Franklin
Douglas (*)
Três
perguntas não calam, desde o dia 14 de março de 2018:
Primeira
– quem matou Marielle?
Segunda
– quem mandou matar Marielle?
Terceira
– quem acoberta os que mandaram matar Marielle?
Marielle
era a síntese das classes subalternas que ousam não se calar.
Era
negra, tal qual cerca de 17 milhões da população brasileira que assim se
autodeclararam na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2017,
divulgada pelo IBGE (PNAD Contínua 2017-IBGE) – precisos 8,6% dos brasileiros.
Era
mulher, como a maioria da população do país, 51,6% (PNAD Contínua 2017-IBGE) – quase
107 milhões de mulheres.
Era
da periferia, assim como significativa parte da população que reside em
domicílios que têm dificuldades de acesso à água diariamente, de ligação com
esgotamento sanitário, de coleta de lixo. Território onde juventudes estão sob
a ameaça da violência, do tráfico de drogas, de milícias, da falta de escola e
postos de saúde.
Por
isso a vereadora do PSOL do Rio de Janeiro, em apenas um ano e meio de mandato,
projetou-se como símbolo da luta antirracista, antimachista, por direitos de
LGBTI´s, de jovens e da população da periferia. Foi, como diz o samba-enredo da
vitoriosa Mangueira no carnaval deste 2019, a vez em que o Brasil passou a
ouvir “Marias, Marielles e Malês”, pois trazia consigo “a história que a
história não conta”.
Marielle
ousou enfrentar os poderosos que se entranham no Estado e tratam a coisa
pública como privada. Ousou ser uma voz de muitas e de muitos. Sua dureza na
denúncia das mazelas sociais não se sobrepunha a sua ternura na forma de ver e
encarar a vida.
Calar
Marielle, assassinando-a, foi premeditadamente um crime para intimidar
lutadores sociais, amedrontar os que vêm debaixo e exigem participar da cena
pública como sujeitos de seu destino.
Os
que a mataram, os que mandaram matá-la e os que acobertam os que mandaram matar
Marielle falharam!
Foi-se
a Marielle Franco no dia 14 de março de 2018, emergiram milhares de Marielles
no dia seguinte! Vozes que gritam bem alto e exigem respostas para as três
perguntas que continuarão sendo ecoadas enquanto o crime não for por completo
elucidado: quem matou, quem mandou matar e quem acoberta quem mandou matar?
Uma
CPI das Milícias, no Congresso Nacional, é urgente para buscar essas respostas.
Todas as investigações, um ano depois, não avançam para jogar luz sobre os
vínculos das milícias cariocas com o assassinato de Marielle. Só uma avalanche
de assinaturas e mensagens junto aos parlamentares federais poderá garantir que
essa CPI seja criada. Essa é uma movimentação a ser feita por aqueles e por aquelas que não
deixam a voz de Marielle calar: exigir uma CPI
das Milícias, já!
Tentaram calar uma voz, mas
acordaram milhares! Não vamos deixar. MARIELE VIVE!!
(*) Franklin
Douglas – professor e doutor em Políticas Públicas. E-mail: franklin.artigos@gmail.com