quarta-feira, 29 de julho de 2015

O MARANHÃO NO MESMO RUMO



Franklin Douglas (*) 

A levar a sério a sugestão do ex-governador José Reinaldo (PSB), que propôs um “Pacto pelo Desenvolvimento do Maranhão”, unindo o governador Flávio Dino (PCdoB) e o oligarca decadente José Sarney (PMDB), estaremos diante daquele acordão no qual o povo entra com a cabeça e a elite dominante entra com a guilhotina!
Desenvolvimento tornou-se uma daquelas palavras mágicas que dão conta de tudo e de todos os problemas, menos da realidade!
No Brasil, inventou-se até um conceito que só existiu nas teses dos ideólogos do lulismo: o novo-desenvolvimentismo (neodesenvolvimentismo), criado por Luís Carlos Bresser-Pereira, em artigo “O novo desenvolvimentismo” (Folha de São Paulo, 19/09/2004). Com o novo-desenvolvimentismo, o pai do neoliberalismo brasileiro e autor do Plano Diretor da Reforma do Estado (1995), “dourou a pílula” da continuidade do projeto neoliberal no Brasil.
No novo-desenvolvimentismo, por exemplo:
(i) as privatizações neoliberais tucanas transformaram-se, sob o petismo, nas concessões e parcerias público-privadas;
(ii) o desmonte do serviço público, principalmente nas áreas de saúde e educação, feito pelo PSDB, avança para as terceirizações petistas via OSCIP´s, organizações sociais e empresas do tipo EBSERH;
(iii) a reforma da previdência, iniciada por FHC, foi concluída por Lula.
Do neoliberalismo tucano ao social-liberalismo petista, tudo foi feito sob a justificativa de um prometido desenvolvimento para o país.
No Maranhão, o projeto desenvolvimentista nacional foi praticamente reproduzido ipse literes.
(1) De 1994 a 2002, a governadora Roseana Sarney, com suas gerências e privatizações, repetiu as políticas do governo Fernando Henrique;
(2) De 2003 a 2006, José Reinaldo Tavares, com seu Programa de Combate à Pobreza, financiado a partir de empréstimo junto ao Banco Mundial, buscou repetir Lula da Silva, mesmo enfrentando permanente sabotagem do então presidente do Senado, José Sarney, que, por exemplo, vetava até a vinda de ministros do Governo Federal ao Maranhão;
(3) De 2007 a 2009, Jackson Lago, cujo secretário de Planejamento, Aziz Santos, num momento de “sincericídio”, declarou que a Frente de Libertação chegara ao governo sem um projeto para o Maranhão, sequer conseguiu repetir as políticas do governo Lula, pois teve seu governo interrompido por um golpe via judiciário;
(4) De 2009 a 2014, a Governadora Sarney replicou as políticas dos governos Lula e Dilma, inclusive com as mesmas secretarias de Estado para reproduzir os mesmos programas dos quase 40 ministérios do Governo Federal.
Em nome do desenvolvimento, todos os Governadores do Estado implementaram as mesmas políticas do Governo Federal. E nesses 20 anos, o Maranhão cresceu tal qual o rabo do cavalo!
Qual concepção de desenvolvimento para o Maranhão pactuariam José Sarney, José Reinaldo e Flávio Dino?
A da refinaria da Petrobrás, promessa do Lula, apoiada pelos três, que nunca saiu do papel? A dos projetos mínero-metalúrgicos, que financia a campanha dos três, exporta alumínio e ferro para o mundo, mas não fabrica uma panela no Maranhão? A da monocultura de soja, também incentivada pelos três, que serve à suinocultura europeia, mas não alimenta nenhum maranhense?
Um pacto pelo desenvolvimento do Maranhão, que não leve em conta os interesses do povo maranhense, é como a lógica expressa na máxima lampedusiana, registrada em O Leopardo (1974), segundo a qual “se quisermos que tudo fique como está é preciso que tudo mude”!!
Ou seja, um pacto sarno-dinista pelo desenvolvimento do Maranhão pode até servir para uma recomposição intra-0ligárquica e um reposicionamento das forças conservadoras no condomínio do governo do PCdoB/PSDB, mas, certamente, não serve para a superação das históricas desigualdades econômicas e políticas em nosso estado.
E, dessa forma, os maranhenses até mudam de governo, mas o Maranhão permanece no mesmo rumo!



(*)  Franklin Douglas - jornalista e professor, doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve ao Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Publicado na edição de 26/07/2015, opinião.

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