quinta-feira, 19 de março de 2020

O ESTADO MORREU. VIVA O ESTADO!


      Franklin Douglas (*)

Nada mais parecido com um estatista do que um neoliberal sob uma pandemia de Coronavírus. Em “História da Riqueza do Homem” (1936), Leo Huberman demonstra como o credo liberal, segundo o qual o desenvolvimento das forças econômicas se deu independente do Estado, não passa de uma grande lorota. Estradas, comunicações, urbanização das cidades e tudo o mais se ergueram a partir do Estado nacional. A “mão invisível do mercado” não resiste a uma crise, seja econômica, seja sanitária.

E, assim, no Brasil e no mundo, o discurso de “a tudo privatizar” vai caindo por terra, país por país onde o neoliberalismo reergueu-se nos fins da segunda década dos anos 2000 – sobretudo diante de uma pandemia como a COVID-19.

No Brasil, é um salve ao SUS (Sistema Único de Saúde) atrás de outro em defesa da pesquisa científica e de nossos hospitais públicos. O discurso da privatização não se sustenta e R$ 145 bilhões são injetados para salvar a economia da crise trazida pela pandemia que ataca a ricos e pobres.

E, dessa forma, governos liberais, como João Dória (PSDB/SP) ou Ronaldo Caiado (DEM/GO), determinam a paralisação do comércio, intervêm no “livre” mercado e fecham shoppings. É a mão forte do Estado tentando salvar ricos e pobres – mais os ricos do que os pobres! – do vírus considerado o inimigo invisível, como se referiu outro liberal, o presidente francês Emannuel Macron.
Por sinal, partiu do francês a suspensão dos pagamentos das contas de luz, água e gás. Também suspendeu a reforma da Previdência no país. Por sua vez, a Itália iniciou a reestatização dos hospitais. Donald Trump, nos Estados Unidos, retomou a ideia de um cheque cidadão de mil dólares aos americanos pobres.
Com o neoliberalismo nas cordas, é tempo de o povo brasileiro retomar a campanha pela revogação da Emenda 95, que congelou por 20 anos os investimentos em saúde e educação. Ao apresentar o pedido de calamidade pública, o ultraneoliberal Paulo Guedes piscou. É hora de avançar. Não basta deixar o orçamento brasileiro sem amarras só em 2020. É preciso tirar a cangalha que sufoca o Sistema Único de Saúde para enfrentarmos para valer a pandemia global que age forte no local.

Nesse sentido, não há o que tergiversar em terras maranhenses, sob governos comunista (PCdoB) e trabalhista (PDT). Após certa lentidão, a Prefeitura de São Luís, por meio do Decreto nº 58.890/2020, determinou algumas ações necessárias ao enfrentamento da CONVID-19. Incorporou 05 medidas de 18 que elenquei na proposta “Um plano de contingência para aCONVID-19 em São Luís” (aqui). Parabéns! Ignorou no decreto, contudo, as crianças e os trabalhadores de baixa renda:
1. Não exigiu da CEMAR a suspensão das taxas de luz dos consumidores de baixa renda;
2. Não reivindicou do Governo do Estado aliado a suspensão das contas de água da CAEMA aos mais pobres;
3. Não propôs uma estratégia para distribuição de cestas de alimentação escolar às crianças que estão com as aulas suspensas por 15 dias.


O combate ao Coronavírus exige colocarmos a política de saúde na frente da política eleitoral! É tempo de coragem, agilidade, grandeza e colaboração, de organizações públicas e privadas, a fim de evitar a morte de muitos de nossa gente.
Nos anos 1400, surgiu na França a máxima “O rei morreu. Viva o rei!” para afirmar a autocracia monárquica e a continuidade do comando da coroa, elevando um rei imediatamente após a morte do outro.
Pois bem, nos tempos de Coronavírus, em que teses neoliberais naufragam, é tempo de ação do Estado em prol da população, aquela que, pelos seus tributos, lhe sustenta, e, pelos seus votos, dá-lhe legitimidade. Então, se o Estado (liberal) morreu, viva o Estado (social)!


(*) Franklin Douglas – professor e doutor em Políticas Públicas. E-mail: franklin.artigos@gmail.com

Artigo publicado no Jornal Pequeno (19.03.2020, p. 06) e no jornal O Imparcial (19.03.2020, p. 04)

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