quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Em 2021, a gente se encontra nas redes, nas ruas e nas lutas!

 



Em 2021,

Vacina para todos;

Emprego para muitos;

E impeachment para um: 
Fora Bolsonaro e suas políticas!

Ano que vem, a gente se encontra nas redes, nas ruas e nas lutas! 

Com esperança e resistência,
Feliz ano novo!

domingo, 4 de outubro de 2020

Franklin Douglas defende um Plano Emergencial de Emprego para São Luís - entrevista ao Jornal Pequeno, 04/10/2020

 

Franklin Douglas, candidato do PSOL à Prefeitura de São Luís:
um realista esperançoso


Professor nos cursos de Comunicação e de Direito, doutor em Políticas Públicas, Franklin Douglas retoma à cena pública como candidato do PSOL à Prefeitura de São Luís.

“Os últimos dez anos foram uma espécie de período sabático, no qual fiz o curso de Direito e o doutorado em Políticas Públicas, que se somam à minha paixão, o jornalismo”, explica Douglas, que ocupou cargos de destaque na direção do PT até 2011, quando se desfiliou e seguiu ao PSOL.

“Mudamos de casa, mas ficamos no mesmo lado da rua”, sintetiza a sua saída do partido em divergência com Lula por ter se aliado à família Sarney, em 2010, com uma intervenção no PT maranhense.

Franklin foi secretário adjunto do Trabalho e Economia Solidária, no governo Jackson Lago (2007-2009). Acredita que sua trajetória pessoal, preparo acadêmico, experiência administrativa e suas propostas para a cidade o tornam um candidato à altura do PSOL, que crescerá muito em 2020.

Crítico da gestão do prefeito Edivaldo Holanda Júnior, mas esperançoso com o futuro da cidade, Franklin defende a geração de empregos como principal proposta de campanha. Nesta entrevista ao Jornal Pequeno, o candidato do PSOL fala sobre suas ideias.

Por Manoel Santos Neto


Jornal Pequeno - Quais as propostas mais importantes que pretende apresentar nesta campanha? 

Franklin Douglas - Nossa principal proposta será a geração de empregos! Como secretário adjunto de Trabalho e Economia Solidária que fui no governo Jackson Lago, tenho experiência no tema.  Em São Luís, 121 mil pessoas recorreram ao auxílio emergencial de R$ 600,00 para ter como sobreviver. Auxílio o PSOL lutou para instituir, contra a vontade do governo Bolsonaro. 

Foi devido à ação de nossa bancada federal junto aos outros partidos que o auxílio saiu de 200 para 600 reais. A luta agora é por estender esse auxílio até o fim da pandemia. Sustentado pelos partidos de Braide, Neto Evangelista e Duarte Jr, Bolsonaro não quer isso. 


JP - Qual será o mote principal dos debates nesta campanha?

Franklin Douglas - O desafio desta eleição municipal é nacionalizar o debate sem perder o elo com os problemas locais. O desemprego, por exemplo, é responsabilidade da política econômica equivocada do Governo Federal. E os candidatos do Bolsonaro à Prefeitura de São Luís terão que se explicar sobre o desemprego que assola a vida de mais de 12 milhões de brasileiros e mais de 121 mil ludovicenses.

Vamos propor à cidade um Plano Emergencial de Emprego, apoiar desde as iniciativas de empreendedorismo até os negócios de micro e pequenos empresários, passando pelos empreendedores da economia solidária, potencializando a geração de trabalho por esses segmentos e pelos setores de turismo e da economia da cultura, garantindo ainda os cursos de qualificação profissional. Vamos viabilizar duas novas Agências Municipais do Trabalho (Sine): uma no Anjo da Guarda e outra na Cidade Operária. 


JP - A ideia é implantar um modelo mais descentralizado na Prefeitura?

Franklin Douglas - Sim. Com a implantação de subprefeituras, criaremos Frentes de Trabalho Emergenciais nas áreas do Itaqui-Bacanga, da Cohab até Cidade Olímpica, do São Francisco ao Angelim, da Cohama até o Turu-Vila Luizão e na Zona Rural. 

Com essas Frentes de Trabalho e ouvindo a população, as pequenas empresas e a mão de obra do próprio bairro serão utilizadas nessas obras de construção e recuperação de imóveis públicos municipais, como as escolas.

Há recursos para isso: só para a infraestrutura urbana, na Secretaria de Obras, há R$ 82 milhões no Orçamento. Tem é que usar esse recurso com transparência e eficiência!


JP - Qual sua impressão sobre as pesquisas divulgadas até agora?

Franklin Douglas - Quase todas tiveram problemas metodológicos. Viraram mais uma peça de marketing do que uma aferição de tendências, mas, no geral, são retratos do momento. O que vale é o que sairá das urnas. E, tenho certeza, à medida que a população for conhecendo nossas propostas, seremos vitoriosos. 

Uma cidade com Passe Livre aos estudantes. Com um milhão de árvores plantadas em quatro anos. Com a Caema pública, mas sendo efetivamente cobrada pelo poder municipal, garantiremos água aos bairros e, também, construiremos quatro estações de tratamento de esgoto, funcionando de fato para despoluir nossas praias. 


JP - De que forma a Prefeitura pode, por exemplo, implementar a cultura e o transporte coletivo?

Franklin Douglas - Com o circuito de cultura nos bairros, gratuito, a partir do efetivo funcionamento do Fundo da Cultura e seus 62 milhões de reais investidos transparentemente. Com um corredor de ônibus do Maiobão até o Anel Viário, passando pela Forquilha, Anil, João Paulo, melhorando o transporte do trabalhador. 

Com nossas propostas para uma cidade inclusiva, que respeitará as pessoas com deficiência. Que promoverá a igualdade racial, numa cidade com 74% de negros e negras. Nossa chapa 100% negra e trabalhadora, com Arouche meu vice e eu, não conciliaremos com o racismo, com a homofobia ou o machismo. 

Com nosso compromisso de ter um secretariado que expresse a cidade, com um primeiro escalão composto por negros, com 50% de mulheres, com pessoas com deficiência, com LGBTs. 

Esse novo projeto por uma nova cidade é que fará o PSOL emergir com força na luta por uma cidade com igualdade, com fraternidade, com felicidade para seu povo. Isso as pesquisas são captam, porque amarradas aos interesses de quem as financia.


JP - Acredita que há de fato um favoritismo em torno do nome de Eduardo Braide?

Franklin Douglas - Quando a população tomar conhecimento que Braide sustenta o governo Bolsonaro e que ele não é dono de sua candidatura, mas sim Roberto Rocha, Ricardo Murad e Edilázio Júnior, esse favoritismo cai por terra, embora mantenha um recall que poderá lhe garantir a vaga no segundo turno.


JP - No seu modo de ver, há de fato um cenário indicando um provável segundo turno em São Luís?

Franklin Douglas - Sim. E haverá muitas surpresas. Duarte não se sustenta, também com seu discurso desconstruído pela sua aliança com Maranhãozinho (PL) e sua filiação ao partido da família Bolsonaro no Rio. Duarte só vê o eleitor como consumidor. Mas só é consumidor quem tem dinheiro para comprar, consumir. 

Numa cidade de 121 mil desempregados, penso que devemos ver a pessoa como cidadão, com direito à saúde, educação, transporte, independentemente de ter dinheiro para ser consumidor. E temos que ver o cidadão como sujeito das políticas públicas, e não objeto. Neto será vítima de sua própria velha política. A rebeldia da ilha não perdoa traição, nem capitulação à oligarquia. O povo saberá construir um novo futuro para si e para a cidade.


JP - Qual sua análise sobre a administração do prefeito Edivaldo, nestes dois mandatos à frente da Prefeitura de São Luís?

Franklin Douglas - Uma administração que deixou a desejar. Não melhorou o transporte público: não fez o BRT, não colocou a internet gratuita nos ônibus. Os corredores exclusivos de ônibus só serviram para fechar as lojas na Avenida Colares Moreira (São Francisco) e na Rio Branco. As paradas são uma vergonha. Nelas, as pessoas não têm como se proteger do sol ou da chuva. 

Não fez o Hospital da Criança. Não liderou a cidade contra a pandemia. Edivaldo Holanda Júnior, em oito anos de gestão, foi incapaz de construir uma única creche, das 25 que prometeu. De nossas 268 escolas, 80% tem problema de estrutura: forro caindo, sem ventilação, quadras sem manutenção; 5.888 professores trabalham em escolas onde 68% delas não têm sala de professores; 65% não tem laboratório de informática. Ninguém nem acredita que esse é o partido dos CIEPs de Darcy Ribeiro e Leonel Brizola. 

Comparo a gestão atual a um trem, no qual o maquinista, o prefeito, conduziu o trem o tempo todo sem manutenção, sem cuidados, apenas preocupado com os passageiros da primeira classe, a das mordomias e dos que o ajudaram a ser eleito (Duarte Júnior, Neto Evangelista, Rubens Júnior, Bira do Pindaré, Yglésio), esquecendo-se dos vagões da educação, da saúde, do emprego... E, agora, faltando três meses para fim da gestão, acelera o trem para dizer que a viagem foi muito boa. Parece muito com o VLT do Castelo e Neto Evangelista, em 2012, que só funcionou no programa de televisão, ligando o Terminal da Praia Grande ao antigo Cabão. O povo não cai nesse engodo!


JP - Que influência podem ter nestas eleições em São Luís figuras como Lula, Sarney, Bolsonaro, Flávio Dino e o prefeito Edivaldo?

Franklin Douglas - Lula e Bolsonaro, nenhuma. O que eles têm de voto pertencem a eles próprios. Não transferem. Lembremos: em 2008, em São Luís, no auge de sua popularidade, Lula não conseguiu eleger Flávio Dino contra João Castelo. 

De igual forma, Flávio Dino não transferirá votos, ele sequer terá palanque no primeiro turno. Sarney e Edivaldo são influências negativas. Até o Adriano tirou o Sarney do nome na propaganda. O apoio deles tira votos.


JP - Na sua avaliação, há um racha no grupo Sarney nestas eleições em São Luís?

Franklin Douglas - A oligarquia faz o jogo que sempre fez. Se divide para ter pontes com vários candidatos: Edilázio (PSD) com Braide; Roseana (MDB) com Neto (DEM). Há ainda a periferia da oligarquia que se aproxima de candidatos que julgam competitivos. Bolsonarismo e oligarquia se misturam com os candidatos de Edivaldo e Flávio Dino.


JP - Qual sua opinião sobre o apoio do MDB ao deputado Neto Evangelista e sobre estas demais alianças para as próximas eleições na capital?

Franklin Douglas - Será um abraço de afogados. O eleitorado da ilha não engolirá. E indica que, para 2022, o consórcio dinista se dividirá: Weverton Rocha com Roseana Sarney, de um lado, e Brandão com Josimar do Maranhãozinho, de outro. No meio dessa salada de dinistas, bolsonaristas e oligarquia, os setores da esquerda que conciliaram com essas alianças estão sem discurso.


JP - Que reflexo estas eleições em São Luís poderão ter na sucessão do governador Flávio Dino, em 2022?

Franklin Douglas - O dinismo chegará dividido em 2022. Não deixará um legado de superação da estrutura oligárquica, por não ter rompido com essa estrutura, que prevaleceu de Benedito Leite a Sarney, passando por Vitorino Freire. Qual será o legado de Flávio Dino? Será deixar o governo nas mãos de Brandão e Maranhãozinho, “devolvendo” o governo a José Reinaldo, de quem ganhou seu primeiro mandato de deputado federal? A Weverton, junto com Roseana? A Roberto Rocha? 

Flávio não construiu nada de novo à esquerda. A rebeldia de São Luís nestas eleições poderá apontar um caminho de reconstrução de uma alternativa de esquerda, que não vota em perdão de dívida de igrejas pentecostais para ter votos de um segmento que não é progressista nem soma com um novo projeto de sociedade. Colocar a política na frente do eleitoral. Enfrentar o fascismo e denunciar o bolsonarismo. Defender a democracia, emprego e saúde para o povo. 

Esses são os pilares da reconstrução de uma nova esquerda, que o PSOL almeja no Brasil e em São Luís. Inspirado em Ariano Suassuna, posto que os otimistas são ingênuos e os pessimistas, amargos, eu sou um realista esperançoso: acredito que ainda há esperança de reinventar o futuro de São Luís, de que um outro mundo é possível!


JP - Como pretende levar avante sua campanha nestes tempos de pandemia do coronavírus?

Franklin Douglas - Com criatividade, uma campanha militante e apostando em nossas propostas nas redes sociais e nos debates. Assinei um compromisso de participar de todos. Os demais, salvo Madeira, não. Neto Evangelista até já fugiu de um, com os urbanitários. 

Com a observância às regras sanitárias, vamos fazer uma campanha nos moldes de Boulos e Erundina, em São Paulo; Renata, no Rio; Edmilson, em Belém. Vamos, Arouche, meu vice, compondo uma chapa 100% negra e trabalhadora, com nossos candidatos e candidatas a vereadores, defender o legado de Marielle Franco e de Wagner Baldez por uma sociedade justa, com igualdade, fraterna, em busca de uma cidade para viver bem.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Entrevista - Franklin Douglas: CONSÓRCIO MISTURA BOLSONARISTAS E DINISTAS

Pré-candidato do PSOL tem visão crítica das gestões de Edivaldo, Dino e Bolsonaro, e quer partido dialogando com a sociedade, não com o gueto.

Jornal O Estado do Maranhão (02 jul. 2020)



O professor Franklin Douglas, pré-candidato do PSOL à Prefeitura de São Luís, afirmou em entrevista a O Estado não ter dúvidas da existência de um consórcio de candidatos apoiados pelo Palácio dos Leões nas eleições deste ano na capital - algo que vem sendo veementemente negado pelos pré-candidatos ligados ao governador Flávio Dino (PCdoB).

Segundo ele, o "colegiado" de candidatos é composto não apenas por membros da base esquerdista do governo, mas até por filiados a partidos da base de sustentação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

"É o consórcio dos Palácios, La Ravardière e dos Leões, onde o contemplado não é o povo", destacou.

Formado em Comunicação, Direito, mestre e doutor em Políticas Públicas pela UFMA, Franklin Douglas tem 47 anos e deve ser lançado em breve como o nome de seu partido, após uma mal sucedida tentativa de formação de uma frente de esquerda com PT, PSB e PCB.

"Buscamos PT e PSB para uma frente de esquerda para São Luís. Fizemos essas sinalizações, desde o segundo turno das eleições de 2018, com o voto em Haddad. Não obtivemos retorno. Ao contrário, o PT sinalizou a escolha entre as pré-candidaturas do PCdoB, Republicanos ou Solidariedade, estes dois últimos, inclusive, partidos de sustentação do governo Bolsonaro. O PSB bateu martelo em projeto próprio de candidatura", destacou. O PCB decidiu, em congresso nacional, não disputar eleições.

Douglas tem visão crítica sobre as gestões do prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PDT), do governador Flávio Dino e do presidente Jair Bolsonaro. E diz que topou o desafio de ser candidato com a condição de que o PSOL dialogue com a cidade, não com o gueto.

Por Gilberto Leda - da Editoria de Política (com edição)

O Diretório Municipal do PSOL aprovou no mês passado, por ampla maioria, a proposta de lançamento e candidatura própria. Mesmo assim, o PSB, do deputado Bira do Pindaré, ainda tenta uma articulação para a formação de uma frente de esquerda com a participação de vocês. É possível uma reviravolta?

Permita-me, antes, que me apresente aos leitores d´O Estado do Maranhão, visto que, se for confirmado como candidato, talvez seja o menos conhecido dos postulantes. Sou Franklin Douglas, 47 anos, nascido e criado em São Luís, casado, tenho dois filhos, católico. Formado em Comunicação, Direito, mestre e doutor em Políticas Públicas pela UFMA. Todos certificados na Capes e registrados no meu currículo Lattes, com os diplomas! (risos). Do movimento estudantil do Marista e do DCE/UFMA a secretário adjunto de Trabalho e Renda do governo Jackson Lago (2007-2009), tenho feito uma opção de militância política no campo progressista, em defesa dos setores populares e pobres da sociedade. Pois bem, desejando que o leitor e a leitora desta entrevista estejam com saúde, protegidos do coronavírus, passo a sua pergunta. Buscamos PT e PSB para uma frente de esquerda para São Luís. Fizemos essas sinalizações, desde o segundo turno das eleições de 2018, com o voto em Haddad, passando pela campanha Lula Livre, as mobilizações a favor da Previdência Pública, contra a Reforma Trabalhista e na oposição ao desastre que é o governo Bolsonaro. Não obtivemos retorno. Ao contrário, o PT sinalizou a escolha entre as pré-candidaturas do PCdoB, Republicanos ou Solidariedade, estes dois últimos, inclusive, partidos de sustentação do governo Bolsonaro. O PSB bateu martelo em projeto próprio de candidatura. Então, quando um não quer, dois não casam. Dessa forma, a decisão de 82% do Diretório Municipal do PSOL foi por apresentar uma candidatura própria. Não há reviravolta nessa decisão. Inclusive, nesta eleição sob novas regras, todos os partidos são obrigados a apresentar seus candidatos majoritários se quiserem eleger seus vereadores. Então, a candidatura própria do partido é uma decisão também de sua chapa proporcional. Faremos a escolha de nossos majoritários e seguiremos o nosso caminho de propor um novo projeto para uma nova cidade. Um São Luís sustentável, inclusiva e moderna.

O PSOL conversa com outros partidos para uma possível aliança? Ou já decidiu que vai sozinho, sem possibilidade de apoios?

Como disse, tentamos. Inclusive buscamos o PCB. Mas o Congresso Nacional do PCB orientou seus diretórios a não disputar essas eleições. Não foi possível. Buscaremos agora é o diálogo com a cidade, ouvir a cidade, seus segmentos organizados e as pessoas que se disponham a opinar em nossa consulta pública, no site www.vumbora.org, onde perguntamos o que elas acreditam que precisa ser feito em São Luís para vivermos numa cidade melhor e sermos felizes aqui. Junto com os webnários, com a participação de técnicos e especialistas das áreas, vamos unir as duas opiniões e construir um conjunto de propostas para defendermos na campanha. Isso é novo. É construir de baixo para cima. Deixar a velha política para trás. Colocar as pessoas, o povo, em protagonismo no processo eleitoral. Isso assusta as velhas práticas políticas, e até mesmo em segmentos do campo progressista. Vamos, então, priorizar essa aliança com o povo, que é o maior protagonista da eleição[*]

Muito se tem falado sobre a existência de um “consórcio de candidatos” patrocinado pelo Palácio dos Leões. Como você avalia esse tipo de tática para a manutenção do poder na capital?

Há um consórcio nessa eleição que, inclusive, mistura os partidos que apoiam o governo Bolsonaro com os partidos que sustentam o governo Flávio Dino. O consórcio cujos candidatos falam em suposta independência, mas estão no partido da família Bolsonaro; e outros tentam se esquivar, mas todo o suporte político da candidatura está alicerçado nos partidos que dão sustentação ao governo Bolsonaro. É consórcio dos Palácios, La Ravardière e dos Leões, onde o contemplado não é o povo. E, ainda, tem pré-candidato que quer o bônus do apoio da máquina municipal, mas não quer o ônus da mal avaliada gestão do prefeito. O mesmo vale para o outsider, também escondendo que está vinculado ao governo da extrema-direita. É o velho oportunismo achando que o povo é bobo e não perceberá essas incoerências. Política é discurso, tenho dito. E discurso é coerência, seriedade. A insustentável leveza desse consórcio desabará nos debates, nas redes sociais.

Existe alguma possibilidade de composição com candidaturas vinculadas ao projeto Flávio Dino/Edivaldo Holanda Júnior?

Seria incoerente não termos apoiado Holanda Júnior antes e, agora, em 2020, entrarmos numa aliança cuja gestão da cidade denunciamos e fazemos oposição. Como explicar o caos na saúde sendo do campo do prefeito? Cujo secretário municipal de Saúde diz uma coisa – fique em casa – e faz outra (foi passear na Litorânea), em plena pandemia? Cujo transporte está distante dos interesses da população, que não só não tem ônibus de qualidade para se transportar, como não tem sequer paradas para as pessoas se protegerem da chuva!? De uma gestão municipal e estadual que não consegue garantir segurança nos ônibus! As pessoas têm que sair de casa já preparadas para um assalto. Igualmente com Flávio Dino. A entrega da Alcântara aos interesses estadunidenses, de Cajueiro aos interesses chineses, como bem disse o professor Boaventura dos Santos, em palestra aqui no Maranhão, é buscar servir a dois senhores. Não tem como dar certo. Então, se nos perfilamos numa frente democrática antifascista, o fazemos como óleo e água. Pela Democracia, nos juntamos, mas não nos misturamos. Na construção de uma cidade cuja gestão esteja voltada para sua gente, os projetos do PCdoB, junto com os Progressistas do Dep. Fed. André Fufuca, e do DEM de Neto Evangelista e ACM Neto, com o PDT de Edvaldo Junior, não coincidem com um novo projeto para uma nova cidade que o PSOL irá propor nestas eleições. [*]

Está mais difícil para a esquerda eleger seus líderes após tanta frustração com os governos Lula e Dilma?

Não. Ocorre que a direita que se diz liberal e democrática prefere vetar a esquerda, por mais light que seja, e votar na extrema-direita, colocando o Estado Democrático de Direito em risco, do que somar com a construção de uma civilização distante dos processos históricos que se comprovaram nefastos para o planeta, a exemplo do nazismo na Alemanha e do fascismo na Itália. Os erros do Lula, por exemplo, apostando numa governabilidade conservadora, ao invés da sustentação popular organizada, como bem avaliou Frei Betto, se repetiu com Dilma. Diversos setores do PT, inclusive, fazem essa autocrítica, mas a maioria do partido não deixa ela emergir. Então, pagam por esse erro. Mas algumas políticas dos governos do PT foram significativas na inclusão de amplas parcelas da classe trabalhadora, que Temer e Bolsonaro, de imediato, priorizaram desmontar em seus governos. O povo já percebeu a enrascada que entrou. Não à toa rejeita o governo. Quero ver os pré-candidatos do Bolsonaro defendê-lo abertamente em São Luís, junto à população que perdeu seus entes para o coronavírus, que não tem emprego, não conseguem acessar o auxílio emergencial, os pequenos lojistas com seus empreendimentos parados... [*]

O que o PSOL tem de diferente para apresentar aos ludovicenses, caso consiga eleger o prefeito da cidade?

Quando consultado se eu topava ser o nome do partido para a disputa, deixei claro. Topo, desde que não falemos para o gueto. Dialoguemos com a cidade. Não sejamos os profetas do caos. Mas, com equilíbrio, sensatez, portadores de uma nova proposta para a cidade, que supere o que deu errado em 32 anos de PDT e resgate o que deu certo. Vamos ouvir a cidade, para que esse projeto não seja do PSOL, mas da cidade. Como disseram os nossos convidados nos webseminários que estamos promovendo, a exemplo das pessoas com deficiência, “nada para nós, sem nós”. Participação, transparência na gestão e nos seus recursos, prioridades populares. Uma cidade nas mãos de nossa gente! Sustentável, inclusiva, moderna. Eis o ponto de partida de nossas propostas e debate com a ilha rebelde. O nosso diferencial, como diria o pensador italiano Antonio Gramsci, é buscar a construção uma nova cultura política para a cidade.

O PSOL propôs participação popular para a formação de uma plataforma de propostas. Seria possível atender a tantos anseios populares em um mandato apenas?

A plataforma é do movimento Vumbora, mais amplo que o PSOL, pois nele há também participantes não filiados ao partido. Nela, que o leitor e a leitora poderão acessar no www.vumbora.org, recolheremos as sugestões. Queremos São Luís como uma potência cultural e turística. Que gere empregos para sua população. Que a escola funcione, o posto de saúde atenda de verdade. O orçamento de quase três bilhões e meio de reais dá para fazer muita coisa. Os recursos para a amortização da dívida, em torno de 121 milhões de reais, e pagamentos de juros e encargos, em 35 milhões, vão requerer de nós, de início, uma auditoria. Reorganizar a máquina para torná-la eficiente, também. Mas nem todas as demandas serão possíveis de dar conta em um único mandato. Eu seria leviano e estaria enganando a população. Não será essa nossa postura, caso seu seja confirmado o candidato do partido.

Qual avaliação você faz dos oito anos de mandato do prefeito Edivaldo Holanda Júnior?

Ruim. É um gestor que não tem gana, garra, ímpeto para administrar. Só pega no tranco. Muitas das vezes, e vimos isso nessa pandemia, o governador foi o prefeito da cidade. Fui o primeiro a escrever, aqui nas páginas d´O Estado, um plano emergencial para o combate ao Covid-19. Elaboramos no movimento Vumbora quase 20 propostas. Uma delas: recorrer a uma parceria com Wuhan, primeira cidade chinesa onde iniciou a pandemia. Para pedir, com coirmã que São Luís é de Wuhan, ajuda em materiais, respiradores. Temos um acordo firmado entre as duas cidades. A Prefeitura foi incapaz de articular-se com Wuhan. Escrevi aqui também, até inspirado no filme “O Poço”, o artigo “Distribuir máscaras à população, óbvio!”, apontando o rumo da prevenção. A prefeitura fez muito tempo depois uma ou outra ação. A secretaria de Cultura sequer tem sede... ainda deve produtores culturais. E assim o é pelas demais áreas, salvo raras exceções[*]

E dos quase seis anos do governador Flávio Dino?

Um governo classicamente social democrata, com sensibilidade social aguçada, mas sem compromisso com um horizonte que supere a estrutura oligárquica que demarca a política maranhense, de Benedito Leite a Sarney, passando por Vitorino Freire. O que virá depois de Dino no governo? Não tivesse errado no primeiro dia de governo, na organização do sistema de saúde, por exemplo, não estaria em apuros agora. Não fez concurso para a saúde. Optou pelas organizações, pela precarização dos contratos de trabalhos, condições difíceis para o trabalho dos médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas... [*]

O PSOL faz forte oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Qual sua avaliação pessoal da atual gestão federal?

Péssima. Um governo que não consegue nomear um ministro da Educação que preste. Não consegue fazer um ENEM. Que tem a universidade como inimiga. Baseado em fakenews, beligerante. Incapaz de dialogar com a sociedade. Que levou o país a um caos econômico. A agenda do Guedes não trouxe empregos, ao contrário, ampliou o desemprego. Como avaliar bem um governo desse? Toda frente que se proponha para defender a Democracia e defender o impeachment desse governo, estaremos juntos. É nosso papel histórico. A defesa do legado da luta de Marielle Franco, de Wagner Baldez. Do posicionamento coerente de Guilherme Boulos, Marcelo Freixo. Daqueles que sonham em mudar essa cidade. Com nossa bancada de 2 a 3 vereadores atuantes, como Belo Horizonte, com o mandato da Juntas, do mandato coletivo em São Paulo. Como diz o Leminski, o poeta do haykai, nesta eleição não brigarei com o destino, o que vier, assino. Estou preparado para levar as melhores propostas e, se assim a cidade quiser, pronto para administrar nossa querida São Luís! [*]

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[*] Em italic, trecho suprimido na versão impressa, por limite de espaço, mas disponível na íntegra versão on line, disponível aqui, mediante cadastro no site.

sábado, 16 de maio de 2020

O MILITANTE DA VIDA INTEIRA - homenagem póstuma a Wagner Baldez (*) [um emocionante texto de Simei a seu pai]

Wagner Baldez, em Havana, quando visitou Cuba


Nasci quase ao som das teclas de uma máquina Olivetti que papai possuía. Mecânica, dessas que tivéssemos guardado hoje, seria vendida a preço bom em qualquer antiquário. Era sua poderosa e inquietante máquina de combate contra todos os desmandos dos poderosos da Barra do Corda!
Naquela época, perseguição política era sinônimo de risco de vida! Uma lembrança que me acompanha é de “vozinha” se jogando aos seus pés implorando em vão para que ele não subisse ao palanque aquele dia, porque o homem que enfrentava era poderoso e deixava um rastro de medo com sua arrogância insana – e sua arma de fogo!
(Seria um tal “espalha brasa”, diretor dos Correios, que nosso pai afrontou movido por sua congênita solidariedade, neste caso com colegas da repartição que eram perseguidos e humilhados por esse homem)
Foram muitas e muitas vezes que papai se ausentou dos eventos familiares para se entregar à política. Porque, como figura em uma passagem dos “Subterrâneos da Liberdade”, trilogia memorável de Jorge Amado que meu pai me fez ler lá pela casa dos dez anos, um comunista tem que odiar. Odiar a injustiça. Odiar tudo que oprime e desfigura o ser humano.
Mas, acima de tudo, um comunista tem que amar: amar a humanidade como se fosse uma extensão de sua própria família! Por isso essa escassez de comunistas, mesmo entre os que se proclamam.
Foram inumeráveis escritos em favor das causas da sociedade cordinha. Terra que adotou como segunda cidadania, e que, me perdoem o neologismo, lhe plantou na alma a sertanejidade.
Papai conhecia o sertão da Barra do Corda como poucos! E conhecia mesmo: de andar em cima de animal de carga, como inspetor de linhas dos Correios e Telégrafos. O que lhe valia uma prosa requentada de histórias com sabor de estórias! Um dos artigos mais belos de meu pai, descreve a época do ano em que o sertão cordino florescia!
Era um funcionário público vocacionado. E me perdoem, mais uma vez, irrepreensível, desses que se dedicam ao ofício com paixão e zelo. Incapaz de levar um clipe para casa. Incapaz de deixar o espírito público se conspurcar por qualquer tipo de vantagem pessoal.
A certa altura, pesou sobre ele a denúncia de que teria hospedado Carlos Lamarca, o “Capitão da Guerrilha”, que, em sua passagem pelo sertão nos idos de setenta, fora perseguido pelas forças de segurança nacional. Papai sabia receber como poucos, com fartura na dispensa e no coração. Mas aquele hóspede de primeira grandeza no ideário comunista, para sua inegável tristeza, não frequentara sua hospitalidade!
A trama do bem na Terra tem tessitura delicada. E o militarismo de botas pesadas não podia tolerar aquele bastardo insolente! Dr. Pedro Emanoel, advogado amigo de papai, o aconselhou a aceitar o afastamento dos Correios, sob pena de irmos visitar as fronteiras do nosso País sem passagem de volta!
Papai foi afastado dos Correios com soldo reduzidíssimo. E, de uma hora para outra, viu-se obrigado a voltar para São Luis, para viver “de favor” na casa de uma tia, que também o ajudava financeiramente. Era a casa onde passara sua infância, e a ele o que importava de fato era que a varanda se abria à Natureza.
Mamãe nunca o perdoou, “por ser bom para os outros mais do que à sua própria família”. Afinal, papai sequer tiraria uma casa pelo INCRA, como muitos fizeram, mesmo depois de ter se tornado, anos depois, Secretário de Administração da Barra do Corda.
Qual o quê! Havia de se preocupar muito mais com as condições de trabalho e segurança dos trabalhadores da limpeza pública. Os invisíveis, a quem se dedicou a valorizar e reconhecer publicamente. Bem à frente de seu meio, defendia que a limpeza pública deveria ser vista como uma questão de saúde pública.
As constantes ausências de nosso pai eram sobejamente compensadas: papai era um mago! Sua presença passava a limpo toda a distância. Ele fazia um simples isopor de mercado central virar um invejável acessório de campeão mundial, nas piscinas olímpicas do Maracanã! Césares se erguiam à nossa vista, encarnados em sua figura vibrante e um Aníbal, célebre general cartaginês, era por ele convocado para comandar os soldadinhos de chumbo lá nas batalhas campais do nosso sítio!
Certa vez, uma amiga de minha irmã Silen nos disse: “Seu Wagner é um sedutor”. Seu carisma contagiava.
Contagiou funcionários desmotivados do Almoxarifado da Secretaria de Educação do Estado, quando ele, convidado por Conceição Raposo, chefiou esse órgão. Tinha uma capacidade de trabalho extraordinária, ao qual se juntava uma sensibilidade para dedicar-se às pessoas que liderava. Quando pediu demissão, ganhou uma declaração assinada por TODOS os funcionários, buscando demovê-lo da decisão!
Tempos depois, ouvi de um pequeno fornecedor do Almoxarifado que, ‘apesar’ do preciosismo de papai, fora o único período em que os pequenos, como ele, tiveram condições de competitividade!
Talvez porque fora introduzido no ideal comunista pela Dra. Maria Aragão, e na política partidária pelo Dr. Henrique de La Roque Almeida. Homem de centro, mas que, segundo a própria Maria, era possuidor de um caráter íntegro e capaz de um exercício de imparcialidade incomum! Amigo pessoal de papai, que o homenageou em seu único filho.
Papai fazia parte da geração dos velhos comunistas. Aqueles que passaram pela crítica dos anos 50 incólumes, e nunca leram o Capital. Admirador apaixonado de Getúlio Vargas, Jango, Brizola, Luis Carlos Prestes, Karl Marx, Stálin, Fidel Castro, e de Maria Aragão. Para essa geração, o único requisito para ser considerado comunista era o desejo simples de fazer o bem à humanidade através da política, movida pelo ideal de uma fraternidade de iguais.
Mas, nele, esse desejo era tão pródigo que o fazia garimpar os dias atrás de ser útil às pessoas, fosse com “aposentos”, remédios, ou vagas para cirurgias.
Vinculou-se às lutas do MDB, quando isso representava se posicionar contra o autoritarismo; às lutas do PT, quando isso representava um projeto ético de participação popular no poder; e, por último, desaguou no PSOL, porque precisava de trincheira. Lá esteve lado a lado com homens de nobreza de caráter e afetividade apurada como um Franklin Douglas, que lhe dedica um amor filial.
Atuou na histórica greve de 51, e foi sistematicamente contra o vitorinismo, e em 79, deu sua contribuição à greve da meia passagem. Em 85, apostou na candidatura a prefeito de Haroldo Saboia, a quem dedicou, até o fim, uma calorosa admiração. Apoiou Jackson Lago ao governo e se integrou ativamente na resistência deste ao golpe covarde de Roseana Sarney.
Desde que “Sarney traiu as oposições” como ele testemunhava, lutou com todas as forças contra a oligarquia que este capitaneava, e que até hoje segrega as estruturas íntimas da sociedade maranhense. Creio que ninguém mais do que meu pai tenha escrito combatendo a perfídia política de Sarney (na luta real do bem contra o mal, não existe Coringa sem Batman!).
Na vida sindical, assumiu a coordenação da Secretaria dos aposentados. Sempre inabalável na defesa de seus ideais. Sempre enfrentando, com franqueza, por vezes desconcertante, os desvios da esquerda.
Meu pai foi profundamente humano, quando humano significa que, mesmo nos defeitos, não havia nele nenhum resquício de má-fé. E que tinha um senso de solidariedade com as fraquezas humanas quase perturbador.
Era a versão masculina da Dona Genu na política: tivesse notícia de um movimento popular pela melhoria de vida da família humana, lá estaria ele!
Decepções políticas? Muitas! Papai tinha uma vocação irreparável para a credulidade. A mais forte, com Lula. Mas isso não aniquilou sua fé em permanecer na luta política. Não havia mais tempo para isso.
Quando se trata da morte de entes queridos idosos, costuma-se perguntar: “quantos anos ele tinha?” – como parte de uma espécie de economia do luto. Mas a pergunta fundamental continua sendo: “quanto amor ele foi capaz de derramar?”
E nosso pai foi capaz de derramar muito, mas muito amor. Por isso as inúmeras manifestações de afeto e de solidariedade que recebeu e que nós, da família, recebemos, por ocasião de sua passagem. Somos profundamente gratos a todas elas!
Quem em sua vida, como no caso de nosso pai, foi capaz de ir contra o status quo – político e religioso, e ser tão amado mesmo pelos que não compreendiam o comunismo e continuam até hoje a dizer que “comunista é quem come criancinhas”, é porque sabe estar diante do outro com o coração puro.
Meu pai era o queridinho dos Ribeiros. Mas era também um queridinho dos Nepomucenos (minha mãe, muito frequentemente, tinha que reivindicar sua filiação frente a ele), dos Lopes, dos Cunhas, dos Baldez; o queridinho dos filhos e dos netos, das pessoas de e da rua e dos taxistas de sua redondeza, e enfim, de uma fraternidade de iguais que ele soube despertar e cultivar. Ele não se deixou amargurar pela fatalidade de uma mãe esquizofrênica e um pai que lhe negou um sobrenome!
Ao contrário, à exceção dos três últimos anos, foi a pessoa que eu conheci mais incrivelmente capaz de satisfação com as coisas simples. Papai tinha uma despudorada vocação para a felicidade! E mesmo nos três últimos sofridos anos, lutou furiosamente pela vida!
Tenho convicção de que fosse São Pedro o sujeito reivindicado pelas almas mais recalcitrantes do conservadorismo, quando visse meu pai às portas do céu, diria: “Por favor! Por favor! Deixa esse aí entrar! Ele é o quê? Ah, comunista... Bom, agora já foi”.
A morte em tempos de Covid é de uma crueza acachapante. Aquilo que desde cedo foi reconhecido como um ato eminentemente humano – o homem é o único animal que tem um rito de enterrar seus mortos –, nos é negado.
E, ao invés, nenhum reconhecimento do corpo, nenhum velar, nenhum cortejo; o motorista da funerária completamente aterrorizado em pegar o corpo frouxo no saco que cliva a fronteira com o contagioso, o leva com velocidade vertiginosa para o cemitério, onde o caixão é sacudido apressadamente em uma gaveta, com massa de cimento bruto selando qualquer possibilidade de emergir o humano.
Mais uma vez fui profundamente grata a meu pai, por ter me ensinado que, dentre tantas dimensões da palavra, há essa de consagrar o absurdo à ordem do humano.
Entre apenas três pessoas – o neto Pedro, o sobrinho-filho Flávio e um representante da nova geração que já compartilha dos seus ideais, o Bruno, fiz uma emocionada homenagem póstuma a meu pai. E, embora não tenha sequer paciência com redes sociais, fiz questão de filmá-la. Para que todos soubessem que nosso pai e amigo não foi enterrado como um insignificante! Missão cumprida.
Quis Deus que não tenha morrido de nenhum dos males que o acometiam ultimamente. Parecia destinado ao Covid, até nesse momento integrando seu sofrimento particular ao sofrimento da humanidade.
Vejo que isso nos preparava para aceitar a sua passagem, já que este é um momento no qual somos convocados a amar à distância, com novos signos, e novas expressões, preservando os que amamos e elevando a nossa qualidade de amor porque, frente à impotência, temos a única opção de entregar os nossos, com maior confiança do que jamais tivemos, ao agir de Deus.
Como passarinho ao relento que sempre gostou de ser, “livre filho das montanhas, da camisa aberta o peito – pés descalços, braços nus” papai rompeu com a prisão de um corpo de impossibilidades e reencontrou-se em pleno voo para a eternidade!
Serenemos. Tudo continua como sempre foi. Agora, como antes, o maior perigo é o de perdermos a alma. E homens como meu pai nos ensinam que perdemos a alma quando descremos do bem.


(*) Escrito pela filha Simei. O título, ela tomou emprestado de uma das homenagens prestadas a meu pai.


sábado, 18 de abril de 2020

UM HOSPITAL DE CAMPANHA EM SÃO LUÍS, URGENTE!

Hospital de campanha, em Fortaleza (CE)


Franklin Douglas (*)

Ultrapassamos o simbólico número de 1.000 infectados por Covid-19 no Maranhão. A pandemia chegou a 33 municípios. Mais de 80% dos casos encontram-se em São Luís. A capital responde por 862 pessoas testadas positivamente para o coronavírus, segundo Boletim da Secretaria Estadual de Saúde (SES – 17/04/2020, até às 20h). Isso, fora a subnotificação. Casos que sequer chegam aos dados do sistema de saúde.
E ainda temos mais de 3.500 suspeitos que conseguiram fazer os testes – aguardam o resultado. Nos leitos de UTI´s, o sistema privado está à beira da lotação. No público, já ultrapassa os 65%. Em leitos clínicos exclusivos para Covid-19, 90% já estão ocupados na rede pública. Daqui para frente, números virarão rostos.
A pirotecnia para adquirir 107 respiradores artificiais para o Maranhão evidenciam o esforço do governo estadual em tentar amenizar o caos. Por outro lado, revela suas opções equivocadas. Desde o primeiro dia de seu primeiro mandato, faltou a Flávio Dino a opção por estruturar o SUS no Estado. Tergiversou no principal: tornar público um sistema que estava capturado para os interesses privados. Descartou concurso público para a área da saúde. Preferiu o troca-troca das indicações para as OSCIP´s que parasitam o sistema público. Criou uma empresa, a EMESERH, seguindo os passos errados do governo petista, com a EBSERH. Resultado: corre atrás do prejuízo nesse momento de pandemia.
Certa vez, o economista francês François Chesnais, em conferência na Jornada de Políticas Públicas da UFMA, chamou à reflexão: muitas das escolhas de um governo que se quer “contra-hegemômico” se dão no primeiro dia do governo. Opções erradas ou conciliatórias sempre trazem um resultado desastroso ao projeto popular. “O problema das consequências é que elas vêm depois”, como diria o “brasileiríssimo” conselheiro Acácio, personagem de O Primo Basílio, de Eça de Queiros.
Não estruturar o SUS e um sistema de saúde no estado nos deixa à mercê da pior pandemia que já enfrentamos desde o início do século passado, a gripe “espanhola”.
Nessa trilha, segue a Prefeitura de São Luís: não é inerte, mas é lenta como uma tartaruga, enquanto o coronavírus espalha-se veloz como uma lebre. Está sempre um passo atrás do Governo do Estado. Tem um acordo firmado com Wuhan, nada fez. Perdemos uma privilegiada interlocução com a cidade chinesa que ensina o mundo a combater o Covid-19. Não conseguimos nenhuma máscara doada, tampouco respiradores artificiais.
Por falar em máscaras, enquanto outras cidades do mundo e do país decretam obrigatoriedade de seu uso e a distribuem gratuitamente à população, em São Luís não se vê nada semelhante. E não é por falta de sugestões ou verbas!
Em “Distribuir máscaras à população, óbvio!” (artigo publicado em O Imparcial, de 05/04/2020), registramos a proposta, como fazer e de onde viriam os recursos. Em outro artigo, “Hora de uma irmã ajudar outra” (O Imparcial, 22/03/2020), indicamos o caminho da relação com a China. E em “A conta do caos” (O Imparcial, 29/03/2020), ressaltamos a alarmante tendência de evolução do contágio. Chegamos a mil casos, o nosso pico está calculado para 11 mil. Infelizmente, tudo só tende a piorar!
Hospital de campanha, em Santo André (SP)
Nesse contexto, um hospital de campanha é urgente!
Trata-se de um hospital provisório, orientado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para casos de pandemia. São hospitais temporários para receber enorme contingente. Mesmo em nossa realidade, sem respiradores artificiais suficientes, já seria uma grande ajuda para termos leitos clínicos para os casos não tão graves, mas cujos pacientes não podem/não devem ficar em casa.
Melhor localização: Centro de Convenções do Multicenter SEBRAE, no Cohafuma. Já tem toda a estrutura. Ligação elétrica. Fornecimento de água. Amplo estacionamento. Próximo a hospitais de maior complexidade. Já tem espaços cobertos, apenas para serem montados os leitos. O que esperam Governo e Prefeitura para um hospital de campanha em São Luís?
São Luís já é a quinta capital em pior situação na ampliação de casos da Covid-19 por milhão de pessoas. Em situação pior a nossa estão apenas: São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus e Fortaleza. Justificar que não se montará um hospital de campanha porque ele não fica incorporado à estrutura de saúde do estado, é tarde. Essa decisão cabia no primeiro dia de governo...
Qual o objetivo da política em tempo de guerra contra um inimigo externo? Pergunta o cientista político italiano Norberto Bobbio. E responde ele: a unidade contra o inimigo. Nos tempos de guerra, não há espaço para fazer oposição. O que não quer dizer deixar de fazer a crítica enquanto se constrói a unidade contra o inimigo. No nosso caso, o inimigo invisível, o vírus, une a todos nós nessa batalha, cada um com o que pode. Entramos com alertas e propostas. Cabe aos governos agirem, com as diretrizes corretas!
“O Brasil é a terra onde o certo dá errado, e o errado dá certo”, disse Monteiro Lobato ao escritor Lima Barreto numa carta de 1918, ano em que a gripe “espanhola” -  a mãe das pandemias – chegou aqui pelo Maranhão. Oremos para que essa máxima se inverta no Maranhão nesse combate ao vírus. Parece ser o que nos resta...


(*) Franklin Douglas – professor e doutor em Políticas Públicas. E-mail: franklin.artigos@gmail.com

Artigo publicado no  jornal O Imparcial (18.04.2020, p. 04)

[Nota 1 - Na verdade, a EMESERH foi criada por Roseana Sarney. O governo Dino a ativou]
[Nota 2 - Organizações Sociais (OS´s)/OSCIP´s]





sábado, 4 de abril de 2020

Distribuir máscaras à população: ÓBVIO!


#Mask4All: eu protejo você, você me proteje!

Franklin Douglas (*)

Com a confirmação dos cenários antevistos por infectologistas, biólogos e demais cientistas, de que a Covid-19 colocaria em colapso o sistema de saúde dos países, chega-se à alternativa que há muito se alertava: a necessária prevenção. E um instrumento que se comprovou eficaz para esse fim foi a máscara – sobretudo a de utilização caseira, recomendada pelas autoridades de saúde.

Não à toa, após dar um giro de 180 graus, o presidente dos Estados Unidos partiu até mesmo para uma novíssima pirataria em seu combate ao coronavírus: interceptar máscaras que a China tem doado ou vendido a diversas nações.

Foi o caso de carregamento de máscaras da China à Europa, comprado pelos Estados Unidos por valor até quatro vezes maior do que o negociado por chineses aos europeus. Assim como o envio de 23 aviões cargueiros americanos para transportar 200 milhões de máscaras e demais equipamentos que o Brasil tinha adquirido da China.

Mas, na guerra das máscaras, não são apenas os norte-americanos no vale-tudo. A França também confiscou 4 milhões de máscaras destinadas à Espanha e à Itália. A República Checa interceptou 680 mil máscaras enviadas da China para a Itália. Berlim (Alemanha) deixou de receber 200 mil máscaras, confiscadas por Bangkok (Tailândia).

O que isso tudo nos ensina? O óbvio: quem teme o coronavírus tem pressa!

A estupidez ideológica do governo brasileiro nos fez perder a interlocução privilegiada com a China. No caso dessa guerra das máscaras, é preciso menos política ideológica e mais agilidade e coordenação entre os entes governamentais.

Incentivar a produção em massa de máscaras caseiras é a solução mais viável!

Governo do Estado e Prefeitura de São Luís devem fornecer o material inicial necessário e adquirir a produção de diversos grupos de costureiras, artesãos dos barracões das escolas de samba e sedes dos grupos de bumba-meu-boi. Estamos falando de algo em torno de 300 grupos de bumba-meu-boi, 10 escolhas de samba e 32 blocos tradicionais. Todos eles com seus ateliês que, sobrecarregados nos períodos momesco e junino, estão subutilizados neste momento. Afora os diversos grupos ligados à economia solidária.

Quando fui secretário adjunto do Trabalho e Economia Solidária, no governo Jackson Lago (2007-2009), pude verificar e contribuir com o apoio a esses grupos de produção artesanal. Nosso pioneirismo na criação da SETRES, agregando a economia solidária (Ecosol) à estratégia de emprego, geração de trabalho e renda, deu visibilidade a esse setor. A Ecosol gera renda e potencializa o comércio solidário de produtos de excelente qualidade. Falta apoio.

Incentivar esses grupos de produtores e artesãos, apoiando a produção dessas máscaras caseiras por parte deles, e, ao mesmo tempo, combatermos a proliferação da Covid-19. Toda a produção seria adquirida pelo Poder Público e distribuída gratuitamente à população. Eis a oportunidade de criarmos um círculo virtuoso: injetar recursos na economia local, dar trabalho a setores vulnerabilizados e potencializar o combate à Covid-19, incentivando uma prática profilática. No combate à Covid-19, basta que copiemos as boas iniciativas.

“Não há mudança nem solidariedade espontâneas, algo tem que acontecer primeiro”, diria uma personagem do filme “O Poço” – em exibição na plataforma Netflix. Distribuir máscaras à população para prevenir o coronavírus é o “óbvio”, diria “o velho”, outra personagem desse mesmo filme.


Só não defende isso quem, estando no andar de cima, acredita que nunca chegará ao fundo do poço: o leito de uma UTI. Porque se convenceu que o vírus não seria mais do que uma simples “gripezinha”... Não é, óbvio!


(*) Franklin Douglas – professor e doutor em Políticas Públicas. E-mail: franklin.artigos@gmail.com

Artigo publicado no  jornal O Imparcial (04.04.2020, p. 04)

domingo, 29 de março de 2020

CORONAVÍRUS: A CONTA DO CAOS

O grito, por Bernard Pras


Franklin Douglas (*)

VÃO FALTAR RESPIRADORES. A tese não é minha, mas do biólogo e professor da USP Fernando Reinach, pós-doutor pela Universidade de Cambridge. Ele chegou a essa conclusão a partir de cálculos projetados no cenário otimista. Há dois outros: o médio e o pessimista. Para o cálculo no cenário otimista, basta:

1º) estimar que 1% da população será contaminada;
2º) desse 1% com coronavírus, calcular que 95% não precisará de um leito hospitalar com respirador artificial;
3º) frente à demanda, comparar com a quantidade de respiradores disponíveis.

Pois bem, para ter ideia do que nos espera, basta desenvolvermos esse raciocínio para nossa realidade. Na capital maranhense, seguindo a metodologia do professor, no cenário otimista, com menor número de casos, estimemos que apenas 1% da população será infectada pelo Covid-19. Em São Luís, cidade de 1.101.884 (um milhão, cento e um mil, oitocentos e oitenta e quatro) habitantes, projetaríamos algo em torno de 11 mil pessoas doentes.

Na projeção do pesquisador da USP, 95% (pensando o melhor cenário) não precisarão ser internados. Terão condições de enfrentar o coronavírus em casa mesmo – como se fosse só uma “gripezinha” ou um “resfriadozinho”.

Em São Luís, se 11 mil pessoas forem infectadas, estamos falando de 5% que necessitarão de internação hospitalar. Ou seja: precisaremos de 550 respiradores artificiais. Na capital, a Prefeitura de São Luís projeta 200 leitos de UTI com esses equipamentos. Almeja adquirir 50 novos respiradores para o mês de maio. Se o planejamento para os respiradores for semelhante ao da campanha de vacinação do H1N1, já sabemos o que nos espera...

Então, no melhor cenário, no pico da epidemia na capital, mesmo nem todos precisando simultaneamente desse equipamento (fora considerar que o tempo de uso será, em média, mais do que uma semana, por paciente), não teremos como socorrer a 550 pacientes de coronavírus. Quem escolherá quem morrerá ou quem será tratado? E se um desses 550 for um parente seu? (sua mãe ou seu pai, seu avô ou sua avó, seu filho ou sua filha?...)

E em todo o Maranhão? O estado reúne apenas 1.064 ventiladores atualmente! O Governo do Estado esforça-se para termos outros 800 novos respiradores para toda a rede estadual (pública e privada). Cada equipamento desse custa R$ 70 mil, em média. Apenas quatro empresas o fabricam no país: Vyaire, Takaoka, Leistung e Magnamed. Todas estão abarrotadas de pedidos.

O Maranhão tem a 13ª pior situação em número de respiradores no país. No Nordeste, ficamos atrás de Bahia (3.194), Pernambuco (2.897) e Ceará (2.137). São Paulo concentra a maior quantidade: 18.548 respiradores artificiais. Lá, Governo Estadual e Prefeitura da capital tentam viabilizar 345 equipamentos, em 15 dias, para os leitos do hospital de campanha que está em montagem no estádio do Pacaembu e no Anhembi.

No cenário mais otimista, para superar essa pneumonia viral, no total de 6.574.789 habitantes, estamos falando da necessidade de mais de 3.200 respiradores artificiais na rede hospitalar maranhense. Isso, sem contar a necessidade de médicos, enfermeiros e fisioterapeutas para monitorarem esses equipamentos e, ainda, que haverá doentes de outras enfermidades também em busca de socorro (cardíacos, acidentes de trânsito, etc.).

COMPREENDE AGORA A GRAVIDADE DA SITUAÇÃO?! No cenário mais otimista, não temos como cuidar de todos os doentes. Não haverá leitos para todos que precisarem, sejam ricos, pobres, velhos ou jovens. Imagine se não for 1% da população a ser contaminada, mas muito mais do que isso!!

Se não houver uma quebra na curva de contaminação do vírus, que somente o distanciamento social possibilita, é disso que se fala quando se refere a um colapso do sistema de saúde. O Maranhão, até o momento, não está com poucos casos porque a pandemia é balela, mas por ter optado, desde cedo, pela estratégia do isolamento social – além, também, de termos um baixo índice de notificação (casos que sequer são identificados como Covid-19).

Mas há quem, no Palácio do Planalto, em Brasília, ou na Avenida Litorânea, em São Luís, minimize esse problema, e apoie carreatas para o país não parar. Na Itália, o prefeito de Milão se arrependeu por minimizar o coronavírus. Mais de 10 mil italianos já pagaram com a vida por esse erro. Querem o caminho da Itália para nós?!

Como diz o ditado, errar é humano, mas repetir o erro, nesse caso, é mais do que burrice!



(*) Franklin Douglas – professor e doutor em Políticas Públicas. E-mail: franklin.artigos@gmail.com

Artigo publicado no  jornal O Imparcial (29.03.2020, p. 05)