domingo, 25 de agosto de 2013

PADRE VICTOR ASSELIN: PRESENTE!!

       
    Franklin Douglas (*) 

Tinha em mente quatro opções de temas para trabalhar neste artigo:
1) o reconhecimento de Arturo Saboia e seu filme, "Acalanto". Pensei em resgatar o cinema maranhense desde os idos da geração 70; evidenciar como temos expertise nessa área, desde Euclides Neto, Murilo Santos, até, mais recentemente, Frederico Machado, Francisco Colombo e Arturo Saboia, para ficar nesses nossos bravos ícones do fazer vídeo e cinema no Maranhão. "Acalanto" é mais uma evidência de nossa competência, mas também exemplo da duríssima vida daqueles que optam por fazer cinema, num estado onde se prefere patrocinar com 12 milhões de reais a Beijar-Flor, no carnaval carioca, a abrir um edital de apoio ao cinema e vídeo maranhenses;
2) a reintegração do professor Ayala Gurgel ao quadro docente da UFMA. Mostrando, no exemplo da professora Sirleane Paiva (única a votar contra sua exoneração no Conselho Universitário), como uma andorinha só fez verão contra o autoritarismo do reitor Natalino Salgado;
3) o alerta aos concurseiros de plantão sobre o engodo do edital ao "concurso" do Hospital Universitário. Leram o edital item a item, caros concurseiros? Viram em algum deles por quanto tempo vocês ficaram empregados na EBSERH? O prazo de validade do seletivo? Não estranharam que o estágio probatório (de dois anos, quando se presta concurso público de verdade ao serviço público) foi reduzido a um contrato experimental de 90 dias?... E os colegas jornalistas, observaram que a nossa carga horária de 5 horas de trabalho diária foi totalmente desrespeitada? Além de outros pontos, pretendia evidenciar como esse falso concurso ao HUUFMA trata-se do principal passo rumo à privatização do Hospital Universitário via EBSERH e chamar o Ministério Público Federal à atuação imediata;
4) a Jornada Internacional de Políticas Públicas. Por fim, estava inclinado a escrever sobre como a jornada organizada pelo Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas (UFMA), para além de seu êxito organizativo, trouxe ao Maranhão não só dos melhores intelectuais do mundo e do país, mas o que de melhor se tem de análises sobre o momento pelo qual passa nossa sociedade...
A dúvida em torno do que escrever desapareceu diante de um tema que sequer cogitei articular: o falecimento do Padre Victor Asselin, em consequência de um câncer contra o qual lutava há dois anos. Ele partiu nas primeiras horas do dia 23 de agosto.
Victor Asselin não foi apenas mais um padre estrangeiro que se tornou maranhense ao vir para o nosso estado. Canadense, ele chegou por cá em 1966. Desde então, tornou-se a principal referência do estudo, da organização e da luta pela terra no Maranhão.
Asselin foi fundador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), tendo participado do encontro que criou a entidade, em 1975, em Goiânia. Da CPT, foi seu primeiro vice-presidente nacional e primeiro presidente no Maranhão.
Ao pesquisar sobre o que estava por trás de tanta violência aos camponeses e camponesas maranhenses, descobriu uma ampla rede de grilagem (grilar - fazer títulos falsos de posse da terra) que envolvia corrupção, poderes constituídos e políticos do Estado. Sua pesquisa transformou-se no livro "Grilagem: corrupção e violência em terras do Carajás" (de 1982), reeditado em 2009, pelo qual recebeu como "prêmio" uma espécie de exílio do Maranhão, onde sequer pôde fazer a divulgação do livro, jurado de morte que foi por poderosos e grileiros. Como observa o historiador Carlos Leen Santiago, o livro do Pe. Victor está para o Maranhão como "Veias Abertas", de Eduardo Galeano, está para a América Latina: desnuda a realidade estrutural maranhense a fundo, por isso permanece tão atual e de imprescindível leitura.
Até os últimos dias no Maranhão, Pe. Victor foi coerente pela opção que fez pelos mais pobres e camponeses.  Lembro que, mesmo muito educado, não deixou de dar uma descompostura numa antiga conhecida sua que havia aderido ao sarno-petismo: ao pedir sua benção, disse a ela: "Não, eu não te abençoo!"... Pe.Victor não compreendia como petistas tão vinculados à luta dos trabalhadores rurais tinham baixado a cabeça para a oligarquia que tanto assassinou camponeses maranhenses.
Por essa sua coerência, foi um dos primeiros a colocar-se ao lado de Jackson Lago na defesa de seu mandato contra o golpe judiciário orquestrado pela oligarquia, ocorrido em abril de 2009. Advogado, também foi um dos primeiros a subscrever a ação judicial que as organizações populares preparavam para pedir a cassação do mandato de Roseana Sarney, eleita governadora sob amplo abuso de poder econômico, em 2010. Asselin, como símbolo da CPT e da luta pela reforma agrária, assinaria o documento juntamente com Pe. João Maria Van Dame, referência da ASP na luta pela saúde pública, e Ricarte Almeida, expressão da Cáritas na luta por políticas públicas e transparência no orçamento.
Em novembro de 2010, quando nos encontramos na solenidade de outorga de título de doutor honoris causa a Manoel da Conceição, na UFMA, ele me dizia que o exemplo que "Mané" nos dava era o da convicção, de não baixar as bandeiras, de manter a resistência sem medo. Até o último momento que pôde, Victor Asselin não tergiversou em estar ao lado da justiça, da paz e pela vida.
Nos movimentos sociais, quando queremos exaltar uma pessoa querida e importante que se foi, mas deixa a marca de sua atuação, de suas ideias e ideais, grita-se bem alto o nome dela e, mais alto ainda, a palavra PRESENTE, para significar que sua luta prosseguirá pelos que aqui ficam.
Sobre o Pe. Victor Asselin, não há outra coisa a fazer em sua homenagem que não alçá-lo ao topo dos ícones da luta por um Maranhão livre.
- Maria Aragão: presente!
- Neiva Moreira e Jackson Lago: presentes!
- Padre Josimo e Magno Cruz: presentes!!
- Padre Victor Asselin: PRESEEENTE!!!!


(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos,  quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno  (edição 25/08/2013, p. 12).

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

VI Jornada de Políticas Públicas homenageia François Chesnais e Carlos Nelson Coutinho(in memorian)



Inicia oficialmente nesta terça-feira a VI Jornada Internacional de Políticas Públicas, no campus do Bacanga (UFMA). A Jornada prossegue até o dia 23 de agosto, com suas principais palestras no Auditório do Centro Pedagógico Paulo Freire.

François Chesnais, que já se encontra em São Luís, será o principal homenageado da abertura da VI Jornada. Junto a ele, in memorian, o intelectual Carlos Nelson Coutinho (28/06/1943-20/09/2012).

Jornada homenageará
Carlos Nelson Coutinho (28/06/1943-20/09/2012)
Esta edição da Jornada Internacional de Políticas Públicas bateu todos os recordes: 1.275 inscritos, 757 trabalhos, de todas as regiões do país e de outros países, 723 comunicações orais, 158 pareceristas, 34 mesas temáticas e 16 eixos temáticos.


Confira a programação desta terça-feira (20/08/2013):
Abertura - às 09h00, no auditório auditório Paulo Freire

Conferência de abertura - das 09h30 às 12h, "O Desenvolvimento da crise capitalista e a atualização das lutas contra a exploração, a dominação e a humilhação", com os professores François Chesnais (França) e Thomas Coutrot (França), com a coordenação do professor Flávio Farias.

A partir das 14h, 1a. sessão de mesas temáticas coordenadas.
A partir das 16h, 2a. sessão de mesas temáticas coordenadas.
A partir das 18h, 3a. sessão de mesas temáticas coordenadas.

A partir das 20h, lançamento de livros e revistas.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O ESPÓLIO DE SARNEY

Franklin Douglas (*) 

Não, cara leitora, caro leitor, não estou a anunciar nenhum agravamento no quadro de saúde, nem a torcer pela morte do senador amapo-maranhense José Sarney.

Ao contrário, tal como o amigo Wagner Baldez, prefiro vê-lo vivíssimo, presenciando a derrota de sua oligarquia nas ruas, em 2013, com a cassação do mandato da filha pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e nas urnas, em 2014, com seu candidato a governador.

Seja pelo processo histórico, seja pela idade, o que está em questão com a proximidade do fim do ciclo da política maranhense diretamente liderado por José Sarney é isto: a disputa de seu espólio. E, para além da contenda pelo patrimônio familiar, declarado em R$ 125 milhões:

1) O espólio econômico, a interlocução com o grande capital e suas investidas no Maranhão (na área mínero-metalúrgica, financeira, imobiliária e do agronegócio);

2) O espólio institucional, a influência junto aos poderes constituídos na República e no Estado do Maranhão;

3) O espólio midiático, a sociedade com a Globo, rede de rádios, televisão e sites nas principais cidades do Maranhão;

4) O espólio político-eleitoral!

Após o governo de José Sarney (1966-1970), o Maranhão teve nove governadores. Três eleitos indiretamente: (1) Pedro Neiva de Santana (1971-1974), (2) Nunes Freire (1975-1978) e (3) João Castelo (1979-1982). Seis eleitos diretamente: (1) Luís Rocha (1983-1986), (2) Epitácio Cafeteira (1987-1990), (3) Edison Lobão (1991-1994), (4) Roseana Sarney (eleita para o mandato de 1995 a 1998; reeleita para o período 1999-2002; de volta ao governo por determinação do TSE entre 2009-2010; eleita para o mandato iniciado em 2011), (5) José Reinaldo (2003-2006) e (6) Jackson Lago (2007 a 2009, quando cassado pelo TSE).

De todos, somente Jackson Lago se elegeu sem o apoio de José Sarney. Os demais contaram com seu aval, embora ele renegue essa responsabilidade. São 16 anos que o Maranhão mantém-se diretamente sob administração da família Sarney, em 47 anos de exercício do poder pelo seu grupo; ainda que tenha havido algum contencioso aqui e ali, como com Pedro Neiva e Nunes Freire, durante a Ditadura Militar, as relações sempre foram devidamente ajustadas pelos generais e pelo Planalto.

Nesse período, além do Executivo, o sarneismo mantém sob absoluto controle o Judiciário, grande parte da bancada de deputados federais maranhenses, todos os senadores do Maranhão, o Legislativo estadual em sua maioria avassaladora, quase todas as Câmaras Municipais, o Tribunal de Contas do Estado (TCE), a maioria das 217 prefeituras municipais, os cargos federais no estado. Nem o Ministério Público do Estado (MPE) mantém independência, salvo raros promotores de Justiça. Ou seja, o aparelho do Estado por quase todo completo.

É esse o espólio em disputa por duas das três principais correntes ideopolíticas do Estado: a oligarquia e suas frações, divididas entre os interesses do pai, dos filhos, da filha e do genro; e a oposição consentida, cuja expressão eleitoral maior, no PCdoB, busca liderar a oposição conservadora (PSDB) e as dissidências do grupo oligárquico (clãs Coutinho, Rocha, Holanda etc). A oposição de esquerda, partidária (PSTU/PSOL/PCB) e social (dos movimentos e juventude em resistência e luta), rejeita essa alternativa “seis por meia dúzia” e aposta na reconstrução do caminho perdido com a chegada do PT ao governo e sua adesão à oligarquia.

Na estratégia de ganhar com as armas do inimigo, o mais bem-sucedido tem sido o ex-governador José Reinaldo Tavares: foi o único que derrotou José Sarney, em seu rompimento em 2005, quando reuniu todas as forças oposicionistas e contribuiu decisivamente para a eleição de Jackson Lago em 2006. Pode, uma vez mais, derrotar o ex-tutor, com o processo de cassação do mandato de Roseana por abuso de poder econômico, no TSE.

Tavares não herdará o espólio, mas demonstrou ter aprendido muito bem as lições de quem tem controlado o Estado do Maranhão por quase cinco décadas. Ante a hesitação de seu candidato a governador em entrar, em 2010, com a ação judicial contra sua oponente, a fim de não inviabilizar seu espaço no condomínio do lulo-PMDB-petismo no Planalto, José Reinaldo tomou para si a responsabilidade: com o pedido de cassação novamente andando no TSE, poderá uma vez mais fazer história. Mostrou que para fazer política, tem que ter lado! Tem que dar combate!!

Foi o que Sarney fez com Jackson, em 2006, no estilo Carlos Lacerda – “se ganhar, não toma posse; se empossar, não termina o governo”:

“A vitória de Roseana está assegurada (…) [o processo das eleições] será julgado pela Justiça Eleitoral, não apenas no Maranhão, mas nas instâncias superiores, isentas e soberanas” (artigo de José Sarney “A hora da decisão”, em O Estado do Maranhão, 29/10/2009). No voto, na fraude, nos tribunais, tem sido assim as vitórias da oligarquia… vale a pena ganhar com os sujeitos, ainda que dissidentes, desses mesmos métodos?

Como bem anota o advogado Luís Antonio Pedrosa, da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MA, “essa tendência ao velório, como solução de impasses políticos, não é nova. Retrata uma incapacidade de superação de debilidades, internas ao próprio bloco oposicionista. É mais fácil desejar morto o adversário que vencê-lo vivo, por certo. Vencer um defunto é o melhor desempenho dessa oposição, porque parece tanto com o adversário, que não lhe resta outra opção. Morto o adversário, perderíamos o referencial a partir de onde o povo reclamaria a diferença” (página pessoal no Facebook, 02/08/2013).

Às ruas pela cassação do mandato adquirido na fraude pela governadora Sarney, movimentos e juventude! Somente por esta via poderemos avistar no horizonte um projeto de sociedade alternativo ao que vem sendo implementado desde as origens do Maranhão.

Parafraseando um colega professor, o sarneismo sem Sarney não é o horizonte da esperança e nem das transformações políticas desejadas pela maioria do sofrido povo maranhense.
 
(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos,  quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno  (edição 11/08/2013, p. 16).

Pelo visto, o Ecos das Lutas incomoda...


Há duas semanas sem postagem aqui no Ecos das Lutas...

Como sempre registramos, o blogue não corre atrás da notícia. Expressa a opinião de seu editor a partir não só dos fatos de grande acontecimento no âmbito das lutas sociais, mas também outras e, sobretudo, quando da disponibilidade do editor para escrever, editar, publicar os textos. Não é simplesmente "control C"/"control V" o que buscamos socializar com os leitores.

Priorizamos a análise crítica, a partir de um posicionamento que questiona a oligarquia e sua oposição consentida. Não temos grandes audiências, apesar do número de acessos ser de alguma forma relevante - nosso contador fica à mostra, não temos o que falsear, até porque não estamos à busca de patrocínios e "financiamentos".

Por tudo isso, por que raquear o blog???

Vírus no computador, programas para invadir e-mail, bloqueio do acesso às postagens do blogue... incomodamos tanto?

Talvez sim, à blogosfera oligárquica temos agora uma blogosfera "oposicionista" com os mesmos métodos: cooptação, financiamento "não-contabilizado", falta de  transparência nas relações estabelecidas, "opinião" construída sobre os fatos da cidade e da política maranhense, a fim de passar aos leitores a realidade que lhes interessa. Basta clicar em blogues antes "castelistas", agora "flavistas" até o último fio de cabelo, ou antes oposição, agora governistas... e por aí vai. O acordo tácito entre ambos é: nos blogues da oligarquia só o "sim, senhor" aos interesses da famiglia e combate à oposição consentida; nos blogues da oposição consentida, só "amém" aos interesses dinistas e combate ao governo, desde que estadual - nada contra o planalto.

E, em ambos, o silêncio aos que não rezam sem sua cartilha. Calar então, é  o que resta: com todos os métodos...

Mas manteremos a trincheira e o pensamento crítico que tanto incomodam!

Ecos das Lutas de volta... até o próximo vírus e ataque  "hacker".

Teste