quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Feliz Ano Novo

Meus amigos e minhas amigas,
Pelas palavras de Manoel de Barros, desejo que, em 2015, suas  peraltagens encham de alegria a vida de nossos amados, amigos, colegas; ainda que não sejamos poetas das letras, façamos da vida nossa poesia!
Feliz ano novo!
Franklin Douglas
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O menino que carregava água na peneira

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.
Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!

domingo, 30 de novembro de 2014

O FEITIÇO VIRANDO CONTRA O FEITICEIRO



Franklin Douglas (*) 


Uma notícia muito interessante passou despercebida ou foi relegada às últimas páginas dos jornais, como que para não ser vista, na última semana.
Trata-se da divulgação da sexta atualização da pesquisa Indicadores Sociais de São Luís, disponibilizada na página do “Movimento Nossa São Luís”, realizada pela consultoria Kairós Desenvolvimento Social, sob financiamento da Alcoa Foundation e Alumar via Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão (ICE-MA).
Os dados são tão fortes que nem o chapa-branquismo em torno da divulgação, revelado na presença do secretário municipal de Governo recém-nomeado na Prefeitura de São Luís e na escolha cautelosa dos termos divulgados nos relises do ICE-MA, foram capazes de ofuscar a conclusão de que vai de mal a pior a gestão das políticas públicas na capital maranhense!
Tem-se quase uma centena de itens distribuídos em 27 áreas da cidade e sintetizados em 49 indicadores que evidenciam, entre 2012 e 2013, o que tem ocorrido na administração pública municipal em setores como trabalho infantil, mortalidade por causa respiratória, escolas públicas sem biblioteca, analfabetismo, domicílios sem rede de água e tratamento de esgoto, tempo de deslocamento no transporte público, curetagem pós-aborto, crianças sem registro de nascimento, homicídios, domicílios sem coleta de lixo e diversos outros.
Em resumo, dentre esses 49 indicadores, temos o seguinte:
i) nível de excelência em apenas 8,5 % dos indicadores analisados (4), sendo que em um deles, o de desperdício de água, estamos com patamar semelhante a Tóquio, a cidade que menos desperdiça água no mundo. Ou seja, “há algo de podre no Reino da Dinamarca” dos dados fornecidos pela CAEMA, até agora sob controle de Ricardo Murad, aos sistemas nacionais de informação nessa área! Dados do Instituto Trata Brasil, por exemplo, estima em 58% o nível de desperdício de água em São Luís, bem distante dos 5,43% constatados pela consultoria do ICE-MA. Até hoje, os munícipes aguardam a promessa do prefeito Edvaldo Holanda Júnior de negociar firme com a CAEMA a questão da água e do tratamento de esgotos...
ii) um nível bom em somente 8,5 % dos indicadores (também somente em 4 deles) no tocante a itens como reprovação escolar, por exemplo. Ainda assim, consegue a cidade ir bem porque o conjunto na área desses 4 itens vai muito mal: o nível bom constatado à capital maranhense não a coloca nem entre as dez melhores posições...
iii) estamos em níveis razoáveis em 18% dos indicadores (9). Quadro semelhante ao anterior: vamos “bem” no cenário no qual muitas cidades vão muito mal: ocupamos entre as posições 12ª e 16ª, dentre as 27 capitais, em áreas como escolas sem acessibilidade, reprovação, escolas sem biblioteca, combate ao analfabetismo. . Até o momento, pais e filhos esperam pela Escola em Tempo Integral prometida pelo prefeito...
Em seguida, vêm os índices calamitosos: juntos somam 65% (olha a ironia dos números!!) dentre os indicadores analisados como RUINS ou PÉSSIMOS na gestão das políticas públicas da cidade. São eles:
iv) São Luís está em níveis ruins em 22% dos indicadores (11). Ocupa a posição 17ª a 21ª em áreas como curetagem pós-aborto, dado que indiretamente indica a prática de aborto mal sucedido, porque caseiro ou realizado de forma inadequada, e que só se toma conhecimento porque a mulher chega em estado de saúde debilitado à rede de atendimento do SUS. Outro indicador ruim, dentre os 11 enumerados nessa faixa: o tempo de deslocamento de casa ao local de trabalho. Estamos na vigésima primeira pior situação na mobilidade urbana! Os usuários de transporte esperam com seus “GPS´s nos ônibus”, o Bilhete Único e a licitação das linhas de transportes da cidade!
v) por fim, a situação onde estamos péssimos, em 43% dos indicadores (21)! O município de São Luís está entre as três piores capitais em domicílios sem coleta de lixo e em número de homicídios; situa-se entre as cinco piores em mortalidade infantil neonatal e em morte materna – índice que revela a precariedade das políticas de atenção à saúde da mulher e à infância. Parcela de nossas crianças nascem e sequer têm o direito ao registro de nascimento garantido, estamos na 22ª pior situação. Os pacientes ludovicenses aguardam em macas o prometido Hospital Dr. Jackson Lago!
Compreendes o porquê vai de mal a pior a gestão das políticas públicas na capital maranhense, cara leitora, caro leitor?
Nenhuma novidade para quem vive a cidade, se desloca por ela, necessita de seus serviços públicos. Apenas temos confirmado que também os números não mentem sobre o sentimento geral de abandono pelo qual a cidade se encontra.
Frente a tudo isso, parece voltar-se contra  o alcaide o feitiço que tão bem preparou para enfeitiçar os eleitores e vencer o pleito de 2012: “para mudar a cidade só tem um jeito: MUDAR DE PREFEITO!!”


Em tempo. Morreu Roberto Bolaños (1929-2014): “isso, isso, isso”, o Chaves! Quando falo com meus filhos sobre brincar de “peteca[bolinha de gude]”, “chuço[chucho]” ou “pião”, eles pouco me entendem. Quando eles me falam de “Matsuri”, eu é que não conecto com eles. Mas “foi sem querer, querendo” que nos compreendíamos muito bem assistindo às personagens do “Shakespearito” (“pequeno Shakespeare”, seu apelido no México). Desde os anos 1970, o humorismo infantil de Bolaños, sem apelos sexuais ou palavrões, era assim: unia continentes, unia gerações! “E agora, quem poderá nos defender?”... Mas “não fiquemos barriga, senhor Triste”! Sua mensagem de alegria estará sempre viva. Valeu, Roberto Bolaños!



(*)  Franklin Douglas - jornalista e professor, doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve ao Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Publicado na edição de 30/11/2014, opinião.

domingo, 2 de novembro de 2014

POBRE BRASIL. POBRE MARANHÃO


Franklin Douglas (*) 


Em São Luís, para participar de atividades do Observatório Social do Trabalho – ligado ao grupo de pesquisa GAEP, do Programa de Políticas Públicas da UFMA, o professor e pesquisador Marcio Pochmann (Unicamp-SP), lançou seu último livro, “Atlas da Exclusão Social no Brasil: dez anos depois”.
Em seu conceito multidimensional, o Atlas reúne sete índices acerca da exclusão social: (i) pobreza, emprego e desigualdade (dimensão Vida Digna); (ii) alfabetização e escolaridade (dimensão Conhecimento); (iii) concentração juvenil e violência (dimensão Vulnerabilidade Juvenil).
Em síntese, concebe a exclusão como a “condição específica ou holística de não estar exposta ao risco de violência, ao não ser, ao não estar, ao não realizar, ao não criar, ao não saber e ao não ter.” (Pochmann et al, 2014, p. 28).
Uma década depois de sua primeira publicação (em 2004, após o Censo de 2000), o Atlas retoma, a partir dos dados censitários de 2010, os mesmos índices a fim de verificar o que se alterou no País nesse período. Em resumo, “embora tenha reduzido o desemprego, a pobreza e a desigualdade [...], “o Brasil segue entre os 15 países mais desiguais do mundo.” (Pochmann et al, 2014, p. 16 ).
Nesses 10 anos depois, cara leitora, caro leitor, o que o Atlas indica sobre o Maranhão?
Se no Brasil a diminuição da desigualdade social foi lenta, aqui o ritmo de tartaruga foi mais vagaroso ainda. A saber:
1) O Maranhão tem o pior Índice de Exclusão Social (0,46), empatado com Alagoas e Pará – muito abaixo da média nacional (0,63);
2) O Maranhão possui o maior grau de pobreza (o,34), à frente de Alagoas (0,40) e Piauí (0,41);
3) Maranhenses, temos o pior índice de emprego formal (0,28), deixando para trás Pará (0,33) e Piauí (0,33);
4) O Maranhão detém o terceiro pior índice de escolaridade (0,52), atrás de Alagoas (0,46) e Piauí (0,50);
5) No quesito analfabetismo, também detemos o terceiro pior desempenho (0,38), atrás de Alagoas (0,35) e Piauí (0,37).
Somos o quarto estado da região Nordeste, em número de municípios (217) e em termos populacionais (12,5% dos habitantes nordestinos), mas: não temos nenhum município entre as cidades com índices satisfatórios de inclusão social (acima de 0,68); temos apenas uma cidade naquelas com índices razoáveis (0,56 a 0,68) – São Luís; e detemos, tristemente, o maior percentual de municípios com os piores índices: 81% de nossas cidades estão no pior grupo de índices de exclusão social.
Dentre os 100 municípios com maior grau de exclusão social, mantemos um conjunto de 30 entre eles: Santana do Maranhão, Nina Rodrigues, Mirador, Bom Jardim, Matões de Norte, Presidente Vargas, Conceição do Lago-açu, Serrano do Maranhão, Governador Nunes Freire, Pedro do Rosário, Amapá do Maranhão, Santa Filomena do Maranhão, Presidente Juscelino, Amarante do Maranhão, Cajari, Alto Alegre do Pindaré, São Benedito do Rio Preto, Santo Amaro do Maranhão, Satubinha, Buriticupu, Primeira Cruz, Paulino Neves, Fernando Falcão, Itaipava do Grajaú, Humberto de Campos, Cachoeira Grande, Arame, Belágua, Jenipapo dos Vieiras e Marajá do Sena.
Dentre esses, um ganhou notoriedade internacional: Belágua. Em todo o país, foi o município onde a candidata Dilma Roussef obteve seu maior índice de votos rumo à reeleição. Lá, a síntese de uma política que vem dando errado, ainda que eleitoralmente tenha retorno nas urnas.
Em 12 anos, a prioridade ao agronegócio de monocultura sufocou as comunidades tradicionais e a agricultura familiar do município. O eucalipto se expande e o cultivo de produtos agrícolas locais escasseia. Restou ao povo viver de transferência de renda do Governo Federal. Seu gestor, o prefeito Sargento Adalberto (PT), cumpriu à risca as orientações nacionais de seu partido: aderiu ao sarnopetismo. Disso, nada adiantou para libertar Belágua da miséria social. O Programa Bolsa Família apenas atenua o drama social de seus habitantes. Não há políticas estruturantes para a criação de um círculo virtuoso de superação da desigualdade social.
Não por outro aspecto, os autores do Atlas da Exclusão Social levantam a hipótese do esgotamento da atual política de proteção social. Como já opinou o cientista política André Singer, nessa velocidade, levaremos mais tempo para diminuir a desigualdade social brasileira do que levamos para acabar com a escravidão no Brasil!
A situação social é miserável porque a opção política é mais miserável ainda!
Não havendo qualquer inflexão nesse rumo das políticas públicas, que têm como orientação política conciliar interesses tão antagônicos quanto os existentes nas duas pontas da pirâmide social de Belágua, e do País como um todo, daqui a mais dez anos, em um novo balanço, talvez os dados não sejam os mesmos, mas as alterações serão tênues. E só nos restará dizer ao professor Pochmann sobre o seu Atlas da Exclusão Social: Pobre Brasil! Pobre Maranhão!!

(*)  Franklin Douglas - jornalista e professor, doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve ao Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Publicado na edição de 02/11/2014, opinião. 

sábado, 25 de outubro de 2014

Da neutralidade ao apoio ativo ao tucanato

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                                                                      Foto: Blog Marrapa

O apoio ativo

Vá se entender esse PPS maranhense!
Um só é deputado estadual porque lucrou muito com a indústria dos concursos públicos dos últimos 12 anos... Vota no 45!
A outra só é deputada federal porque se tornou referência da luta por direitos humanos e virou ícone dos que vêm de baixo e vencem na vida... Vota no Aécio!
Vá se entender essas lideranças do PPS!!



A “neutralidade”

Neutralidade que ajuda os tucanos: Roberto Rocha, em nome de Aécio Neves, agradece!
Quem os viu, quem os vê:
Domingos Dutra (5 mandatos de deputado como ícone do PT antineoliberal), hoje no Solidariedade que vota Aécio;

Bira do Pindaré (delegado regional da DRT no governo Lula, o que lhe projetou a 500 mil votos para senador e um mandato de deputado pelo PT esquerdista), agora no PSB que diz sim ao 45... Da pra entender?


quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Militantes do PSOL do Maranhão registram voto em Dilma



Os militantes maranhenses do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) que subscrevem este texto, face à orientação da Direção Nacional no sentido do voto contrário à candidatura neoliberal de Aécio Neves, do PSDB, e pela opção do voto branco, nulo ou em Dilma Rousseff, vem a público registrar que:


1. No primeiro turno, apoiamos e votamos em Luciana Genro, que apresentou as melhores propostas para o nosso país;

2. Neste segundo turno, a sociedade brasileira encontra-se claramente dividida entre duas candidaturas: uma conservadora, outra progressista; uma do campo da direita, outra no campo da esquerda;

3. Respeitamos os companheiros que optem pelo voto branco ou nulo. Mas, no quadro atual de nítida e perigosa polarização, em que é real a possibilidade de vitória da direita, a defesa e a campanha do voto branco ou nulo não representará nenhum acúmulo político para o fortalecimento do movimento popular, dos movimentos sociais e do PSOL;

4. Não podemos deixar de registrar que, nos governos Lula e Dilma, o PT não deteve as reformas neoliberais do Estado, da Economia e das Finanças; não freou as mudanças que cada vez mais favorecem a precarização das relações de trabalho; não deteve a concentração da terra, em nada avançou na reforma agrária, no fortalecimento da agricultura familiar e na produção de alimentos; 

5. Feitas as ressalvas que a História exige, declaramos nosso voto em Dilma Rousseff, conscientes de que, dessa forma, teremos maior legitimidade e força para cobrar da candidata, do seu partido, o Partido dos Trabalhadores, e de seus aliados à esquerda, as mudanças que se negaram a fazer ao longo de 12 anos.

Subscrevem
Antonio Gonçalves
Fernanda Nina Saboia
Franklin Douglas
Haroldo Saboia
Neuton César
Odívio Neto
Ricarte Almeida Santos
Profa Socorro Pereira

Em tempo:
Também se manifestaram por subscrever o documento os militantes Leonel Torres, Carlos Leen Santiago, José Lacerda e Manu Carvalhal


domingo, 19 de outubro de 2014

APESAR DOS PESARES


Franklin Douglas (*) 


Presenciamos a mais disputada das eleições brasileiras ao Governo Federal desde 1989, quando Collor de Mello (ex-PRN) e Lula (PT) se enfrentaram – o “Marajá das Alagoas” vencendo, por apertada diferença, o “Sapo barbudo”, no segundo turno.
As disputas seguintes tiveram um quê de jogo jogado: (i) Fernando Henrique Cardoso (PSDB), vencendo no primeiro turno, em 1994 e 1998; (ii) Luís Inácio Lula da Silva (PT), no segundo turno em 2002, já sob o marketing “Lulinha paz e amor” de Duda Mendonça, e, na reeleição, em 2006;  e (iii) Dilma Rousseff (PT), o poste do mito Lula, em 2010 – estas três últimas, eleições em segundo turno, mas com saída em vantagem aos candidatos petistas.
Esse fato novo talvez seja um dos motivadores de algo também inusitado: nunca se debateu tanto uma eleição neste país. Na praça, no trabalho, na sala de aula, na família, nos grupos do What Zap, só o que se discute é o segundo turno. E, infelizmente, cada vez mais com argumentos de menos e preconceitos de mais disparados por ambos os lados.
Petistas e tucanos conseguiram, em 20 anos, o que sempre sonharam: americanizaram as eleições brasileiras, em tudo: no marketing, no financiamento milionário, na plataforma programática e no bipartidarismo a la Democratas x Republicanos, com a diferença de que, no Brasil, pelas ideias e aliados de ambos, não sabemos exatamente quem são os Democratas, quem são os Republicanos!
Numa eleição de cenário imprevisível, o PT colhe o que plantou.
Não enfrentou o monopólio da mídia: vê-se golpeado por um rolo compressor de notícias e reportagens em ataque ao governo, criando um cenário de representação política favorável ao candidato opositor.
Não enfrentou economicamente a questão das privatizações, ao contrário, mudou de nome, para “concessões”, a fim de ludibriar a opinião pública: agora vê o grande capital beneficiário das privatizações petistas não economizar no financiamento da campanha de seu adversário.
Não enfrentou ideologicamente o fundamentalismo religioso: agora, encontra-se demonizado junto ao eleitorado evangélico, justamente por aqueles que cortejou.
Não enfrentou a reforma política do sistema, ao contrário, aprofundou a defesa de sua governabilidade conservadora e de sua tática de alianças com a velha política (Collor, Maluf, Sarney, Barbalho, Temer, etc), justificando-a como o “mal necessário”: agora se depara com o cenário inédito, nos últimos 40 anos, de amplo crescimento do campo conservador no Congresso Nacional.
Esse é o oxigênio que traz a candidatura de Aécio Neves ao centro da disputa com uma força nunca antes apresentada: econômica, eleitoral, política e ideologicamente.
Aécio já sai vitorioso da eleição, mesmo que a perca, pois o PSDB nunca teve um candidato tão competitivo, desde os anos 1990. Robustece-se politicamente para ser uma oposição muito mais dura do que o PT enfrentou até agora, se não vencer; se ganhar, construirá uma rápida rearticulação de forças em torno de si, cuja consequência será uma ampla articulação de políticas de retrocesso no tocante às demandas populares.
Se com Lula e Dilma essa agenda avançava a passos lentos – consequência de seu transformismo político em curso –, com Aécio, seu fôlego propiciará passos acelerados: Estado mínimo, privatizações, sucateamento das universidades federais e do serviço público, diminuição de concursos, redução de recursos para a agricultura familiar, precarização do trabalho, volta do tratamento dos direitos humanos como caso de polícia e não de políticas...
E, por fim, ideologicamente, Aécio Neves chegará ao poder tal qual os neoliberais pós-queda do muro de Berlim: na ofensiva do pensamento conservador. Sua defesa do governo Fernando Henrique Cardoso é só uma amostra grátis do que virá pela frente.
E deixará uma “esquerda”, a petista, perplexa e sem rumo, pois carimbada com o rótulo de corrupta. Sai do Palácio do Planalto sem perspectiva de retorno, porque não se afirmou como alternativa de sociedade, e perdeu o discurso da ética, deixando uma geração de jovens, crescida nos anos 2000, como a mais conservadora das juventudes deste País, pois as organizações coletivas pelas quais ela poderia se desvencilhar das amarras ideológicas de seu tempo e exercer sua participação crítica, foram amordaçadas pelo governismo, a exemplo da UNE, a União Nacional dos Estudantes.
Frente a esse cenário, o que fazer? Apostar no quanto pior melhor, cara leitora, caro leitor?
A lógica predominante nas políticas públicas sob o governo petista foi assim:
1) uma demanda social legítima: por exemplo, ampliação de vagas no ensino superior ou mais habitações populares;
2) um movimento social articulado a essa demanda: como a UNE ou os movimentos por moradia;
3) um setor do grande capital interessado em lucrar com o programa governamental voltado a essa demanda: tais como grandes grupos empresariais educacionais e empreiteiras;
4) um programa governamental para dar conta dessa demanda: a exemplo do  PROUNI”, do “FIES” ou do “Minha casa, minha vida”;
5) um ministério para executar esse programa, sob controle de um partido que, a partir de uma burocracia  instalada na direção, negocia vantagens junto ao empresariado em torno do programa, a fim de obter financiamento “impróprio” às ações do partido.
Essa lógica permitiu um cenário no qual, nunca na História deste país, ricos enriquecessem tanto, burocracias partidárias se apropriassem indevidamente tanto de recursos públicos, diversos movimentos sociais fossem tão domesticados... Mas também: nunca amplos setores da população saíram tanto da indigência social! Basta não esquecer que, nos governos tucanos, o maior salário mínimo foi de 78 dólares (R$ 189,74): hoje, está por volta dos 300 dólares.
Essa ampliação da capacidade de consumo da classe trabalhadora levou à emergência de camadas sociais, erroneamente denominadas de “nova classe média”, que fortaleceu um mercado interno que possibilitou ao país enfrentar as crises internacionais do capital.
A crítica contunde ao modus operandi do governo do PT, contudo, não pode ter como consequência a entrega do povo brasileiro aos leões neoliberais. Ou o enfraquecimento das alternativas gestadas pelo povo latino-americano aos ditames estadunidenses e o retorno da ALCA, a Área de Livre Comércio das Américas (para os norte-americanos!).
A justificativa do voto no PSDB sob o argumento da alternância no poder é falsa, pois os últimos 20 anos de governos do PSDB e do PT não alteraram a forma de fazer política no Brasil. Ainda que, no caso do PT, tenha mudado a forma de sobrevivência social dos mais pobres.
A verdadeira alternância no exercício do poder passa por mobilizar a sociedade para as mudanças democratizantes do sistema e por fazer a “nova classe média” compreender que seu destino não é o sonho do padrão de consumo das classes altas, ao qual a “velha classe média” sempre se atrelou, mas de ter o papel de protagonista na construção de uma sociedade de iguais oportunidades a todos.
A vitória tucana põe fim a esse cenário, a não derrota petista mantém esse futuro em aberto. Por isso: continuar com Dilma, apesar dos pesares!

(*)  Franklin Douglas - jornalista e professor, doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve ao Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Publicado na edição de 19/10/2014, opinião. 

sábado, 18 de outubro de 2014

Ainda não ouviu a série "Criança é Ciência" do Rádio Ciência? Confira aqui


O que é o arco-iris? Como ele surge?



Por que o gelo queima?



Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?



 Por que o fogo é azul?


O que acontece quando chove e faz sol ao mesmo tempo? 





Artigo Wagner Baldez - Retórica de fumaça (para conhecimento da nova geração)

 

Wagner Baldez (*)


Existem homens públicos que no exercício de seus mandatos cultivam a mórbida pretensão de enganar o povo; esforçando-se por fazer-nos acreditar na “pureza” de suas encenações artisticamente urdidas.

Apesar dos muitos comediantes que atuam nesse cenário, o que mais se identifica com aludido perfil é o senador José Sarney, devido a agravante de sua retórica produzir maior volume de fumaça do que propriamente o poder de fogo por ele supostamente imaginado.

Tudo que ele prega é produto de consumo pessoal, porque na prática age de forma diferente, não passando de um vezeiro queimador de eloquentes palavras.

Nos discursos produzidos no Parlamento Nacional proclama-se democrata e progressista, no entanto, historicamente, não passa de um ardoroso defensor de ditadura, a exemplo do que aconteceu em 64; chegando inclusive à condição de presidente do partido dos militares (ARENA).

Com esta sigla conviveu pacífica e  comodamente, apoiando medidas arbitrárias. Quem com maior empenho, na área civil, elogiou o AI-5? Ocasião em que acusou a oposição de simplista por haver esta se posicionado de forma contrária a tais irregularidades? O então governador Sarney!

Comporta neste espaço acrescentar a afirmação que fez da Tribuna do Senado, a respeito da nossa soberania, que segundo ele passava a ser exercida em toda a sua plenitude com o advento dos militares no poder, deixando, pois, de ser mero “slogan”!

Apesar de suas habituais mistificações, não consegue esconder as suas honoríficas qualidades de itinerante no campo político – ideológico: atitudes que lhe asseguram a titularidade de Trivial convolador!

Aferrado ao individualismo, preconceitos e superstições, o seu horizonte não passa da altura do seu umbigo.

Essas atrofias, sempre tendentes a evoluir, faz parte de sua gênesi política.

Caudatário das oligarquias transplantadas dos demais estados do Nordeste para nossa terra, através do Senador Vitorino, procurou de imediato aliançar-se com este, em favor do qual fazia exacerbada apologia, e ainda o tratando por chefe, com gestos bajulatórios...

Durante os 14 anos que se juntou com Vitorino, contribuiu substancialmente para transformar o Maranhão num celeiro de atraso e miséria! Isso acontecendo na primeira fase da sua já acidentada carreira política.

Inspirado no fisiologismo, comumente a presidir as suas ações, tão logo previra o declínio do império vitorinista, rompe com o mesmo, colocando seu apoio à disposição da facção que com tanta veemência combatera!

Note-se que, anos antes, objetivando à participação de seus mais fieis escudeiros no primeiro escalão do governo da época, simula desligamento com os detentores do poder, dizendo-se a favor da candidatura do deputado Millet à governança do estado. Porém, bastou o chefe do Executivo disponibilizar-lhe duas secretarias de Estado (Saúde e Agricultura), para que ele retornasse às suas raízes ou ao salutar convívio vitorinista. Consumara-se, dessa forma, mais uma vilania por parte da figura em foco!    

O mais cômico acontece no momento em que, incorporando-se ao novo grupo utiliza-se, sem o mínimo escrúpulo, de recursos espúrios para criticar os mesmos mandatários que o ajudara a eleger. O refrão por ele instrumentalizado baseava-se no atraso sofrido pelo Estado naqueles 20 anos de domínio vitorinista, como se o mesmo nunca participara desse vergonhoso e deprimente processo!

A realidade é que, estimulado pela volúpia do poder a lhe abastecer o ego, nunca soube ser oposição. Acostumou-se desde cedo a depender de governos. Agindo como experiente bailarino político, só dança mediante os acordes sublimados pelos orquestradores do poder. E como dança!...

Nos idos que antecederam sua candidatura à governança estadual, através do artigo de nossa autoria, publicado no Jornal Pequeno, intitulado a FALSA COMÉDIA, alertávamos o perigo que representava para o Maranhão o ainda jovem José Sarney!

Para não nos alongarmos, fiquemos só nesses detalhes, embora existam tantos outros.


Agora, fazemos um apelo à nova geração: que esta fixe na memória, se possível de forma didática, a máxima (já que esta tem a ver com a figura do político José de Ribamar Ferreira de Araújo Costa, por cognome Sarney): PASSADO COMPROMETEDOR, FUTURO DUVIDOSO!

(*) Wagner Baldez - é Servidor Público Aposentado, membro do Comitê de Defesa da Ilha, um dos fundadores do instituto Maria Aragão e integra a Executiva Estadual do PSOL/MA.

Artigo Wagner Baldez - A cultura do descaso


 Wagner Baldez (*)

Será possível que os gestores, tanto o estadual quanto o municipal insistam com péssimo costume de ultimarem as providências requeridas – seja qual for o setor da administração pública – após o “caldo derramado”, ou então quando cutucados, através de artigos publicados nos órgãos de imprensa: aliás, desde que o periódico seja independente?!...

A esse respeito, queremos nos referir à tradicional Casa dos Estudantes Secundaristas, situada na Rua do Passeio.

Foram hóspedes dela muitos dos que chegaram a exercer posições relevantes no cenário sócio-político-cultural, tais como: parlamentares, literatos, inclusive chefe de Estado.

Naquela época, centenas foram os estudantes a ocuparem aludido Casarão, reduzidos atualmente a dois residentes!...

De algum tempo para cá, as pessoas que conheceram dito palacete, colocam em dúvida tratar-se realmente da Casa dos Estudantes, tal a má impressão causada, principiando pela fachada completamente encardidas e pelas janelas deterioradas. Na parte interna, as portas dos alojamentos em precário estado de conservação, os forros na iminência de desabamento, pondo em risco a vida dos ocupantes. Também alguns dos sanitários, sem condições de uso!

Quando Castelo ocupou o Governo, denunciamos a situação deplorável em que se encontrava referida morada, através de artigo intitulado: CASA DOS ESTUDANTES: UM PATRIMÔNIO EM EXTINÇÃO (acesse o blog do professor Franklin Douglas: ECOS DAS LUTAS), matéria que obteve completa ressonância entre as autoridades, já que cuidaram de resolver o problema com certa urgência.

Agora, depois de todos esses anos, voltamos a fazer semelhante apelo.


Referida ocorrência se repetem em nosso estado simplesmente pela ausência de competência, acrescida do completo descaso por parte da“Governadora”, cuja única preocupação limita-se a gastar milhões em propaganda enganosa!!! 

(*) Wagner Baldez - é Servidor Público Aposentado, membro do Comitê de Defesa da Ilha, um dos fundadores do instituto Maria Aragão e integra a Executiva Estadual do PSOL/MA.