Franklin Douglas (*)
Uma notícia
muito interessante passou despercebida ou foi relegada às últimas páginas dos
jornais, como que para não ser vista, na última semana.
Trata-se da
divulgação da sexta atualização da pesquisa Indicadores Sociais de São Luís, disponibilizada
na página do “Movimento Nossa São Luís”, realizada pela consultoria Kairós
Desenvolvimento Social, sob financiamento da Alcoa
Foundation e
Alumar via Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão (ICE-MA).
Os dados são tão
fortes que nem o chapa-branquismo em torno da divulgação, revelado na presença
do secretário municipal de Governo recém-nomeado na Prefeitura de São Luís e na
escolha cautelosa dos termos divulgados nos relises do ICE-MA, foram capazes de
ofuscar a conclusão de que vai de mal a
pior a gestão das políticas públicas na capital maranhense!
Tem-se quase uma
centena de itens distribuídos em 27 áreas da cidade e sintetizados em 49 indicadores que evidenciam, entre
2012 e 2013, o que tem ocorrido na administração pública municipal em setores
como trabalho infantil, mortalidade por causa respiratória, escolas públicas
sem biblioteca, analfabetismo, domicílios sem rede de água e tratamento de
esgoto, tempo de deslocamento no transporte público, curetagem pós-aborto,
crianças sem registro de nascimento, homicídios, domicílios sem coleta de lixo
e diversos outros.
Em resumo,
dentre esses 49 indicadores, temos o seguinte:
i) nível de
excelência em apenas 8,5 % dos indicadores analisados (4), sendo que em um
deles, o de desperdício de água, estamos com patamar semelhante a Tóquio, a
cidade que menos desperdiça água no mundo. Ou seja, “há algo de
podre no Reino da Dinamarca” dos dados fornecidos pela CAEMA, até agora sob controle de Ricardo
Murad, aos sistemas nacionais de informação nessa área! Dados do Instituto
Trata Brasil, por exemplo, estima em 58% o nível de desperdício de água em São
Luís, bem distante dos 5,43% constatados pela consultoria do ICE-MA. Até hoje,
os munícipes aguardam a promessa do prefeito Edvaldo Holanda Júnior de negociar firme
com a CAEMA a questão da água e do tratamento de esgotos...
ii) um nível bom
em somente 8,5 % dos indicadores (também somente em 4 deles) no tocante a itens
como reprovação escolar, por exemplo. Ainda assim, consegue a cidade ir bem
porque o conjunto na área desses 4 itens vai muito mal: o nível bom constatado
à capital maranhense não a coloca nem entre as dez melhores posições...
iii) estamos em
níveis razoáveis em 18% dos indicadores (9). Quadro semelhante ao anterior:
vamos “bem” no cenário no qual muitas cidades vão muito mal: ocupamos entre as
posições 12ª e 16ª, dentre as 27 capitais, em áreas como escolas sem
acessibilidade, reprovação, escolas sem biblioteca, combate ao analfabetismo. .
Até o momento, pais e filhos esperam pela Escola em
Tempo Integral prometida pelo prefeito...
Em seguida, vêm
os índices calamitosos: juntos somam 65%
(olha a ironia dos números!!) dentre os
indicadores analisados como RUINS ou PÉSSIMOS na gestão das políticas públicas da
cidade. São eles:
iv) São Luís
está em níveis ruins em 22% dos indicadores (11). Ocupa a posição 17ª a 21ª em
áreas como curetagem pós-aborto, dado que indiretamente indica a prática de
aborto mal sucedido, porque caseiro ou realizado de forma inadequada, e que só
se toma conhecimento porque a mulher chega em estado de saúde debilitado à rede
de atendimento do SUS. Outro indicador ruim, dentre os 11 enumerados nessa
faixa: o tempo de deslocamento de casa ao local de trabalho. Estamos na
vigésima primeira pior situação na mobilidade urbana! Os usuários de transporte
esperam com seus “GPS´s nos ônibus”, o Bilhete Único e a licitação das
linhas de transportes da cidade!
v) por fim, a
situação onde estamos péssimos, em 43% dos indicadores (21)! O município de São Luís
está entre as três piores capitais em domicílios sem coleta de lixo e em número
de homicídios; situa-se entre as cinco piores em mortalidade infantil neonatal
e em morte materna – índice que revela a precariedade das políticas de atenção
à saúde da mulher e à infância. Parcela de nossas crianças nascem e sequer têm
o direito ao registro de nascimento garantido, estamos na 22ª pior situação. Os
pacientes ludovicenses aguardam em macas o prometido Hospital Dr.
Jackson Lago!
Compreendes o porquê vai de mal a pior a
gestão das políticas públicas na capital maranhense, cara leitora, caro leitor?
Nenhuma novidade
para quem vive a cidade, se desloca por ela, necessita de seus serviços
públicos. Apenas temos confirmado que também os números não mentem sobre o
sentimento geral de abandono pelo qual a cidade se encontra.
Frente a tudo
isso, parece voltar-se contra o alcaide
o feitiço que tão bem preparou para enfeitiçar os eleitores e vencer o pleito
de 2012: “para mudar a cidade só tem um
jeito: MUDAR DE PREFEITO!!”
Em tempo. Morreu Roberto Bolaños (1929-2014): “isso, isso, isso”, o Chaves!
Quando falo com meus filhos sobre brincar de “peteca[bolinha de gude]”, “chuço[chucho]”
ou “pião”, eles pouco me entendem. Quando eles me falam de “Matsuri”, eu é que não
conecto com eles. Mas “foi sem querer, querendo” que nos compreendíamos muito
bem assistindo às personagens do “Shakespearito” (“pequeno Shakespeare”, seu
apelido no México). Desde os anos 1970, o humorismo infantil de Bolaños, sem
apelos sexuais ou palavrões, era assim: unia continentes, unia gerações! “E
agora, quem poderá nos defender?”... Mas “não fiquemos barriga, senhor Triste”! Sua mensagem de alegria estará sempre
viva. Valeu, Roberto Bolaños!
(*) Franklin Douglas - jornalista e professor, doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve ao Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Publicado na edição de 30/11/2014, opinião.
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