A revista Carta Capital desta semana esgotou nas bancas da cidade. Ela aborda a cassação do governador Jackson Lago e, na capa, alerta aos brasileiros e brasileiras: Sarney é o senhor do Maranhão e o rei do tapetão.
Se depender dos maranhenses, diremos que não: desta vez o tapetão não vai valer e a Democracia no Maranhão vai vencer!
Da matéria, Ecos das Lutas extrai a entrevista realizada por Sérgio Lírio, enviado especial a São Luís. Confira.
ENTREVISTA
Sereno e otimista. In extremis
Jackson Lago diz ainda confiar na sua permanência no cargo e nega os crimes apontados pelo Tribunal
Depois de cumprir uma agenda pública de eventos, Jackson Lago recebeu Carta Capital no escritório da residência oficial. Sereno, declarou-se otimista com o desfecho do processo no TSE. "Vou completar o meu mandato", afirmou.
CartaCapital: Como o senhor passou a noite?
Jackson Lago: Na realidade, assistimos a um julgamento sem uniformidade, muito heterogêneo. Segundo os advogados, isso permite a retomada da batalha jurídica, com amplas possibilidades.
CC: O senhor está otimista?
JL: Sim. Não há nenhuma convicção firmada pelo conjunto do Tribunal. O que tornou possível a decisão deles? Fui a um ato público de aniversário da cidade de Codó no dia 16 de abril. Ela completava 110 anos, cujo prefeito é meu companheiro de partido e me convidou. Abril foi muito antes das convenções partidárias. Não havia nenhuma evidência de candidatura. Qual é o crime eleitoral, portanto?
CC: Mas o Ministério Público Eleitoral viu claras provas de crime.
JL: Não tem fundamento, não se sustenta.
CC: Na madrugada, ao fim do julgamento, o senhor disse que é preciso defender posições, inclusive com o risco da própria vida. Até onde o senhor vai para defender o seu mandato?
JL: Temos de fazer tudo que acreditamos. E eu acredito, primeiro, na Justiça. E no processo democrático. É preciso procurar, por meio da Justiça, consolidar o processo democrático. Se isso for impossível, coisa que não creio, pois entendo que é perfeitamente possível, é necessário ver o que pretende fazer a população que está sendo usurpada. Foi por isso que disse: se esta população quiser fazer valer os seus direitos, pode contar comigo.
CC: Há quanto tempo o senhor está na política?
JL: Estou na política desde a época de estudante, do início da minha vida acadêmica no Rio de Janeiro...
CC: O senhor imaginou, em algum momento, que enfrentaria uma situação como esta?
JL: Nunca tive nenhuma ilusão sobre a correlação de forças aqui do estado. Este desnível entre as elites que decidem e as correntes da população que pretendemos representar. Não é a primeira vez que isso acontece. Em 2002, fui candidato a governador. Tive 42% dos votos. O então candidato da família Sarney, José Reinaldo Tavares, teve 48%. Outros dois tiveram 5% cada um. Ou seja, os meus e os votos dos outros candidatos somavam 52%. Mesmo assim, não teve segundo turno. O Sarney conseguiu um milagre lá em Brasília, no TSE, se não me engano presidido pelo atual ministro da Defesa, Nelson Jobim. Anulou os 5% de um dos partidos. E o que era 48% do Zé Reinaldo virou 50% e um pouquinho.
CC: A que o senhor atribui esses "milagres" da família Sarney?
JL: Um longo período de convivência com o poder. Civil, militar. Direita, esquerda, o Sarney está sempre lá. A situação do Maranhão é diferente da dos outros estados. Por que em todos os outros estados a alternância de poder é uma rotina e aqui não? Por que ela não é aceita? Em 1984, quando o povo saiu na expectativa das Diretas, foi derrotado pelo Sarney, dentro do Congresso, e pelo general Newton Cruz, nas ruas. Mas o Brasil é o país dos acordos, dos acordões. Qual foi a resultante? As Diretas derrotadas e, nas indiretas, tivemos o doutor Tancredo e o Sarney, presidente do partido da ditadura, candidato a vice. Para completar a obra, o doutor Tancredo morre e o Sarney vira presidente. No fim dos 21 anos do autoritarismo, todos os estados respiraram, encontram espaço. Mas aqui não. Foi o contrário. O homem que parecia cair junto com a estrutura que cedia acabou presidente da República. Foram mais vinte anos de controle. E agora, que houve alternância de poder, forja-se um processo para tentar mostrar que eles é que mandam, quando perdem no voto popular, mas ganham no tapetão.
CC: Se o TSE confirmar a cassação, o senhor pretende continuar na vida política?
JL: Na maior parte da minha vida, não tive mandato. Tenho projetos, objetivos, aos quais me dedico.
CC: Mas o senhor voltaria a se candidatar?
JL: Olha, se a população quiser e eu tiver saúde. Tenho consciência da minha responsabilidade social. Sou um soldado. Mas não tenho dúvida: completarei o meu mandato.
CC: Qual a maior dificuldade que o senhor enfrenta no governo?
JL: Há carências históricas fantásticas. Para se ter uma ideia, em oito anos, a Roseana construiu três escolas. Três. Com dois anos de governo, entreguei 160. Isso é uma gota d'água nas necessidades. Temos de fazer várias dezenas de escola. A Polícia Civil tem um efetivo de 1,5 mil funcionários. Vamos dar posse a 509. É um terço a mais da força. Mas não é nada. Tudo que se está fazendo em termos de oferta de serviços, principalmente na área de educação, é uma gota. Houve intencionalidade, ao longo de décadas, de manter as pessoas desinformadas para mais facilmente dominá-las. Então, tudo é difícil, apesar de também estarmos vivendo momentos muito importantes e alvissareiros no estado.
CC: O senhor se ressente pela aliança do presidente Lula com Sarney?
JL: Não. Tenho boa relação com o governo dele, com quase todos os ministros, com exceção de um, o de Transportes. Este não deixa que aconteça nada noMaranhão.
CC: E a relação com Lula?
JL: É muito boa. Agora é claro que há as alianças...
CC: O senhor já cobrou dele o fato de nunca ter visitado São Luís?
JL: Não, seria uma indelicadeza. Temos de compreender que ele precisa ter relações políticas. Se olharmos, o Senado é um poder de relativo equilíbrio. São 81 senadores e há um político que controla cerca de 10% desse poder... Então é preciso compreender essas relações. O lamentável é que se utilizem desse peso para tirar proveito. É lamentável a pobreza política do Brasil contemporâneo. Tem de acontecer alguma coisa para dar um choque nisso. Estamos em um processo de muita degradação, de muito desrespeito aos valores éticos.
Se depender dos maranhenses, diremos que não: desta vez o tapetão não vai valer e a Democracia no Maranhão vai vencer!
Da matéria, Ecos das Lutas extrai a entrevista realizada por Sérgio Lírio, enviado especial a São Luís. Confira.
ENTREVISTA
Sereno e otimista. In extremis
Jackson Lago diz ainda confiar na sua permanência no cargo e nega os crimes apontados pelo Tribunal
Depois de cumprir uma agenda pública de eventos, Jackson Lago recebeu Carta Capital no escritório da residência oficial. Sereno, declarou-se otimista com o desfecho do processo no TSE. "Vou completar o meu mandato", afirmou.
CartaCapital: Como o senhor passou a noite?
Jackson Lago: Na realidade, assistimos a um julgamento sem uniformidade, muito heterogêneo. Segundo os advogados, isso permite a retomada da batalha jurídica, com amplas possibilidades.
CC: O senhor está otimista?
JL: Sim. Não há nenhuma convicção firmada pelo conjunto do Tribunal. O que tornou possível a decisão deles? Fui a um ato público de aniversário da cidade de Codó no dia 16 de abril. Ela completava 110 anos, cujo prefeito é meu companheiro de partido e me convidou. Abril foi muito antes das convenções partidárias. Não havia nenhuma evidência de candidatura. Qual é o crime eleitoral, portanto?
CC: Mas o Ministério Público Eleitoral viu claras provas de crime.
JL: Não tem fundamento, não se sustenta.
CC: Na madrugada, ao fim do julgamento, o senhor disse que é preciso defender posições, inclusive com o risco da própria vida. Até onde o senhor vai para defender o seu mandato?
JL: Temos de fazer tudo que acreditamos. E eu acredito, primeiro, na Justiça. E no processo democrático. É preciso procurar, por meio da Justiça, consolidar o processo democrático. Se isso for impossível, coisa que não creio, pois entendo que é perfeitamente possível, é necessário ver o que pretende fazer a população que está sendo usurpada. Foi por isso que disse: se esta população quiser fazer valer os seus direitos, pode contar comigo.
CC: Há quanto tempo o senhor está na política?
JL: Estou na política desde a época de estudante, do início da minha vida acadêmica no Rio de Janeiro...
CC: O senhor imaginou, em algum momento, que enfrentaria uma situação como esta?
JL: Nunca tive nenhuma ilusão sobre a correlação de forças aqui do estado. Este desnível entre as elites que decidem e as correntes da população que pretendemos representar. Não é a primeira vez que isso acontece. Em 2002, fui candidato a governador. Tive 42% dos votos. O então candidato da família Sarney, José Reinaldo Tavares, teve 48%. Outros dois tiveram 5% cada um. Ou seja, os meus e os votos dos outros candidatos somavam 52%. Mesmo assim, não teve segundo turno. O Sarney conseguiu um milagre lá em Brasília, no TSE, se não me engano presidido pelo atual ministro da Defesa, Nelson Jobim. Anulou os 5% de um dos partidos. E o que era 48% do Zé Reinaldo virou 50% e um pouquinho.
CC: A que o senhor atribui esses "milagres" da família Sarney?
JL: Um longo período de convivência com o poder. Civil, militar. Direita, esquerda, o Sarney está sempre lá. A situação do Maranhão é diferente da dos outros estados. Por que em todos os outros estados a alternância de poder é uma rotina e aqui não? Por que ela não é aceita? Em 1984, quando o povo saiu na expectativa das Diretas, foi derrotado pelo Sarney, dentro do Congresso, e pelo general Newton Cruz, nas ruas. Mas o Brasil é o país dos acordos, dos acordões. Qual foi a resultante? As Diretas derrotadas e, nas indiretas, tivemos o doutor Tancredo e o Sarney, presidente do partido da ditadura, candidato a vice. Para completar a obra, o doutor Tancredo morre e o Sarney vira presidente. No fim dos 21 anos do autoritarismo, todos os estados respiraram, encontram espaço. Mas aqui não. Foi o contrário. O homem que parecia cair junto com a estrutura que cedia acabou presidente da República. Foram mais vinte anos de controle. E agora, que houve alternância de poder, forja-se um processo para tentar mostrar que eles é que mandam, quando perdem no voto popular, mas ganham no tapetão.
CC: Se o TSE confirmar a cassação, o senhor pretende continuar na vida política?
JL: Na maior parte da minha vida, não tive mandato. Tenho projetos, objetivos, aos quais me dedico.
CC: Mas o senhor voltaria a se candidatar?
JL: Olha, se a população quiser e eu tiver saúde. Tenho consciência da minha responsabilidade social. Sou um soldado. Mas não tenho dúvida: completarei o meu mandato.
CC: Qual a maior dificuldade que o senhor enfrenta no governo?
JL: Há carências históricas fantásticas. Para se ter uma ideia, em oito anos, a Roseana construiu três escolas. Três. Com dois anos de governo, entreguei 160. Isso é uma gota d'água nas necessidades. Temos de fazer várias dezenas de escola. A Polícia Civil tem um efetivo de 1,5 mil funcionários. Vamos dar posse a 509. É um terço a mais da força. Mas não é nada. Tudo que se está fazendo em termos de oferta de serviços, principalmente na área de educação, é uma gota. Houve intencionalidade, ao longo de décadas, de manter as pessoas desinformadas para mais facilmente dominá-las. Então, tudo é difícil, apesar de também estarmos vivendo momentos muito importantes e alvissareiros no estado.
CC: O senhor se ressente pela aliança do presidente Lula com Sarney?
JL: Não. Tenho boa relação com o governo dele, com quase todos os ministros, com exceção de um, o de Transportes. Este não deixa que aconteça nada noMaranhão.
CC: E a relação com Lula?
JL: É muito boa. Agora é claro que há as alianças...
CC: O senhor já cobrou dele o fato de nunca ter visitado São Luís?
JL: Não, seria uma indelicadeza. Temos de compreender que ele precisa ter relações políticas. Se olharmos, o Senado é um poder de relativo equilíbrio. São 81 senadores e há um político que controla cerca de 10% desse poder... Então é preciso compreender essas relações. O lamentável é que se utilizem desse peso para tirar proveito. É lamentável a pobreza política do Brasil contemporâneo. Tem de acontecer alguma coisa para dar um choque nisso. Estamos em um processo de muita degradação, de muito desrespeito aos valores éticos.
Cara cuidado como a publicação de conteúdo proprietário, não esqueça os direitos autorais da revista.
ResponderExcluirOk, recebi o conteúdo por email. Obrigado pela participação.
ResponderExcluirNÃO CONSEGUI A MATÉRIA NA ÍNTEGRA... GOSTARIA DE QUE, SE POSSÍVEL, ME ENVIASSE A MESMA!
ResponderExcluirweyder2809@hotmail.com
Parabéns pela matéria...estou de alma lavada..
ResponderExcluiré uma pena quem nem todos os meios de comunicação nacional vêm mostrando o mesmo respeito a situação e a pessoa de Jackson Lago
att., Laíse Frasão