domingo, 21 de agosto de 2011

A vida como ela é...

Franklin Douglas

 
                       A VIDA COMO ELA É...
São os números das pesquisas do IBGE, do IPEA e os índices sociais sistematizados via IDH ou através do Índice de Exclusão Social, do professor José Lemos, geralmente os dados sociais mais utilizados pelas oposições para fazer chegar à opinião pública local e nacional a realidade sofrida do povo maranhense. São apresentados a fim de demonstrar e comprovar o fracasso da família Sarney na sua gestão e projeto para o desenvolvimento do Maranhão.
Desses dados, extrai-se, por exemplo, o conhecimento de que o Maranhão é o estado que possui a maior parcela da população vivendo com R$ 70,00 mensais. Setenta reais por mês! É o que um milhão e setecentos mil maranhenses têm para gastar em sua sobrevivência. O que, num único fim de semana, um casal de namorados ou uma pequena família de classe média gasta em lazer nos cinemas da capital, em uma única sessão, equivale ao que 25% dos seis milhões e meio de maranhenses têm para sustenta-se o mês todo.
Extrema pobreza que revela a falta de estrutura e de oportunidades no Maranhão: apenas 12% dos domicílios têm esgotamento sanitário; somente 25% dos lares são alcançados por coleta de lixo; 45% dos trabalhadores maranhenses são informais ou não têm a carteira de trabalho assinada; maior taxa de analfabetismo funcional do País (em torno de 40%); segunda pior taxa de mortalidade infantil (36 crianças mortas a cada mil nascidas); dos 20 municípios com menor renda média do Brasil, 14 são maranhenses...
A esses dados macroeconômicos que servem ao embate político da luta social maranhense, apreciemos os dois seguintes:
(1) Abra diariamente os principais jornais da cidade e, com atenção, observe a quantidade de comunicados do cartório de protestos. Em letras pequenas, são quase 600 protestos de dívidas não pagas. Elas são em 80% de pequenas dívidas (de R$ 150,00 a R$ 400,00) junto a Lojas Gabryella.
É a vida como ela é ao andar de baixo: capacidade de endividamento estrangulada, falta de emprego e comércio de varejo já sofrendo as consequências da estagnação econômica maranhense por falta de política governamental. Só não está pior porque o Bolsa Família contém a explosão social na periferia.
Essa situação sequer é fruto da crise econômica mundial. Essa, para constatá-la, não precisa ler os comunicados de protestos nas páginas dos jornais, basta conferir a quantidade de navios ao longo de nossas praias... de superior a 30, já mínguam para menos de 20...
(2) Agora, abra as páginas policiais. Lá, a cidade que só o "Monstro Souza" de Bruno Azevedo tem noção. Wellington Rabello, da equipe do Jornal Pequeno, sintetizou os dados: o mês de julho de 2011 terminou  com 68 mortes, entre homicídios e latrocínios (roubo seguido de morte). Já é o mês mais violento do ano; Cidade Olímpica, Bairro de Fátima e Pirâmide estão entre os bairros mais violentos; dos 68 assassinatos, 46 foram com uso de arma de fogo, 16 com arma branca (faca, geralmente) e 06 com outros meios (tipo espacamento, uso de madeira ou pedra, estrangulamento).
No dia-a-dia da periferia, a falta de segurança, o tráfico de drogas, o assalto, a violência. Não há a quem pedir socorro. Novamente, é o andar de baixo que mais sofre com a falta de política de segurança pública.
Aos macrodados gerais e “frios”, somam-se esses microdados “quentes” que personificam em gente de carne e osso a dureza da vida cotidiana das classes subalternas de nosso estado.
Essa realidade não é conseqüência de “terras [que] não são boas, além de não termos nenhuma riqueza mineral, baseando toda sua economia tradicional numa atividade mercantil e agrícola de subsistência”, como tenta ludibriar a inteligência do País o oligarca José Sarney, em resposta à Folha de São Paulo sobre o atraso do Maranhão.
Essa realidade é consequência de uma concepção mandonista, patrimonialista e clientelista de gestar a coisa pública. É fruto de opções governamentais que desprezam o povo.
Veja, caro leitor, cara leitora, o exemplo da Via Expressa, obra de uma via às pressas mais para ligar os shoppings da família (do Tropical e Jaracaty ao shopping da Ilha, passando pelo shopping São Luís - todos com negócios da família Sarney-Murad), do que melhorar o trânsito da cidade. Se os 107 milhões de reais que serão gastos para construí-la fossem destinados à conclusão dos apartamentos do PAC do Rio Anil, ao invés de 560, teríamos todos os 2.500 apartamentos previstos entregues aos palafitados da Liberdade, uma ação de impacto social e urbanístico na área.
Mas o que prioriza a governadora Sarney? Ela prefere o marketing de “tocadora de obras” em torno de uma estrada do que ajudar seu povo sofrido que mora sob palafitas, onde a mesma água onde se defeca, serve para tomar banho, cozinhar e beber. Eis a origem dos dados relatados no início deste artigo.
Entende-se a opção pelo asfalto ao invés do povo. Pudera! Nas palafitas da Liberdade não mora nenhuma família Sarney-Murad.


Franklin Douglas, jornalista e professor, escreve para o Jornal Pequeno
aos domingos, quinzenalmente

Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 21/08/2011 - página 04).

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