
Franklin Douglas (*)
Nunca uma
administração chegou tão desgastada ao processo de sua sucessão. Jamais uma
candidatura de oposição entrou na disputa tão organizada. A partir desta
semana, com as inscrições dos candidatos à reitoria e à vice-reitoria,
iniciamos um período de intenso debate sobre a Universidade Federal do Maranhão
(UFMA).
A gestão de
Natalino Salgado chega ao fim sob evidente desmantelamento: sua imagem pública
de gestor destoa completamente de sua avaliação interna entre os diversos
segmentos da comunidade universitária.
Eleito e
reeleito com o apoio de forças como o PSDB, a oligarquia Sarney e o PCdoB
presentes na universidade, Salgado administrou a UFMA, nos últimos oito anos,
com mão de ferro. Eis o principal motivo pelo qual sua sólida maioria entre os
docentes desmanchou-se no ar. Seu trânsito entre Lula, Dilma, Sarney, Roseana,
Flávio Dino, João Castelo, Edvaldo Holanda Júnior, de nada lhe adiantou para
evitar o fim do mandato sem as suas promessas de campanha cumpridas.
A prometida
expansão universitária via REUNI superlotou salas, precarizou o trabalho
docente e não trouxe consigo as condições para o exercício de ensino de
qualidade. Basta ir aos campi do interior do estado: galpões que parecem
armazenar qualquer coisa, menos estudantes e professores de ensino superior –
vá a Chapadinha, São Bernardo, Imperatriz e conclua com seus próprios olhos.
Procure e encontre um estudante de Medicina em Pinheiro... À primeira chuva, os
centros mais maquiados encharcam, a Residência Estudantil alaga... são obras e
mais obras inacabadas, apesar de volumosos recursos.
Tudo isso e
muito mais com a marca do AUTORITARISMO.
Uma gestão que,
à moda do velho coronelismo do “eu quero - eu mando - eu posso”, incompreendendo a diversidade da qual se
nutre o espaço universitário, de debate de opiniões distintas e mutuamente
respeitadas, buscou calar qualquer voz discordante a ponto do reitor se
envolver em disputas de Diretórios Acadêmicos, DCE, sindicatos de técnicos e
professores e, não conseguindo vencer, criando um sindicato só para os seus. Um
autoritarismo que demitiu a seu bel-prazer um professor universitário e amargou
a derrota de seu ato ditatorial na justiça federal.
Essa herança maldita, um conjunto de professores, estudantes e técnicos
se recusam a receber.
Nem mesmo os
seus Natalino unifica: exemplos são as candidaturas dos professores Antonio
Oliveira (do curso de Física, atual vice-reitor) e do professor Sofiani Labidi
(do curso de Engenharia Elétrica). Embora projetos deles mesmos, suas
candidaturas ganham legitimidade exatamente por também recusarem a política do
“sim, senhor” a que Natalino submeteu seus aliados.
Contudo, a
novidade destas eleições na UFMA é exatamente um projeto coletivo que, mais do
que ter uma candidatura, apresenta uma proposta de universidade que, em
qualquer cenário, já sairá vitoriosa. E por quê?
Porque se em
pleitos anteriores as candidaturas da oposição isolavam-se num setor da
resistência na UFMA, e, após o dia da eleição, já se desarticulavam, o que
evidenciava sua pouca organicidade, nestas, um movimento pela democratização da
UFMA tem muito mais fôlego! Se deixar de vencer, o Movimento UFMA Democrática (MUDe) continuará a manter a resistência
contra o autoritarismo que se enraíza na universidade; se prevalecer na escolha
da comunidade, o movimento manterá sua organização para implementar as
propostas de democratização da UFMA.
Por isso, a
candidatura do MUDe, do professor Antonio Gonçalves (do curso de Medicina) – e
da professora Marise Marçalina (do curso de Pedagogia), candidata à
vice-reitora – é, ao mesmo tempo, uma continuidade e um avanço em relação às
candidaturas anteriores, dos docentes Sirliane Paiva, Cláudia Durans, Francisco Gonçalves,
Maria Ozanira, Antonio Rafael, Raimundo Palhano e UFMA 2000.
Continua,
pois é fruto da resistência que essas candidaturas anteriores demarcaram na
luta pela Universidade pública, gratuita, de qualidade, referenciada
socialmente.
Avança
porque não se encerrará no dia da eleição a organização do movimento que a
lançou. Avança por ser, mais do que nunca, um projeto coletivo e não pessoal.
Avança por ter unificado, em torno do MUDe, um conjunto de forças bastante
diversas (de estudantes, técnicos e docentes petistas, do PSB e do PCdoB a
professores do PSOL, PSTU, PCB e pesquisadores que não são filiados a partido
algum) que, juntos, decidiram não se dobrar à falta de democracia que cresce na
UFMA.
Continuar o autoritarismo
ou mudar para democratizar a UFMA?
Eis
a questão a qual 18 mil alunos, 1.700 professores e 1.450 técnicos
administrativos em educação darão resposta no dia 27 de maio, o dia da consulta
à comunidade universitária sobre quem deve dirigir a UFMA pelos próximos quatro
anos.
À
comunidade universitária, a responsabilidade de seu voto para definir o destino
da UFMA no presente.
Ao
MUDe, a responsabilidade da defesa de um projeto de uma UFMA democrática, mas,
ao mesmo tempo, com a leveza da poesia do mais latino-americano de nossos
jornalistas e escritores defensores da utopia de um continente sem ditaduras,
sem exploração, Eduardo Galeano (1940-2015):
“A Utopia
está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe,
jamais alcançarei. Para que serve a Utopia? Serve para isso: para que eu não
deixe de caminhar”.
Uma
eleição a reitor serve ao MUDe para isso: para manter a utopia de uma
universidade democrática, plural, pública, gratuita; serve para não ficarmos
parados ante o avanço do autoritarismo, do conservadorismo; serve, sobretudo,
para manter acesa a utopia da luta pela Democracia – na UFMA e fora dela!
(*) Franklin
Douglas - jornalista e
professor, doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve ao Jornal Pequeno
aos domingos, quinzenalmente. Publicado na edição de 19/04/2015, opinião.
