Por Haroldo Saboia
Não há hipótese de permanência de José Sarney na Presidência do Congresso Nacional sem a institucionalização do terror, da caça às bruxas, do aniquilamento da resistência ética e democrática no Senado Federal.
Patrono da nomeação como Diretor-Geral do Sr. Agaciel Maia, há catorze anos, ao exercer o primeiro de três mandatos como Presidente da Casa, Sarney é o responsável político pelos atos de seu mais graduado funcionário de confiança.
Atos que constituem verdadeira afronta à opinião pública nacional e que têm como mais grave efeito a descrença popular na representação política, no processo democrático. Se os setores mais conscientes da sociedade são tomados por fortes sentimentos de indignação, por outro lado parcelas da população reagem com a indiferença resultante do fenômeno da banalização do mal.
Neste contexto, o não afastamento de Sarney expressaria antes de tudo o triunfo dos mais grosseiros aos mais requintados métodos de ameaças e chantagens utilizados pelo senador do Amapá contra o Presidente Lula e o PT, contra as lideranças dos mais diferentes partidos e todo o conjunto de senadores.
Sarney quando acena com sua renúncia ao cargo não o faz em respeito ao sentimento da Nação e, sim, como manobra suja e surrada, tola tentativa de assustar o PT e o Presidente Lula com o espantalho do PSDB na Presidência da Mesa.
Ora, todos sabem que em face da renúncia do Presidente, o primeiro-vice (senador tucano Marconi Perillo) regimentalmente assume apenas em caráter provisório, sendo obrigado a convocar nova eleição para o resto do mandato da Presidência.
Surpreende a reação do Presidente Lula, no episódio. Parece capturado pelo súbito maniqueísmo de Sarney, para quem a referência político-ideológica (direita, esquerda) nunca teve valor nenhum.
Para o ex-presidente da Arena e da PDS (caricaturas partidárias que sustentaram a ditadura militar), os partidos somente “valem o quanto pesam” na aritmética do poder: não esqueçamos que há dois meses Sarney tudo fez para conquistar o apoio tanto do PSDB como dos DEMOS-PFL (que obteve) contra o candidato do PT, Tião Viana.
Não é a primeira vez que a astúcia de Sarney supera o apuradíssimo faro político de Lula.
Em fevereiro, sua eleição à Presidência do Senado da República resultou de um movimento de articulação dos setores mais fisiológicos e conservadores do Parlamento e da sociedade.
Sarney, então – e por várias vezes defendi este ponto de vista neste espaço – impôs seu nome e venceu, contra o PT e contra Lula.
Ao negar sua candidatura reiteradas vezes; ao driblar Lula outras tantas (adiando sucessivamente, por motivos os mais prosaicos, audiências marcadas com o Presidente), Sarney assistiu com arrogante indiferença ao lançamento da candidatura do Tião Viana. É que tinha consciência tanto da superioridade numérica de sua candidatura em relação à do senador petista como – o que constitui o dado mais importante – da reação pragmática de Lula face a qualquer resultado daquela disputa.
Sarney ganhou e, como previa, ganhou e levou Lula pelo laço..., pelo laço do pragmatismo do Presidente.
Mas nem Lula nem Sarney, por mais fortes que se imaginassem, não conseguiram abafar o mau cheiro que anos de corrupção fizeram exalar, não dos porões, mas dos gabinetes da alta hierarquia dos membros e da burocracia do Senado.
Também não conseguiram convencer a opinião pública ou neutralizar o sentimento da sociedade.
Lula não tem a mínima noção do desgaste político que está acumulando com esse seu apoio para-ético a Sarney.
Melhor faria se ouvisse as sábias palavras de Millor Fernandes, em janeiro de 1988, quando Sarney usou e abusou de todos os expedientes, dos mais espúrios, para arrancar um quinto ano de mandato da Constituinte.
Eis Millor Fernandes ao comentar o livro de Sarney “BREJAL DOS GUAJÁS”:
-“Fiquei estarrecido. Não se pode confiar o destino de um povo, sobretudo neste momento especialmente difícil, a um homem que escreve isso.
(...) Não escrevi imediatamente sobre o livro por uma questão de... piedade. Mas agora, depois da jogada de gigantesca corrupção em que, como medíocre ditador, troca a esperança de 140 milhões de brasileiras e brasileiros por mais um ano de sua gloríola regada a jerimum, começo uma pequena análise dessa ópera de 50 páginas.
Esclareço logo que não se trata de um caso de má, ou até mesmo péssima, literatura, de uma opinião malévola ou discutível.
Em qualquer país civilizado BREJAL DOS GUAJAS seria motivo de IMPEACHMENT.”
Fora Sarney! Impeachment nele!
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