Hospital de campanha, em Fortaleza (CE) |
Franklin Douglas (*)
Ultrapassamos o simbólico
número de 1.000 infectados por Covid-19 no Maranhão. A pandemia chegou a 33
municípios. Mais de 80% dos casos encontram-se em São Luís. A capital responde
por 862 pessoas testadas positivamente para o coronavírus, segundo Boletim da
Secretaria Estadual de Saúde (SES – 17/04/2020, até às 20h). Isso, fora a
subnotificação. Casos que sequer chegam aos dados do sistema de saúde.
E ainda temos mais de
3.500 suspeitos que conseguiram fazer os testes – aguardam o resultado. Nos
leitos de UTI´s, o sistema privado está à beira da lotação. No público, já
ultrapassa os 65%. Em leitos clínicos exclusivos para Covid-19, 90% já estão ocupados
na rede pública. Daqui para frente, números virarão rostos.
A pirotecnia para adquirir
107 respiradores artificiais para o Maranhão evidenciam o esforço do governo
estadual em tentar amenizar o caos. Por outro lado, revela suas opções
equivocadas. Desde o primeiro dia de seu primeiro mandato, faltou a Flávio Dino
a opção por estruturar o SUS no Estado. Tergiversou no principal: tornar
público um sistema que estava capturado para os interesses privados. Descartou
concurso público para a área da saúde. Preferiu o troca-troca das indicações para
as OSCIP´s que parasitam o sistema público. Criou uma empresa, a EMESERH,
seguindo os passos errados do governo petista, com a EBSERH. Resultado: corre
atrás do prejuízo nesse momento de pandemia.
Certa vez, o economista francês
François Chesnais, em conferência na Jornada de Políticas Públicas da UFMA,
chamou à reflexão: muitas das escolhas de um governo que se quer
“contra-hegemômico” se dão no primeiro dia do governo. Opções erradas ou
conciliatórias sempre trazem um resultado desastroso ao projeto popular. “O
problema das consequências é que elas vêm depois”, como diria o “brasileiríssimo”
conselheiro Acácio, personagem de O Primo Basílio, de Eça de Queiros.
Não estruturar o SUS e um
sistema de saúde no estado nos deixa à mercê da pior pandemia que já enfrentamos
desde o início do século passado, a gripe “espanhola”.
Nessa trilha, segue a
Prefeitura de São Luís: não é inerte, mas é lenta como uma tartaruga, enquanto
o coronavírus espalha-se veloz como uma lebre. Está sempre um passo atrás do Governo
do Estado. Tem um acordo firmado com Wuhan, nada fez. Perdemos uma privilegiada
interlocução com a cidade chinesa que ensina o mundo a combater o Covid-19. Não
conseguimos nenhuma máscara doada, tampouco respiradores artificiais.
Por falar em máscaras,
enquanto outras cidades do mundo e do país decretam obrigatoriedade de seu uso
e a distribuem gratuitamente à população, em São Luís não se vê nada
semelhante. E não é por falta de sugestões ou verbas!
Em “Distribuir máscaras à
população, óbvio!” (artigo publicado em O Imparcial, de 05/04/2020), registramos
a proposta, como fazer e de onde viriam os recursos. Em outro artigo, “Hora de
uma irmã ajudar outra” (O Imparcial, 22/03/2020), indicamos o caminho da
relação com a China. E em “A conta do caos” (O Imparcial, 29/03/2020),
ressaltamos a alarmante tendência de evolução do contágio. Chegamos a mil casos,
o nosso pico está calculado para 11 mil. Infelizmente, tudo só tende a piorar!
Hospital de campanha, em Santo André (SP) |
Nesse
contexto, um hospital de campanha é urgente!
Trata-se de um hospital
provisório, orientado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para casos de
pandemia. São hospitais temporários para receber enorme contingente. Mesmo em
nossa realidade, sem respiradores artificiais suficientes, já seria uma grande
ajuda para termos leitos clínicos para os casos não tão graves, mas cujos
pacientes não podem/não devem ficar em casa.
Melhor localização: Centro
de Convenções do Multicenter SEBRAE, no Cohafuma. Já tem toda a estrutura.
Ligação elétrica. Fornecimento de água. Amplo estacionamento. Próximo a
hospitais de maior complexidade. Já tem espaços cobertos, apenas para serem
montados os leitos. O que esperam Governo e Prefeitura para um hospital de
campanha em São Luís?
São Luís já é a quinta
capital em pior situação na ampliação de casos da Covid-19 por milhão de
pessoas. Em situação pior a nossa estão apenas: São Paulo, Rio de Janeiro,
Manaus e Fortaleza. Justificar que não se montará um hospital de campanha
porque ele não fica incorporado à estrutura de saúde do estado, é tarde. Essa
decisão cabia no primeiro dia de governo...
Qual o objetivo da
política em tempo de guerra contra um inimigo externo? Pergunta o cientista
político italiano Norberto Bobbio. E responde ele: a unidade contra o inimigo. Nos
tempos de guerra, não há espaço para fazer oposição. O que não quer dizer
deixar de fazer a crítica enquanto se constrói a unidade contra o inimigo. No
nosso caso, o inimigo invisível, o vírus, une a todos nós nessa batalha, cada
um com o que pode. Entramos com alertas e propostas. Cabe aos governos agirem, com
as diretrizes corretas!
“O Brasil é a terra onde o
certo dá errado, e o errado dá certo”, disse Monteiro Lobato ao escritor Lima
Barreto numa carta de 1918, ano em que a gripe “espanhola” - a mãe das pandemias – chegou aqui pelo
Maranhão. Oremos para que essa máxima se inverta no Maranhão nesse combate ao
vírus. Parece ser o que nos resta...
(*) Franklin Douglas – professor e
doutor em Políticas Públicas. E-mail: franklin.artigos@gmail.com
Artigo publicado no jornal O Imparcial (18.04.2020, p. 04)
[Nota 1 - Na verdade, a EMESERH foi criada por Roseana Sarney. O governo Dino a ativou]
[Nota 2 - Organizações Sociais (OS´s)/OSCIP´s]
Artigo publicado no jornal O Imparcial (18.04.2020, p. 04)
[Nota 1 - Na verdade, a EMESERH foi criada por Roseana Sarney. O governo Dino a ativou]
[Nota 2 - Organizações Sociais (OS´s)/OSCIP´s]
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