domingo, 19 de abril de 2015

Tempo de mudança na UFMA

Franklin Douglas (*) 

Nunca uma administração chegou tão desgastada ao processo de sua sucessão. Jamais uma candidatura de oposição entrou na disputa tão organizada. A partir desta semana, com as inscrições dos candidatos à reitoria e à vice-reitoria, iniciamos um período de intenso debate sobre a Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
A gestão de Natalino Salgado chega ao fim sob evidente desmantelamento: sua imagem pública de gestor destoa completamente de sua avaliação interna entre os diversos segmentos da comunidade universitária.
Eleito e reeleito com o apoio de forças como o PSDB, a oligarquia Sarney e o PCdoB presentes na universidade, Salgado administrou a UFMA, nos últimos oito anos, com mão de ferro. Eis o principal motivo pelo qual sua sólida maioria entre os docentes desmanchou-se no ar. Seu trânsito entre Lula, Dilma, Sarney, Roseana, Flávio Dino, João Castelo, Edvaldo Holanda Júnior, de nada lhe adiantou para evitar o fim do mandato sem as suas promessas de campanha cumpridas.
A prometida expansão universitária via REUNI superlotou salas, precarizou o trabalho docente e não trouxe consigo as condições para o exercício de ensino de qualidade. Basta ir aos campi do interior do estado: galpões que parecem armazenar qualquer coisa, menos estudantes e professores de ensino superior – vá a Chapadinha, São Bernardo, Imperatriz e conclua com seus próprios olhos. Procure e encontre um estudante de Medicina em Pinheiro... À primeira chuva, os centros mais maquiados encharcam, a Residência Estudantil alaga... são obras e mais obras inacabadas, apesar de volumosos recursos.
Tudo isso e muito mais com a marca do AUTORITARISMO.
Uma gestão que, à moda do velho coronelismo do “eu quero - eu mando - eu posso”, incompreendendo a diversidade da qual se nutre o espaço universitário, de debate de opiniões distintas e mutuamente respeitadas, buscou calar qualquer voz discordante a ponto do reitor se envolver em disputas de Diretórios Acadêmicos, DCE, sindicatos de técnicos e professores e, não conseguindo vencer, criando um sindicato só para os seus. Um autoritarismo que demitiu a seu bel-prazer um professor universitário e amargou a derrota de seu ato ditatorial na justiça federal.
Essa herança maldita, um conjunto de professores, estudantes e técnicos se recusam a receber.
Nem mesmo os seus Natalino unifica: exemplos são as candidaturas dos professores Antonio Oliveira (do curso de Física, atual vice-reitor) e do professor Sofiani Labidi (do curso de Engenharia Elétrica). Embora projetos deles mesmos, suas candidaturas ganham legitimidade exatamente por também recusarem a política do “sim, senhor” a que Natalino submeteu seus aliados.
Contudo, a novidade destas eleições na UFMA é exatamente um projeto coletivo que, mais do que ter uma candidatura, apresenta uma proposta de universidade que, em qualquer cenário, já sairá vitoriosa. E por quê?
Porque se em pleitos anteriores as candidaturas da oposição isolavam-se num setor da resistência na UFMA, e, após o dia da eleição, já se desarticulavam, o que evidenciava sua pouca organicidade, nestas, um movimento pela democratização da UFMA tem muito mais fôlego! Se deixar de vencer, o Movimento UFMA Democrática (MUDe) continuará a manter a resistência contra o autoritarismo que se enraíza na universidade; se prevalecer na escolha da comunidade, o movimento manterá sua organização para implementar as propostas de democratização da UFMA.
Por isso, a candidatura do MUDe, do professor Antonio Gonçalves (do curso de Medicina) – e da professora Marise Marçalina (do curso de Pedagogia), candidata à vice-reitora – é, ao mesmo tempo, uma continuidade e um avanço em relação às candidaturas anteriores, dos docentes Sirliane Paiva, Cláudia Durans, Francisco Gonçalves, Maria Ozanira, Antonio Rafael, Raimundo Palhano e UFMA 2000.
Continua, pois é fruto da resistência que essas candidaturas anteriores demarcaram na luta pela Universidade pública, gratuita, de qualidade, referenciada socialmente.
Avança porque não se encerrará no dia da eleição a organização do movimento que a lançou. Avança por ser, mais do que nunca, um projeto coletivo e não pessoal. Avança por ter unificado, em torno do MUDe, um conjunto de forças bastante diversas (de estudantes, técnicos e docentes petistas, do PSB e do PCdoB a professores do PSOL, PSTU, PCB e pesquisadores que não são filiados a partido algum) que, juntos, decidiram não se dobrar à falta de democracia que cresce na UFMA.
Continuar o autoritarismo ou mudar para democratizar a UFMA?
Eis a questão a qual 18 mil alunos, 1.700 professores e 1.450 técnicos administrativos em educação darão resposta no dia 27 de maio, o dia da consulta à comunidade universitária sobre quem deve dirigir a UFMA pelos próximos quatro anos.
À comunidade universitária, a responsabilidade de seu voto para definir o destino da UFMA no presente.
Ao MUDe, a responsabilidade da defesa de um projeto de uma UFMA democrática, mas, ao mesmo tempo, com a leveza da poesia do mais latino-americano de nossos jornalistas e escritores defensores da utopia de um continente sem ditaduras, sem exploração, Eduardo Galeano (1940-2015):
A Utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a Utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”.

Uma eleição a reitor serve ao MUDe para isso: para manter a utopia de uma universidade democrática, plural, pública, gratuita; serve para não ficarmos parados ante o avanço do autoritarismo, do conservadorismo; serve, sobretudo, para manter acesa a utopia da luta pela Democracia – na UFMA e fora dela!

(*)  Franklin Douglas - jornalista e professor, doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve ao Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Publicado na edição de 19/04/2015, opinião.