quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Poesia de Quinta - Número 109

Por Deíla Maia

         
A Poesia de Quinta de hoje é de um dos meus poetas prediletos, MANOEL DE BARROS, que já trouxe algumas vezes aqui para este projeto. Ele gosta de escrever sobre as coisas simples da vida...
 
A poesia de hoje, "Uma didática de invenção", foi retirada da obra "O livro das Ignoranças" e traz uma reflexão interessante sobre a vida, o quotidiano. Espero que gostem.
 
Ofereço a Poesia de Quinta de hoje, especialmente, para meu amigo Félix Duailibe, que mora em São Paulo e hoje está recebendo o primeiro e-mail do Poesia de Quinta.

Beijos.
Deíla.



 

UMA DIDÁTICA DE INVENÇÃO
Manoel de Barro

I
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com
faca
b) 0 modo como as violetas preparam o dia
para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas
vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência
num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega
mais ternura que um rio que flui entre 2
lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
Etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.

 
No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava
escrito:
Poesia é quando a tarde está competente para
Dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras

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