sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O PT e o PCdoB do Maranhão resistirão?

Franklin Douglas (*)

Como todos sabem, a Unidos da Tijuca sagrou-se campeã do carnaval carioca. Dentre as várias belezas de seu desfile na Sapucaí, as mágicas e os truques ilusionistas foram os que mais impressionaram o público e o júri. No último domingo o programa Fantástico colocou as costureiras da Rede Globo a nos revelar quais os truques utilizados pelo “Mister M” da Tijuca, o carnavalesco Paulo Barros. Tão simples, tão ilusório!

No último final de semana também findou o IV Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), em Brasília. A delegação maranhense favorável à coligação entre PT-PCdoB-PSB acompanhou – e articulou intensamente – o desfile das propostas na Sapucaí petista. De fato, para alívio (temporário?) dos petistas de raiz, não houve decisão do Congresso Nacional pela tese de unir PT-Maranhão ao PMDB sarneyzista. Mas não temos como deixar de comparar os truques ilusionistas da Tijuca com os do Congresso do PT.

O principal, que “enganou” toda mídia nacional: O PT radicaliza programa. José Eduardo (“Mister M) Dutra – novo presidente nacional do partido – tratou logo de demonstrar as facetas da ilusão. O programa (radicalizado) é do PT; o de Dilma será o programa resultante do debate com os outros partidos da coligação... aah, bom!

Nos discursos de Lula e Dilma, tratamos – Augusto Lobato, Marcio Jardim, Silvio Bembem e eu – de contar o placar do jogo da política maranhense.

- “No PT, o mais besta coloca linha, com luvas de boxe, no buraco de uma agulha debaixo d´água. Aqui me chamam de baiano [apelido quando era metalúrgico], e o militante põe o dedo no meu nariz e diz: Lula você está errado!”, acentuou Lula a força da militância petista. Um a zero para nós, marcamos Augusto, Marcio, Bembem e eu;

- “A Dilma não é candidata do vazio. É candidata do maior partido de esquerda do Ocidente. Os [PT´s dos] estados vão decidir seus palanques, mas onde o palanque unificado for essencial para o projeto nacional a Direção Nacional terá que agir”, diminuiu Lula o ímpeto da militância. Empatou, anotou Augusto;

- “Prefiro a crítica, ainda que injusta, do que o silêncio das ditaduras”, demarcou Dilma com a mídia conservadora. Dois a um para nós, observou Márcio um Edison Lobão desconcertado. Ele fora jornalista do regime militar;

- “Meu governo também será de coalizão”, anunciou Dilma. Dois a dois, viu Bembem um Lobão e um Temer aliviados;

- “Vamos acabar com os velhos coronéis (...) mostrar àqueles [o DEM] que diziam que iam acabar com a nossa raça que eles passarão, nós passarinho. Ficaremos com a liberdade de voar!”, caminhou Dilma para encerrar seu pronunciamento. Três a dois para nós, totalizou Bembem... A principal mágica – Lula é Dilma e Dilma é Lula – só as urnas de outubro nos revelarão se funcionará. Aqui, só quem pontua é Lula.

E assim fomos desmontando os truques ilusionistas para termos a convicção de que a aliança PT-PCdoB-PSB só prosperará se: (1) no PT-MA, os petistas fizerem sua parte e vencerem o Congresso Estadual e (2) a direção estadual do PCdoB, ante a pressão de Sarney junto a Lula, convencer sua Direção Nacional que o projeto Maranhão é condição sine qua non para o apoio ao PT e Dilma. Tão simples, tão real! Vamos a ver.


(*) Franklin Douglas – jornalista e professor, 36 anos. Contato: (98) 9962-8181. Email: franklindouglas@elo.com.br

SÃO LUIS: UM ANO DEPOIS E... AINDA NÃO FOI!

Por Haroldo Saboia

Em novembro, na Coluna da Página 2 que escrevo às segundas neste JP, preocupado com o agravamento dos problemas de nossa cidade alertei:

“Eleito há um ano o prefeito João Castelo, por sua experiência anterior a frente do executivo estadual, despertou forte expectativa na população de que faria, embora com característica fortemente autoritária, desde o início, um governo de realizações, de obras, uma administração dinâmica, enfim. Onze meses passados, o sentimento que prevalece é que quase nada foi feito. E, ainda pior, que quase nada está por ser feito.”

Citei como exemplo, a questão do sistema viário de São Luis: “um caos que a cada dia toma proporções maiores e alarmantes”.

Foi um Deus nos acuda. Agressivo, o Sr. João Castelo respondeu aos comentários da Coluna sem discutir nenhuma das inúmeras sugestões apresentadas.

“Passados onze meses, o sentimento que prevalece é o de que povo acertou mais uma vez (...) e elegeu João Castelo que lhe está devolvendo a confiança em ruas trafegáveis, lixo recolhido, escolas funcionando e tudo o que todo mundo vê...” (Coluna do Othelino, Jornal Pequeno, edição de 26 de novembro de 2009).

Em 7 de fevereiro, o prefeito João Castelo, em entrevista ao JP, parece mudar o tom. Não mais as afirmações categóricas de novembro e, sim, um novo anúncio:

“Castelo diz que sua gestão agora começa a 'deslanchar'. O prefeito João Castelo disse ontem que, depois de superar graves dificuldades, a Prefeitura de São Luís, agora saneada e com suas finanças ajustadas, está ‘em condições de deslanchar’. "(JP, 7/2/10).

Com boa vontade poderíamos até falar que se trata de “mais um agora vai”. Mas não é esse o nosso propósito. Quando criticamos não apenas fundamentamos como apresentamos idéias e sugestões para nossa cidade. A administração reage sempre desarrazoadamente. Chega de tanto despreparo e arrogância!

O aumento das tarifas dos transportes, por exemplo, em pleno carnaval, é uma medida autoritária e covarde. Autoritária posto que a administração não foi transparente, não apresentou à população as reivindicações dos empresários e nem assegurou aos usuários o direito do contraditório, a possibilidade de apresentar contra-argumentos às proposta de elevação dos preços das passagens.

Covarde e traiçoeira, pois esperou o início dos festejos para aplicá-la. Quanta bobagem!
Esse aumento de tarifas vai gerar dois fatos: o primeiro, a rápida rearticulação do movimento popular de transporte, mais forte e vigoroso; e o segundo (nem precisa ser marqueteiro, como o Duda Mendonça, para perceber) é que todos estes fatos reavivarão fortes na memória popular a imagem truculenta do governador João Castelo, quando das memoráveis lutas dos estudantes pela Meia-Passagem.

Este caso é apenas um exemplo, entre vários.

Em comentários anteriores insiste na questão do sistema viário de São Luis. Ressaltei a necessidade e urgência das ligações inter-bairros e cobrei da Prefeitura uma prestação de contas em relação ao projeto viário, elaborados por técnicos paranaenses, oferecido pela Associação Comercial ,em janeiro de 2009, ao prefeito eleito.

Ou bem projeto dorme em alguma gaveta de um burocrata qualquer ou, então, o senhor João Castelo imagina que basta “fazer caixa” para tirar da cartola, na hora que lhe der na telha, e um passe de mágica executa um viaduto, uma ponte ou coisa parecida. Obra de fachada com mero objetivo eleitoral...

Os tempos mudaram. A luta, a disputa político-eleitoral é cada vez mais acirrada e a legislação complexa que muito facilmente grupos de interesses ou adversários partidários conseguem inviabilizar ou, pelo menos, postergar meses, anos, iniciativas e obras do poder públicos.

O exemplo do tão propalado Hospital Central de Emergência de São Luis é eloqüente! O grupo Sarney, com seus enormes tentáculos nas mais diversas instituições, públicas e privadas, está deitando e rolando.

Será que o prefeito de São Luis, João Castelo Ribeiro Gonçalves, que por longos anos conviveu com Sarney e apaniguados não se dá conta que a oferta pelo Governo do Estado de um terreno para a construção do Hospital de Emergência não passa de uma cilada?

Oferecer um terreno, no Sacavém, na Reserva do Batatã, área de preservação ambiental, de propriedade de uma empresa de economia mista, com centenas de disputas judiciais, querelas trabalhistas, pendências com fornecedores, entraves no TCU e TCE e outros quejandos, não passa de uma grande piada.

E o mais grave, gravíssimo, é que tudo indica que o Sr. Castelo teria ficado encantado com o presente de grego. Esquece que:

“Laranja madura na beira da estrada
Tá bichada Zé ou tem marimbondo no pé.”

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O MÉDICO E A GUERRREIRA

Contribuição do leitor do Ecos, Penha Castro.

O MÉDICO CURA, A GUERREIRA FERE.
O MÉDICO SALVA, A GUERREIRA MALTRATA.

O MÉDICO FAZ DO AMOR O SEU OFÍCIO,
O OFÍCIO DA GUERREIRA É O ÓDIO.

O MÉDICO FALA A VERDADE, NÃO CRIA ILUSÕES, DÁ ESPERANÇA.
A GUERREIRA É ARDILOSA.

O IDEAL DO MÉDICO É A VIDA,
O IDEAL DA GUERREIRA É VITÓRIA A QUALQUER CUSTO.

O MÉDICO FAZ UM JURAMENTO E CUMPRE,
A GUERREIRA FAZ AMEAÇAS...

O MÉDICO PARA TUDO TEM REMÉDIO,
A GUERREIRA TEM SOMENTE SUAS ARMAS.

O MÉDICO TEM ALMA,
A GUERREIRA SOMENTE A ARMADURA.

O MÉDICO TEM AMIGOS,
A GUERREIRA TEM ALIADOS.

A GUERREIRA OBEDECE AO REI,
O MÉDICO OBEDECE A DEUS.

O MÉDICO TEM PRESSA, POIS TUDO É URGENTE,
A GUERREIRA TEM MEDO, POIS O FIM É INEVITÁVEL.

O MÉDICO VÊ A DOR DO PACIENTE E SE COMOVE
A GUERREIRA VÊ A DOR DO ADVERSÁRIO E SE REGOZIJA....

O MÉDICO DEFENDE PESSOAS,
A GUERREIRA DEFENDE TERRITÓRIO.

O MÉDICO TEM DISCÍPULOS, A QUEM ENSINA,
A GUERREIRA TEM SUBORDINADOS A QUEM COMANDA,

O MÉDICO TEM NA MÃO O BISTURI E COM ELE DISSIPA O CÂNCER,
A GUERREIRA TEM NA MÃO A ESPADA E COM ELA DISSIPA A ESPERANÇA.

O MÉDICO SABE QUE DEVE CHEGAR, QUE DELE TUDO DEPENDE,
A GUERREIRA NÃO SABE QUANDO PARTIR, MESMO QUANDO DELA NÃO SE PRECISA.

PRECISA-SE DE UM MÉDICO COM URGÊNCIA, DE UMA GUERREIRA NÃO!

Poesia de Quinta - Número 73

Por Deíla Maia

Pessoal,

O texto de hoje, acho que não é bem assim, uma poesia, originalmente. Mas é uma reflexão tão linda, que vou colocar como se fosse.

Está na última página do lindíssimo e agradável livro de Eduardo Galeano, "O livro dos abraços", que eu terminei de ler recentemente. Recomendo com louvor este livro a todos, pois é leve, agradável e extremamente reflexivo.

Ofereço o Poesia de Quinta de hoje ao meu querido amigo Kelnner, lá de Fortaleza. Este trecho de Galeano me lembrou muito ele.


Beijos.

Deíla



A VENTANIA
Eduardo Galeano


Assovia o vento dentro de mim.
Estou despido.
Dono de nada, dono de ninguém,
nem mesmo dono de minhas certezas,
sou minha cara contra o vento,
a contravento,
e sou o vento que bate em minha cara.

Coluna Haroldo Saboia - JP (22.02.2010)

A SUCESSÃO NO LAVA PRATOS DE CARNAVAL

A política é engenho e arte. Engenho e arte que se misturam em estranha alquimia determinada pelos caprichos da história, pelo acaso e pelas circunstâncias; jamais por fórmulas matemáticas. Tem suas regras e seus mistérios. E seu calendário, evidentemente.

Este ano o Carnaval não esperou as águas de março. Já no dia 20 de fevereiro tivemos o lava pratos de fim de festas. E outros fatos de importância.

O PT, partido do presidente Lula, por exemplo, realizou, no período de 18 a 20, em Brasília, o seu Congresso Nacional, o quarto em 30 anos de existência. Definiu sua política de alianças - que na prática prioriza as relações com o PMDB de Temer, Sarney, Jader Barbalho e outros - além de lançar oficialmente a pré-candidatura presidencial da ministra Dilma Roussef.

O Congresso petista centralizou em torno de sua direção nacional as políticas de aliança nos Estados:

"Compete ao Diretório Nacional conduzir a política de alianças nacional e atuar em conjunto com as Direções Estaduais na definição das alianças estaduais. AO DIRETÓRIO NACIONAL COMPETE DECIDIR, EM ÚLTIMA INSTÂNCIA, AS QUESTÕES DE TÁTICA E ALIANÇAS NECESSÁRIAS À CONDUÇÃO VITORIOSA DA CAMPANHA NACIONAL" (grifos da coluna).

Assim, as direções estaduais poderão: optar entre adotar, festivamente, as determinações da Direção Nacional no final de março, em seus congressos estaduais; ou esperar, cabisbaixos, que dias depois seja pronta e duramente desautorizada qualquer divergência.

Que os petistas maranhenses contrários à oligarquia Sarney, continuem, com coragem, engenho e arte, a travar a luta política pela libertação do Maranhão.




VIOLÊNCIA CONTRA OS MARANHENSES

O presidente Luis Inácio Lula da Silva não tem o direito de abusar da grande popularidade que desfruta em todo o país.

Os maranhenses não esquecem que o Presidente da República esperou sete anos para visitar São Luis, nossa Capital. E, quando veio, teve a audácia de declarar cruamente - sob sorrisos e aplausos de Roseana Sarney - que grande parte de nossa população vive na merda.

Esquece Sua Excelência que o orgulho, a dignidade humana subsistem às condições as mais abjetas, as mais desumanas.

As masmorras, os campos de concentração nazistas e as galeras abomináveis do tráfico de escravos ceifaram milhões e milhões de vidas humanas.

Mataram é verdade. Mas não conseguiram jamais arrancar de cada um, enquanto sobrevivente, o sentido da vida, a dignidade humana.

Mesmos nas piores situações em que o gênero humano esteve condenado nunca ele deixou de criar, de fazer arte, desenhando ou cantando gemidos ou lamentos que fossem.

O presidente Lula e a direção de seu Partido poderão apoiar e apoiarão os sarneys.

Lula e os seus fortalecerão ainda mais Sarney e sua filha, Roseana e seu pai, déspotas oligarcas, investigados e indiciados, mas sempre impunes. Impunidade que lhes asseguraram a censura da ditadura, a censura dos monopólios de comunicação e, agora, a censura judicial.

Lula deve saber que cada vez que vai a televisão, às rádios e aos jornais em defesa de Sarney está agredindo com desmedida violência o Maranhão e os maranhenses.

Só nos resta um caminho contra a violência, o caminho da resistência!





Sarney e o medo das vaias

O presidente do Senado Federal, o cada vez mais "honorável" José Sarney não compareceu ao IV Congresso Nacional do PT que lançou oficialmente, na noite de sábado, a ministra Dilma Roussef pré-candidata à presidência da República.

Sarney corre das vaias como o diabo da cruz.



Sagacidade

Ao declarar que sua candidata Dilma, se vitoriosa, disputará a reeleição em busca de um segundo mandato, o presidente Luis Inácio Lula da Silva demonstrou sua enorme sagacidade.

Vencedor na quarta tentativa, Lula conhece, como poucos, a força imperial do presidencialismo brasileiro.




Balcão de negócio

Palavras do dirigente nacional, Marcus Sokol, pronunciadas da tribuna do IV Congresso Nacional do PT:

"Aliança para quê? Para continuar o balcão de negócios no Congresso Nacional ? Aquilo que nos levou ao mensalão?


Alta tecnologia I

"Alta tecnologia, e não agricultura ou recursos naturais. Essa é a sugestão para o desenvolvimento econômico no Brasil apresentada em uma nova iniciativa do prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, e alguns dos maiores economistas do mundo" é o alerta que faz pesquisa realizada por importantes universidades do mundo que será lançado hoje, em Genebra.

Segundo Jamil Chade, o correspondente de O Estado de S. Paulo na Suíça, o estudo cita a Embraer, industria aeronáutica brasileira como exemplo de uma política correta de promoção de setores de alta tecnologia.






Alta tecnologia II

Joseph Stiglitz foi presidente do Banco Mundial. Renunciou ao cargo e transformou-se em um dos maiores críticos do Consenso de Washington e demais políticas dos organismos financeiros internacionais em relação aos países periféricos.

"O que queremos mostrar é que o Consenso de Washington é um cavalo morto, embora alguns governos ainda insistam em montá-lo" - afirma Stiglitz.






Alta tecnologia III

Segundo ainda o estudo coordenado por Stiglitz "o Brasil precisará contar com uma estratégia de Estado nos próximos anos para permitir que setores possam ganhar competitividade internacional" (que o setor agrícola é incapaz de assegurar).

O quarto centenário de São Luís

Por Haroldo Saboia

São Luís deu início, no dia 10 de fevereiro, às comemorações - que serão estendidas por todo o ano - do 1º Centenário de Nascimento de Maria Aragão, uma mulher, negra, médica que transformou sua vida em uma bela e longa história de lutas por um mundo melhor.

Na semana que antecedeu ao Carnaval, a festa do centenário de Maria reuniu vários entre os melhores compositores e artistas de São Luís, ensejou a reapresentação da excelente peça de Ethel Santos que conta e reconta da vida de Maria , "A Besta Fera", além de reunir grupos de dança que animaram por toda a tarde do dia 10 o belo espaço, projetado por Oscar Niemeyer, que compõe o Memorial Maria Aragão.

Outras homenagens serão prestadas como, provavelmente em março, o lançamento da segunda edição do livro "Maria Aragão: A Razão de Uma Vida", que reúne com esmero e competência depoimentos que prestou ao escritor e militante maranhense, ora radicado em Brasília, Antonio Francisco.

Maria foi lembrada em dezenas de artigos e reportagens publicados em jornais e revistas, como nos meios eletrônicos. Muitos ressaltaram o fato do nascimento de Maria, há cem anos, coincidir com a fundação do Partido dos Trabalhadores, em 1980, também em 10 de fevereiro.

Neste espaço gostaria de alertar - mais uma vez - as autoridades municipais e estaduais para a necessidade de dar início, urgentemente, aos preparativos das comemorações do IV Centenário de São Luis.

Em sua História do Maranhão, o professor Mário Martins Meireles relata, não sem certa singeleza, o nascimento de nossa cidade:

"Escolhido para sede da colônia um altaneiro promontório, na confluência dos dois maiores rios da Ilha, defronte a Jeviré, aí rezaram os capuchinhos, a 12 de agosto, a primeira missa no Maranhão. (...)

A 8 de setembro de 1612, foi, por fim, solenemente fundada a colônia.

Rezada a missa pelos missionários, saíram os franceses em procissão, com os fidalgos à frente e um gentil-homem carregando o crucifixo, ladeado por Juí, filho do morubixaba Japiaçu, e Patuá, neto de cacique Marcoiá Peró, cada um com um círio aceso; chegados ao ponto escolhido (na hoje Pedro II), e após entoado o TE DEUM LAUDAMUS e proferido um sermão ...."

Não me cabe aqui analisar o caráter idílico emprestado ao cenário muito menos discutir da veracidade e do rigor histórico da narração. Não tenho os conhecimentos requeridos. Trata-se tão somente de admitir a data - 8 de setembro de 1612 - como um marco. Um corte histórico.

Relembrar, festejar, comemorar o IV Centenário de São Luis significa discutir, analisar, repensar sua história e formação. Reavaliar e, sobretudo, recriar o espaço urbano, social e geográfico de São Luis, a cidade em que vivemos.

O senador pernambucano Marco Maciel, conservador, em artigo em O Estado de S. Paulo de 25 de novembro de 2009 sugere a criação urgente de uma comissão para incentivar as comemorações do bicentenário da Independência que será em 2022.

Cita o poeta Carlos Drummond de Andrade que ao tomar conhecimento que o Congresso Nacional havia constituído uma comissão, em 1983, para as comemorações dos 100 da República seis anos depois, esbravejou:

"Tão cedo? Perguntará alguém. (...) nunca é cedo para se falar em República, palavra raramente escrita ou pronunciada em pronunciamentos políticos já notaram? O pessoal fala muito em democracia, para desejá-la plena ou para limitá-la, relativizando. Mas a República mesmo, que entre nós já tem 94 anos de idade, parece que saiu da moda no vocabulário. Ninguém mais é republicano neste País."

Como a Independência, como a República, também as cidades são fatos históricos. Elas resultam da construção coletiva dos homens! Lembro trecho que escrevi em material da minha candidatura à Câmara Municipal, em 2008.

"Este ano, mais que nunca, seu voto fará história: elegerá a Câmara Municipal dos 400 anos de São Luis, do seu IV Centenário.

Fundada em 1612, São Luís por suas lutas, pelo valor e pela bravura de sua gente, tornou-se a Ilha Rebelde; pela beleza de sua arquitetura, Patrimônio Cultural da Humanidade. Hoje, seu desafio é preparar-se para ser uma grande metrópole capaz der acolher com dignidade sua população de um milhão de pessoas.

Preparar o IV Centenário de São Luís é repensar as condições de vida e o futuro de sua população!

Poesia de Quinta - Número 72

Por Deíla Maia (originalmente em 19.02.2010)

Pessoal,

Recentemente, ganhei de presente a obra completa de uma das minhas poetisas prediletas, Cecília Meireles... Então, não poderia deixar de compartilhar com vocês tão precioso e delicado regalo.

Cecília Meireles era uma mulher batalhadora. Órfã de pai antes mesmo de nascer e também sem a mãe pouco tempo depois, a perda e a orfandade são elementos significativos na vida desta autora. Criada pela avó e com intensa relação com a efemeridade da vida, a sua poesia é lírica e extremamente reflexiva.

Ofereço à Poesia de Quinta de hoje a uma das mais assíduas e argutas comentadoras deste despretensioso espaço de debate poético, sendo que esta poesia "Noções" me lembrou muito desta pessoa e de suas reflexões filosóficas sobre a vida e o viver. Para Fernanda Thomé, com carinho.


Beijos.

Deíla




NOÇÕES
Cecília Meireles




Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.

Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.

Virei-me sobre a minha própria existência, e contemplei-a
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus, isto é a minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Rearticular o Movimento Popular de Transportes

Franklin Douglas (*)

O aumento das tarifas de transportes coletivos no período momesco embute um receio do prefeito João Castelo (PSDB): o do debate sobre ele tomar as ruas e, consequentemente, gerar desgaste a sua administração, dado que o aumento é totalmente arbitrário.

Isto porque indefensável no seu índice de reajuste - 22%; injustificável na sua forma de definição - sem qualquer debate na Câmara dos Vereadores ou diretamente com a população; e insustentável para uma política que se queira democrática de gestão dos transportes públicos, pois beneficia apenas um lado da situação, o do empresariado.

O principal problema desse setor das políticas públicas é que falta ator para fazer o contraponto. Esse papel não é cumprido pelo Sindicato dos Rodoviários, posto o corporativismo inerente à pauta sindical; tampouco por nossos edis, boa parte deles financiados pelos empresários do setor; menos ainda por uma tal Associação dos Usuários (que um bom número dos usuários sequer sabe que é representado por ela...); ou mesmo pelas entidades estudantis que historicamente levantavam essa bandeira de luta em suas ações, hoje em disputa mórbida por contra-cheques e carteirinhas.

Urge, então, a rearticulação do Movimento Popular de Transportes!

O Movimento Popular de Transportes existiu em São Luís nos fins da década de 1980. Partia principalmente da região do Itaqui-Bacanga e tinha a adesão de amplos setores organizados: sindicatos, entidades estudantis, partidos de esquerda, associações de moradores. Tornou-se interlocutor legítimo na discussão das políticas de transportes até início dos anos 1990, quando se desarticulou.

Somente com um ator popular, sem a manipulação dos interesses partidário-eleitorais imediatos, é possível recolocar no debate público a questão não só do aumento das passagens, mas de um projeto a longo prazo para o transportes da capital.

De início, seria possível uma ampla campanha de assinaturas por um projeto de iniciativa popular junto à Câmara de Vereadores para revogar esse aumento e propor a criação de uma comissão que elaborasse uma lei permanente para a definição das tarifas de transportes públicos.

Refundar o Movimento Popular de Transportes seria uma grande contribuição para a democratização dessa política pública em São Luís. A cidade clama!

O exemplo vem do Campus
Lembro-me de quando, à frente do Diretório Central dos Estudantes da UFMA (DCE) - 1993/1994, organizamos uma passeata contra as condições do transporte no campus do Bacanga. Os empresários da Taguatur e do SET (Sindicato das Empresas) quase enlouqueceram. Não tinha liderança a cooptar. Tinha gente (muita gente) nas ruas - a passeata saiu da UFMA e cercou o antigo DMT(Departamento Municipal de Transportes), na Madre-Deus. As catracas dos ônibus do Campus tinham sido liberadas pelos estudantes que assumiram a função dos cobradores - ninguém pagou passagem nesse dia.

E o mais consistente: ante os argumentos de que precisavam de planilhas e mais planilhas para pensar qualquer aumento no número de ônibus para a linha Campus (da qual se serviam também aos moradores do Sá Viana), o DCE apresentou um estudo onde provava que a tabela de horários não era cumprida e a lotação dos ônibus nos horários de pique ultrapassava em quase o dobro a lotação estabelecida pelas próprias empresas. Era a contestação ao lucro fácil, com povo nas ruas e proposta na mão.

É isso que falta hoje para questionar o aumento de passagens: povo nas ruas e proposta na mão!


(*) Franklin Douglas – jornalista e professor, 36 anos. Contato: (98) 9962-8181. Email: franklindouglas@elo.com.br

Publicado no Jornal Pequeno, em 18.02.2010, p. o2

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Artigo definido: Wagner Cabral

ERRARAM A VERDADE!: a estória de uma pequena FARSA
Por Wagner Cabral da Costa *


A oligarquia Sarney promoveu, mais uma vez, uma FARSA, com a divulgação de uma FALSA pesquisa para governador, com o objetivo manifesto de iludir e confundir a opinião pública,
bem como de prejudicar as candidaturas de seus adversários. Esta é a síntese do que será explicado no decorrer deste artigo, caro leitor.

1. Da FARSA

Tudo começou na primeira semana de fevereiro de 2010, quando os blogs de Walter Rodrigues (04/02) e Marco d’Eça (05/02), e talvez outros mais, divulgaram uma FALSA pesquisa eleitoral acerca das eleições para o governo do Maranhão, cuja autoria foi atribuída ao Instituto Sensus.

O momento era muito propício, pois o Instituto havia acabado de divulgar a pesquisa CNT/Sensus sobre a avaliação do governo federal e a sucessão presidencial (01/02), uma pesquisa já consolidada (está na 100 a edição) e de ampla cobertura na mídia nacional. Assim, contando com a boa fé dos (e)leitores, a ARMAÇÃO noticiou que, juntamente com a pesquisa nacional, o citado Instituto também havia feito uma pesquisa sobre a sucessão no Maranhão. O objetivo era claro: anunciar o “favoritismo” de Roseana Sarney, bem como fragilizar as candidaturas adversárias.
Dos blogs, convenientemente patrocinados pelo governo do Estado, a FALSA pesquisa se espalhou pela internet, sendo ainda reproduzida pela mídia impressa, nos jornais O Estado do
Maranhão (da família Sarney) e O Imparcial (edições de domingo, 07/02).

2. Da SUSPEITA da FARSA

Na condição de quem pesquisa e acompanha o processo político-eleitoral do Maranhão há mais de quinze anos, tão logo vi a pesquisa, procurei mais informações sobre a mesma nos sites do Instituto Sensus, da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), e, principalmente, do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão e do TSE.
Pois, conforme determina a legislação eleitoral, “a partir de 1º de janeiro de 2010, as entidades e empresas que realizarem pesquisas de opinião pública relativas às eleições ou aos
candidatos, para conhecimento público, são obrigadas, para cada pesquisa” a fazer o registro no tribunal eleitoral competente, contendo informações sobre: contratante, valor da pesquisa,
metodologia, período de realização e questionário aplicado, dentre outros dados; cabendo às
2 secretarias judiciárias, “no prazo de 24 horas” contadas do registro, divulgar no sítio do tribunal eleitoral na internet (Resolução TSE nº 23.190, de 16/12/2009, artigos 1º e 9º, grifos nossos).
A mesma resolução preceitua que “na divulgação dos resultados de pesquisas, atuais ou não,
serão obrigatoriamente informados: o período de realização da coleta de dados; a margem de erro; o número de entrevistas; o nome da entidade ou empresa que a realizou, e, se for o caso, de quem a contratou; o número do processo de registro da pesquisa” (Art. 10, grifo nosso). Ora, a intenção de dar publicidade às pesquisas é garantir a LISURA e a TRANSPARÊNCIA das mesmas, que poderão ser conferidas e questionadas por qualquer cidadão, bem como por candidatos e partidos.
O resultado da busca foi o seguinte:
1) O site do Instituto Sensus (www.sensus.com.br) não mencionava qualquer pesquisa sobre

sucessão no Maranhão, registrando apenas a pesquisa CNT/Sensus, o mesmo ocorrendo no site da CNT (www.cnt.org.br).

2) A pesquisa nacional CNT/Sensus foi registrada no TSE com o protocolo nº 1570/2010, citado
impropriamente no blog de Marco d’Eça como sendo a pesquisa do Maranhão.

3) No site do TSE, seção de Pesquisas Eleitorais (que inclui o TRE-MA), só encontrava-se
registrada a pesquisa nacional CNT/Sensus, para o cargo de Presidente, disponibilizando o
questionário aplicado (sem qualquer pergunta sobre as sucessões estaduais).

Do fracasso em encontrar informações sobre a pesquisa, nasceu a SUSPEITA de que a
mesma ou não teria sido registrada ou seria falsa. Em ambos os casos, ocorrem INFRAÇÃO ou
CRIME ELEITORAL, ainda segundo a Resolução nº 23.190 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE):
Art. 17. A divulgação de pesquisa sem o prévio registro das informações constantes do art. 10
desta resolução sujeita os responsáveis à multa no valor de R$ 53.205,00 (cinquenta e três mil
duzentos e cinco reais) a R$ 106.410,00 (cento e seis mil quatrocentos e dez reais) (Lei nº9.504/97, art. 33, § 3°).
Art. 18. A divulgação de pesquisa fraudulenta constitui crime, punível com detenção de 6 meses a 1 ano e multa no valor de R$ 53.205,00 (cinquenta e três mil duzentos e cinco reais) a R$ 106.410,00 (cento e seis mil quatrocentos e dez reais) (Lei nº 9.504/97, art. 33, § 4°).
Estabelecida a SUSPEITA, encaminhei por e-mail uma NOTA DE PREOCUPAÇÃO (na sexta-feira, 05/02), expondo as razões pelas quais julgava que a pesquisa encontrava-se, no mínimo,
SOB SUSPEIÇÃO. Solicitava ainda, à luz da ÉTICA POLÍTICA e da legislação, e na condição de
pesquisador e CIDADÃO, que os responsáveis esclarecessem QUAIS AS FONTES que
consultaram ou ouviram. Afinal, eu poderia estar enganado. Esta nota de preocupação foi publicada na edição de domingo do Jornal Pequeno (07/02), bem como em alguns blogs. Possivelmente, outras pessoas tiveram dúvidas semelhantes, manifestando-as, entretanto, de maneira reservada.

3. Da DENÚNCIA da FARSA
A transformação da SUSPEITA em CERTEZA veio quando os citados blogueiros retiraram a pesquisa de suas páginas da internet, sem esclarecer, contudo, QUAIS AS SUAS FONTES, ou
seja, sem indicar qual o registro da pesquisa na Justiça Eleitoral e onde os dados da mesma estavam disponíveis para consulta pública, visando assegurar a TRANSPARÊNCIA do processo eleitoral.
Num, a matéria foi retirada por “provavelmente” conter “erros” (em 05/02), mas o blogueiro
Walter Rodrigues registrou “que os percentuais ali divulgados foram realmente apurados pelo
instituto Sensus”, prometendo esclarecimentos posteriores que não foram dados. No outro blog, houve a admissão do problema, com a informação adicional de que apenas repetira informações de Walter Rodrigues. Após dar esclarecimentos no campo legal, inclusive sobre as multas (mas não sobre o crime), o blogueiro Marco d’Eça informou que teve orientação jurídica do Sistema Mirante no sentido da retirada da pesquisa, por conta do “rigor da justiça eleitoral” (08/02).
Para consolidar a CERTEZA, passei a ser alvo de ataques injustificados do blogueiro Walter Rodrigues, em sua prática usual de tentar desmerecer o interlocutor, no caso, desqualificando minha produção intelectual. Ora, pra quê os ataques se eu estava apenas, na condição de cidadão, questionando a ORIGEM e a VERACIDADE da pesquisa? Bastava responder aos questionamentos, comprovar a legalidade da pesquisa e indicar que eu estava equivocado. Mas não é possível confessar o inconfessável! Ou, no popular, a MENTIRA tem pernas curtas!
Este episódio, esta FARSA, não pode ser entendido de maneira isolada, mas sim num contexto mais amplo. Pois, segundo indiquei no artigo “A bomba suja: crise, corrupção e violência
no Maranhão contemporâneo ”, a VIOLÊNCIA FÍSICA E SIMBÓLICA constitui um elemento
estrutural de manutenção do poder oligárquico. Ao analisar a crise política dos últimos anos,
indaguei o seguinte sobre os meios de comunicação:
E a mídia? O que se publicou nos jornais e na internet durante a “guerra de blogs e e-mails” travada entre o Condomínio [de Jackson Lago]e o grupo Mirante? Cyberguerra, aliás, que lembrou bastante a “guerra de telegramas” da Greve de 1951, cujo ápice foi inventar um (inexistente) “Exército de Libertação” com 12 mil homens armados! Qual o “jornalismo” praticado por aqueles cuja única função foi fabricar e espalhar factóides a serviço de um
grupo ou de outro, tentando pautar o debate sem nenhum lastro ético-político? [do livro
A terceira margem do rio, p. 122].
Assim, de um lado a violência física (por exemplo, no tumulto provocado pelos “cães de
guerra” no lançamento do livro Honoráveis Bandidos) e, de outro, a violência simbólica (em mais um factóide, a FARSA da pesquisa eleitoral) constituem faces da mesma moeda oligárquica, postas em ação por seus agentes espalhados nos mais diversos setores. Que o episódio sirva de ALERTA À CIDADANIA, muito mais virá…

4 Por isso, venho a público, perante a sociedade brasileira, DENUNCIAR mais esta FARSA
da oligarquia, ao divulgar uma FALSA pesquisa (ou não registrada), violando a legislação e
cometendo INFRAÇÃO ou CRIME ELEITORAL, com o objetivo de promoção indevida de sua
candidata e desqualificação dos adversários.
Espero, confiante, que o Ministério Público Eleitoral possa apurar devidamente as denúncias
aqui formuladas por este cidadão comum!
E, por fim, relembro o escritor argentino Jorge Luis Borges na História Universal da Infâmia
, em que traçou a biografia de estelionatários, fraudadores, pistoleiros, piratas, falsificadores, impostores, traidores – destes personagens infames, o poeta e contista Borges costumava dizer que sempre ERRAVAM A VERDADE!


*Historiador, professor do Departamento de História / UFMA. Possui artigos, entrevistas e livros publicados sobre a história política do Maranhão. Seu último lançamento foi A terceira margem do rio: ensaios sobre a realidade do Maranhão no novo milênio (Editora da UFMA / Instituto Ekos).

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

100 anos de Maria, 30 anos de PT


Jornal Pequeno - 10 fev 2010, p. 02
OS 100 ANOS DE MARIA ARAGÃO E OS 30 ANOS DO PT: encontros e desencontros
Franklin Douglas (*)


Ela nasceu em 1910. Ele, em 1980. Ambos no dia 10 de fevereiro.

Ela passou para a História do Maranhão como mulher, negra, médica, comunista, lutadora da causa socialista, da emancipação proletária. Ele por ter implementado a mais eficaz estratégia político-eleitoral da história da esquerda brasileira.

Os dois são fruto do século que o historiador britânico Eric Hobsbawm denominou de “A Era dos Extremos”. Tanto uma quanto outro cresceram sob um lado, naquele bipolar mundo dividido entre capitalismo/Estados Unidos versus socialismo/União Soviética: o lado do “proletários do mundo, uni-vos!” – como conclararam Karl Marx e Friedrich Engels. Situavam-se, ela e ele, no campo dos-que-vivem-do-trabalho, como atualiza Ricardo Antunes. Para ela, “proletários”; para ele, “trabalhadores”.

Ela assumidamente comunista; ele, predominantemente socialista. Ela, prestista. Ele, operário (do ABC paulista) – católico (das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja) – pluralmente marxista. Ambos internacionalistas, pela autodeterminação dos povos da América Latina e do “terceiro mundo” e apaixonados pelos exitosos índices sociais da Cuba de Fidel Castro.

Ela – no Sindicato dos Médicos – e boa parte dos militantes dele, fundadores da CUT maranhense; entusiastas da luta pela terra travada no campo pelos trabalhadores rurais liderados por Manoel da Conceição, Vila Nova, FETAEMA e MST; referências de jovens progressistas da Igreja católica e estudantes da UFMA e UEMA, encantados pelos valores que seduziam a juventude defensora da sociedade alternativa. Os dois percorriam o caminho rumo ao horizonte, para nele se encontrarem com a utopia. Se não a encontravam, regozijavam-se nas feijoadas e encontros promovidos por ela, pois, afinal, o que valia era estar em movimento e não ficar parado – como poetizou Eduardo Galeano.

Ela combateu a Ditadura Militar (1964-1985). Ele só existe por ser resultado do acúmulo de força desse embate com o qual ela contribuiu. Ela e ele se encontraram nas Diretas-Já (1985), nas emendas populares da Constituinte de 1988 e no segundo turno das eleições de 1989 contra Collor. Desencontraram-se quando ela, junto com Luís Carlos Prestes, Haroldo Saboia, Euclides Moreira Neto, Aldionor Salgado e outros, filiaram-se ao PDT de Leonel Brizola e Jackson Lago.

Ela tornou-se a mulher maranhense do século XX por escolha de seus conterrâneos, ficando atrás de João do Vale. Ou melhor, ao lado. Ele deslocou-se da esquerda radical e chega aos 30 anos apontando para o centro. No Maranhão, fez o mesmo caminho. Preservando, contudo, sua história de enfrentamento ao esquema oligárquico.

Em seu centenário de nascimento, Maria Aragão mantém acesa para as novas gerações a chama da utopia de que “um outro mundo é possível”. Em sua terceira década de vida, caso sucumba à formação social oligárquica que ousou desafiar, o Partido dos Trabalhadores pode apagar – para si, seus militantes e simpatizantes – essa mesma utopia. A história não o absolverá, como fez com Maria Aragão.

Cem vezes viva a Maria! Três vivas ao PT.

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(*) Franklin Douglas – jornalista e professor, 36 anos. De volta à militância intelectual , porque a vida e luta continuam. Contato: (98) 9962-8181. Email: franklindouglas@elo.com.br.