quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Poesia de Quinta - Número 72

Por Deíla Maia (originalmente em 19.02.2010)

Pessoal,

Recentemente, ganhei de presente a obra completa de uma das minhas poetisas prediletas, Cecília Meireles... Então, não poderia deixar de compartilhar com vocês tão precioso e delicado regalo.

Cecília Meireles era uma mulher batalhadora. Órfã de pai antes mesmo de nascer e também sem a mãe pouco tempo depois, a perda e a orfandade são elementos significativos na vida desta autora. Criada pela avó e com intensa relação com a efemeridade da vida, a sua poesia é lírica e extremamente reflexiva.

Ofereço à Poesia de Quinta de hoje a uma das mais assíduas e argutas comentadoras deste despretensioso espaço de debate poético, sendo que esta poesia "Noções" me lembrou muito desta pessoa e de suas reflexões filosóficas sobre a vida e o viver. Para Fernanda Thomé, com carinho.


Beijos.

Deíla




NOÇÕES
Cecília Meireles




Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.

Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.

Virei-me sobre a minha própria existência, e contemplei-a
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus, isto é a minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...

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