sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

FELIZ NATAL A TODOS OS LEITORES DO ECOS, com a Poesia de Quinta - Número 111

Por Deíla Maia

         
Recentemente, na nossa confraternização de Natal da SOBRAMES/MA (Sociedade Maranhense de Médicos Escritores), o meu amigo Pádua, atual presidente da entidade, leu este seu lindo e recente poema, que aborda o sucesso das operações policiais no Rio de Janeiro.
O poema foi feito todo em redondilhas maiores, que consistem em versos de sete sílabas fonéticas, a mesma forma de verso utilizada por Camões!!!! Parabéns, Pádua!!!
A poesia dele é bonita tanto na forma, mas principalmente pelo conteúdo. É muito tocante. 
Uma bela mensagem de esperança para o Natal!!!! Dias melhores virão...
Feliz Natal a todos,

Beijos.
Deíla.



 

O MENINO DO MORRO DO ALEMÃO
Antonio de Pádua Silva Souza

Escute Papai Noel
O que tenho pra dizer:
Para ser bem sincero
Nunca gostei de você.
E tenho cá minhas razões:
Olhe que o ano todo
Em todas minhas orações
Peço para o Natal
Não demorar a chegar,
Pois vieram me falar
Que é nesta noite de luz
E a mando de Jesus
Que o senhor vai visitar
Crianças no mundo inteiro.
Não para dá dinheiro,
Mas distribuir presentes
Àquelas que têm saúde,
À todas que estão doentes
Às que não podem comprar
Pra quando o Natal chegar,
Elas alegres,  contentes
Tenham com o que brincar.

E quando chegava o Natal
Era aquela animação
O senhor não imagina
Qual a minha emoção:
Deitava, dormia cedo
Não ia pra rua brigar
Só pensando no brinquedo
Que o Senhor vinha deixar.

  

E quando a manhã chegava
Mesmo sem poder vê
No escuro eu levantava.
Corria os pés pelo chão
E com nada encontrava
Saia batendo a mão,
Só meu chinelo eu achava
E na poeira do chão
O presente não estava.

Que grande decepção
Eu sentia naquela hora,
Nem carro, nem roupa, nem bola
Nem pistola, nem peão

Noutra Noite de Natal,
Estava quase dormido
Quando ouvi as explosões.
Eram fogos de artifícios
Eram tiros de rojões
Fiquei a imaginar
Deve ser Papai Noel
Que acaba de chegar
Veio deixar o meu presente,
Desta vez eu vou ganhar.

De repente, minha mãe
Deitou-se comigo no chão.
Não eram fogos de artifícios
Eram tiros de canhões
Eram os homens do tráfico
Disputando posições.
Triste, pensei comigo:
Com este bando de tiro
Papai Noel não vem não.


Agora está tudo mudado
E outro Natal vai chegar
O morro está ocupado;
É soldado por todo lugar.

O mal é que estes fardados
Tanto podem ser do bem
Como do mal podem ser.
O difícil é se saber
De qual facção eles vêm.
Se do bem, que bem que seja
Pois do mal, nada se espera
E o morro nesta peleja
Fique pior do que era.


Então meu Papai Noel
O Senhor pode chegar
Não haverá tiroteio
O senhor pode entrar.
Assim, ao amanhecer
Possa eu até mudar
O que penso de você.


Meu barraco é o mais feio
É fácil identificar.
Lá no final da ladeira
Antes de o morro findar
Perto daquela pedreira
De onde se avista o mar.

Se o Senhor não vier
Não tem desculpa a dar
Só não vem se não quiser
Ou então pra confirmar:
Que criança da favela,
Hoje comunidade,
Não tem o mesmo valor
Das crianças da cidade;
Ou o senhor tem preconceito
E por birra ou por maldade
Nega-nos este direito
Que é justo e natural:
De receber um presente
Numa noite de Natal.

Dezembro 2010

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