Se viva fosse, complateria 99 anos. Assim, iniciamos neste ano de 2009 a caminhada rumo ao centenário de Maria Aragão. Oportunidade para germinar estudos, publicações, seminários e palestras sobre a importância da militância de Maria para o Maranhão.
Abaixo, registro o artigo que escrevi quando da escolha do maranhense do século, campanha nacional da Globo e suas afiliadas (Mirante, no Maranhão), feita em 2003. Deu João do Vale, Maria ficou em segundo. Foi a melhor dupla que os maranhenses poderiam escolher para serem referência do século XX.
Todos por Maria!
Em relação às iniciativas da Rede Globo, o passado da emissora de Roberto Marinho nos obriga a colocar dois, e não apenas um pé atrás. Nascida por meio de uma negociação inconstitucional (acordo Globo–grupo americano Time Life), condenada em investigações de CPI do Congresso Nacional, em 1965, a Rede Globo se consolidou como a maior TV brasileira nestes últimos 35 anos. Isso a partir de um ostensivo apoio ao regime militar e de dar apoio – e ser apoiada – pelos governos que passaram pela República pós-Ditadura (Sarney, Collor, FHC).
A mais recente destas iniciativas da telinha do plim-plim, porém, merece que tiremos o chapéu. A eleição das personalidades do século – que compõe o projeto da emissora Nordestinos do Século XX – pelo povo de cada Estado é uma ação que nos faz refletir sobre o que construímos enquanto civilização nestes últimos 100 anos. E, em voto popular, a legítima escolha por aquele(a) que acreditamos simbolizar essa caminhada para os maranhenses.
Uma iniciativa comprobatória do poder ideológico da emissora do Jardim Botânico, que vem construindo significativa parte dos símbolos pelos quais o povo brasileiro vem se alimentando. Mas que, ao contrário de outras anteriores, traz um traço menos unilateral, mais horizontal e democratizante. A palavra final na escolha do maranhense do século é nossa: consumidores e/ou cidadãos.
Assim, mais do que declarar o voto em Maria Aragão como personalidade maranhense do século XX, quero conclamar a cidadania maranhense a ter uma ação ativa neste processo.
Se a disputa de mercado impõe à Rede Globo/Mirante a nos consultar, o nosso compromisso com a história de resistência do povo do Maranhão (do negro Cosme às manifestações populares pelo fim do crime organizado, passando pelas greves de 51 e de 79 - pela meia passagem – e ocupações camponesas e urbanas) nos chama a desenvolver um amplo processo de mobilização em torno da consolidação de Maria Aragão como ícone da história dos oprimidos maranhenses, esquecida nas páginas dos livros didáticos em nossas escolas.
Como sindicalista e fundadora da CUT, Maria Aragão lutou pela organização dos trabalhadores. A todos, sindicalistas e sindicalizados, que lutam por melhores salários, mais emprego e melhores condições de vida, cabe o voto em Maria.
Como professora, Maria Aragão defendeu um ensino público e gratuito. A todos, estudantes e professores, que lutam por uma educação de qualidade, cabe o voto em Maria.
Como médica, Maria Aragão exigiu uma sáude de qualidade e universal. A todos, profissionais da área de sáude e comprometidos com um sistema eficiente de saúde pública, cabe o voto em Maria.
Como negra e mulher, Maria Aragão se rebelou contra as discriminações étnicas e de gênero. A todos que não se calam diante dos desrespeitos aos direitos humanos, cabe o voto em Maria.
Como militante oposicionista, Maria Aragão resistiu ao autoritarismo e à Ditadura Militar. A todos que acreditam na Democracia como elemento fundamental de construção de uma nova sociedade, cabe o voto em Maria.
Enfim, penso que, mesmo não sendo Maria Aragão eleita a personalidade maranhense do século, terá sido válido e vitorioso o movimento que, uma vez mais, confirme Maria como o exemplo e a referência popular da História do Povo maranhense.
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