domingo, 29 de novembro de 2015

Adeus, Nauro...



Há tempos não controlo a temática desta coluna. A realidade se impõe velozmente e pauta minhas modestas reflexões e ideias por aqui traçadas.
Por exemplo, há bom tempo planejava escrever sobre a manipulação que têm se tornado as audiências em torno da reforma do Plano Diretor da cidade, assim como sobre a “pílula do câncer”, a fosfoetanolamina. Mas, então, veio a surpreendente eleição do advogado Thiago Diaz para a presidência da OAB.
Mais do que análise da dinâmica da política que impunha uma inesperada derrota ao atual grupo majoritário na Ordem, iria elaborar como a disputa da OAB trava-se cada vez mais entre grandes escritórios e, mais ainda, como está em curso uma transformação no conjunto dessa categoria. Há uma “massa” de advogados que cresce fora da influência da universidade pública, que se forma nas diversas faculdades privadas, que não têm mais as referências acadêmicas do campus do Bacanga. Thiago Diaz será o primeiro advogado a presidir a OAB formado pelo Ceuma, e não pela UFMA... mas a repercussão do maior desastre ambiental da história do país, o rompimento das barragens de Mariana, mantinha-se fortemente na conjuntura.
Pensei em continuar esse tema, ante a inacreditável informação trazida a público pelo juiz Frederico Gonçalves, de Mariana, de que a Samarco (Vale/BHP Bilinton), para não pagar 300 milhões de reais a que fora inicialmente condenada, resolveu “sumir com o dinheiro de suas contas, embora tivesse em seu caixa mais de dois bilhões de reais”... Mas veio o repugnante estupro e assassinato da menina Maíse Moreno, em Urbano Santos, que nos trouxe o choque de realidade de como a barbárie vem se tornando rotina e a violência se alastrando em nosso estado desordenadamente. Novamente, voltava minha atenção para um tema quando, de repente, a realiza trazia outro: a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT), na mais recente etapa da Operação Lava Jato. 
Objetivava tratar desse novo assunto pelo viés mais ocultado no debate político: de que a prisão do também banqueiro André Esteves trazia a público uma movimentação política que o tornava uma espécie de fiador financeiro da política tucano-petista. Pasmem: o dono do banco BTG Pontual doou seis milhões e meio de reais à campanha de Dilma, e outros cinco milhões à campanha de Aécio Neves; e mais: era ele quem bancava os jatinhos das viagens de Lula e de Aécio para as palestras deles no exterior. Contudo, mais retumbante ainda, a realidade nos colocaria diante da histórica sessão do Senado que decidiria, em voto aberto, pela manutenção da prisão do senador petista.
Para além do debate técnico-jurídico, já partia para escrever sobre como o voto contrário à manutenção da prisão de Delcídio, dado pelo senador Roberto Rocha, igualava o condomínio da mudança gerido por Flávio Dino ao comportamento político dos senadores da oligarquia decadente, João Alberto e Edison Lobão. Dino catapultou Rocha ao Senado prometendo ao eleitor que os maranhenses teriam um senador para votar pelo povo, e não pelos interesses das velhas práticas políticas... Já iniciava por aí minhas reflexões quando, ela de novo, a dinâmica realidade, nos trazia a notícia da ida de Fernando Sarney a cargo na FIFA. Inacreditável futebol clube! Seria cômico não fosse trágico!
Tal como no vídeo viralizado nas redes sociais do “acabou, Jéssica?”, já dava por concluída a pancadaria da realidade sobre meus sentidos e partia para o artigo sobre “nosso futebol e seus cartolas”, quando a realidade, mais uma vez, se impunha trazendo a mais triste e dura das notícias: Nauro Machado morreu... Mas como?
Há menos de uma semana, tomávamos um café feito à moda italiana, que ele apreciava, e cujos segredos de seu preparado me ensinava minha eterna professora Arlete Nogueira da Cruz, a quem admiro desde meus tempos de calouro no curso de Comunicação da UFMA, quando por ela fui apresentado às ideias de Walter Benjamin. E comemorávamos a boa notícia da volta de Nauro Machado dos exames de rotina de acompanhamento do câncer que ele vencera, e que estava perfeitamente superado.
Dizia a ele que, passado um momento pessoal de sufoco de elaboração de tese de doutoramento, eu pessoalmente procuraria o Félix Alberto, a quem conheço também desde os tempos do jornalismo da UFMA, para organizar uma reunião nossa com poetas e amigos da nova geração maranhense das letras, a fim de conversarmos sobre a poesia, a literatura do Maranhão, que, lamentávamos, estava cada vez mais escassa na leitura aligeirada de nossa juventude, induzida tão somente ao formato ENEM, que conduz ao esquecimento nossos autores e poetas maranhenses... mas a realidade, ela sempre, veio sem nos dar qualquer tempo.
Fosse um discurso oral, nada falaria, pediria um minuto de silêncio.
Pensei até em deixar esta coluna apenas com um título e toda em branco, para demonstrar que não tinha palavras para expressar a magnitude de Nauro Machado. Mas não sou poeta, não tenho habilidades para essa arte.

Ah, dura realidade!! Que encruzilhada! Deixou-me na difícil situação de não saber como dizer “adeus, Nauro...”