
Há tempos não
controlo a temática desta coluna. A realidade se impõe velozmente e pauta
minhas modestas reflexões e ideias por aqui traçadas.
Por exemplo, há
bom tempo planejava escrever sobre a manipulação que têm se tornado as
audiências em torno da reforma do Plano Diretor da cidade, assim como sobre a
“pílula do câncer”, a fosfoetanolamina. Mas, então, veio a surpreendente
eleição do advogado Thiago Diaz para a presidência da OAB.
Mais do que
análise da dinâmica da política que impunha uma inesperada derrota ao atual grupo
majoritário na Ordem, iria elaborar como a disputa da OAB trava-se cada vez
mais entre grandes escritórios e, mais ainda, como está em curso uma
transformação no conjunto dessa categoria. Há uma “massa” de advogados que
cresce fora da influência da universidade pública, que se forma nas diversas
faculdades privadas, que não têm mais as referências acadêmicas do campus do
Bacanga. Thiago Diaz será o primeiro advogado a presidir a OAB formado pelo Ceuma,
e não pela UFMA... mas a repercussão do maior desastre ambiental da história do
país, o rompimento das barragens de Mariana, mantinha-se fortemente na
conjuntura.
Pensei em
continuar esse tema, ante a inacreditável informação trazida a público pelo juiz
Frederico Gonçalves, de Mariana, de que a Samarco (Vale/BHP Bilinton), para não
pagar 300 milhões de reais a que fora inicialmente condenada, resolveu “sumir
com o dinheiro de suas contas, embora tivesse em seu caixa mais de dois bilhões
de reais”... Mas veio o repugnante estupro e assassinato da menina Maíse
Moreno, em Urbano Santos, que nos trouxe o choque de realidade de como a
barbárie vem se tornando rotina e a violência se alastrando em nosso estado
desordenadamente. Novamente, voltava minha atenção para um tema quando, de
repente, a realiza trazia outro: a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT),
na mais recente etapa da Operação Lava Jato.
Objetivava
tratar desse novo assunto pelo viés mais ocultado no debate político: de que a
prisão do também banqueiro André Esteves trazia a público uma movimentação
política que o tornava uma espécie de fiador financeiro da política
tucano-petista. Pasmem: o dono do banco BTG Pontual doou seis milhões e meio de
reais à campanha de Dilma, e outros cinco milhões à campanha de Aécio Neves; e
mais: era ele quem bancava os jatinhos das viagens de Lula e de Aécio para as
palestras deles no exterior. Contudo, mais retumbante ainda, a realidade nos
colocaria diante da histórica sessão do Senado que decidiria, em voto aberto,
pela manutenção da prisão do senador petista.
Para além do
debate técnico-jurídico, já partia para escrever sobre como o voto contrário à
manutenção da prisão de Delcídio, dado pelo senador Roberto Rocha, igualava o
condomínio da mudança gerido por Flávio Dino ao comportamento político dos
senadores da oligarquia decadente, João Alberto e Edison Lobão. Dino catapultou
Rocha ao Senado prometendo ao eleitor que os maranhenses teriam um senador para
votar pelo povo, e não pelos interesses das velhas práticas políticas... Já
iniciava por aí minhas reflexões quando, ela de novo, a dinâmica realidade, nos
trazia a notícia da ida de Fernando Sarney a cargo na FIFA. Inacreditável
futebol clube! Seria cômico não fosse trágico!
Tal como no
vídeo viralizado nas redes sociais do “acabou, Jéssica?”, já dava por concluída
a pancadaria da realidade sobre meus sentidos e partia para o artigo sobre
“nosso futebol e seus cartolas”, quando a realidade, mais uma vez, se impunha
trazendo a mais triste e dura das notícias: Nauro Machado morreu... Mas como?
Há menos de uma
semana, tomávamos um café feito à moda italiana, que ele apreciava, e cujos
segredos de seu preparado me ensinava minha eterna professora Arlete Nogueira
da Cruz, a quem admiro desde meus tempos de calouro no curso de Comunicação da
UFMA, quando por ela fui apresentado às ideias de Walter Benjamin. E
comemorávamos a boa notícia da volta de Nauro Machado dos exames de rotina de
acompanhamento do câncer que ele vencera, e que estava perfeitamente superado.
Dizia a ele que,
passado um momento pessoal de sufoco de elaboração de tese de doutoramento, eu
pessoalmente procuraria o Félix Alberto, a quem conheço também desde os tempos
do jornalismo da UFMA, para organizar uma reunião nossa com poetas e amigos da
nova geração maranhense das letras, a fim de conversarmos sobre a poesia, a
literatura do Maranhão, que, lamentávamos, estava cada vez mais escassa na leitura
aligeirada de nossa juventude, induzida tão somente ao formato ENEM, que conduz
ao esquecimento nossos autores e poetas maranhenses... mas a realidade, ela
sempre, veio sem nos dar qualquer tempo.
Fosse um
discurso oral, nada falaria, pediria um minuto de silêncio.
Pensei até em
deixar esta coluna apenas com um título e toda em branco, para demonstrar que
não tinha palavras para expressar a magnitude de Nauro Machado. Mas não sou
poeta, não tenho habilidades para essa arte.
Ah, dura
realidade!! Que encruzilhada! Deixou-me na difícil situação de não saber como
dizer “adeus, Nauro...”