Mal foi apresentado o nome do deputado Bira do Pindaré à prefeitura de São Luís e os diversos setores políticos, de oposição ou não, começaram a ensaiar suas posições. É uma incisiva demonstração do potencial desta liderança de esquerda, com trajetória de compromisso com as lutas sociais e recém-eleito deputado estadual pelo PT.
De fato, em pouco mais de 100 dias de mandato, o deputado Bira expõe com qualidade, na Assembleia, uma variedade de denúncias e questões fundamentais para o Maranhão.
Ainda pela esquerda, outras candidaturas são possíveis. O ex-deputado Flávio Dino (PCdoB), que, embora não se pronuncie a respeito ou, quando se pronuncia, diz não ser candidato, saiu forte de 2008 e 2010 e talvez sua candidatura se firme naturalmente. Haroldo Sabóia, após longo inverno isolado no PDT, agora no PSOL, poderá surpreender como oposição de esquerda marcadamente anti-Sarneysta, principalmente se conseguir unir em torno o PCB e o PSTU (tarefa difícil neste último caso), com possibilidade de eleger pelo menos 1 vereador.
Em todo caso, as esquerdas devem sair com candidaturas separadas, seja por razões táticas, seja pela quase impossibilidade de unificação de seus principais partidos logo no primeiro turno.
Do outro lado, os dois principais grupos da direita do Maranhão instalados nos governos do Estado (família Sarney Murad) e da capital (Castelo/PSDB) também não devem sair unidos no primeiro turno, embora não saibamos de antemão a intensidade de fogo e contra-fogo que veremos nesse campo, embora daí não devamos esperar muito, pois se os colocamos aqui no mesmo campo é pela profunda identidade ideológica, de método e de resultados de gestão em termos de catástrofe social, o que não é pouco. Até porque seria difícil para esses grupos se chocarem sem passar aquela imagem do “sujo falando do mal lavado”.
Os dois governos devem chegar a 2012, ao que tudo indica, acumulando mais riqueza no bolso dos governantes e péssimos índices sociais no outro lado da balança. E, como sabemos, a direita mais enriquecida é sinal mais que certo de abuso do poder econômico, um sério entrave à democracia no país e o principal por estas bandas. O provável é que as candidaturas expressivas deste campo tenham relação abrandada, embora a de Castelo seja o alvo preferencial de todos na corrida para substituí-lo.
O PT, tal qual em 2010, será o ponto nevrálgico da disputa de 2012. O que diz muito de sua importância política, mas muito também de sua infeliz atuação no momento atual, em que uma ala do partido participa do governo dos Sarney Murad. Participação pífia num governo que não tem uma única notícia boa pra contar. 2012 é uma boa oportunidade para esta ala começar a se desvencilhar desse caminho, ajudando a criar uma alternativa política de esquerda para São Luís e para o Maranhão, já que 2012 é passagem para 2014.
Da mesma forma, é desafio para o grupo Resistência Petista e para o próprio dep. Bira buscarem prioritariamente a unidade do partido, sem vender a alma, preservando posições fundamentais que permitam seguir em frente com coerência no pós-2012, ou, se não houver outra possibilidade internamente, construir a vitória nas prévias do melhor nome de que o PT dispõe para a tarefa de enfrentar o ex-governador biônico ora instalado na Prefeitura.
Papel não de pouca monta tem também o PDT, apesar de ter saído bastante enfraquecido de 2010. Mas sua situação não é menos complicada. Apesar de historicamente antagônico à oligarquia Sarney – se bem que até isto se encontra mitigado atualmente –, parece confortável encastelado na Prefeitura ao lado daquele que outrora foi seu principal antagonista, um oligarca que conduz o pior governo de que se tem notícia em São Luís, só comparável nesses termos, talvez, ao de Gardênia. Trata-se de contradição da mesma natureza daquela em que o PT se encalacrou no governo do Estado. Há, porém, no PDT da Ilha Rebelde alguma resistência. Há quem queira resgatá-lo para a posição anterior, mais à esquerda. Mas terá êxito? E, se tiver, sobreviveria politicamente sem o maquinário público municipal?
A oligarquia fará de tudo para tirar o foco do “melhor governo da vida” de Roseana Sarney e pra isso deve abraçar uma candidatura que não seja tão emblemática de seu fracasso no governo do Estado. Ou mesmo várias, como fez em 2008. E é neste rumo que pressionará o PT do vice-governador.
Castelo precisa de aliança ampla para forjar tempo de propaganda eleitoral, e, além de poder econômico, tem o aparato administrativo que usará para, entre outras coisas, manter o PDT do seu lado. O que, aliás, já vem acontecendo, a exemplo do retorno ao ninho tucano do PPS de Othelino Neto e Miosótis, ex-candidata a vice-governadora na chapa de Flávio Dino. Segue neste mesmo sentido, se confirmado, a saída do deputado federal Pinto da Itamaraty (PSDB) para assumir secretaria municipal com orçamento polpudo, tomando o seu lugar na Câmara Federal o suplente Weverton Rocha, com o apoio do Ministro do Trabalho do governo Dilma, Carlos Lupi (PDT).
Pela esquerda há, como sempre, boas possibilidades em São Luís. Mas pra isso é preciso voltar o foco para os movimentos populares e suas lutas concretas. Para o trabalhador e a população pobre, que não devem estar satisfeitos com o mais sucateado e irracional sistema de transporte público do país, e um dos mais caros; com as ruas esburacadas; com a Educação e a Saúde colapsadas; com o patrimônio público cultural e arquitetônico abandonado; com a paralisação das obras do PAC Rio Anil; com falta de trabalho e renda; com a falta de participação popular; com a falta d’água; e até com a intensificação do calor na Ilha, graças à ausência de transparência e controle social (de fiscalização), bem como de um Plano Diretor para a cidade que impeça a paulatina destruição de áreas verdes em nome do rápido e vertiginoso enriquecimento imobiliário de poucos.
De tudo isso, muitas dúvidas quanto ao quadro político a se configurar para 2012. Uma quase certeza: haverá segundo turno. Uma certeza que pode ser vista a olhos nus: a Ilha de São Luís está sendo devastada. E uma perspectiva a ser construída: a saída é pela esquerda. Daí a necessidade premente de candidaturas como a de Bira do Pindaré, que só terá sentido se for para liderar um bloco de oposição ao PSDB de Castelo, com caráter polarizador e mobilizador, para vencer e governar a capital do Estado com foco no desenvolvimento sócio-econômico e na transformação da cidade.
(*) João de Deus Castro - Ex-secretário de Juventude do PT/MA e servidor público do MPF/SP
Sílvio Bembem - Administrador, Especialista em Sociologia (UEMA), Mestrando em Ciências Sociais da PUC/SP. E membro do Diretório Estadual do PT/MA
Meu comentário (não contra, mas a partir) do artigo:
O artigo é bom por inaugurar diretamente o debate público sobre o papel de cada força política da esquerda ludovicense em 2012.
A partir dele, deixo a seguinte observação: uma particularidade da candidatura do PSOL à Prefeitura de São Luís, com Haroldo Saboia, é que ela nasce independentemente de qualquer jogo com a força oligárquica, ou sob influência dela ou do prefeito tucano, limite da viabilização e competitividade da maioria das demais candidaturas nesse campo.
A novidade de 2012 é a impossibilidade da oligarquia contralar os cenários de um de seus oponentes, no caso o PSOL, que entra na cena eleitoral pra valer.
E a oligarquia e demais grupos sabem disso. Do contrário, não investiriam tempo, notas em jornais, comentários em blogues e mesas de bar buscando diminuir esse fato político: no meio do caminho, há um novo PSOL na política de São Luís...
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