Franklin Douglas (*)
Em São Luís,
para participar de atividades do Observatório Social do Trabalho – ligado ao
grupo de pesquisa GAEP, do Programa de Políticas Públicas da UFMA, o professor
e pesquisador Marcio Pochmann (Unicamp-SP), lançou seu último livro, “Atlas da
Exclusão Social no Brasil: dez anos depois”.
Em seu conceito
multidimensional, o Atlas reúne sete índices acerca da exclusão social: (i) pobreza, emprego e desigualdade
(dimensão Vida Digna); (ii) alfabetização e escolaridade (dimensão
Conhecimento); (iii) concentração juvenil e violência (dimensão Vulnerabilidade
Juvenil).
Em síntese,
concebe a exclusão como a “condição específica ou holística de não estar exposta ao risco
de violência, ao não ser, ao não estar, ao não realizar, ao não criar, ao não
saber e ao não ter.” (Pochmann et al, 2014, p. 28).
Uma década
depois de sua primeira publicação (em 2004, após o Censo de 2000), o Atlas retoma, a partir dos dados censitários de
2010, os mesmos índices a fim de verificar o que se alterou no País nesse
período. Em resumo, “embora tenha reduzido o desemprego, a pobreza e a
desigualdade [...], “o Brasil segue entre os 15 países mais desiguais do mundo.”
(Pochmann et al, 2014, p. 16 ).
Nesses 10 anos
depois, cara leitora, caro leitor, o que o Atlas indica sobre o Maranhão?
Se no Brasil a
diminuição da desigualdade social foi lenta, aqui o ritmo de tartaruga foi mais
vagaroso ainda. A saber:
1) O Maranhão
tem o pior Índice de Exclusão Social (0,46), empatado com Alagoas e Pará –
muito abaixo da média nacional (0,63);
2) O Maranhão
possui o maior grau de pobreza (o,34), à frente de Alagoas (0,40) e Piauí
(0,41);
3) Maranhenses,
temos o pior índice de emprego formal (0,28), deixando para trás Pará (0,33) e
Piauí (0,33);
4) O Maranhão
detém o terceiro pior índice de escolaridade (0,52), atrás de Alagoas (0,46) e
Piauí (0,50);
5) No quesito
analfabetismo, também detemos o terceiro pior desempenho (0,38), atrás de
Alagoas (0,35) e Piauí (0,37).
Somos o quarto
estado da região Nordeste, em número de municípios (217) e em termos
populacionais (12,5% dos habitantes nordestinos), mas: não temos nenhum
município entre as cidades com índices satisfatórios de inclusão social (acima
de 0,68); temos apenas uma cidade naquelas com índices razoáveis (0,56 a 0,68)
– São Luís; e detemos, tristemente, o maior percentual de municípios com os
piores índices: 81% de nossas cidades estão no pior grupo de índices de
exclusão social.
Dentre os 100
municípios com maior grau de exclusão social, mantemos um conjunto de 30 entre
eles: Santana do Maranhão, Nina Rodrigues, Mirador, Bom Jardim, Matões de
Norte, Presidente Vargas, Conceição do Lago-açu, Serrano do Maranhão,
Governador Nunes Freire, Pedro do Rosário, Amapá do Maranhão, Santa Filomena do
Maranhão, Presidente Juscelino, Amarante do Maranhão, Cajari, Alto Alegre do
Pindaré, São Benedito do Rio Preto, Santo Amaro do Maranhão, Satubinha,
Buriticupu, Primeira Cruz, Paulino Neves, Fernando Falcão, Itaipava do Grajaú,
Humberto de Campos, Cachoeira Grande, Arame, Belágua, Jenipapo dos Vieiras e
Marajá do Sena.
Dentre esses, um
ganhou notoriedade internacional: Belágua. Em todo o país, foi o município onde
a candidata Dilma Roussef obteve seu maior índice de votos rumo à reeleição.
Lá, a síntese de uma política que vem dando errado, ainda que eleitoralmente
tenha retorno nas urnas.
Em 12 anos, a
prioridade ao agronegócio de monocultura sufocou as comunidades tradicionais e
a agricultura familiar do município. O eucalipto se expande e o cultivo de
produtos agrícolas locais escasseia. Restou ao povo viver de transferência de
renda do Governo Federal. Seu gestor, o prefeito Sargento Adalberto (PT),
cumpriu à risca as orientações nacionais de seu partido: aderiu ao
sarnopetismo. Disso, nada adiantou para libertar Belágua da miséria social. O
Programa Bolsa Família apenas atenua o drama social de seus habitantes. Não há
políticas estruturantes para a criação de um círculo virtuoso de superação da
desigualdade social.
Não por outro
aspecto, os autores do Atlas da Exclusão Social levantam a hipótese do esgotamento da atual
política de proteção social. Como já opinou o cientista política André Singer,
nessa velocidade, levaremos mais tempo para diminuir a desigualdade social
brasileira do que levamos para acabar com a escravidão no Brasil!
A situação social é miserável porque a opção
política é mais miserável ainda!
Não havendo
qualquer inflexão nesse rumo das políticas públicas, que têm como orientação
política conciliar interesses tão antagônicos quanto os existentes nas duas
pontas da pirâmide social de Belágua, e do País como um todo, daqui a mais dez
anos, em um novo balanço, talvez os dados não sejam os mesmos, mas as
alterações serão tênues. E só nos restará dizer ao professor Pochmann sobre o
seu Atlas da Exclusão Social: Pobre
Brasil! Pobre Maranhão!!
(*) Franklin Douglas - jornalista e professor, doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve ao Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Publicado na edição de 02/11/2014, opinião.
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