domingo, 12 de fevereiro de 2012

Os problemas de São Luís quase de A a Z: novo artigo de Wagner Baldez


EXISTEM MOTIVOS PARA COMEMORARMOS OS 400 ANOS DE SÃO LUÍS?

Wagner Baldez (*)

      Torna-se uma completa idiotice e temeridade acreditar, como bem pretendem as autoridades, possa um povo participar, espontaneamente, das comemorações de uma data histórica, a exemplo dos 400 anos da cidade de São Luís, estando esse mesmo povo privado, há 50 anos (era Sarneysista), dos bens essenciais que lhe cabe por direito?!...
            Mesmo com o apoio logístico disponibilizado por Dona Roseana, a partir da exacerbada propaganda midiática e setores responsáveis pela organização dos festejos, referidos esforços não têm sido suficientes para reascender na alma dos ludoviscenses a chama de seus legítimos e ardentes sentimentos telúricos. Tal conduta, inclusive, deve-se ao fato dos munícipes reconhecerem não se tratar de um ato eminentemente cívico, mas somente com pretensões político-eleitoreiras.
            Ressaltamos, por oportuno, que além das questões aludidas, outras existem a reforçar a posição de revolta assumida pela população, conforme exposição a seguir:
                a) O Maranhão, pelos dados fornecidos por Instituições do porte da ONU, IBGE, FGV, é a Unidade mais miserável da Federação; situação esta que incide negativamente  na vida econômica, social e cultural de nossa cidade;
              b) A corrupção neste Estado, praticada principalmente por algumas autoridades desta Capital, vem prosperando em escala alarmante, como é do conhecimento público. Tanto é verdade, que o senador Sarney (símbolo da corrupção em nível nacional), acaba de ser distinguido com o “Troféu Algema de Ouro”, recompensa que lhe foi outorgada no baile “PEGA LADRÃO”, promovido pelo Grupo Anticorrupção Movimento 31 de Julho, do Rio de Janeiro, e demais congêneres em todo o Brasil;
               c)    O lamentável e dramático cenário formado por infelizes criaturas disputando espaços nas calçadas como refúgio, e ao mesmo tempo socorridos pelas lajes dos prédios a lhes servirem de cumeeiras. Igualmente assistimos a agrupamentos humanos utilizando como abrigos as desconfortáveis e humilhantes palafitas; enquanto outras tantas famílias levando a vida debaixo de viadutos, locais semelhantes a míseras cavernas;
               d) Bairros, na sua maioria, sem quaisquer condições de higiene pela falta de uma política de saneamento, tanto na zona urbana quanto na rural. Incorporada a tais deficiências está a questão do fornecimento de água, onde os moradores levam meses na expectativa de que apareça uma gota do líquido nas torneiras! A esse respeito, para surpresa nossa, assistimos, no tradicional bairro da Madre Deus (reduto eleitoral da “Governadora”), às donas de casa comprando água dos carros-pipas... Imaginem nos demais locais onde ela tem minoria?!;
              e)    Espetáculo vergonhoso se sucede nas diversas ruas, mesmo as localizadas no centro da cidade, em que a população é agredida pela poluição olfativa em conseqüência do mau cheiro provocado pelos dejetos aflorando dos tampões de esgoto pertencente à CAEMA.  Idêntico incômodo acontece com quem transita pelos calçadões da Lagoa da Jansen e adjacências; tal o forte fedor dela desprendido;
          f) As praças, por se acharem relegadas ao abandono, apresentam uma imagem deprimente! As ruas, no que diz respeito ao revestimento asfáltico, encontram-se deformadas pela buraqueira existente, prejudicando o tráfego de veículos motorizados, principalmente os coletivos;
         g)    Grupos de jovens perambulando pelas vias públicas à procura de emprego, havendo boa parte deles entregue ao vício pernicioso da droga, já que não existe perspectiva de melhoria de vida. A realidade é que os gestores – tanto estadual, quanto municipal – omitem-se desse compromisso social;
       h)   O estigma da fome convivendo como condôminos da maioria das residências localizadas nas periferias;
     i)     Casos de assaltos, seqüestros, homicídios, por não existir política de segurança. O Maranhão é o Estado com o menor número de policiais por habitantes; um dos três piores em Educação, Saúde, Saneamento e qualquer outro indicador de civilização;
     j)     Apesar de a natureza ser extremamente pródiga para com a ilha de São Luís, os governantes não procuram, muito  propositadamente, aproveitar citada vantagem  para promover seu desenvolvimento, como é o caso da atividade pesqueira, que até a presente data continua artesanal;
       k)    São Luís tornou-se uma ilha cercada de águas poluídas por coliforme fecal, razão de se tornar perigoso banhar em suas praias;
       l)     Ridículo é sabermos que não existe nesta Capital um único hospital para tratamento de câncer mantido pelo Estado ou Município. O que existe devemos ao abnegado humanista Dr. Antonio Dino. Trata-se de uma Fundação, que, infelizmente, pela exigüidade de leitos, não se acha em condições de corresponder com a grande demanda;
      m)  A violência no trânsito faz parte dessa triste e dramática nomenclatura, sobretudo pelo número de mortes que vem ocorrendo em proporção incomensurável;
       n)   A iluminação é bastante precária, causando a horrível impressão de  encontrar-se São Luís mergulhada nas trevas, embora o povo pague a taxa de iluminação pública, exigida pelo órgão fornecedor, ou seja a CEMAR;
     o)    Para completar o quadro de atraso a que submeteram esta urbe, chegou-se a total imbecilidade de substituir o honroso título de Athenas Brasileira pela desqualificada denominação de Jamaica Brasileira!!! 
       p)    O que podemos afirmar é que o ludovicense transformou a ternura do seu sorriso, que funcionava como hospede de seus lábios, pelo estigma do sofrimento estampado nas faces esquálidas;
     q)    Com profundo pesar vemos a nossa vetusta cidade completamente acagibada e de muletas, sem a necessária condição para superar o estarrecedor e drástico espasmo social, legado pela maldição Sarneysista.

   Uma coisa é certa: só conseguiremos a liberdade, a partir do momento em que nos conscientizarmos de que não nascemos para ser submissos e escravos dessa oligarquia que nos domina, mas senhores dos nossos destinos.


Aí sim, teremos condições de comemoramos eventos de qualquer natureza, com profunda alegria e orgulho!

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(*) Wagner Baldez é funcionário público aposentado e dirigente estadual do PSOL/MA

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