sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Artigo - José Eustáquio Diniz Alves: 80 ANOS DO VOTO FEMININO NO BRASIL

José Eustáquio Diniz Alves(*) - no blog do Noblat

No dia 24 de fevereiro de 2012, o Brasil comemora os 80 anos do direito de voto feminino. As mulheres passaram a ter o direito de voto assegurado pelo Decreto nº 21.076, de 24/02/1932, assinado pelo presidente Getúlio Vargas, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Esta conquista, porém, não foi gratuita.
A luta pelos direitos políticos das mulheres começou ainda no século XVIII. No início da Revolução Francesa, o Marquês de Condorcet – matemático, filósofo e iluminista – foi uma das primeiras vozes a defender o direito das mulheres. Nos debates da Assembleia Nacional, em 1790, ele protestou contra os políticos que excluíam as mulheres do direito ao voto universal, dizendo o seguinte: “Ou nenhum indivíduo da espécie humana tem verdadeiros direitos, ou todos têm os mesmos; e aquele que vota contra o direito do outro, seja qual for sua religião, cor ou sexo, desde logo abjurou os seus”.
As ondas revolucionárias francesas chegaram na Inglaterra e os escritores progressistas Mary Wollstonecraft – no livro A Vindication of the Rights of Woman(1792) – e William Godwin – no livro An Enquiry Concerning Political Justice (1793) – também defenderam os direitos das mulheres e a construção de uma sociedade democrática, justa, próspera e livre.
Mas a luta pelo direito de voto feminino só se tranformou no movimento sufragista após os escritos de Helen Taylor e John Stuart Mill. O grande economista inglês escreveu o livro The Subjection of Women (1861, e publicado em 1869) em que mostra que a subjugação legal das mulheres é uma discriminação, devendo ser substituída pela igualdade total de direitos.
Com base no pensamento destes escritores pioneiros, o movimento sufragista nasceu para estender o direito de voto (sufrágio) às mulheres. Em 1893, a Nova Zelândia se tornou o primeiro país a garantir o sufrágio feminino, graças ao movimento liderado por Kate Sheppard.
Outro marco neste processo foi a fundação, em 1897, da “União Nacional pelo Sufrágio Feminino”, por Millicent Fawcett, na Inglaterra. Após o fim da Primeira Guerra Mundial, as mulheres conquistaram o direito de voto no Reino Unido, em 1918, e nos Estados Unidos, em 1919.
No Brasil, uma líder fundamental foi Bertha Maria Julia Lutz (1894-1976). Bertha Lutz conheceu os movimentos feministas da Europa e dos Estados Unidos nas primeiras décadas do século XX e foi uma das principais responsáveis pela organização do movimento sufragista no Brasil.
Ajudou a criar, em 1919, a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, que foi o embrião da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, criada em 1922 (centenário da Independência do Brasil). Representou o Brasil na assembleia geral da Liga das Mulheres Eleitoras, realizada nos EUA, onde foi eleita vice-presidente da Sociedade Pan-Americana. Após a Revolução de 1930 e dez anos depois da criação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, o movimento sufragista conseguiu a grande vitória no dia 24/02/1932.
A primeira mulher eleita deputada federal foi Carlota Pereira de Queirós (1892-1982), que tomou posse em 1934 e participou dos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte. Com a implantação do Estado Novo, em novembro de 1937, houve o fechamento do Legislativo brasileiro e grande recuo das liberdades democráticas.
Na retomada do processo de democratização, em 1946, nenhuma mulher foi eleita para a Câmara. Até 1982, o número de mulheres eleitas para o Legislativo brasileiro poderia ser contado nos dedos da mão.
Somente com o processo de redemocratização, da Nova República, o número de mulheres começou a aumentar. Foram eleitas 26 deputadas federais em 1986, 32 em 1994, 42 em 2002 e 45 deputadas em 2006 e 2010. Mas este número representa apenas 9% dos 513 deputados da Câmara Federal.
No ranking internacional da Inter-Parliamentary Union (IPU), o Brasil se encontra atualmente no 142º lugar. Em todo o continente americano, o Brasil perde na participação feminina no Parlamento para quase todos os países, empata com o Panamá e está à frente apenas do Haiti e Belize.
No mundo, o Brasil perde até para países como Iraque e Afeganistão, além de estar a uma grande distância de outros países de língua portuguesa como Angola, Moçambique e Timor Leste.
Portanto, as mulheres brasileiras conquistaram o direito de voto em 1932, mas ainda não conseguiram ser representadas adequadamente no Poder Legislativo. Até 1998 as mulheres eram minoria do eleitorado. A partir do ano 2000, passaram a ser maioria e, nas últimas eleições, em 2010, já superavam os homens em 5 milhões de pessoas aptas a votar.
Este superávit feminino tende a crescer nas próximas eleições. Contudo existem dúvidas sobre a possibilidade de as mulheres conseguirem apoio dos partidos para disputar as eleições em igualdade de condições.
Nas eleições de 2010, a grande novidade foi a eleição da primeira mulher para a chefia da República. Neste aspecto, o Brasil deu um grande salto na equidade de gênero, sendo uns dos 20 países do mundo que possui mulher na chefia do Poder Executivo.
Com a alternância de gênero no Palácio do Planalto, o número de ministras cresceu e aumentou a presença de mulheres na presidência de empresas e órgãos públicos, como no IBGE e na Petrobrás.
Nos municípios, as mulheres são, atualmente, menos de 10% das chefias das prefeituras. Nas Câmaras Municipais as mulheres são cerca de 12% dos vereadores. Mas, em 2012, quando se comemoram os 80 anos do direito de voto feminino, haverá eleicões municipais.
A Lei de Cotas determina que os partidos inscrevam pelo menos 30% de candidatos de cada sexo e dê apoio financeiro e espaço no programa eleitoral gratuito para o sexo minoritário na disputa.
Os estudos acadêmicos mostram que, se houver igualdade de condições na concorrência eleitoral, a desigualdade de gênero nas eleições municipais poderá ser reduzida.
As mulheres brasileiras já possuem nível de escolaridade maior do que o dos homens, possuem maior esperança de vida e são maioria da População Economicamente Ativa (PEA) com mais de 11 anos de estudo. Elas já avançaram muito em termos sociais e não merecem esperar mais 80 anos para conseguir igualdade na participação política.

(*) José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE; apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail:jed_alves@yahoo.com.br

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A lógica do capital: a linha de produção do Ipad (Apple e Foxconn) na China



O jornalista Bill Weir, da rede americana de televisão ABC, teve acesso exclusivo à empresa chinesa administrada pela Foxconn, uma das maiores fornecedoras da gigante do mundo da informática Apple. Os trabalhadores são obrigados a morar em dormitórios com outras sete pessoas. Eles fazem exatamente a mesma função na fábrica seis dias por semana. E ganham salários baixíssimos.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE PIERRÔS E COLOMBINAS

Franklin Douglas (*)
É de responsabilidade da commedia dell´arte (comédia de arte, teatro popular improvisado, surgido na Itália do século XV, que se desenvolveu e popularizou na França até o século XVIII) a criação das personagens que há anos circulam pelas ruas e bailes carnavalescos: Pierrô, Colombina e Arlequim.

O estilo teatral commedia dell´arte surgiu em oposição à comédia erudita, à época um teatro literário e em latim, idioma já inacessível ao povo de então. Através do trio amoroso (Pierrô que amava Colombina que amava Arlequim), o teatro de rua produzia um entretenimento popular que seduzia amplamente a atenção do povo pela vinculação às brincadeiras de carnaval e pelas histórias críticas e satirizadas dos poderosos da época.
Para além do trio mais famoso, havia também o Pantaleão, caricatura dos patrões da antiga elite italiana, avarento, tirano e desajeitado; o Doutor, intelectual pomposo; o Capitão Spaventa, oficial covarde, mas metido a valente; o casal de filhos dos patrões (Isabella e Orácio); e serviçais. Todos fontes de relaxo do teatro de rua e dos populares.
Datadas de 600 anos antes de Cristo, as festas pagãs gregas (de adoração a vários deuses) foram incorporadas no ano de 590 depois de Cristo pela Igreja Católica. Ela tentou unificar os vários festejos pagãos numa só época, o tempo do “carnis valles” (termo que originará a expressão “carnem levare”, posteriormente modificada para “carne, vale” (adeus, carne!), criando, entre os séculos XI e XII, a palavra carnaval), sete dias permitidos aos prazeres da carne antes do início da Quaresma, período de 40 dias no calendário católico consagrado à penitência e ao jejum anterior à Semana Santa. Em Portugal, também denominados Entrudo os quatro dias anteriores à Quarta-feira de Cinzas – chamados “gordos” em oposição aos dias magros do jejum da Quaresma.
Por anos, mesmo sob permissão da Igreja (foi o Papa Paulo II (1417-1464) quem instituiu o baile de máscaras), o tempo do “carnis valles” ficou desprovido dos atos pecaminosos das festas da Antiguidade, onde se comia, bebia, participava de alegres festas e se buscava incessantes prazeres. Tempo em que negócios eram suspensos, escravos libertos temporariamente e as restrições morais eram relaxadas. Onde, também, um rei era eleito de brincadeira e comandava o cortejo pelas ruas. O povo retomou o festejo nos moldes greco-romanos através da Paris de 1830-1850, de onde o carnaval tomou o mundo em sua versão moderna: festa popular, de rua, a gosto do povo e suas fantasias.
Daí a imediata proliferação de Pierrôs e Colombinas. Pierrô, sentimental e ingênuo, vestido em roupas largas, metade preta, metade branca e com uma lágrima no rosto; Colombina, criada da filha do patrão, refinada, esperta, em seu vestido que lhe dá forma sedutora; Arlequim, rival de Pierrô pelo amor de Colombina, usava traje feito a partir de retalhos triangulares de várias cores, representando o palhaço, o farsante, o cômico.
As origens europeias constituem as raízes do carnaval brasileiro, via influência dos colonizadores portugueses, que trazem seu Entrudo ao Brasil por volta do século XVII. Foi no Brasil que o carnaval melhor se reinventou.
O entrudo português de brincadeiras violentas deu lugar às brincadeiras mais leves. O primeiro baile de máscaras, em 1840, reuniu a elite nos salões, enquanto o povo festejava nas ruas, consagrando, em 1846, o “Zé Pereira”, apelido do português José Nogueira de Azevedo Paredes, que introduziu o bumbo na folia momesca.
A partir dele, tem-se a mistura anárquica do toque das zabumbas e tambores pelas ruas do carnaval carioca e seus blocos de sujos, cordões de negros, mulatos e brancos humildes (1855), ranchos (1873), corsos/caminhões ou carros sem capota (1907) de onde os brincantes lançavam seus confetes espanhóis e serpetinas francesas (ambos trazidos ao país em 1882), e, posteriormente, em 1899, dando asas à primeira marchinha do carnaval brasileiro: Ó abre alas, de Chiquinha Gonzaga.
Nos anos 1920/30 surgem as escolas de samba, os blocos; em seguida, da dupla elétrica na forbica sob o frevo pernambucano de Dodô e Osmar, em 1950, vêm os trios elétricos da Bahia e a industrialização crescente do carnaval de passarela do Rio e de São Paulo, dos anos 1960 a 1990.
Como se vê nesse percurso histórico, desde os tempos antigos o carnaval é do povo, não dos figurões. A tradição, portanto, é a da sátira à elite dominante. Da commedia dell´arte da Itália do século XV ao bloco Os Ali Babás e a banda Bandida do Maranhão do início do século XXI. E não adianta derramar milhões na Beija-Flor e no esquema Marafolia decadente: mesmo sem dinheiro, o que diverte o carnaval do maranhense são as brincadeiras e os blocos nas ruas dos bairros de São Luís e no interior do Maranhão.
O “Zé Pereira” do maranhense está nas praças, becos e ruas das cidades, e não no sambódromo carioca, palácio e salões da oligarquia!
Em tempo (triste): Solidarizo-me com Deane e Flávio Dino na dor da perda prematura do filho Marcelo, aos 13 anos. Dessa tragédia familiar, uma lição para todos nós: não há incluídos e excluídos nesse nefasto sistema social que mercantiliza a formação de médicos e a rede de saúde. Estamos todos no mesmo barco. Como disse Flávio ao desabafar, ante a falta de um aparelho na UTI que reanimasse seu filho quando ele parou de respirar e a inexistência de um equipamento para fazer a necrópsia do corpo no IML, “quando há esquema político na área da Saúde não se resolve o problema e as pessoas morrem”. Pais e filhos, estamos à mercê dessa lamentável realidade, em Brasília ou, sobretudo, aqui no Maranhão...
Em tempo (feliz): Enfim, a Ficha Limpa se estabelece pra valer! Um milhão e seiscentas mil assinaturas, muita mobilização social, articulação do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), aprovação no Congresso Nacional, sanção presidencial e constitucionalidade reconhecida pela maioria do STF. Políticos ficha-suja, tremei-vos! Viva a iniciativa popular do povo brasileiro!!


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(*) Franklin Douglas - 
jornalista e professor, e
screve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição de 19/02/2012, p. 16)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Artigo - Laurindo Leal Filho: O BRASIL NA TV


Fico a me perguntar o que interessa ao morador de Belém o congestionamento da Marginal do Tietê, exaustivamente mostrado pelas redes nacionais de TV? 
Não haveria fatos locais muito mais importantes para a vida dos telespectadores do Pará do que as mazelas da capital paulista?
 
Laurindo Lalo Leal Filho, em Carta Capital(*)
 
O Brasil que se vê na TV está restrito ao Rio e à São Paulo, salvo raras exceções. Exibem-se nas novelas e nos telejornais, lindas paisagens e graves problemas urbanos dessas metrópoles para todo o país.

Fico a me perguntar o que interessa ao morador de Belém o congestionamento da Marginal do Tietê, exaustivamente mostrado pelas redes nacionais de TV? Não haveria fatos locais muito mais importantes para a vida dos telespectadores do Pará do que as mazelas da capital paulista?

No entanto, o conteúdo que vai ao ar não é determinado pelos interesses ou necessidades do telespectador e sim pela lógica comercial. Para o empresário de TV local é mais barato e mais lucrativo reproduzir o que a rede nacional de televisão transmite, inserindo alguns comerciais da região, do que contratar profissionais para produzir seus próprios programas.

Para as grandes redes trata-se de uma economia de escala: com um custo fixo de produção, o lucro cresce à medida em que os anúncios são veiculados num número crescente de cidades.

Isso ocorre porque como qualquer outra atividade comercial a lógica do capital é a da concentração, regra da qual a televisão, movida pela propaganda, não escapa. Só que a TV não é, ou não deveria ser, apenas um negócio como outro qualquer.

Por transmitir valores, idéias, concepções de mundo e de vida, ela é também um bem cultural e não uma simples mercadoria. Dai a necessidade de ser regulamentada e ter os seus serviços acompanhados de perto pela sociedade.

Como concessões públicas, as emissoras têm obrigação de prestar esses serviços de maneira satisfatória, atendendo às necessidades básicas de informação e entretenimento a que todos tem direito. Caso contrário, caberiam reclamações, processos e punições, como ocorre em quase todas as grandes democracias do mundo.

Aqui, além de não existirem órgãos reguladores capazes receber as demandas do público e dar a elas os devidos encaminhamentos, não temos uma legislação capaz de sustentar esse processo. Por aqui vale tudo.

E quem perde é a sociedade, empobrecida culturalmente por uma televisão que a trata com desprezo. Diretores de emissoras chegam a dizer, preconceituosamente, que “dão ao povo o que o povo quer”.

Um caso emblemático da falta que faz essa legislação é o da produção e veiculação de programas regionais. Se o mercado concentra a atividade televisiva no eixo Rio-São Paulo, cabe a lei desconcentrá-lo, como determina artigo 221 da Constituição, até hoje não regulamentado.

Sua tramitação é seguidamente bloqueada no Congresso por parlamentares que representam os interesses dos donos das emissoras de TV.

Em 1991 a então deputada Jandira Feghali apresentou um projeto de lei estabelecendo percentuais de exibição obrigatórios para produção regional de TV no Brasil. Doze anos depois, em 2003, após várias concessões feitas para atender aos interesses dos empresários, o texto foi aprovado na Câmara e seguiu para o Senado, onde dorme um sono esplendido até hoje.

São mais de vinte anos perdidos não apenas para o telespectador, impossibilitado de ver o que ocorre na sua cidade e região. Perdemos também a oportunidade de abrir novos mercados de trabalho para produtores, jornalistas, diretores, atores e tantos outros profissionais obrigados a deixar suas cidades em busca de oportunidades limitadas nos grandes centros.

Mas se os interesses empresariais das emissoras bloqueiam esse florescimento artístico e cultural, as novas tecnologias estão abrindo brechas nessas barreiras. O barateamento e a diminuição dos equipamentos de captação de imagens impulsionaram o vídeo popular e a internet vem sendo um canal excelente de divulgação desses trabalhos.

Combina-se a vontade e a capacidade de fazer televisão fora das emissoras tradicionais com a necessidade do público de acompanhar aquilo que acontece perto de sua casa ou de sua cidade.

O que não descarta a necessidade da existência de programação regional nas grandes emissoras, como forma de tornar o Brasil um pouco mais conhecido pelos próprios brasileiros.

Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho. 
(*) Publicado originalmente na Revista do Brasil, edição de fevereiro de 2012.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Os problemas de São Luís quase de A a Z: novo artigo de Wagner Baldez


EXISTEM MOTIVOS PARA COMEMORARMOS OS 400 ANOS DE SÃO LUÍS?

Wagner Baldez (*)

      Torna-se uma completa idiotice e temeridade acreditar, como bem pretendem as autoridades, possa um povo participar, espontaneamente, das comemorações de uma data histórica, a exemplo dos 400 anos da cidade de São Luís, estando esse mesmo povo privado, há 50 anos (era Sarneysista), dos bens essenciais que lhe cabe por direito?!...
            Mesmo com o apoio logístico disponibilizado por Dona Roseana, a partir da exacerbada propaganda midiática e setores responsáveis pela organização dos festejos, referidos esforços não têm sido suficientes para reascender na alma dos ludoviscenses a chama de seus legítimos e ardentes sentimentos telúricos. Tal conduta, inclusive, deve-se ao fato dos munícipes reconhecerem não se tratar de um ato eminentemente cívico, mas somente com pretensões político-eleitoreiras.
            Ressaltamos, por oportuno, que além das questões aludidas, outras existem a reforçar a posição de revolta assumida pela população, conforme exposição a seguir:
                a) O Maranhão, pelos dados fornecidos por Instituições do porte da ONU, IBGE, FGV, é a Unidade mais miserável da Federação; situação esta que incide negativamente  na vida econômica, social e cultural de nossa cidade;
              b) A corrupção neste Estado, praticada principalmente por algumas autoridades desta Capital, vem prosperando em escala alarmante, como é do conhecimento público. Tanto é verdade, que o senador Sarney (símbolo da corrupção em nível nacional), acaba de ser distinguido com o “Troféu Algema de Ouro”, recompensa que lhe foi outorgada no baile “PEGA LADRÃO”, promovido pelo Grupo Anticorrupção Movimento 31 de Julho, do Rio de Janeiro, e demais congêneres em todo o Brasil;
               c)    O lamentável e dramático cenário formado por infelizes criaturas disputando espaços nas calçadas como refúgio, e ao mesmo tempo socorridos pelas lajes dos prédios a lhes servirem de cumeeiras. Igualmente assistimos a agrupamentos humanos utilizando como abrigos as desconfortáveis e humilhantes palafitas; enquanto outras tantas famílias levando a vida debaixo de viadutos, locais semelhantes a míseras cavernas;
               d) Bairros, na sua maioria, sem quaisquer condições de higiene pela falta de uma política de saneamento, tanto na zona urbana quanto na rural. Incorporada a tais deficiências está a questão do fornecimento de água, onde os moradores levam meses na expectativa de que apareça uma gota do líquido nas torneiras! A esse respeito, para surpresa nossa, assistimos, no tradicional bairro da Madre Deus (reduto eleitoral da “Governadora”), às donas de casa comprando água dos carros-pipas... Imaginem nos demais locais onde ela tem minoria?!;
              e)    Espetáculo vergonhoso se sucede nas diversas ruas, mesmo as localizadas no centro da cidade, em que a população é agredida pela poluição olfativa em conseqüência do mau cheiro provocado pelos dejetos aflorando dos tampões de esgoto pertencente à CAEMA.  Idêntico incômodo acontece com quem transita pelos calçadões da Lagoa da Jansen e adjacências; tal o forte fedor dela desprendido;
          f) As praças, por se acharem relegadas ao abandono, apresentam uma imagem deprimente! As ruas, no que diz respeito ao revestimento asfáltico, encontram-se deformadas pela buraqueira existente, prejudicando o tráfego de veículos motorizados, principalmente os coletivos;
         g)    Grupos de jovens perambulando pelas vias públicas à procura de emprego, havendo boa parte deles entregue ao vício pernicioso da droga, já que não existe perspectiva de melhoria de vida. A realidade é que os gestores – tanto estadual, quanto municipal – omitem-se desse compromisso social;
       h)   O estigma da fome convivendo como condôminos da maioria das residências localizadas nas periferias;
     i)     Casos de assaltos, seqüestros, homicídios, por não existir política de segurança. O Maranhão é o Estado com o menor número de policiais por habitantes; um dos três piores em Educação, Saúde, Saneamento e qualquer outro indicador de civilização;
     j)     Apesar de a natureza ser extremamente pródiga para com a ilha de São Luís, os governantes não procuram, muito  propositadamente, aproveitar citada vantagem  para promover seu desenvolvimento, como é o caso da atividade pesqueira, que até a presente data continua artesanal;
       k)    São Luís tornou-se uma ilha cercada de águas poluídas por coliforme fecal, razão de se tornar perigoso banhar em suas praias;
       l)     Ridículo é sabermos que não existe nesta Capital um único hospital para tratamento de câncer mantido pelo Estado ou Município. O que existe devemos ao abnegado humanista Dr. Antonio Dino. Trata-se de uma Fundação, que, infelizmente, pela exigüidade de leitos, não se acha em condições de corresponder com a grande demanda;
      m)  A violência no trânsito faz parte dessa triste e dramática nomenclatura, sobretudo pelo número de mortes que vem ocorrendo em proporção incomensurável;
       n)   A iluminação é bastante precária, causando a horrível impressão de  encontrar-se São Luís mergulhada nas trevas, embora o povo pague a taxa de iluminação pública, exigida pelo órgão fornecedor, ou seja a CEMAR;
     o)    Para completar o quadro de atraso a que submeteram esta urbe, chegou-se a total imbecilidade de substituir o honroso título de Athenas Brasileira pela desqualificada denominação de Jamaica Brasileira!!! 
       p)    O que podemos afirmar é que o ludovicense transformou a ternura do seu sorriso, que funcionava como hospede de seus lábios, pelo estigma do sofrimento estampado nas faces esquálidas;
     q)    Com profundo pesar vemos a nossa vetusta cidade completamente acagibada e de muletas, sem a necessária condição para superar o estarrecedor e drástico espasmo social, legado pela maldição Sarneysista.

   Uma coisa é certa: só conseguiremos a liberdade, a partir do momento em que nos conscientizarmos de que não nascemos para ser submissos e escravos dessa oligarquia que nos domina, mas senhores dos nossos destinos.


Aí sim, teremos condições de comemoramos eventos de qualquer natureza, com profunda alegria e orgulho!

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(*) Wagner Baldez é funcionário público aposentado e dirigente estadual do PSOL/MA

Ai, não, não nos calam! Michel Teló em versão movimento popular


Basta, já chega, que o capital nos roube!
Ai, não nos calam
Ai, não, não nos calam
Salários de miséria, assim não há justiça

Ai, não, não nos calam
Ai, não, não nos calam

Sábado, na manif
A malta começou a gritar
E não há coisa mais linda
Que a coragem do povo a lutar
Basta, já chega, que o capital nos roube!
Ai, não nos calam
Ai, não, não nos calam
Recibo, desemprego, assim não há justiça

Ai, não nos calam
Ai, não, não nos calam

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

102 anos de Maria Aragão

A atriz Maria Ethel

 

A BESTA FERA:
UMA HOMENAGEM A MARIA ARAGÃO 
NO SEU ANIVERSÁRIO
DE 102 ANOS DE NASCIMENTO


A médica maranhense Maria José Aragão será homenageada nesta sexta-feira, 10 de fevereiro, pela passagem dos seus 102 anos de nascimento, com a reapresentação do monólogo “A Besta Fera: Uma Biografia Cênica de Maria Aragão”, às 18 horas, no Auditório do Memorial Maria Aragão (Av. Beira-Mar), interpretado pela atriz maranhense Maria Ethel, do Grupo Xama Teatro, com direção de Gisele Vasconcelos e trilha sonora de Cesar Teixeira.

Segundo o grupo, o espetáculo resgata a história de Maria José Camargo Aragão (1910-1991) em meio à pobreza extrema. “Em busca da superação da fome, do preconceito, da agressão e na perseguição do sonho de libertar a humanidade, através da conquista de uma profissão, a medicina, Maria Aragão entrega-se, apaixonadamente, às causas sociais, lutando por uma sociedade justa e igualitária”.

O evento é organizado pelo Instituto Maria Aragão-IMA, que também estará completando 11 anos de atividades. Conforme a psiquiatra Ironildes Vanderlei, vice-presidente da entidade, não houve um só episódio importante na história política contemporânea do Maranhão que não contasse com a presença de Maria Aragão.

“Desde a greve de 1951, passando pelas manifestações dos estudantes, dos camponeses, dos operários, dos médicos, das mulheres, dos professores e pelas mobilizações visando à anistia e as eleições diretas, apenas para citar algumas, a figura dela se fez presente”, comenta Ironildes.

Além de ser o principal responsável pela existência do Memorial Maria Aragão, na Av. Beira-Mar, desde 2001 o IMA organiza semanas politico-culturais em torno de Maria Aragão, tendo trazido para São Luís ilustres figuras do mundo político e cultural brasileiro, como o cineasta Silvio Tendler, Clara Charf, viúva de Carlos Marighella, e Luís Carlos Prestes Filho.

Em fevereiro do ano passado Tendler retornou a São Luís para o lançamento do seu filme “Utopia e Barbárie”, como parte da programação da 3ª Semana Político-Cultural do IMA.

A homenagem desta sexta-feira marca ainda a passagem por São Luís da atriz Maria Ethel, atualmente radicada no Rio de Janeiro. Em 2009, ela foi escolhida como Melhor Atriz pelo SATED/MA (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Maranhão) por sua atuação em “A Besta Fera”, que também conquistou o prêmio de Melhor Espetáculo.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

DE VOLTA AOS ANOS 90? Itaú lucra R$ 14 bilhões... Governo Federal privatiza aeroportos... Agronegócio do Brasil é vice mundial em sementes transgênicas

E o PIG escracha:

O Globo - PT FAZ EM AEROPORTOS A SUA PRIMEIRA PRIVATIZAÇÃO...

Jornal do Commércio - PT FAZ SUA PRIMEIRA GRANDE PRIVATIZAÇÃO...

G1 - PSDB DIZ QUE PT SE APROPRIOU DE SEU LEGADO AO PRIVATIZAR AEROPORTOS ("O que assistimos, a privatização de aeroportos, faz com que o PT ao menos peça desculpas ao PSDB, mas sobretudo para a sociedade e de modo especial aos eleitores. O processo de privatização foi sucessivamente renegado pelo Partido dos Trabalhadores" leia mais aqui)

G1 - Brasil é o 2º no ranking de plantações com sementes transgênicas, com 30,3 milhões de hectares (aqui)

UOL - Lucro do Itaú em 2011 é o maior da história dos bancos do país (confira aqui)

O filé mignon à iniciativa privada; já os demais 63 aeroportos do país, o capital não quer nem de graça. Entre os quais a nossa maranhense aerotenda Cunha Machado, desde abril de 2011 em eterna reforma.

Improvisado, aeroporto de São Luís perde voos internacionais

Aeroporto foi interditado porque teto ameaçava desabar. Com isso, a sala de espera foi improvisada no estacionamento

Wilson Lima, iG Maranhão


Após ser parcialmente interditado para reformas, o aeroporto Marechal Cunha Machado, em São Luís, perdeu a condição de terminal internacional de passageiros. A determinação partiu da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).
Foto: Wilson Lima/iGAmpliar
Sala de espera do aeroporto de São Luís é improvisada no estacionamento
A Infraero solicitou a suspensão dos serviços de alfândega e da Receita Federal no aeroporto. A medida visa diminuir o desconforto dos passageiros, já que a área de espera e de embarque foram reduzidas com a interdição parcial do terminal de passageiros. A medida é temporária. A Infraero afirma que solicitará o alfandegamento do aeroporto assim as reformas forem concluídas.
Com o rebaixamento de status, o aeroporto de São Luís não tem mais condições de receber vôos internacionais. Desde 2003, o aeroporto de São Luís é homologado como internacional e no ano passado recebeu vôos charters da Europa. O último, em dezembro, trouxe 230 turistas europeus que visitaram a capital, Barreirinhas e Alcântara.
Em 24 de março, o aeroporto Marechal Cunha Machado foi parcialmente interditado após a Infraero detectar risco de desabamento do telhado da área de embarque de passageiros. Com a interdição parcial, o terminal foi realocado para uma área de estacionamento. A área de check in remanejada para a antiga sede administrativa da Infraero. Essa interdição parcial já causou uma série de transtornos aos passageiros. No domingo dia 04, por exemplo, uma placa de acrílico caiu sobre uma funcionária da Gol. Ela teve apenas ferimentos leves.
O Ministério Público Federal (MPF) também abriu investigação para apurar as causas da interdição parcial do aeroporto de São Luís. Até o final da semana, o procurador Alexandre Soares decidirá se ingressará ou não com uma ação civil pública contra a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e Infraero cobrando celeridade nos serviços de reforma do aeroporto.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O “X” DA QUESTÃO

Franklin Douglas (*)
Demorou, mas de tanta repercussão na blogosfera, a notícia ganhou também as páginas dos jornais: mereceu até editorial do jornal da oligarquia (Uniceuma, fraude e transparência – O Estado do Maranhão - 04/02/2012, p. 04), em defesa do Ceuma, claro!

Trata-se de investigação da Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic), conduzida pelo delegado Breno Galdino, onde se averigua esquema de alteração de notas de pelo menos 700 alunos do Ceuma. Reprovados, ou mesmo sem nem cursar a disciplina, apareciam aprovados após pagarem, a um técnico responsável pela informática da instituição, R$ 1.700,00, em média, pela fraude em cada nota. A velha máxima do “papai pagou, passou comprovada no Centro Universitário dos Fecurys.
Associação de ensino superior, o CEUMA já é uma fraude em si mesmo. Ao povo maranhense, apresenta-se como exemplo de ensino privado, bem gerenciado, modelo de aprendizagem, onde há aulas, não tem greve e os alunos se formam no tempo estipulado. Comparações geralmente realçadas em relação à universidade pública (UFMA, UEMA ou IFMA). Mas é nos trâmites do Ministério da Educação que se conhece o CEUMA que não se tem notícia nos jornais ou propagandas em outdoors: “pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos(parecer 457/2011-MEC/Conselho Nacional de Educação, p. 01).
Isso mesmo, a universidade privada CEUMA não tem fins lucrativos! Deve vir daí a justificativa para as mensalidades dos cursos do Ceuma serem tão baratas... e sem fins lucrativos, o que sobra mal dá para seus donos comprarem um jatinho novo!
Para além das ironias, contudo, o fato nos obriga a uma reflexão mais profunda.
É evidente que o CEUMA tem bons docentes, um corpo de funcionários dedicados e um amplo número de estudantes que, em busca de formação profissional, trabalham arduamente durante o dia para poderem pagar seus estudos à noite.
Inclusive, são minoria aqueles que têm dinheiro de sobra para pagar R$ 1.700,00 para fraudar uma nota. É essa minoria, e sua cultura do desleixo com o estudo, do patrimonialismo e do clientelismo, que frauda notas no CEUMA, mas também na UEMA, na UFMA (como já se toma conhecimento em blogues) e nas demais instituições privadas de ensino.
O Maranhão tem 493 cursos superiores distribuídos por 34 municípios. Desses quase 500 cursos, menos de um terço está vinculado a universidades públicas e efetivamente sem fins lucrativos. Em pequenas cidades que mal tem o Ensino Fundamental e o Ensino Médio é um sonho, as faculdades privadas de ensino à distância levam, por exemplo, cursos de Serviço Social a Formosa da Serra Negra, Pedagogia a Campestre do Maranhão, Administração a Lago do Junco. Uma verdadeira “revolução” no ensino superior!
Eis aqui, então, a questão: para além dos 700 fraudadores, o que o esquema de alteração de notas evidencia é a falência do modelo de ensino superior no País. Ao propagandear que distribuiu um milhão de bolsas do PROUNI, o governo federal faz um escárnio com a inteligência brasileira e a coloca sob a ojeriza daquele estudante que só está na faculdade por conta da bolsa.
Quem é contra um milhão de jovens acessando o ensino superior graças às bolsas do PROUNI? Só a elite endinheirada mesmo é quem torce para dar tudo errado... Não, caro leitor, cara leitora, nada disso!
A elite endinheirada é a que mais apóia o PROUNI, afinal parte dela vive desse programa, como os CEUMA´s sem fins lucrativos da vida. É para lá que vai o dinheiro da bolsa do PROUNI, e não para o bolso do estudante beneficiado. E é sob essa cultura que transforma a UNIVERSIDADE em escola de ensino de terceiro grau (sem pesquisa, sem extensão e com parca qualidade de ensino) que vira costume, e não crime, fraudar notas para obter um diploma.
Eis o “x” da questão!
Em tempo: (1) entre os nomes que vem a público como beneficiados pela fraude nas notas, há filhos de grandes empresários, vereadores, deputados estaduais, desembargadores... eis porque só temos a comemorar a garantia das prerrogativas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) confirmadas pela maioria do STF. Em pouco tempo, algum advogado de um dos fraudadores vai alegar inconsistência nos procedimentos investigativos, um juiz anulará tudo e apenas os bagrinhos talvez sejam punidos. Aí, só o CNJ para nos revelar o que pode ter havido nas entranhas do judiciário maranhense sobre essa questão. Três vivas ao CNJ!
Em tempo: (2) Professores municipais entraram em greve no dia 31 de janeiro. As aulas iniciariam no começo de fevereiro. O prefeito transferiu o início do ano letivo para 15 de março. A partir do dia 10 de abril, a legislação eleitoral veda a prefeito fazer revisão na remuneração dos servidores. Assim, Castelo pode alegar isso para não dar o aumento reivindicado pelo professores ou dar, mas deixando a conta para o próximo prefeito, ainda que seja ele próprio. Empurra o “problema” da educação com a barriga... é assim que também caminha a educação municipal!
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(*) Franklin Douglas - 
jornalista e professor, e
screve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 05/02/2012, página 16)