Marighella é um exemplo de vida. Sua luta foi por um Brasil socialista, sem desigualdades, justo e soberano. Soube guiar-se pela medida certa da relação entre institucionalidade e movimento popular. Foi um dos mais bem votados deputados federais do PCB. Empurrado para a luta armada pela Ditadura, manteve-se firme até ser brutalmente assassinado.
Como li, não recordo bem onde, ninguém fala dos 40 anos de um ou outro milico que liderou a Ditadura Militar no País. Mas muitos relembram de Carlos Marighella. Eis a diferença do que fica para a História.
Na entrevista abaixo, da historiada Denise Rollemberg (no IHU on line), conheça mais essa figura histórica de nosso país que, neste 4 de novembro, saiu da vida e entrou para a História popular brasileira.
MARIGHELLA - 40 ANOS DEPOIS
“Ele foi o grande líder da luta armada no Brasil”. Assim, a pesquisadora e historiadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Denise Rollemberg, define Carlos Marighella, político guerrilheiro brasileiro e um dos principais defensores da criação de um estado socialista no Brasil. Em entrevista concedida, por telefone, à IHU On-line, Denise apresenta o histórico de Marighella, apontando suas principais contribuições à história da luta armada no país. O cenário da ditadura militar e o isolamento da prática da luta armada, também foram temas abordados por Denise. “É importante perceber que a ditadura não foi militar, mas civil e militar. Isto deve ser pensado para compreender porque a luta armada ficou tão isolada. Foi porque a sociedade foi muito participante da ditadura”, revela.
Denise Rollemberg possui graduação, mestrado e doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense, pós-doutorado em História pela Universidade de Paris X e em Sociologia pela Universidade de Campinas/Unicamp. Atualmente, é professora da Universidade Federal Fluminense e pesquisadora do Núcleo de Estudos Contemporâneos/NEC-UFF.Confira a entrevista.
IHU On-Line – Quem foi Carlos Marighella e por que se transformou em um mito?
Denise Rollemberg – Carlos Marighella é uma figura antiga do Partido Comunista que tem todo um percurso que acompanha a própria história do PCB, e o que é interessante nele, assim como outros militantes do partido, é que ele radicalizou esse percurso. E mais ainda: ele fez uma ruptura. Ele foi um sujeito que entrou no partido muito cedo, com 17 anos, e, a partir de 1964, começou a questionar o papel desarticulado, pois a política do PCB é associada aos trabalhistas e teria então desmobilizado os movimentos sociais, no sentido de uma possibilidade de resistência ao golpe. A ruptura dele se dá mais adiante, mas ele ficou, a partir dali, pensando como outros segmentos das esquerdas na época, o que teria sido um papel nefasto do Partido Comunista, nesse momento.
Outras figuras do partido também fizeram um percurso semelhante, como Jacob Gorender e Mario Alves. O que ele vai radicalizar é o caminho que tomou em 1967. A radicalização dele tem a ver exatamente com o fato de ter organizado a Ação Libertadora Nacional (ALN), uma organização de luta armada que foi uma das mais importantes do Brasil. Ele foi o grande líder da luta armada no Brasil.
IHU On-Line – Dentre os grupos de esquerda organizada e que optaram pela luta armada nos anos 1960 pode-se dizer que Marighella desfrutava de reconhecimento e liderança?
Denise Rollemberg – Sim. Havia muita disputa entre as organizações, embora elas tenham fragmentado bastante. Foram dezenas de organizações que disputaram a liderança na luta armada. Sem dúvida, Marighella é a figura mais expressiva, junto com Carlos Lamarca, dessa opção revolucionária da ação armada. São duas trajetórias muito diferentes, mas que se encontram em algum momento.
(...)
On-Line – Contextualizando historicamente a luta armada, quais foram os acertos e erros de Marighella?
Denise Rollemberg – Acho que o grande acerto, se formos pensar dentro desta linha do que acertou e do que errou, foi lutar pela revolução, pela transformação da sociedade, contra um conformismo, contra a ditadura. Não só resistir à ditadura, mas ir além desta luta. Poderíamos dizer até mesmo que, antes mesmo de 1964, ele estava lutando contra o capitalismo, pelo socialismo. Esse inconformismo com o status quo, seja ele dentro de um regime democrático como era no regime pré-1964, ele lutava pela transformação do Brasil. Acho que se pensarmos dentro desta perspectiva, que não é a óptica do historiador, de acerto e erro, a grande importância é isso. Quem faz erra e acerta, quem não luta erra sempre. (leia mais aqui)
“Ele foi o grande líder da luta armada no Brasil”. Assim, a pesquisadora e historiadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Denise Rollemberg, define Carlos Marighella, político guerrilheiro brasileiro e um dos principais defensores da criação de um estado socialista no Brasil. Em entrevista concedida, por telefone, à IHU On-line, Denise apresenta o histórico de Marighella, apontando suas principais contribuições à história da luta armada no país. O cenário da ditadura militar e o isolamento da prática da luta armada, também foram temas abordados por Denise. “É importante perceber que a ditadura não foi militar, mas civil e militar. Isto deve ser pensado para compreender porque a luta armada ficou tão isolada. Foi porque a sociedade foi muito participante da ditadura”, revela.
Denise Rollemberg possui graduação, mestrado e doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense, pós-doutorado em História pela Universidade de Paris X e em Sociologia pela Universidade de Campinas/Unicamp. Atualmente, é professora da Universidade Federal Fluminense e pesquisadora do Núcleo de Estudos Contemporâneos/NEC-UFF.Confira a entrevista.
IHU On-Line – Quem foi Carlos Marighella e por que se transformou em um mito?
Denise Rollemberg – Carlos Marighella é uma figura antiga do Partido Comunista que tem todo um percurso que acompanha a própria história do PCB, e o que é interessante nele, assim como outros militantes do partido, é que ele radicalizou esse percurso. E mais ainda: ele fez uma ruptura. Ele foi um sujeito que entrou no partido muito cedo, com 17 anos, e, a partir de 1964, começou a questionar o papel desarticulado, pois a política do PCB é associada aos trabalhistas e teria então desmobilizado os movimentos sociais, no sentido de uma possibilidade de resistência ao golpe. A ruptura dele se dá mais adiante, mas ele ficou, a partir dali, pensando como outros segmentos das esquerdas na época, o que teria sido um papel nefasto do Partido Comunista, nesse momento.
Outras figuras do partido também fizeram um percurso semelhante, como Jacob Gorender e Mario Alves. O que ele vai radicalizar é o caminho que tomou em 1967. A radicalização dele tem a ver exatamente com o fato de ter organizado a Ação Libertadora Nacional (ALN), uma organização de luta armada que foi uma das mais importantes do Brasil. Ele foi o grande líder da luta armada no Brasil.
IHU On-Line – Dentre os grupos de esquerda organizada e que optaram pela luta armada nos anos 1960 pode-se dizer que Marighella desfrutava de reconhecimento e liderança?
Denise Rollemberg – Sim. Havia muita disputa entre as organizações, embora elas tenham fragmentado bastante. Foram dezenas de organizações que disputaram a liderança na luta armada. Sem dúvida, Marighella é a figura mais expressiva, junto com Carlos Lamarca, dessa opção revolucionária da ação armada. São duas trajetórias muito diferentes, mas que se encontram em algum momento.
(...)
On-Line – Contextualizando historicamente a luta armada, quais foram os acertos e erros de Marighella?
Denise Rollemberg – Acho que o grande acerto, se formos pensar dentro desta linha do que acertou e do que errou, foi lutar pela revolução, pela transformação da sociedade, contra um conformismo, contra a ditadura. Não só resistir à ditadura, mas ir além desta luta. Poderíamos dizer até mesmo que, antes mesmo de 1964, ele estava lutando contra o capitalismo, pelo socialismo. Esse inconformismo com o status quo, seja ele dentro de um regime democrático como era no regime pré-1964, ele lutava pela transformação do Brasil. Acho que se pensarmos dentro desta perspectiva, que não é a óptica do historiador, de acerto e erro, a grande importância é isso. Quem faz erra e acerta, quem não luta erra sempre. (leia mais aqui)
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