Artigo publicado no Jornal Pequeno, 10 fev. 2022, p. 11 |
Franklin
Douglas (*)
Há 112 anos nascia Maria Aragão. Às novíssimas gerações que vivem sob a
lógica do imediatismo segundo o qual “A melhor banda de todos os
tempos [é a banda] da última semana” (Titãs, 2001), lembrar do nascimento de Maria é um exercício pedagógico
a ser continuamente repetido, porque Maria foi uma mulher de seu tempo e para
além dele!
Maria afirmou sua condição feminina e negra, sem abstrair que o
patriarcado e a subalternidade imposta pela cor da pele emergiram a partir de
um modo de produção que se nutria da exploração do homem sobre outro homem, em
detrimento à igualdade entre os seres humanos.
Filha de Rosa Camargo Aragão, descendente de índio e português, analfabeta,
e Emílio Aragão, guarda-fios (à época, como se denominava o encarregado de
consertar os fios do telégrafo), negro – cuja mãe era uma africana advinda de
Cabinda–, Maria nasceu em Engenho Central (onde hoje é o município de Pindaré-Mirim).
Mas logo na infância viria para São Luís, por determinação da mãe em tornar
seus sete filhos “doutores”, formados. Enfrentou dificuldades muitas: fome,
pobreza, preconceitos...
Certa vez, registrou ela: “[...] Vivi desde os primeiros anos de minha
vida, este sinal, o sinal da fome” (HOLANDA, 2005, p. 24). Maria quase deixou, em 1939, o segundo ano do
curso de Medicina, porque estava doente por passar fome... Mas sabia que, em
definitivo, a fome só se vence pelas condições dignas trazidas pelo trabalho.
Destinada, mesmo com muita luta, a ser o máximo que uma maranhense do
início do século XX poderia alcançar, uma professora normalista, Maria almejou
ir além disso. Ela ousou sonhar em ser, também, médica. Num estado cuja
primeira Faculdade de Medicina só seria fundada em 1957, isso significava ir estudar
no Rio de Janeiro. Não era um sonho para uma mulher... Não era um sonho para
uma pobre... Mas assim fez: seguiu seu sonho, partindo para o Rio, em 1935.
Com muito sacrifício – enfrentou a desnutrição, a pobreza, a falta de
recursos –, Maria foi uma poucas médicas na turma graduada em 12 de novembro de
1942.
Já formada – após alguns trabalhos no Rio –, Maria volta a São Luís, em
1945. Vive de suas consultas aos setores populares da cidade. Vinculada a Luís
Carlos Prestes e dirigente do PCB, não seria nada fácil arranjar emprego àquela
que, comunista, receberia a alcunha de “besta-fera” (e prostituta), por parte
de um padre de Pedreiras, quando visitava o município para fazer uma reportagem
sobre o conflito de terra na região, em 1946. Às vezes, o que recebia, gastava
tudo em remédios que dava a seus pacientes. Só conseguiu seu primeiro emprego
em 1970, na Liga Maranhense de Combate ao Câncer, atual Hospital Aldenora Belo.
Em seguida, no Centro de Saúde do Bairro do Anil. Aqui, sua plena convicção de
que somente um estruturado serviço público e gratuito poderia ser útil à saúde
do povo. (ARAÚJO, 2014).
NO
MARCO DE SEUS 112 ANOS DE NASCIMENTO, A LUTA DE MARIA ARAGÃO CONTINUA
ATUALÍSSIMA!!!
É atual a luta da Maria Aragão,
mulher, negra, no país no qual o racismo estrutural persiste, o feminicídio
alastra-se e a mulher é menosprezada em seu protagonismo na sociedade!
É atual a luta da Maria Aragão
contra a fome, num país que voltou ao mapa mundial da fome!
É atual a luta da Maria Aragão,
médica, no país que uma pandemia matou mais de 634 mil pessoas, por um sistema
de saúde pública!
É atual a luta da Maria Aragão
por um Maranhão sem desigualdades, sem oligarquias, sem a violência na luta
pela terra.
VIVA
FOSSE, MARIA CONTINUARIA A LEVANTAR BEM ALTO A BANDEIRA DO SOCIALISMO,
sobretudo nestes tempos de barbárie!
Viva Maria! Viva a atualidade de
sua luta. Viva o acerto de suas escolhas. Que as novíssimas gerações nunca
deixem a memória dessa mulher potente desaparecer da História do Maranhão!
Um comentário:
Viva Marias! Ótimo texto! 👏👏👏👏
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