Franklin Douglas (*)
Há uma propensão a comparar esta eleição de 2022 com a de 1989. As
imensas mobilizações deste segundo turno pela campanha petista e o clipe dos
artistas cantando a versão atual do histórico jingle “Lula lá”, então, são aproximações
quase irresistíveis entre os dois momentos.
Igualmente, equiparar 2022 a 2002 é outra predisposição que emerge. A
votação de 52 milhões de votos no primeiro turno e a liderança, em todas as
pesquisas, com vantagem acima da margem de erro, contribui muito para essa
analogia.
Mas não é nem uma coisa, nem outra!
E muito menos 2022 é uma mescla de 1989 com 2002.
Não estamos em uma eleição que resulta do acúmulo de forças das teses
progressistas e mobilizações que juntaram tão amplos contingentes e gerações, embora
eleitoralmente derrotados por Collor de Mello.
Também não estamos sob um pleito com vitória assegurada por uma aliança
operário-patrão (Lula-José Alencar), com as garantias de uma “Carta ao Povo
brasileiro”, em que a vertente socialdemocrata desenvolvimentista derrotaria a
outra, subjugada ao neoliberalismo.
A rigor, para 14% dos mais de 156 milhões de eleitores e eleitoras,
essas referências inexistem em suas memórias. São 35 milhões de jovens eleitores,
com até 24 anos de idade, que nem eram nascidos em 1989 e, em 2002, mal
engatinhavam.
ESTA É UMA ELEIÇÃO
INIGUALÁVEL!
De um lado, um campo democrata da centro-direita à extrema-esquerda,
reunindo os ícones da disputa dos últimos 28 anos, Lula e Alckmin, com o apoio
de Fernando Henrique Cardoso e José Serra, até MST e PSTU – para ficarmos nos
símbolos mais marcantes. Do outro lado, uma extrema-direita conservadora e
reacionária, que quer girar a roda da história para trás.
Mais do que uma eleição sob a preponderância das redes sociais,
trata-se de uma disputa cujas armas possibilitaram os ratos saírem dos esgotos.
O que Sebastião Jorge, em sua pesquisa sobre os pasquins dos anos 1800 no
Maranhão, identificava como impropérios e difamações entre um agrupamento
político e outro, em panfletos distribuídos à noite e madrugada pelas casas de
São Luís, saltaram, agora, para a propaganda eleitoral na televisão e no rádio,
em plena luz do dia.
Estamos frente à eleição que decidirá a formatação mais do que de nosso
Estado Democrático de Direito. Definirá as condições de vida e liberdade das
próximas gerações, dos atuais jovens de 24 anos aos seus filhos.
Estamos diante de uma terceira onda conservadora no Brasil, como alerta
o historiador Sidney Chalhoub: a primeira, no século 19, quando da abolição da
escravidão (1888). A reação foi o golpe militar na monarquia, um ano depois, 1889;
na segunda metade do século 20, a segunda onda, o golpe militar de 1964 ante a
possibilidade de ampliação dos direitos dos trabalhadores urbanos aos rurais e
as Reformas de Base de João Goulart. A terceira onda materializa-se na repulsa
aos direitos conquistados na Constituição de 1988 e na inserção de setores da
classe trabalhadora no campo das políticas públicas que possibilitem vida digna
e de oportunidades. Essa onda se iniciou com o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e
dela emergiu um campo antidemocrático, neofascista, autoritário, anticientífico
e ideologicamente doentio.
Barrar essa onda é o nosso maior desafio nesta eleição de 2022. E,
ainda, não basta vencer o pleito, tem que ocupar as ruas para garantir o
resultado e a posse. E não somente a posse, mobilizar para enfrentar o campo da
extrema-direita que não cessará no dia 30 de outubro. Mais do que nunca, esta é
uma luta que continua.
Vencer com Lula é a condição sine qua non para assegurar a Democracia
brasileira. Com amor e esperança,
derrotar o ódio e a barbárie, este é o nosso dever nesta que é a eleição de
nossas vidas!
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