domingo, 15 de março de 2009

Jackson Lago: "Por onde passo vejo crescerem os clamores de justiça de quem sente que teve seu voto esbulhado"




O jornal O Imparcial deste domingo (15/3) faz um apanhado do processo de mobilização crescente em torno da luta pela Democracia e em defesa do Maranhão. Fotos, principais reuniões já acontecidas, entrevista com o advogado Daniel Leite (da Frente de Libertação) e artigo do governador Jackson Lago. Bom conferir. Eis o link para as matérias, de acesso gratuito: http://oimparcial.ideavalley.com.br/flip/

Abaixo, o artigo do governador Jackson Lago.

A insubmissa resistência
Por Jackson Lago


“É como se minha vida começasse hoje”, ouvi de uma moradora das palafitas do rio Anil, ao receber as chaves da casa com que sempre sonhou e finalmente recebeu junto com as primeiras famílias do maior projeto de intervenção urbana e inclusão social do Maranhão.

Essas palavras, na sua singeleza, dizem muito mais do que o reconhecimento de quem se descobre tratada como cidadã plena. Elas servem de inspiração para todos nós que fazemos da vida pública um exercício permanente de combate.

A vida recomeça a cada dia para quem luta por ideais. Esse é o dístico que carregamos conosco como um compromisso moral.

Todos sabemos que o Maranhão
foi o único estado da nação que, na transição democrática, pagou o preço de reforçar seus laços com o autoritarismo e o caciquismo. O destino fez com que o fiador do poder militar, o avalista do arbítrio fosse nomeado o primeiro presidente civil após o golpe. Os ventos da liberalização, que sopraram em todo o país, não chegaram ao Maranhão.

Não admira então que o sopro de renovação que varreu o país, provocando a saudável alternância de poder em todos os Estados, entre nós tenha sido um simulacro, um rito de passagem por hereditariedade e consangüinidade. Custou anos e o labor de gerações para se obter as condições históricas de enfrentar e confrontar essa triste herança autoritária.

Essas condições tornam ainda mais grave a decisão do TSE de devolver o poder ao atraso e ao mandonismo. Todos conhecemos o antigo brocardo de Marx de que a história só se repete como farsa. Que dizer de uma decisão que condena o Maranhão a eternizar uma farsa política que tem o repúdio de toda a nação?

É contra isso que o povo maranhense se insurge. Por onde passo vejo crescerem os clamores de justiça de quem sente que teve seu voto esbulhado. Foi assim em Imperatriz na última quinta-feira, quando milhares de pessoas foram às ruas manifestar o seu repúdio pela violência que se comete contra a vontade popular.

Lembrei que praticamente nessa mesma data, há 45 anos, testemunhei a histórica manifestação do comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Com que emoção vivi aqueles momentos de afirmação cívica do nosso povo. Depois veio a longa noite autoritária, da qual ainda vagam seus avatares, como dinossauros, como bem expôs ao mundo a revista The Economist.

Em Imperatriz vi que nosso povo traz a mesma chama e o mesmo brilho nos olhos que vi há tantos anos na Central do Brasil. O brilho da insubmissão, o desejo da liberdade.

Me tocaram também as manifestações que recebi na última terça-feira no teatro Arthur Azevedo. Queria agradecer um a um pela longa e comovente ovação com que fui recebido. Nosso povo demonstra que repudia o golpe antidemocrático que se tenta dar pela via judiciária.

Confio que não se perpetrará essa violência que não é contra mim, mas contra o processo histórico e os direitos do povo maranhense.

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