sexta-feira, 19 de junho de 2009

SARNEY EM TRÊS ATOS: DA CRISE MUNDIAL AOS ATOS SECRETOS

Por Haroldo Saboia

Em artigo publicado após a eleição de José Sarney para a Presidência do Senado com o título “Sarney derrota o PT e Lula”, afirmei para a descrença de muitos:

“Mal sucedido em sua tentativa de articular uma candidatura consensual sob os auspícios do Palácio do Planalto, o velho coronel maranhense parte para a ofensiva, em gesto de rara ousadia, aglutina as forças mais fisiológicas e conservadoras do parlamento e da sociedade, e vai para o enfrentamento. Vitorioso, derrota o Presidente Lula, o PT, os partidos progressistas do Senado e, de quebra, o principal partido de oposição, o PSDB. De uma só vez!

Por subestimar Sarney, Lula e o PT sofreram um grave revés.

E perdemos nós. Pois quando ele vence, perde o nosso Estado.

Por exemplo: qual a obra (uma única pelo menos) construída, ou inaugurada por Sarney, no Maranhão, nos cinco anos em que foi Presidente da Republica?

O certo é que Sarney (Rubião ou Quincas Borba?) venceu. Ao vencedor, as batatas”

Em seus delírios, Sarney proclamava aos quatro cantos: - “Sou candidato porque minha experiência poderá ajudar o país a enfrentar a crise mundial.”

Hoje o país estarrecido toma conhecimento que a grande experiência de Sarney está relacionada a produção de atos secretos em afronta direta aos princípios constitucionais.

Revejo os textos, releio matérias antigas e os comentários da atualidade e quedo diante de tanta indignação, mas também de muita complacência, imensa condescendência. Nas afirmações de muitos, o sentimento republicano da revolta, da defesa da coisa pública; nas entrelinhas de alguns colunistas a tentativa de naturalização e banalização da gravidade dos fatos.

E para que possamos ter uma visão da trajetória de Sarney nesta sua terceira investida na Presidência do Senado, reproduzirei três trechos do Ricardo Noblat.

Vejamos: José Sarney em três atos !!!

ATO I: ACORDOU SARNEY ?

“Pelo que lhe conheço você não deve ter dormido direito. Eu também não. Fui deitar depois das 4h e aqui estou a aborrecê-lo.

Imagino você, que tenta ser presidente do Senado pela terceira vez dos anos 90 para cá.

Hoje será seu grande dia, Sarney - para o bem ou para o mal.

Não basta vencer.

No caso de uma vitória apertada, seus desafetos dirão que você será incapaz de comandar o Senado com pulso firme, que todos os seus atos serão contestados, que sua saúde fraquejará, etc

e tal...

Passará os próximos dois anos pontificando do alto da cadeira que acomodou nádegas ilustres ainda na época do Império.

Se quiser, ainda terá a chance de renovar o mandato por mais dois anos.

Estará na foto oficial da posse do futuro presidente da República seja ele quem for. E o coitado ainda será forçado a comer direitinho em sua mão.” (Blog do Noblat, 2.2.2009, 8h)

ATO II: PARA SALVAR FERNANDO

“José Sarney (PMDB-AP) acaba de ser eleito pela terceira vez presidente do Senado. Obteve 49 votos contra 32 conferidos a Tião Viana (AC), candidato do PT.

Ele foi candidato, antes de tudo, porque seu grupo político passa por um aperto brabo no Maranhão. Roseana, a filha dele, perdeu o governo em 2006 para o atual governador Jackson Lago (PDT).

A Polícia Federal investiga os negócios de Fernando, o filho-empresário de Sarney.

Se ouvirem que o Senado saiu dividido da eleição e que Sarney enfrentará forte resistência para comandá-lo, não acreditem.” (Blog do Noblat, 2.2.2009, 13h36min)

ATO III: Sai, Sarney!

“José Sarney está no olho do furacão que varre o Senado desde que ele foi eleito em fevereiro último para presidi-lo pela terceira vez. A primeira foi em 1995.

Mas é um escárnio Sarney continuar fingindo que nada tem a ver com a crise mais grave da história do Senado. Não apenas tem a ver: Sarney é o principal responsável por ela. A semente da crise foi plantada no primeiro mandato dele como presidente do Senado.

‘Eu só tenho a agradecer ao Dr. Agaciel Maia pelos relevantes serviços que ele prestou’, disse Sarney ao se despedir do ex-diretor-geral do Senado, defenestrado da função devido à crise.

Dono de imóvel em Brasília e inquilino da mansão destinada ao presidente do Senado, Sarney recebeu durante mais de um ano auxílio-moradia de R$ 3.800,00 mensais reservada a senadores sem teto.

É possível acreditar que o pai da crise esteja de fato empenhado em resolvê-la? Ou que reúna condições para tal? E quem disse que seus pares estão interessados em refundar o Senado?

A essa altura, uma só coisa depende de fato de Sarney: a renúncia à presidência do Senado...” (Blog do Noblat, 15.6.2009, 8h03min)

Para quem acordou em uma manhã de fevereiro com o delírio que iria Presidir o Senado para salvar o Brasil da crise mundial, deve ser muito difícil imaginar e explicar como os três mil e oitocentos reais de auxílio-moradia iriam parar em sua conta todo mês, religiosamente, e uma ruma de parentes pendurados em atos secretos... Sem esquecer o Castelo de Sintra,em Portugal !!!

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