Franklin Douglas (*)
A levar a sério
a sugestão do ex-governador José Reinaldo (PSB), que propôs um “Pacto pelo Desenvolvimento
do Maranhão”, unindo o governador Flávio Dino (PCdoB) e o oligarca decadente
José Sarney (PMDB), estaremos diante daquele acordão no qual o povo entra com a
cabeça e a elite dominante entra com a guilhotina!
Desenvolvimento tornou-se uma daquelas palavras mágicas que
dão conta de tudo e de todos os problemas, menos da realidade!
No Brasil,
inventou-se até um conceito que só existiu nas teses dos ideólogos do lulismo:
o novo-desenvolvimentismo (neodesenvolvimentismo), criado por Luís Carlos Bresser-Pereira,
em artigo “O novo desenvolvimentismo”
(Folha de São Paulo, 19/09/2004). Com o novo-desenvolvimentismo, o pai do neoliberalismo brasileiro e autor do
Plano Diretor da Reforma do Estado (1995), “dourou a pílula” da continuidade do
projeto neoliberal no Brasil.
No novo-desenvolvimentismo,
por exemplo:
(i) as
privatizações neoliberais tucanas transformaram-se, sob o petismo, nas
concessões e parcerias público-privadas;
(ii) o desmonte
do serviço público, principalmente nas áreas de saúde e educação, feito pelo
PSDB, avança para as terceirizações petistas via OSCIP´s, organizações sociais
e empresas do tipo EBSERH;
(iii) a reforma
da previdência, iniciada por FHC, foi concluída por Lula.
Do
neoliberalismo tucano ao social-liberalismo petista, tudo foi feito sob a
justificativa de um prometido desenvolvimento para o país.
No Maranhão, o
projeto desenvolvimentista nacional foi praticamente reproduzido ipse literes.
(1) De 1994 a
2002, a governadora Roseana Sarney, com suas gerências e privatizações, repetiu
as políticas do governo Fernando Henrique;
(2) De 2003 a
2006, José Reinaldo Tavares, com seu Programa de Combate à Pobreza, financiado
a partir de empréstimo junto ao Banco Mundial, buscou repetir Lula da Silva,
mesmo enfrentando permanente sabotagem do então presidente do Senado, José
Sarney, que, por exemplo, vetava até a vinda de ministros do Governo Federal ao
Maranhão;
(3) De 2007 a
2009, Jackson Lago, cujo secretário de Planejamento, Aziz Santos, num momento
de “sincericídio”, declarou que a Frente de Libertação chegara ao governo sem
um projeto para o Maranhão, sequer conseguiu repetir as políticas do governo
Lula, pois teve seu governo interrompido por um golpe via judiciário;
(4) De 2009 a
2014, a Governadora Sarney replicou as políticas dos governos Lula e Dilma,
inclusive com as mesmas secretarias de Estado para reproduzir os mesmos
programas dos quase 40 ministérios do Governo Federal.
Em nome do
desenvolvimento, todos os Governadores do Estado implementaram as mesmas políticas
do Governo Federal. E nesses 20 anos, o Maranhão cresceu tal qual o rabo do
cavalo!
Qual concepção
de desenvolvimento para o Maranhão pactuariam José Sarney, José Reinaldo e
Flávio Dino?
A da refinaria
da Petrobrás, promessa do Lula, apoiada pelos três, que nunca saiu do papel? A
dos projetos mínero-metalúrgicos, que financia a campanha dos três, exporta
alumínio e ferro para o mundo, mas não fabrica uma panela no Maranhão? A da monocultura
de soja, também incentivada pelos três, que serve à suinocultura europeia, mas
não alimenta nenhum maranhense?
Um pacto pelo
desenvolvimento do Maranhão, que não leve em conta os interesses do povo
maranhense, é como a lógica expressa na máxima lampedusiana, registrada em O Leopardo
(1974), segundo a qual “se quisermos que
tudo fique como está é preciso que tudo mude”!!
Ou seja, um
pacto sarno-dinista pelo desenvolvimento do Maranhão pode até servir para uma
recomposição intra-0ligárquica e um reposicionamento das forças conservadoras
no condomínio do governo do PCdoB/PSDB, mas, certamente, não serve para a
superação das históricas desigualdades econômicas e políticas em nosso estado.
E, dessa forma,
os maranhenses até mudam de governo, mas o Maranhão permanece no mesmo rumo!
(*) Franklin Douglas - jornalista e professor, doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve ao Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Publicado na edição de 26/07/2015, opinião.