o coloco de volta,
Ele canta um pouco lá dentro,
Eu não o deixarei morrer de todo
e dormiremos juntos
assim
com o nosso pacto secreto
que é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e tu?

Em tempo:
Atualizando a coluna. Essa Poesia de Quinta nº 138 foi originalmente enviada em 25/08/2011