O grito, por Bernard Pras |
Franklin Douglas (*)
VÃO
FALTAR RESPIRADORES. A tese não é minha, mas do biólogo e professor da USP
Fernando Reinach, pós-doutor pela Universidade de Cambridge. Ele chegou a essa
conclusão a partir de cálculos projetados no cenário otimista. Há dois outros:
o médio e o pessimista. Para o cálculo no cenário otimista, basta:
1º)
estimar que 1% da população será contaminada;
2º) desse
1% com coronavírus, calcular que 95% não precisará de um leito hospitalar com
respirador artificial;
3º) frente
à demanda, comparar com a quantidade de respiradores disponíveis.
Pois bem,
para ter ideia do que nos espera, basta desenvolvermos esse raciocínio para
nossa realidade. Na capital maranhense, seguindo a metodologia do professor, no
cenário otimista, com menor número de casos, estimemos que apenas 1% da
população será infectada pelo Covid-19. Em São Luís, cidade de 1.101.884 (um
milhão, cento e um mil, oitocentos e oitenta e quatro) habitantes,
projetaríamos algo em torno de 11 mil pessoas doentes.
Na projeção
do pesquisador da USP, 95% (pensando o melhor cenário) não precisarão ser
internados. Terão condições de enfrentar o coronavírus em casa mesmo – como se
fosse só uma “gripezinha” ou um “resfriadozinho”.
Em São
Luís, se 11 mil pessoas forem infectadas, estamos falando de 5% que necessitarão
de internação hospitalar. Ou seja: precisaremos de 550 respiradores
artificiais. Na capital, a Prefeitura de São Luís projeta 200 leitos de UTI com
esses equipamentos. Almeja adquirir 50 novos respiradores para o mês de maio.
Se o planejamento para os respiradores for semelhante ao da campanha de
vacinação do H1N1, já sabemos o que nos espera...
Então, no
melhor cenário, no pico da epidemia na capital, mesmo nem todos precisando simultaneamente
desse equipamento (fora considerar que o tempo de uso será, em média, mais do
que uma semana, por paciente), não teremos como socorrer a 550 pacientes de
coronavírus. Quem escolherá quem morrerá ou quem será tratado? E se um desses
550 for um parente seu? (sua mãe ou seu pai, seu avô ou sua avó, seu filho ou sua filha?...)
E em todo
o Maranhão? O estado reúne apenas 1.064 ventiladores atualmente! O Governo do
Estado esforça-se para termos outros 800 novos respiradores para toda a rede
estadual (pública e privada). Cada equipamento desse custa R$ 70 mil, em média.
Apenas quatro empresas o fabricam no país: Vyaire, Takaoka, Leistung e
Magnamed. Todas estão abarrotadas de pedidos.
O
Maranhão tem a 13ª pior situação em número de respiradores no país. No
Nordeste, ficamos atrás de Bahia (3.194), Pernambuco (2.897) e Ceará (2.137).
São Paulo concentra a maior quantidade: 18.548 respiradores artificiais. Lá, Governo
Estadual e Prefeitura da capital tentam viabilizar 345 equipamentos, em 15 dias,
para os leitos do hospital de campanha que está em montagem no estádio do
Pacaembu e no Anhembi.
No
cenário mais otimista, para superar essa pneumonia viral, no total de 6.574.789
habitantes, estamos falando da necessidade de mais de 3.200 respiradores
artificiais na rede hospitalar maranhense. Isso, sem contar a necessidade de
médicos, enfermeiros e fisioterapeutas para monitorarem esses equipamentos e, ainda, que haverá
doentes de outras enfermidades também em busca de socorro (cardíacos, acidentes
de trânsito, etc.).
COMPREENDE
AGORA A GRAVIDADE DA SITUAÇÃO?! No cenário mais otimista, não temos como cuidar
de todos os doentes. Não haverá leitos para todos que precisarem, sejam ricos,
pobres, velhos ou jovens. Imagine se não for 1% da população a ser contaminada,
mas muito mais do que isso!!
Se não
houver uma quebra na curva de contaminação do vírus, que somente o distanciamento
social possibilita, é disso que se fala quando se refere a um colapso do
sistema de saúde. O Maranhão, até o momento, não está com poucos casos porque a
pandemia é balela, mas por ter optado, desde cedo, pela estratégia do
isolamento social – além, também, de termos um baixo índice de notificação
(casos que sequer são identificados como Covid-19).
Mas há
quem, no Palácio do Planalto, em Brasília, ou na Avenida Litorânea, em São
Luís, minimize esse problema, e apoie carreatas para o país não parar. Na
Itália, o prefeito de Milão se arrependeu por minimizar o coronavírus. Mais de 10 mil italianos já pagaram com a vida por esse erro. Querem o caminho da
Itália para nós?!
Como diz
o ditado, errar é humano, mas repetir o erro, nesse caso, é mais do que
burrice!
(*) Franklin Douglas – professor e doutor em Políticas Públicas. E-mail: franklin.artigos@gmail.com
Artigo publicado no jornal O Imparcial (29.03.2020, p. 05)
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