quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Poesia de Quinta - Número 46

Por Deíla Maia

Pessoal

Como a maioria das pessoas que me conhecem já deve saber, não gosto de datas comerciais, destas criadas para nos estimular (às vezes até "obrigar") a comprar presentes, ir a restaurantes etc. etc.

Gosto das datas especiais, criadas por nós mesmos, ou mais ainda, dos dias comuns que a gente torna especial por algum motivo (ou até sem motivo). Assim, as quintas-feiras são sempre um dia especial para mim, devido à Poesia de Quinta.

E aproveitando este meu momento de bom humor, e como agosto é o mês do Dia dos Pais, e eu gosto de ser diferente, rsrsrsrs, resolvi homenagear às mulheres... E por isso escolhi a poetisa (ou poeta, como queiram!!!) ADÉLIA PRADO. Até porque, com este poema, ela parafraseia um conhecido poema de Carlos Drummond de Andrade, que é o Poema de Sete Faces, em que ele começa assim: "Quando nasci, um anjo torto, desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida! ..."

O Poesia de Quinta de hoje vai especialmente dedicado a uma mulher batalhadora e guerreira, que curte muito estes nossos momentinhos poéticos, minha querida e eterna profa. Oriana Gomes. E a todas as outras mulheres que se desdobram para cumprir seus múltiplos papéis.

Beijos.
Deíla


COM LICENÇA POÉTICA
Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

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