Não deixemos o desgosto falar mais alto ou que obscureça nossa visão. Até porque o resultado político destas eleições no Maranhão não é exatamente uma catástrofe. E no Brasil muito menos, como quer fazer crer a imprensa empresarial.
Primeiramente, tenho um misto de dor (pela derrota eleitoral) e ânimo (pela vitória política). Algo como o que aconteceu em 1989, com a derrota eleitoral de Lula no segundo turno, mas a clara vitória política do PT, que pela primeira vez na história do Brasil conseguiu fazer a burguesia tremer, acumulando forças para o período subsequente.
Se “tudo que nasce traz consigo o germe da própria destruição”, o resultado da vitória eleitoral de Roseana demonstra com precisão que o germe se espalha. Uma vitória com uma diferença de 0,08% assinala claramente uma polarização política e social no estado. E, o que é melhor, uma polarização que substitui a liderança antiga (Jackson) por uma liderança renovada (Flávio Dino) no campo da oposição, de esquerda e de visão certamente mais ampla e mais consequente em relação aos rumos do Brasil.
O peso de Lula/Dilma foi fundamental para a vitória eleitoral da oligarquia. Esconder isso em nada contribuiria para clarificar a situação. Pois se Lula não conseguiu fazer Roseana crescer, no mínimo conseguiu segurar sua queda, que se dava de modo inexorável, mas a conta-gotas, evitando chegar a menos de 50%, o que levaria ao segundo turno. O certo é que a ausência de qualquer fatia de poder do lado de lá teria levado ao segundo turno. Quer dizer, qualquer um do lado de lá pode se sentir garantidor da vitória eleitoral de Roseana Sarney. Basta fazermos um pequeno exercício hipotético e imaginarmos um candidato como Monteiro – da ala sarnopetista que apoiou Roseana, com quase 43 mil votos, sendo o segundo mais votado do PT – em qualquer outro lugar do tabuleiro, e teríamos um segundo turno. Se formos mais longe e imaginarmos a retirada de tudo que foi dado a Sarney – basicamente o apoio de Lula, da ala petista local liderada por Washington e do tempo de TV do PT dado ao PMDB – e a candidatura Roseana Sarney teria virado pó.
Tudo isso demonstra cabalmente, de um lado, o acerto da candidatura Flávio Dino e a vitória da dignidade de quem teve a coragem de levá-la até o fim. A estes meus mais sinceros parabéns. De outro lado, o erro (este, sim, catastrófico) dos que, no PT, conseguiram dar sobrevida à última oligarquia do Brasil. A casa-grande agradece. Pois conseguiram com isso manter em risco aquilo com que sempre se preocuparam (no discurso), a governabilidade no Congresso, o pretexto maior a que se apegaram pra ir com a oligarquia. Sim, porque qualquer governabilidade afiançada por Sarney estará sempre sob ameaça, refém da iniquidade que este coronel representa. Tire-se tudo que resolveram doar a Sarney e teríamos um governo no Maranhão comprometido de verdade com o projeto de mudanças representado por Lula e Dilma, e ainda alguns oligarcas a menos no Congresso, substituídos por deputados talvez mais comprometidos com a dita governabilidade. No mínimo teríamos mais um Monteiro na Câmara Federal. Aos que seguiram esse rumo lhes cairia bem o riso cínico dos que sabem o que fazem (a maioria, creio) ou o remorso dos que honesta ou ingenuamente acreditaram nessa tática torta (se é que esses existem).
Felizmente, o resultado Brasil afora é animador. Se olharmos mais amplamente veremos um cerco se fechando em torno de Sarney. O velho oligarca saiu-se mal no primeiro turno do Amapá, de onde é senador. Camilo Capiberibe (PSB-PT) – a maior ameaça ao velho oligarca – alçou voo e chegou ao segundo turno com 28,68% dos votos, contra 28,93% do primeiro colocado, Lucas (PTB). Seu candidato, Pedro Paulo, ficou pra trás depois de ter sido preso por corrupção pela operação da PF, juntamente com seu bando.
O PMDB (aah, o PMDB!), em quem tudo apostaram, pasmem, foi o único partido da coligação de Dilma que não ampliou sua base na Câmara dos Deputados. Ao contrário, amargou queda de 10 parlamentares (de 89, em 2006, para 79). E também no Senado não terá tanto poder quanto antes.
Ampliamos a base do governo nas duas casas legislativas e, principalmente, ampliamos a base do campo democrático-popular (PT, PSB, PCdoB e PDT). Aqui um registro sobre o movimento do PDT no MA: sua coligação eleger 4 deputados federais, sendo 3 tucanos e 1 do PTC, é uma lástima, mostrando mais uma vez o acerto da candidatura Flávio Dino.
Some-se a isto o fato de termos recuperado o RS, crescido ainda mais na BA, ainda estarmos no segundo turno no DF e PA e nos livrado de coronéis sanguinolentos como Tasso Jereissati, Heráclito Fortes, Artur Virgílio, Mão Santa, José Agripino Maia, Marco Maciel, César Maia... Temos aí um avanço considerável para dar continuidade às mudanças.
Enfim, diminuiu a margem de manobra de Sarney e quejandos. Por isso não podemos hesitar um minuto neste segundo turno. Nosso horizonte não é Lula nem o lulismo, não é Dilma nem dilmismo, mas a CLASSE TRABALHADORA. É esta que vem finalmente colhendo gradativamente mais dos frutos do desenvolvimento econômico. É esta quem vem obtendo alguma ascensão social e material. É isso que representa votar em Dilma agora. É não permitir o retrocesso político, democrático, histórico e simbólico daqueles que para o povo só reservam a opressão, a violência e a humilhação. Daqueles que preferem o Brasil prostrado ante o império norte-americano em vez da altivez e do reconhecimento internacional a que chegamos. É hora de virarmos de vez a página do neoliberalismo no Brasil e no mundo, dizendo não ao retorno das privatizações, do arrocho salarial, do desemprego, da fome, do Estado Mínimo (e apropriado pelos ricos), dos serviços públicos sucateados e do funcionalismo público ameaçado, que é o que ocorre onde quer que o PSDB governe.
Sarney, que costuma estar sempre do lado do vencedor, não é eterno. Seu fim não tarda, a não ser que vença Serra. Ou alguém duvida disto?
(*) João de Deus Castro - maranhense, petista, servidor do MPF/SP
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