sexta-feira, 24 de julho de 2009

PARA SARNEY O INFERNO SÃO OS OUTROS

Por Haroldo Saboia

Há poucos dias, neste espaço, afirmei que:

“Sarney não permanecerá à frente do Congresso Nacional. Ou renuncia ou será destituído da Presidência do Senado Federal.
Nem mesmo o apoio público do Presidente Lula - a contragosto ou de bom grado, seja lá como for – será suficiente para mantê-lo no cargo.” (O Maranhão e seu futuro, JP, 10.07.2009).

Hoje o quadro mudou, consideravelmente.

Não é mais a Presidência do Senado o objeto de discussão e sim seu mandato.

SARNEY PARECE NÃO PERCEBER QUE, PELO DESENROLAR DOS FATOS, EM BREVE NEM MESMO A RENÚNCIA DA PRESIDÊNCIA O LIVRARÁ DA CASSAÇÃO DO MANDATO.

CARACTERIZADA A FALTA DE DECORO NO EXERCÍCIO DE SUAS ATIVIDADES PARLAMENTARES É O PRÓPRIO MANDATO DE SARNEY (PELO EX-TERRITÓRIO DO AMAPÁ) QUE JÁ ESTÁ SENDO QUESTIONADO.

Esquece que as formalidades de um processo de destituição da presidência pouco diferem daquelas de cassação de mandato por falta de decoro parlamentar.

E todos sabem que dois terços dos membros do Senado terão seus mandatos renovados nas eleições do próximo ano. E a base do Governo - que a muque ainda segura Sarney - é composta por 45 (quarenta e cinco) senadores dos quais 37 (trinta e sete), em fim de mandato, estarão submetidos ao julgamento popular nas urnas de 2010.

São desses seus pares e da Nação inteira que Sarney desdenha.

Sim, da Nação inteira. Afinal, todas as redes nacionais de televisão revelaram não apenas a intimidade de membros da oligarquia maranhense como - o mais estarrecedor - a intimidade do clã com a coisa pública.

O desdém, o pouco caso, de Sarney advém de seu viés autoritário que é, diga-se de passagem, bem mais forte e acentuado que seu arraigado espírito patrimonialista. Embora suas incursões pelo espaço e pela coisa pública sejam quase como um sestro, um tique, uma compulsão. Tais ações somente podem ser produzidas e reproduzidas sob o manto protetor da impunidade e da repressão.

Não surpreendem, portanto, os comentários, veiculados nesta quinta feira, segundo os quais, impassível a qualquer repulsa da sociedade, Sarney - longe de colocar-se na defensiva - insiste em responsabilizar setores do Governo Lula (em especial, o Ministério da Justiça conduzido por Tarso Genro) pelo “vazamento” das notícias que dão conta de ações delituosas suficientes para indiciar seu filho Fernando e uma dúzia e meia de comparsas.

Ora, o que o Sr. José Sarney está a exigir, para si e para os seus, do governo e do Estado brasileiros nem o Presidente Lula nem qualquer instituição podem assegurar: a mais absoluta impunidade, algo que só a violência das ditaduras permite.

Relembro o artigo “Terror no Senado”:

“Não há hipótese de permanência de José Sarney na Presidência do Congresso Nacional sem a institucionalização do terror, da caças às bruxas, do aniquilamento da resistência ética e democrática no Senado Federal.
Patrono da nomeação como Diretor-Geral do Sr. Agaciel Maia, há catorze anos, ao exercer o primeiro de três mandatos como Presidente da Casa, Sarney é o responsável político pelos atos de seu mais graduado funcionário de confiança.” (JP, 03.07.2009)

O que as gravações divulgadas revelam é um Sarney não apenas na qualidade de superior hierárquico de Agaciel Maia como, igualmente, responsável direto pelos seus atos administrativos.

De Sarney emanavam as ordens executadas pelo diretor geral mesmo quando a presidência da casa era ocupada por outro senador.

Resta, por outro lado, perguntar até quando Sarney continuará colocando o Presidente, seu governo e sua bancada de apoio no Senado contra a parede, exigindo uma blindagem cada vez mais cara do ponto de vista ético, político e eleitoral?

Quando será que o presidente Lula, a ministra-candidata Dilma e a direção do PT compreenderão que a presença de Sarney no palanque da disputa presidencial de 2010 será fator de enfraquecimento e de debilidade de qualquer candidatura, por mais forte que seja no ponto de partida?

Que não esperem nenhum gesto de grandeza de Sarney, figura medíocre cevada no regime militar, que não encontra limite para suas ambições.

Nos dias de hoje, oportunas as palavras do dramaturgo francês.

Na redoma do seu clã e no aconchego de sua fortuna, PARA SARNEY O INFERNO SÃO OS OUTROS.

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