sábado, 18 de abril de 2020

UM HOSPITAL DE CAMPANHA EM SÃO LUÍS, URGENTE!

Hospital de campanha, em Fortaleza (CE)


Franklin Douglas (*)

Ultrapassamos o simbólico número de 1.000 infectados por Covid-19 no Maranhão. A pandemia chegou a 33 municípios. Mais de 80% dos casos encontram-se em São Luís. A capital responde por 862 pessoas testadas positivamente para o coronavírus, segundo Boletim da Secretaria Estadual de Saúde (SES – 17/04/2020, até às 20h). Isso, fora a subnotificação. Casos que sequer chegam aos dados do sistema de saúde.
E ainda temos mais de 3.500 suspeitos que conseguiram fazer os testes – aguardam o resultado. Nos leitos de UTI´s, o sistema privado está à beira da lotação. No público, já ultrapassa os 65%. Em leitos clínicos exclusivos para Covid-19, 90% já estão ocupados na rede pública. Daqui para frente, números virarão rostos.
A pirotecnia para adquirir 107 respiradores artificiais para o Maranhão evidenciam o esforço do governo estadual em tentar amenizar o caos. Por outro lado, revela suas opções equivocadas. Desde o primeiro dia de seu primeiro mandato, faltou a Flávio Dino a opção por estruturar o SUS no Estado. Tergiversou no principal: tornar público um sistema que estava capturado para os interesses privados. Descartou concurso público para a área da saúde. Preferiu o troca-troca das indicações para as OSCIP´s que parasitam o sistema público. Criou uma empresa, a EMESERH, seguindo os passos errados do governo petista, com a EBSERH. Resultado: corre atrás do prejuízo nesse momento de pandemia.
Certa vez, o economista francês François Chesnais, em conferência na Jornada de Políticas Públicas da UFMA, chamou à reflexão: muitas das escolhas de um governo que se quer “contra-hegemômico” se dão no primeiro dia do governo. Opções erradas ou conciliatórias sempre trazem um resultado desastroso ao projeto popular. “O problema das consequências é que elas vêm depois”, como diria o “brasileiríssimo” conselheiro Acácio, personagem de O Primo Basílio, de Eça de Queiros.
Não estruturar o SUS e um sistema de saúde no estado nos deixa à mercê da pior pandemia que já enfrentamos desde o início do século passado, a gripe “espanhola”.
Nessa trilha, segue a Prefeitura de São Luís: não é inerte, mas é lenta como uma tartaruga, enquanto o coronavírus espalha-se veloz como uma lebre. Está sempre um passo atrás do Governo do Estado. Tem um acordo firmado com Wuhan, nada fez. Perdemos uma privilegiada interlocução com a cidade chinesa que ensina o mundo a combater o Covid-19. Não conseguimos nenhuma máscara doada, tampouco respiradores artificiais.
Por falar em máscaras, enquanto outras cidades do mundo e do país decretam obrigatoriedade de seu uso e a distribuem gratuitamente à população, em São Luís não se vê nada semelhante. E não é por falta de sugestões ou verbas!
Em “Distribuir máscaras à população, óbvio!” (artigo publicado em O Imparcial, de 05/04/2020), registramos a proposta, como fazer e de onde viriam os recursos. Em outro artigo, “Hora de uma irmã ajudar outra” (O Imparcial, 22/03/2020), indicamos o caminho da relação com a China. E em “A conta do caos” (O Imparcial, 29/03/2020), ressaltamos a alarmante tendência de evolução do contágio. Chegamos a mil casos, o nosso pico está calculado para 11 mil. Infelizmente, tudo só tende a piorar!
Hospital de campanha, em Santo André (SP)
Nesse contexto, um hospital de campanha é urgente!
Trata-se de um hospital provisório, orientado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para casos de pandemia. São hospitais temporários para receber enorme contingente. Mesmo em nossa realidade, sem respiradores artificiais suficientes, já seria uma grande ajuda para termos leitos clínicos para os casos não tão graves, mas cujos pacientes não podem/não devem ficar em casa.
Melhor localização: Centro de Convenções do Multicenter SEBRAE, no Cohafuma. Já tem toda a estrutura. Ligação elétrica. Fornecimento de água. Amplo estacionamento. Próximo a hospitais de maior complexidade. Já tem espaços cobertos, apenas para serem montados os leitos. O que esperam Governo e Prefeitura para um hospital de campanha em São Luís?
São Luís já é a quinta capital em pior situação na ampliação de casos da Covid-19 por milhão de pessoas. Em situação pior a nossa estão apenas: São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus e Fortaleza. Justificar que não se montará um hospital de campanha porque ele não fica incorporado à estrutura de saúde do estado, é tarde. Essa decisão cabia no primeiro dia de governo...
Qual o objetivo da política em tempo de guerra contra um inimigo externo? Pergunta o cientista político italiano Norberto Bobbio. E responde ele: a unidade contra o inimigo. Nos tempos de guerra, não há espaço para fazer oposição. O que não quer dizer deixar de fazer a crítica enquanto se constrói a unidade contra o inimigo. No nosso caso, o inimigo invisível, o vírus, une a todos nós nessa batalha, cada um com o que pode. Entramos com alertas e propostas. Cabe aos governos agirem, com as diretrizes corretas!
“O Brasil é a terra onde o certo dá errado, e o errado dá certo”, disse Monteiro Lobato ao escritor Lima Barreto numa carta de 1918, ano em que a gripe “espanhola” -  a mãe das pandemias – chegou aqui pelo Maranhão. Oremos para que essa máxima se inverta no Maranhão nesse combate ao vírus. Parece ser o que nos resta...


(*) Franklin Douglas – professor e doutor em Políticas Públicas. E-mail: franklin.artigos@gmail.com

Artigo publicado no  jornal O Imparcial (18.04.2020, p. 04)

[Nota 1 - Na verdade, a EMESERH foi criada por Roseana Sarney. O governo Dino a ativou]
[Nota 2 - Organizações Sociais (OS´s)/OSCIP´s]





sábado, 4 de abril de 2020

Distribuir máscaras à população: ÓBVIO!


#Mask4All: eu protejo você, você me proteje!

Franklin Douglas (*)

Com a confirmação dos cenários antevistos por infectologistas, biólogos e demais cientistas, de que a Covid-19 colocaria em colapso o sistema de saúde dos países, chega-se à alternativa que há muito se alertava: a necessária prevenção. E um instrumento que se comprovou eficaz para esse fim foi a máscara – sobretudo a de utilização caseira, recomendada pelas autoridades de saúde.

Não à toa, após dar um giro de 180 graus, o presidente dos Estados Unidos partiu até mesmo para uma novíssima pirataria em seu combate ao coronavírus: interceptar máscaras que a China tem doado ou vendido a diversas nações.

Foi o caso de carregamento de máscaras da China à Europa, comprado pelos Estados Unidos por valor até quatro vezes maior do que o negociado por chineses aos europeus. Assim como o envio de 23 aviões cargueiros americanos para transportar 200 milhões de máscaras e demais equipamentos que o Brasil tinha adquirido da China.

Mas, na guerra das máscaras, não são apenas os norte-americanos no vale-tudo. A França também confiscou 4 milhões de máscaras destinadas à Espanha e à Itália. A República Checa interceptou 680 mil máscaras enviadas da China para a Itália. Berlim (Alemanha) deixou de receber 200 mil máscaras, confiscadas por Bangkok (Tailândia).

O que isso tudo nos ensina? O óbvio: quem teme o coronavírus tem pressa!

A estupidez ideológica do governo brasileiro nos fez perder a interlocução privilegiada com a China. No caso dessa guerra das máscaras, é preciso menos política ideológica e mais agilidade e coordenação entre os entes governamentais.

Incentivar a produção em massa de máscaras caseiras é a solução mais viável!

Governo do Estado e Prefeitura de São Luís devem fornecer o material inicial necessário e adquirir a produção de diversos grupos de costureiras, artesãos dos barracões das escolas de samba e sedes dos grupos de bumba-meu-boi. Estamos falando de algo em torno de 300 grupos de bumba-meu-boi, 10 escolhas de samba e 32 blocos tradicionais. Todos eles com seus ateliês que, sobrecarregados nos períodos momesco e junino, estão subutilizados neste momento. Afora os diversos grupos ligados à economia solidária.

Quando fui secretário adjunto do Trabalho e Economia Solidária, no governo Jackson Lago (2007-2009), pude verificar e contribuir com o apoio a esses grupos de produção artesanal. Nosso pioneirismo na criação da SETRES, agregando a economia solidária (Ecosol) à estratégia de emprego, geração de trabalho e renda, deu visibilidade a esse setor. A Ecosol gera renda e potencializa o comércio solidário de produtos de excelente qualidade. Falta apoio.

Incentivar esses grupos de produtores e artesãos, apoiando a produção dessas máscaras caseiras por parte deles, e, ao mesmo tempo, combatermos a proliferação da Covid-19. Toda a produção seria adquirida pelo Poder Público e distribuída gratuitamente à população. Eis a oportunidade de criarmos um círculo virtuoso: injetar recursos na economia local, dar trabalho a setores vulnerabilizados e potencializar o combate à Covid-19, incentivando uma prática profilática. No combate à Covid-19, basta que copiemos as boas iniciativas.

“Não há mudança nem solidariedade espontâneas, algo tem que acontecer primeiro”, diria uma personagem do filme “O Poço” – em exibição na plataforma Netflix. Distribuir máscaras à população para prevenir o coronavírus é o “óbvio”, diria “o velho”, outra personagem desse mesmo filme.


Só não defende isso quem, estando no andar de cima, acredita que nunca chegará ao fundo do poço: o leito de uma UTI. Porque se convenceu que o vírus não seria mais do que uma simples “gripezinha”... Não é, óbvio!


(*) Franklin Douglas – professor e doutor em Políticas Públicas. E-mail: franklin.artigos@gmail.com

Artigo publicado no  jornal O Imparcial (04.04.2020, p. 04)