terça-feira, 1 de novembro de 2011

Freixo vai, a milícia fica

Por JoãoMontenegro [www.consciencia.net]
É muito triste saber que o Deputado Marcelo Freixo (PSOL), um dos poucos políticos que ainda geram alguma credibilidade junto aos cidadãos brasileiros e emprestam um mínimo de limpeza à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, está de malas prontas para ir à Europa.
A razão, o leitor já deve imaginar. Freixo foi convidado pela Anistia Internacional para refugiar-se com sua família em um país do velho continente por período indeterminado em função de diversas ameaças de morte que vem recebendo por parte de milicianos. Somente no mês de outubro, o deputado teve acesso a sete denúncias de planos para matá-lo.
De acordo com Freixo, as denúncias identificam criminosos já conhecidos das autoridades, como o miliciano Carlos Ary Ribeiro, o Carlão, que fugiu do Batalhão Especial Prisional (BEP), em setembro, e receberia R$ 400 mil do criminoso Toni Ângelo para matá-lo. Mesmo assim, pouco foi feito para manter o deputado e sua família em segurança.
Isso seria, a princípio, apenas vergonhoso para a imagem do país, que se vê na impossibilidade de proteger um dos principais combatentes ao crime organizado na cena política nacional, não fosse a certeza de que tal fato decorre exclusivamente em função de interesses de bandidos de terno e gravata blindados pela famigerada imunidade parlamentar. É, destarte, um fato repugnante e assustador por remeter à entronização da corrupção na política de segurança pública do Rio de Janeiro.
Enquanto Freixo segue para o exílio forçado, milicianos que trabalham a mando e sob os cuidados de políticos fluminenses, seguem dominando bairros e comunidades inteiras da Zona Oeste da cidade, numa microrreprodução do que ocorre em países como a Colômbia, onde as Farc e grupos paramilitares dominam grandes regiões nacionais – as quais não têm representatividade política oficial. Não obstante, o governo Cabral se gaba por sua política de segurança pública.
É impressionante como um governo de estado que tenha sido reeleito com essa bandeira, apoiando-se no tão insustentável quanto midiático projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), faça vista grossa para o crescimento das milícias na cidade e estado do Rio de Janeiro – aliás, que o governo federal fique atento: já são 11 os estados brasileiros que registram a atuação de grupos paramilitares armados e chefiados por agentes públicos da área de segurança…
Impressionante, porém compreensível: é muito mais fácil atingir positivamente a massa de eleitores apelando para velhos estigmas sociais, como o tráfico de drogas, que, por sua vez, é associado às favelas – tradicional bode expiatório das mazelas cariocas –, do que ficar arrumando a própria casa. Isto é, vale mais agir energicamente contra os pretos armados do que contra os amigos e colegas fardados, até porque estes costumam obter maior apoio nas comunidades por darem a falsa impressão de que estão protegendo os moradores, quando, em verdade, estão ali só para explorá-los.
Enquanto isso, a Grande Mídia segue anestesiando a população, noticiando prisões dos chamados “chefes do tráfico”, como o Polegar, recentemente capturado no Paraguai. Rios de dinheiro são gastos em operações espetaculares de captura, transporte e prisão desses indivíduos em penitenciárias de segurança máxima. Personagens que não são mais do que coadjuvantes num esquema que envolve grandes empresários, políticos e agentes de segurança nos âmbitos nacional e internacional.

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