Franklin Douglas (*)
O aumento das tarifas de transportes coletivos no período momesco embute um receio do prefeito João Castelo (PSDB): o do debate sobre ele tomar as ruas e, consequentemente, gerar desgaste a sua administração, dado que o aumento é totalmente arbitrário.
Isto porque indefensável no seu índice de reajuste - 22%; injustificável na sua forma de definição - sem qualquer debate na Câmara dos Vereadores ou diretamente com a população; e insustentável para uma política que se queira democrática de gestão dos transportes públicos, pois beneficia apenas um lado da situação, o do empresariado.
O principal problema desse setor das políticas públicas é que falta ator para fazer o contraponto. Esse papel não é cumprido pelo Sindicato dos Rodoviários, posto o corporativismo inerente à pauta sindical; tampouco por nossos edis, boa parte deles financiados pelos empresários do setor; menos ainda por uma tal Associação dos Usuários (que um bom número dos usuários sequer sabe que é representado por ela...); ou mesmo pelas entidades estudantis que historicamente levantavam essa bandeira de luta em suas ações, hoje em disputa mórbida por contra-cheques e carteirinhas.
Urge, então, a rearticulação do Movimento Popular de Transportes!
O Movimento Popular de Transportes existiu em São Luís nos fins da década de 1980. Partia principalmente da região do Itaqui-Bacanga e tinha a adesão de amplos setores organizados: sindicatos, entidades estudantis, partidos de esquerda, associações de moradores. Tornou-se interlocutor legítimo na discussão das políticas de transportes até início dos anos 1990, quando se desarticulou.
Somente com um ator popular, sem a manipulação dos interesses partidário-eleitorais imediatos, é possível recolocar no debate público a questão não só do aumento das passagens, mas de um projeto a longo prazo para o transportes da capital.
De início, seria possível uma ampla campanha de assinaturas por um projeto de iniciativa popular junto à Câmara de Vereadores para revogar esse aumento e propor a criação de uma comissão que elaborasse uma lei permanente para a definição das tarifas de transportes públicos.
Refundar o Movimento Popular de Transportes seria uma grande contribuição para a democratização dessa política pública em São Luís. A cidade clama!
O exemplo vem do Campus
Lembro-me de quando, à frente do Diretório Central dos Estudantes da UFMA (DCE) - 1993/1994, organizamos uma passeata contra as condições do transporte no campus do Bacanga. Os empresários da Taguatur e do SET (Sindicato das Empresas) quase enlouqueceram. Não tinha liderança a cooptar. Tinha gente (muita gente) nas ruas - a passeata saiu da UFMA e cercou o antigo DMT(Departamento Municipal de Transportes), na Madre-Deus. As catracas dos ônibus do Campus tinham sido liberadas pelos estudantes que assumiram a função dos cobradores - ninguém pagou passagem nesse dia.
E o mais consistente: ante os argumentos de que precisavam de planilhas e mais planilhas para pensar qualquer aumento no número de ônibus para a linha Campus (da qual se serviam também aos moradores do Sá Viana), o DCE apresentou um estudo onde provava que a tabela de horários não era cumprida e a lotação dos ônibus nos horários de pique ultrapassava em quase o dobro a lotação estabelecida pelas próprias empresas. Era a contestação ao lucro fácil, com povo nas ruas e proposta na mão.
É isso que falta hoje para questionar o aumento de passagens: povo nas ruas e proposta na mão!
(*) Franklin Douglas – jornalista e professor, 36 anos. Contato: (98) 9962-8181. Email: franklindouglas@elo.com.br
Publicado no Jornal Pequeno, em 18.02.2010, p. o2
O aumento das tarifas de transportes coletivos no período momesco embute um receio do prefeito João Castelo (PSDB): o do debate sobre ele tomar as ruas e, consequentemente, gerar desgaste a sua administração, dado que o aumento é totalmente arbitrário.
Isto porque indefensável no seu índice de reajuste - 22%; injustificável na sua forma de definição - sem qualquer debate na Câmara dos Vereadores ou diretamente com a população; e insustentável para uma política que se queira democrática de gestão dos transportes públicos, pois beneficia apenas um lado da situação, o do empresariado.
O principal problema desse setor das políticas públicas é que falta ator para fazer o contraponto. Esse papel não é cumprido pelo Sindicato dos Rodoviários, posto o corporativismo inerente à pauta sindical; tampouco por nossos edis, boa parte deles financiados pelos empresários do setor; menos ainda por uma tal Associação dos Usuários (que um bom número dos usuários sequer sabe que é representado por ela...); ou mesmo pelas entidades estudantis que historicamente levantavam essa bandeira de luta em suas ações, hoje em disputa mórbida por contra-cheques e carteirinhas.
Urge, então, a rearticulação do Movimento Popular de Transportes!
O Movimento Popular de Transportes existiu em São Luís nos fins da década de 1980. Partia principalmente da região do Itaqui-Bacanga e tinha a adesão de amplos setores organizados: sindicatos, entidades estudantis, partidos de esquerda, associações de moradores. Tornou-se interlocutor legítimo na discussão das políticas de transportes até início dos anos 1990, quando se desarticulou.
Somente com um ator popular, sem a manipulação dos interesses partidário-eleitorais imediatos, é possível recolocar no debate público a questão não só do aumento das passagens, mas de um projeto a longo prazo para o transportes da capital.
De início, seria possível uma ampla campanha de assinaturas por um projeto de iniciativa popular junto à Câmara de Vereadores para revogar esse aumento e propor a criação de uma comissão que elaborasse uma lei permanente para a definição das tarifas de transportes públicos.
Refundar o Movimento Popular de Transportes seria uma grande contribuição para a democratização dessa política pública em São Luís. A cidade clama!
O exemplo vem do Campus
Lembro-me de quando, à frente do Diretório Central dos Estudantes da UFMA (DCE) - 1993/1994, organizamos uma passeata contra as condições do transporte no campus do Bacanga. Os empresários da Taguatur e do SET (Sindicato das Empresas) quase enlouqueceram. Não tinha liderança a cooptar. Tinha gente (muita gente) nas ruas - a passeata saiu da UFMA e cercou o antigo DMT(Departamento Municipal de Transportes), na Madre-Deus. As catracas dos ônibus do Campus tinham sido liberadas pelos estudantes que assumiram a função dos cobradores - ninguém pagou passagem nesse dia.
E o mais consistente: ante os argumentos de que precisavam de planilhas e mais planilhas para pensar qualquer aumento no número de ônibus para a linha Campus (da qual se serviam também aos moradores do Sá Viana), o DCE apresentou um estudo onde provava que a tabela de horários não era cumprida e a lotação dos ônibus nos horários de pique ultrapassava em quase o dobro a lotação estabelecida pelas próprias empresas. Era a contestação ao lucro fácil, com povo nas ruas e proposta na mão.
É isso que falta hoje para questionar o aumento de passagens: povo nas ruas e proposta na mão!
(*) Franklin Douglas – jornalista e professor, 36 anos. Contato: (98) 9962-8181. Email: franklindouglas@elo.com.br
Publicado no Jornal Pequeno, em 18.02.2010, p. o2
Que importantes lembraças trazes dos tempos da UFMA.Realmente só mobilização popular gera a pressão e as transformações.uM ABRAÇO.
ResponderExcluirÉ isso mesmo, Laurinda. Bons tempos aqueles!
ResponderExcluirAbraços