O fundo do poço que o Senado se meteu com Sarney na presidência é destaque n' O Estado de São Paulo, na Folha de São Paulo, na Veja, no CQC de Marcelo Taz.
Iniciamos, abaixo, com o comentário de um leitor anônimo da matéria no Estadão. Noutras, Sarney é alvo de 45 comentários sobre a nova estripulia...
Ingenuidade e desinformação
Dom, 14/06/09 20:25 , Anônimo
"Desculpem-me os autores da matéria e os comentaristas. Analisar Sarney por essses fatos, dá uma sensação de ingenuidade ou de desinformação proposital,consciente,buscando uma formação de opinião e consolidação.Quem conhece política, alem das saulas de aulas infestadas de militância , sabe muito bem que o poder que Sarney incorpora passa muito alem desses "pequenos" fatos.Vejamos:Sarney tem um tentáculo em cada ponto do poder, quer seja no executivo, legislativo ou judiciário(perguntem a Saulo Ramos.Lula e o PT tem "rabo preso" com Sarney.Que tem um tentáculo no PSDB(Aécio,Tarso);no PV(Gabeira);no PC DO B(Flávio Dino); e muito mais.É muito infantil julgar e acreditar que Sarney está morto.Sarney é discípulo de Vitorino Freire, cacique da política maranhense do século passado. Mas Sarney é um "intelectual" e aplica na prática tudo que Maquiavel teorizou.Para quem acompanha o dia-a-dia da politica brasileira sabe que Sarney é corrupto e todos que estão junto com ele tambem.Portant é ingenuidade ou desinformação."
Elio Gaspari (Colunista da Folha de São Paulo)
FERNANDO SARNEY DESAFIA CHARLES DARWIN
FERNANDO SARNEY DESAFIA CHARLES DARWIN
O senador maranhense Epitácio Cafeteira foi categórico numa conversa com o repórter Rodrigo Rangel: "Eu contrato quem eu quero e não sabia que tinha que pedir autorização a vocês da imprensa".
O problema não é de autorização, mas de compostura. Há 22 anos, o empresário Fernando Sarney, filho do ex-presidente e dono de eletrizante fortuna, procriou fora do casamento com uma ex-candidata a Miss Brasília. Cafeteira colocou o moço na bolsa da Viúva dando-lhe um emprego de R$ 7,6 mil mensais em seu gabinete. Pressionado pelas restrições ao nepotismo, demitiu-o e, para equilibrar o orçamento desse ramo da família de Fernando Sarney, contratou a mãe. Tudo com a discrição dissimulada das casas-grandes.
O filho do ex-presidente tem patrimônio e renda suficientes para pagar R$ 7,6 mil mensais com dinheiro do seu bolso. Para o padrão de consumo do andar onde circula, essa quantia equivale a duas caixas de bom vinho, ao custo de um jantar para 15 pessoas ou ao hotel na Europa num feriadão. Fernando Sarney não precisava passar a conta de seu filho para a Viúva. O episódio não assombra pelo aspecto corrupto nem mesmo pela avareza. O que ele traz de pior é a exposição da decadência.Nas palavras de Cafeteira: "Eu devia favores ao Fernando. Ele me ajudou na campanha". Fica faltando o senador dizer que favores e quanto valeram. No ano do bicentenário de Charles Darwin, Fernando Sarney tornou-se uma peça para o estudo da regressão das espécies.
O problema não é de autorização, mas de compostura. Há 22 anos, o empresário Fernando Sarney, filho do ex-presidente e dono de eletrizante fortuna, procriou fora do casamento com uma ex-candidata a Miss Brasília. Cafeteira colocou o moço na bolsa da Viúva dando-lhe um emprego de R$ 7,6 mil mensais em seu gabinete. Pressionado pelas restrições ao nepotismo, demitiu-o e, para equilibrar o orçamento desse ramo da família de Fernando Sarney, contratou a mãe. Tudo com a discrição dissimulada das casas-grandes.
O filho do ex-presidente tem patrimônio e renda suficientes para pagar R$ 7,6 mil mensais com dinheiro do seu bolso. Para o padrão de consumo do andar onde circula, essa quantia equivale a duas caixas de bom vinho, ao custo de um jantar para 15 pessoas ou ao hotel na Europa num feriadão. Fernando Sarney não precisava passar a conta de seu filho para a Viúva. O episódio não assombra pelo aspecto corrupto nem mesmo pela avareza. O que ele traz de pior é a exposição da decadência.Nas palavras de Cafeteira: "Eu devia favores ao Fernando. Ele me ajudou na campanha". Fica faltando o senador dizer que favores e quanto valeram. No ano do bicentenário de Charles Darwin, Fernando Sarney tornou-se uma peça para o estudo da regressão das espécies.
Na solidão do poder, Sarney vive seu outono do patriarca
Presidente do Senado mostra desgaste, em meio a sucessão de escândalos.
O Estado de São Paulo (14.06.2009)
João Bosco Rabello e Christiane Samarco - BRASÍLIA
Com passos curtos e seguros, vestindo um sobretudo de lã preta, José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, 79 anos, entrou na noite de segunda-feira na residência oficial do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). Na área externa da casa, em volta do presidente Lula, grupos de políticos e jornalistas conversavam animadamente e esperavam o jantar em homenagem aos participantes da 4ª Conferência Legislativa de Liberdade de Imprensa. Feitos os cumprimentos protocolares, um José silencioso, que não denunciava a biografia com mais de meio século de poder político, fugiu do burburinho e ficou parado no primeiro dos três degraus que separam o salão da casa do jardim virado para o Lago Paranoá.
Apartado da descontração em torno de Lula e recolhido do frio das noites candangas de junho, o ex-presidente da República, ex-governador de Estado, presidente do Congresso, ex-deputado federal e senador José Sarney ouviu de um jornalista a pergunta: "Presidente, o Senado já está mais ameno?" E Sarney, expondo os indícios do fardo em que se transformou o cargo, respondeu: "Meu filho, aquilo não ameniza nunca.
"Era o início da semana em que, depois de todos os escândalos - da hora extra sem limites à profusão de diretores -, a reportagem do Estado revelaria o caso dos atos secretos que fizeram da direção-geral do Senado um guichê de distribuição de empregos e salários entre amigos, na última década e meia.
A noite na casa de Temer expôs um Sarney que fez história, mergulhou no vício solitário do poder e vive o autêntico outono do patriarca. A ideia de disputar pela segunda vez a presidência do Poder Legislativo já foi um arroubo extemporâneo. Como revelam alguns dos amigos mais íntimos, a real motivação para essa disputa foi a conquista de um cargo político poderoso para enfrentar a investigação que a Polícia Federal fazia nas empresas da família, a Operação Boi Barrica.
A PF chegou a pedir ao juiz da 1ª Vara Criminal de São Luís a prisão preventiva de um filho de Sarney, Fernando, e da nora, Teresa Murad Sarney. O presidente do Congresso temia que a espetacularização que caracterizava as operações da PF naqueles dias acabasse por levar até a prisão da neta, filha de Fernando e Teresa. Em conversa com amigos, chegou a desabafar: "Para protegê-la mandei que só dormisse com a avó" - a família temia uma operação de busca, apreensão e prisão na residência de São Luís.
O OCASO
Quem acompanha há mais tempo - e de perto - a trajetória do senador identifica dois atores políticos distintos: o "Sarney do Maranhão", que virou senador pelo Amapá, e o "Sarney nacional". O do Amapá, que garantiu a manutenção da sua vaga no Congresso, passa despercebido. O do Maranhão ganhou oxigênio político com a volta da filha Roseana ao governo estadual. Mas o Sarney "nacional" hoje é politicamente mais frágil que o de novembro do ano passado, antes da disputa renhida com o PT pelo comando do Congresso. A briga com o senador Tião Viana (PT-AC) estendeu-se após a eleição e deixou sequelas que não amenizam.
Na avaliação de um dirigente do PT, Sarney continua "muito forte" com o lulismo, mas desgastou-se com o petismo. O PT absorve no limite estritamente necessário sua aliança com o Planalto, mas sempre que pode deixa clara a incompatibilidade dos DNAs políticos. A soma desses fatores expõe um Sarney frágil e compõe a fotografia de uma liderança histórica em declínio, em que pese a reconquista do poder regional, por meio da filha, Roseana, que o TSE devolveu ao governo do Maranhão.
A volta da senadora ao Palácio dos Leões dá gás ao chamado grupo sarneysista, que vinha perdendo espaço no Estado. Com a retomada da máquina do governo, a tendência é recuperar a base perdida para Jackson Lago (PDT), cassado por abuso de poder econômico. Prova disso é que, quando assumiu o governo em 17 de abril, Roseana e seu grupo eram minoria na Assembleia. O placar em favor de Lago e seus aliados era de 42 a 16. Menos de dois meses depois, Roseana já contabiliza o apoio de 30 deputados estaduais, mas a repercussão disso na liderança nacional de Sarney é praticamente nula.
O ocaso da liderança do patriarca Sarney se dá por fatores múltiplos, em que o cronológico é o de menor relevância. Aos 79 anos de idade, com boa saúde e aparência, Sarney se vê distante da geração dos políticos locais. Lá se vão 30 anos desde a última vez em que disputou uma eleição no Maranhão, onde a maioria dos atuais prefeitos não o conhece pessoalmente. Só um projeto nacional em torno de Roseana teria poder de reverter a curva descendente em que ele se encontra, como ocorreu nas eleições de 1994 e 1998, mas principalmente depois da morte do deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), quando ela passou a ser alternativa das correntes mais conservadoras à sucessão de Fernando Henrique Cardoso. Veio o caso Lunus - operação da PF que apreendeu mais de R$ 1 milhão em espécie em empresa da família durante a campanha eleitoral -, que alijou Roseana da disputa e jogou Sarney nos braços do PT (ele atribuiu a operação a uma conspiração do hoje governador José Serra, então candidato do PSDB ao Planalto).
ACM
Tal cenário gera efeitos semelhantes ao experimentado pelo ex-senador Antônio Carlos Magalhães - assim como Sarney, uma liderança nacional consolidada a partir de um império político regional. A longevidade da cultura política fisiológica de ambos transformou-os em líderes com doutrinas próprias que passaram a integrar o vocabulário político brasileiro: o "carlismo" e o "sarneysismo". Ainda em vida, ACM assistiu à lenta deterioração do carlismo, como Sarney experimenta agora em relação ao sarneysismo. O grupo carlista sobrevive à morte de ACM na Bahia, mas não dá mais as cartas do jogo político nem está na linha de frente da disputa pelo poder. Assim como os "sarneysistas" se escoram apenas na figura do patriarca e na posição institucional que Sarney ocupa no Congresso. Olhando o panorama nacional, a tendência é de declínio.
Depois de enfrentar a campanha do "Xô Sarney" em uma eleição difícil contra Cristina Almeida no Amapá, o senador acabou mostrando que a visão apurada da velha águia política, que lhe rendeu cálculos políticos precisos e o levou à Presidência da República -, começa a dar sinais de alguma miopia. Forçado a disputar a sucessão do Senado, calculou que poderia ser guindado à presidência sem disputa. Errou.
Contou com o apoio de Lula para influir a seu favor, mas não aconteceu bem assim. Cometeu novo equívoco quando supôs que seria fácil derrotar Viana. Quis vestir o figurino confortável de candidato da instituição, com o apoio da oposição, mas não teve os votos do PSDB que contava como certos. Mal assumiu a cadeira de presidente, teve de afastar seu amigo e compadre Agaciel Maia da diretoria-geral, algo que julgou ser possível evitar se derrotasse Tião Viana. Por fim, não teve a dimensão do escândalo que abalaria o Senado e achou possível evitá-lo com a mesma fórmula de 14 anos atrás, de contratar uma consultoria da Fundação Getúlio Vargas.
As feridas da disputa com o PT já tinham evoluído da fase da sangria para uma hemorragia política que transformou a FGV em ator figurante. Alimentada por setores do funcionalismo do Senado que sonhavam em tomar o poder com Tião Viana, a oposição a Sarney trouxe denúncias que lhe atingiram diretamente: um auxílio-moradia pessoal indevido e um neto exonerado por ato secreto, depois de flagrado em nepotismo explícito. A estratégia de transferir ao primeiro-secretário, Heráclito Fortes, o ônus das explicações sobre as denúncias contra o Senado não funcionou mais. Sarney se viu obrigado, ele mesmo, a dar declarações em defesa própria.
Nesse ponto, o fator cronológico passa a ter importância. Sarney já fez as contas e sabe que não terá mais tempo para recuperar o desgaste de imagem e renascer forte aos 81 anos, quando termina o mandato à frente do Senado. O clima já não lhe será tão favorável como parecia profetizar ao recusar-se a ir para o jardim da residência oficial da Câmara na noite da última segunda-feira: "Está muito frio lá fora."
Presidente do Senado mostra desgaste, em meio a sucessão de escândalos.
O Estado de São Paulo (14.06.2009)
João Bosco Rabello e Christiane Samarco - BRASÍLIA
Com passos curtos e seguros, vestindo um sobretudo de lã preta, José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, 79 anos, entrou na noite de segunda-feira na residência oficial do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). Na área externa da casa, em volta do presidente Lula, grupos de políticos e jornalistas conversavam animadamente e esperavam o jantar em homenagem aos participantes da 4ª Conferência Legislativa de Liberdade de Imprensa. Feitos os cumprimentos protocolares, um José silencioso, que não denunciava a biografia com mais de meio século de poder político, fugiu do burburinho e ficou parado no primeiro dos três degraus que separam o salão da casa do jardim virado para o Lago Paranoá.
Apartado da descontração em torno de Lula e recolhido do frio das noites candangas de junho, o ex-presidente da República, ex-governador de Estado, presidente do Congresso, ex-deputado federal e senador José Sarney ouviu de um jornalista a pergunta: "Presidente, o Senado já está mais ameno?" E Sarney, expondo os indícios do fardo em que se transformou o cargo, respondeu: "Meu filho, aquilo não ameniza nunca.
"Era o início da semana em que, depois de todos os escândalos - da hora extra sem limites à profusão de diretores -, a reportagem do Estado revelaria o caso dos atos secretos que fizeram da direção-geral do Senado um guichê de distribuição de empregos e salários entre amigos, na última década e meia.
A noite na casa de Temer expôs um Sarney que fez história, mergulhou no vício solitário do poder e vive o autêntico outono do patriarca. A ideia de disputar pela segunda vez a presidência do Poder Legislativo já foi um arroubo extemporâneo. Como revelam alguns dos amigos mais íntimos, a real motivação para essa disputa foi a conquista de um cargo político poderoso para enfrentar a investigação que a Polícia Federal fazia nas empresas da família, a Operação Boi Barrica.
A PF chegou a pedir ao juiz da 1ª Vara Criminal de São Luís a prisão preventiva de um filho de Sarney, Fernando, e da nora, Teresa Murad Sarney. O presidente do Congresso temia que a espetacularização que caracterizava as operações da PF naqueles dias acabasse por levar até a prisão da neta, filha de Fernando e Teresa. Em conversa com amigos, chegou a desabafar: "Para protegê-la mandei que só dormisse com a avó" - a família temia uma operação de busca, apreensão e prisão na residência de São Luís.
O OCASO
Quem acompanha há mais tempo - e de perto - a trajetória do senador identifica dois atores políticos distintos: o "Sarney do Maranhão", que virou senador pelo Amapá, e o "Sarney nacional". O do Amapá, que garantiu a manutenção da sua vaga no Congresso, passa despercebido. O do Maranhão ganhou oxigênio político com a volta da filha Roseana ao governo estadual. Mas o Sarney "nacional" hoje é politicamente mais frágil que o de novembro do ano passado, antes da disputa renhida com o PT pelo comando do Congresso. A briga com o senador Tião Viana (PT-AC) estendeu-se após a eleição e deixou sequelas que não amenizam.
Na avaliação de um dirigente do PT, Sarney continua "muito forte" com o lulismo, mas desgastou-se com o petismo. O PT absorve no limite estritamente necessário sua aliança com o Planalto, mas sempre que pode deixa clara a incompatibilidade dos DNAs políticos. A soma desses fatores expõe um Sarney frágil e compõe a fotografia de uma liderança histórica em declínio, em que pese a reconquista do poder regional, por meio da filha, Roseana, que o TSE devolveu ao governo do Maranhão.
A volta da senadora ao Palácio dos Leões dá gás ao chamado grupo sarneysista, que vinha perdendo espaço no Estado. Com a retomada da máquina do governo, a tendência é recuperar a base perdida para Jackson Lago (PDT), cassado por abuso de poder econômico. Prova disso é que, quando assumiu o governo em 17 de abril, Roseana e seu grupo eram minoria na Assembleia. O placar em favor de Lago e seus aliados era de 42 a 16. Menos de dois meses depois, Roseana já contabiliza o apoio de 30 deputados estaduais, mas a repercussão disso na liderança nacional de Sarney é praticamente nula.
O ocaso da liderança do patriarca Sarney se dá por fatores múltiplos, em que o cronológico é o de menor relevância. Aos 79 anos de idade, com boa saúde e aparência, Sarney se vê distante da geração dos políticos locais. Lá se vão 30 anos desde a última vez em que disputou uma eleição no Maranhão, onde a maioria dos atuais prefeitos não o conhece pessoalmente. Só um projeto nacional em torno de Roseana teria poder de reverter a curva descendente em que ele se encontra, como ocorreu nas eleições de 1994 e 1998, mas principalmente depois da morte do deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), quando ela passou a ser alternativa das correntes mais conservadoras à sucessão de Fernando Henrique Cardoso. Veio o caso Lunus - operação da PF que apreendeu mais de R$ 1 milhão em espécie em empresa da família durante a campanha eleitoral -, que alijou Roseana da disputa e jogou Sarney nos braços do PT (ele atribuiu a operação a uma conspiração do hoje governador José Serra, então candidato do PSDB ao Planalto).
ACM
Tal cenário gera efeitos semelhantes ao experimentado pelo ex-senador Antônio Carlos Magalhães - assim como Sarney, uma liderança nacional consolidada a partir de um império político regional. A longevidade da cultura política fisiológica de ambos transformou-os em líderes com doutrinas próprias que passaram a integrar o vocabulário político brasileiro: o "carlismo" e o "sarneysismo". Ainda em vida, ACM assistiu à lenta deterioração do carlismo, como Sarney experimenta agora em relação ao sarneysismo. O grupo carlista sobrevive à morte de ACM na Bahia, mas não dá mais as cartas do jogo político nem está na linha de frente da disputa pelo poder. Assim como os "sarneysistas" se escoram apenas na figura do patriarca e na posição institucional que Sarney ocupa no Congresso. Olhando o panorama nacional, a tendência é de declínio.
Depois de enfrentar a campanha do "Xô Sarney" em uma eleição difícil contra Cristina Almeida no Amapá, o senador acabou mostrando que a visão apurada da velha águia política, que lhe rendeu cálculos políticos precisos e o levou à Presidência da República -, começa a dar sinais de alguma miopia. Forçado a disputar a sucessão do Senado, calculou que poderia ser guindado à presidência sem disputa. Errou.
Contou com o apoio de Lula para influir a seu favor, mas não aconteceu bem assim. Cometeu novo equívoco quando supôs que seria fácil derrotar Viana. Quis vestir o figurino confortável de candidato da instituição, com o apoio da oposição, mas não teve os votos do PSDB que contava como certos. Mal assumiu a cadeira de presidente, teve de afastar seu amigo e compadre Agaciel Maia da diretoria-geral, algo que julgou ser possível evitar se derrotasse Tião Viana. Por fim, não teve a dimensão do escândalo que abalaria o Senado e achou possível evitá-lo com a mesma fórmula de 14 anos atrás, de contratar uma consultoria da Fundação Getúlio Vargas.
As feridas da disputa com o PT já tinham evoluído da fase da sangria para uma hemorragia política que transformou a FGV em ator figurante. Alimentada por setores do funcionalismo do Senado que sonhavam em tomar o poder com Tião Viana, a oposição a Sarney trouxe denúncias que lhe atingiram diretamente: um auxílio-moradia pessoal indevido e um neto exonerado por ato secreto, depois de flagrado em nepotismo explícito. A estratégia de transferir ao primeiro-secretário, Heráclito Fortes, o ônus das explicações sobre as denúncias contra o Senado não funcionou mais. Sarney se viu obrigado, ele mesmo, a dar declarações em defesa própria.
Nesse ponto, o fator cronológico passa a ter importância. Sarney já fez as contas e sabe que não terá mais tempo para recuperar o desgaste de imagem e renascer forte aos 81 anos, quando termina o mandato à frente do Senado. O clima já não lhe será tão favorável como parecia profetizar ao recusar-se a ir para o jardim da residência oficial da Câmara na noite da última segunda-feira: "Está muito frio lá fora."
Sarney usa ato secreto para criar cargo para sobrinha
Folha de São Paulo (14.06.09)
Da Folha de S.Paulo, em Brasília
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), utilizou um boletim secreto para nomear sua sobrinha Vera Portela Macieira Borges para um cargo na Casa, fora de Brasília.
Apesar de ser oficialmente funcionária da presidência, Vera está lotada no gabinete do senador Delcídio Amaral (PT-MS), em Campo Grande. A assessoria do senador petista diz que ela exerce funções administrativas e afirma que desconhecia o fato de ela ser parente de Sarney.
Ainda segundo a assessoria de Delcídio Amaral, Vera foi trabalhar em seu gabinete por pedido do próprio presidente do Senado. Delcídio afirma que não manterá a funcionária agora que descobriu o parentesco.
O caso foi divulgado ontem pelo jornal "O Estado de S.Paulo", que revelou ainda o salário (R$ 4,6 mil) da sobrinha de Sarney. De acordo com a reportagem, funcionários de gabinete de Delcídio disseram não conhecer Vera Portela Macieira Borges.
Vera é filha de José Carlos de Pádua Macieira, irmão de Marly Sarney, mulher do presidente. Súmula do STF (Supremo Tribunal Federal) proíbe a nomeação de "parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau".
Sarney não foi localizado para comentar o caso. Sua assessoria confirmou os dados, mas alega que a nomeação reservada aconteceu "por um erro técnico". Disse ainda que Vera é, na verdade, funcionária de carreira do Ministério de Agricultura cedida para a presidência do Senado. Como em 2003 ela se mudou por razões pessoais para Campo Grande, foi cedida ao gabinete de Delcídio.
Sarney estava na presidência do Senado quando a sua sobrinha foi nomeada como assistente parlamentar.
O peemedebista também utilizou os atos secretos para nomear a mãe de um dos seus netos para trabalhar no gabinete do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA).
Rosângela Terezinha Gonçalves foi contratada depois que seu filho, João Fernando Sarney, teve que ser exonerado após a edição da súmula do Supremo que proibiu o nepotismo nos Três Poderes. O pai de João é Fernando Sarney, filho do presidente do Senado.
Na semana passada, quando foi tornada pública a existência dos atos secretos do Senado, o presidente da Casa, José Sarney, disse desconhecer tal prática.
Boletins de nomeações e de medidas administrativas são considerados secretos quando não são divulgados na intranet do Senado ou são divulgados meses e até anos depois de sua publicação.
Reportagem da Folha de ontem revelou que o Senado usou os atos secretos para criar 15 cargos em comissões, que beneficiaram Agaciel Maia, ex-diretor do Senado, e o funcionário Osvaldinho Gonçalves Brito, braço direito de Sarney há 40 anos.
Com a mesma técnica, o Senado tornou permanente adicionais salariais para um grupo seleto de servidores e reajustou o valor do auxílio-alimentação de forma retroativa.
Um dos atos secretos transformou comissões temporárias em permanentes. Dentro do Senado, a participação nessas comissões é muito disputada pelos servidores, porque seus integrantes ganham um adicional mensal de R$ 2.300 em seus salários.
Todos os atos desde 1995 até março deste ano estão sendo analisados. Uma comissão interna, criada há cerca de 15 dias, está estudando exatamente o período em que Agaciel Maia esteve à frente da Diretoria Geral. Em outra frente, o procurador do Ministério Público no Tribunal de Contas da União (TCU), Marinus Marsico, solicitou a abertura de processo sobre os atos secretos, a punição dos responsáveis pela medida e a devolução aos cofres públicos de todos os recursos públicos liberados por meio dos atos secretos.
Agaciel Maia alega que não existem atos secretos, mas sim erros de publicação, e se diz perseguido politicamente. Ele deixou o posto de diretor após a Folha revelar que possui uma casa avaliada em R$ 5 milhões não declarada à Justiça.
Segundo Agaciel Maia, ele não é responsável pelas decisões que visavam aumentar o número de cargos no Senado --nem pelo fato de os gabinetes preencherem essas vagas.
A informação sobre os atos secretos é mais um capítulo na crise por que passa o Senado desde o início da gestão Sarney. Ele assumiu o cargo em fevereiro deste ano, quando vieram à tona uma série de escândalos.
O MISTERIOSO VOO NA MAIONESE DE JOSÉ SARNEY
Por Marcelo Tas - Blog do TAZ/Programa CQC
Por Marcelo Tas - Blog do TAZ/Programa CQC
A semana foi, novamente, um nocaute para José Sarney. Desta vez foi localizado um neto dele, contratado ilegalmente no Senado. O gajo foi imediatamente afastado. Com um detalhe nefasto: por um ato secreto, para que sociedade não fosse informada. E, como se a palhaçada não estivesse suficiente, no lugar do neto, foi contratada a mãe do mesmo!
Entenda a tramóia: Dona Rosângela Terezinha Gonçalves, casada com um filho de Sarney, foi contratada depois que João Fernando Sarney, seu filho, foi exonerado. O pai de João é Fernando Sarney, filho do presidente do Senado.
Enquanto isso, como foi a semana de Sarney? Almoçou com Boni, ex-todo-poderoso da Globo, no Gero, restaurante dos Jardins em São Paulo, quando degustaram um Chateau Petrus, vinho que vale por baixo a bagatela U$ 5 mil a garrafa. Depois foi à festa de casamento da filha de Agaciel Maia, ex-diretor do Senado, pivô de todos os recentes escândalos, um autêntico "Papai Noel" dos congressistas, como aponta o jornalista Josias de Souza em seu blog.
Hoje (sexta, 12) para fechar a semana em grande estilo, Zé Sarney rabisca seu textinho semanal, publicado na Folha, com o seguinte título: "O mistério do AF 447". O beletrista cita Camões, Guimarães Rosa, mas não dá um pio sequer sobre o que todos nós queremos saber: o mistério da caixa preta do Senado.
Como se vê, Sarney não teme a opinião pública. Está rindo da minha, da sua, da nossa cara, nobre internauta. Como leitor do jornal, sinto minha inteligência e meu bolso sendo desrespeitados com a publicação dos devaneios desse senhor.
A absoluta ausência de fiscalização, aliada ao apego de alguns políticos ao dinheiro público, não pára de produzir histórias espantosas no Congresso Nacional. A última delas: na direção-geral do Senado existia uma espécie de serviço paralelo de administração, responsável por contratações, aumentos de salário e distribuição de benefícios a um grupo restrito de parlamentares e servidores da casa. Tudo às escondidas, sem seguir os trâmites normais da burocracia, com o objetivo de permitir a execução de atos que deveriam ficar distantes dos olhos da opinião pública. Por essa janela secreta, senadores nomearam parentes para cargos de confiança, contrataram correligionários e concederam gratificações e aumentos de salário a funcionários escolhidos a dedo. Como vem acontecendo nos últimos casos de irregularidades, não se percebe muita disposição ou empenho em identificar e punir os responsáveis - e por razões compreensíveis.
Na relação dos beneficiados estão o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS) e diretores que ocuparam até pouco tempo atrás altos postos na administração da casa. Apontado como o idealizador da repartição secreta, o ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia negou qualquer irregularidade. Na quarta-feira passada, Agaciel, que foi afastado da direção por ocultar a posse de uma mansão milionária, promoveu a festa de casamento da filha, em que compareceram, entre outros, os três últimos presidentes do Senado - Renan Calheiros, Garibaldi Alves e José Sarney. Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo afirma que entre os beneficiados dos atos secretos está João Fernando Michels Gonçalves Sarney, de 22 anos, neto do senador, que trabalhou por 18 meses no gabinete do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA). O rapaz foi exonerado por causa da lei que proíbe o nepotismo. Para seu lugar - também por um ato secreto - foi nomeada a mãe dele, Rosângela Terezinha Michels Gonçalves.
"Não tenho compromisso com o erro. Qualquer irregularidade, eu tomarei providências. Garanto que não haverá mais atos secretos no Senado", diz o senador Heráclito Fortes, o responsável pela administração da casa. O problema é que a intenção do senador em não deixar nada sem apuração esbarra na leniência de seus colegas, alguns envolvidos nas irregularidades, e na própria burocracia do Senado, que há anos tira proveito do descontrole - e, com isso, os escândalos vão se sucedendo. "Só existe uma saída para normalizar as coisas no Congresso: transparência absoluta", diz Roberto Romano, professor de ética da Unicamp. A receita é simples.
Na relação dos beneficiados estão o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS) e diretores que ocuparam até pouco tempo atrás altos postos na administração da casa. Apontado como o idealizador da repartição secreta, o ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia negou qualquer irregularidade. Na quarta-feira passada, Agaciel, que foi afastado da direção por ocultar a posse de uma mansão milionária, promoveu a festa de casamento da filha, em que compareceram, entre outros, os três últimos presidentes do Senado - Renan Calheiros, Garibaldi Alves e José Sarney. Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo afirma que entre os beneficiados dos atos secretos está João Fernando Michels Gonçalves Sarney, de 22 anos, neto do senador, que trabalhou por 18 meses no gabinete do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA). O rapaz foi exonerado por causa da lei que proíbe o nepotismo. Para seu lugar - também por um ato secreto - foi nomeada a mãe dele, Rosângela Terezinha Michels Gonçalves.
"Não tenho compromisso com o erro. Qualquer irregularidade, eu tomarei providências. Garanto que não haverá mais atos secretos no Senado", diz o senador Heráclito Fortes, o responsável pela administração da casa. O problema é que a intenção do senador em não deixar nada sem apuração esbarra na leniência de seus colegas, alguns envolvidos nas irregularidades, e na própria burocracia do Senado, que há anos tira proveito do descontrole - e, com isso, os escândalos vão se sucedendo. "Só existe uma saída para normalizar as coisas no Congresso: transparência absoluta", diz Roberto Romano, professor de ética da Unicamp. A receita é simples.
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