quinta-feira, 19 de março de 2009

Poesia de Quinta

Poesia de Quinta - número 24
Por Deila Maia

A Poesia de Quinta de hoje vai especialmente dedicada ao meu querido amigo Ferdinando Serejo que, assim como eu, gosta de fazer reflexões filosóficas e poéticas, sobre os mais variados temas.

Tivemos uma conversa recentemente, assistindo a um show de blues aqui em São Luís, em que surgiu este assunto do curioso gosto pelos paradoxos nas poesias chinesas e, também, no pensamento chinês de um modo geral. Por exemplo, para eles, a harmonia de uma música está justamente no silêncio entre as notas. Bonito, não?

E refletindo sobre a importância do vazio, do não-ser, do metafísico, do que está para além da matéria, escolhi o Poema 11 do livro "TAO TE CHING - o livro que revela Deus", de Lao-Tsé. O grifo no final do poema é meu. Espero que gostem e que lhe toquem fundo no coração...

Este é um pequeno livro, lindo, de leitura não muito fácil, que exige bastante da mente, até porque é uma FORMA DE PENSAR bem diferente da nossa cultura ocidental. Pelo menos, é esta a minha opinião sobre ele. Eu li este livro em 2004 e, até hoje, ele mexe muito com a minha cabeça.

A história deste livro é bastante peculiar: foi escrito por volta do século VI a.C, por Lao-Tsé, fundador do Taoísmo. Segundo a lenda, ele teria escrito esta obra no final da sua vida, quando já tinha mais de 80 anos, quando ele estava se retirando da China, por discordar da forma como o país vinha sendo administrado. Em uma noite apenas, ele escreveu toda a obra (81 poemas), com o objetivo de deixar o legado da sua sabedoria para o guarda da fronteira da China. É um livro riquíssimo em ensinamentos e cuja leitura eu recomendo, principalmente para os amantes e curiosos acerca da cultura oriental.

Beijos metafísicos para todos!!!!



Poema 11
A ATUAÇÃO DO INVISÍVEL NO VISÍVEL -
Lao-Tsé

Trinta raios convergentes no centro
Tem uma roda,
Mas somente os vácuos entre os raios
É que facultam seu movimento.
O oleiro faz um vaso, manipulando a argila,
Mas é o oco do vaso que lhe dá utilidade.
Paredes são massas com portas e janelas,
Mas somente o vácuo entre as massas
Lhes dá utilidade-
Assim são as coisas físicas,
Que parecem ser o principal,
Mas o seu valor está no metafísico
.

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