sexta-feira, 29 de maio de 2009

NOVAS E VELHAS VIVANDEIRAS


Por Haroldo Saboia

Ontem, uma proposta de emenda constitucional (PEC) permitindo uma segunda reeleição para presidente da República, governadores e prefeitos foi protocolada na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, em Brasília. Seu autor, deputado Jackson Barreto, do PMDB de Sergipe, afirmou ter recolhido 194 assinaturas, número superior a um terço dos 513 parlamentares, para apresentação de projetos de mudanças da Constituição. Esta proposta, sem dúvida, será objeto de grande polêmica.

Todos lembramos dos momentos vergonhosos que macularam a história política recente do nosso país quando a Assembléia Nacional Constituinte (em 1988) e o Congresso Nacional (1997) com marcas indeléveis de fisiologismos, de utilização da máquina governamental e toda a sorte de corrupção.

No primeiro, para aprovar um mandato de 5 anos para Sarney. No segundo, para modificar a Constituição Federal e possibilitar a reeleição de FHC e, como contrapeso, dos governadores e prefeitos de todo o país.

Com Sarney, o País presenciou indignado a distribuição desavergonhada de concessões de rádio e televisão para que uma maioria de constituintes cedesse à sua vontade e capricho. Não esqueçamos que após a derrota das Diretas Já, Tancredo Neves assumiu o compromisso com as forças populares e democráticas que o sustentaram nas ruas e nas praças de todo o Brasil: vitorioso no Colégio Eleitoral da Ditadura, convocar uma Assembléia Nacional Constituinte e exercer um mandato de transição de 4 anos.

O coronelismo eletrônico, o monopólio das comunicações, a fragilidade e debilidade institucional das rádios comunitárias são resultantes desse troca-troca orquestrado por Sarney que ficou franciscanamente, registrado na história como a política do “é dando que se recebe”.

Para aprovar a emenda da reeleição, FHC e o PSDB não fizeram diferente: o dá lá-dá cá foi o mesmo, a mesma toada, a mesma cantilena.

O país sendo entregue a mais sórdida política neoliberal; as privatizações transferindo para os capitais privados a grande maioria do patrimônio do Estado brasileiro: a Vale do Rio Doce, a Companhia Siderúrgica Nacional, a Embratel, as empresas de telecomunicação e de energia. No bater do martelo em cada leilão de privatização, a perda do patrimônio e da soberania nacionais e lá fora... nos paraísos fiscais, as contas dos lesa-pátrias sendo engordadas com as propinas das privatarias, como bem definia Aloísio Biondi.

E José Sarney sempre presente. Ele está em todas, senão vejamos:

Fernando Henrique Cardoso para Sarney:

“No dia 15 de agosto de 1996, discuti com Tasso Jereissati, pela primeira vez, o assunto da reeleição. (...)

“No dia seguinte jantei em Brasília na casa da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL). Seu pai, o senador Sarney, a sós comigo, em sala à parte, aflorou o tema da reeleição”. (...)

José Sarney para FHC:

“-... Se a emenda for aprovada, ela vai incluir governadores e prefeitos, e a Roseana poderá se reeleger. Eu, como você, sou político. Quando o cavalo passa selado a gene monta”...

E Fernando Henrique Cardoso continua seu relato:

“Sarney, além do mais, sabia da relação amistosa que eu mantinha com Roseana. Sendo assim, disse, ele estava disposto a apoiar a reeleição. Portanto, dali por diante conviria afinar a viola...”

Estas declarações de FHC, jamais desmentidas por Sarney ou por Roseana Murad, estão nas páginas 287 e 288 do livro de autoria do ex-presidente “A ARTE DA POLITICA: a história que vivi”. Publicado pela Editora Civilização Brasileira, São Paulo, 2006.

Aprovada a emenda, reeleitos FHC e Roseana Murad, Sarney ainda barganhou como sempre muito, muito mais.

O deputado Sarney Filho ganhou o Ministério do Meio Ambiente. Desde então, feliz aderiu ao Partido Verde. Continua verde e feliz; e quanto mais verde, mais feliz.

Outros parlamentares não tiveram a mesma sorte “ministerial”.

Acusados de venda de votos para assegurar a aprovação da emenda da reeleição de FHC, dois deputados da bancada do Acre renunciaram ao mandato: Ronivon Santiago e João Maia. Outros três, Osmir Lima ,Lia Bezerra e Chicão Brígido, teriam recebido 200 mil reais - segundo a Folha de São Paulo - de um esquema envolvendo o então ministro das Comunicações, Sergio Mota, e os governadores do Acre e do Amazonas, à época. Responderam longo processo por quebra de decoro, encaminhado ao final à Procuradoria geral da República.

Apesar da expressa posição da Direção Nacional do Partido dos Trabalhadores e de reiteradas declarações do Presidente Lula contrárias a tese do terceiro mandato, vê-se que as vivandeiras estão soltas.

No período de 1946 até o golpe militar de 1964, as vivandeiras da UDN freqüentavam os quartéis, bajulavam os militares, tramavam o golpe contra a democracia:

“- Juscelino não pode ser candidato, se candidato não pode ser eleito, se eleito não pode ser empossado, se empossado não pode governar.” – não cansava de repetir Lacerda, a vivandeira mor.

Com FHC surgiram as vivandeiras neoliberais, sempre com o apoio da vivandeira udenista Jose Sarney, com tese da reeleição para espantar o espectro que os aterrorizava a todos: Lula e o PT.

E hoje? As velhas e novas vivandeiras, as vivandeiras de sempre (e Sarney lá), mais uma vez com suas manobras golpistas: mudar a regra do jogo no meio da partida.

Uma segunda reeleição, um terceiro mandato... Mais uma pedra no caminho da democracia brasileira!

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