Franklin Douglas (*)
Há
nove anos, repercutíamos aqui nas páginas do Jornal Pequeno a palestra de
Marcio Pochmann em São Luís. O professor da Unicamp (SP) lançava em terras
maranhenses o seu livro “Os ricos do Brasil”.
No
artigo “Os ricos do Maranhão”, registrávamos:
“Se os pobres são alvo de estudos e mais
estudos, o professor paulista nos alerta que os ricos são pouco pesquisados e
se escondem no Brasil (não só dos cientistas, mas também da Receita Federal!).
Trata-se de 1 milhão 162 mil 164 famílias brasileiras, de um total de 51
milhões, que concentram 75% da renda do País, percebem R$ 23 mil mensais, estão
nos altos cargos do setor privado (40,7%) ou são patrões (28,5%) e se encontram
principalmente na região sudeste (78% lá residem). Têm nível superior (67%),
mas há ricos analfabetos (4%) – pasmem!”
(Jornal Pequeno, 06/07/2004, p. 02).
E
sobre os ricos maranhenses, frisávamos:
“E no Maranhão, onde estão os
ricos? No mesmo lugar dos ricos do Brasil: pertinho, mas bem longe dos pobres.
No nosso Estado pobre e
agrário, revela Márcio Pochmann, os maranhenses ricos se concentram em São
Luís. Aqui estão 58% dos ricos do Maranhão. São 3.300 famílias na ilha, das
5.722 do Estado. Têm renda 20 vezes maior do que a média dos maranhenses (...).
Estes
2,9% de ricos – entre os mais de seis milhões de maranhenses – também estão
envoltos no ciclo da financeirização da economia brasileira, mas bem que
Pochmann poderia também pesquisar se não vivem dos cofres públicos das
prefeituras do interior do Estado (...)”
(Jornal Pequeno, 06/07/2004, p. 02).
Passada quase uma década, o que
mudou nesse quadro? Muito pouco. A concentração de renda no Maranhão não se alterou
significativamente. Mas algo conseguiu piorar: o cinismo de "nossa"
elite política! Vejamos três casos.
A prisão de Aldenir Santana (PDT),
ex-prefeito de Urbano Santos. Santana foi daqueles políticos da oposição no
município que se projetou denunciando o oligarca local, Abnadab Leda, que além
de saquear os cofres públicos, e por isso teve seu mandato cassado pelo TSE,
também foi flagrado fazendo campanha para a atual governadora usando uma
ambulância do município. Pois bem, o pedetista Aldenir Santana foi preso pelos
mesmo crimes praticados por seu oponente... desvio de recursos públicos. Até
jóias chegou comprar com cheques da prefeitura de Urbano Santos...
Mas o cinismo é crescente, quando
se trata do uso privado dos recursos públicos. Veja as declarações do deputado
estadual Manoel Ribeiro (PTB), repercutida nos telejornais da Rede Globo e TV
Mirante, ao auxílio moradia aos deputados estaduais: "... mas é claro que
preciso do auxílio moradia. Tenho 18 casas no interior e 7 aqui na capital,
tenho que cuidar de todas". Semelhante auxílio moradia foi derrubado na
justiça paulista pelo Ministério Público de São Paulo. E aqui, o MP não vai
fazer nada?
Mas pasmem, cara leitora, caro
leitor, ainda tem mais. Em matéria de cinismo, "nossa" elite é
insuperável! Veja a governadora Sarney.
Roseana Sarney pertence a uma
família cuja fortuna visível já foi avaliada em 125 milhões de reais (Revista Veja - edição 1.742,
de 17/03/2002). Certamente, de lá para cá, o patrimônio já evoluiu bastante.
Dentre seus bens declarados, Roseana possui: mansão no Calhau, imóveis em
Brasília, Rio de Janeiro, São Luís e Paço do Lumiar, milhares de reais
distribuídos em contas bancárias, participações em empreendimentos diversos, sociedade
em gráfica, rádios e emissora de televisão, etc. Roseana se encontra no ponto
mais alto do topo de pirâmide social do miserável estado do Maranhão.
Além de ser muito, muito rica, Roseana
Sarney recebe R$ 15.409,95 mensais de salário para o exercer o mandato de
governadora do Maranhão. Não tem gastos com alimentação, combustível,
empregados domésticos, possui duas residências oficiais custeadas pelos cofres
públicos: não paga água, luz, telefone, segurança, etc.
E com toda essa fortuna pessoal,
o que fez a governadora? Pediu aposentadoria, mas não solte foguetes, não se
aposentou da política; Roseana pediu aposentadoria como servidora do Senado
Federal!
Isso mesmo! Sem nunca ter
prestado um concurso público na vida, ela entrou pela janela, no "trem da
alegria" do Senado em 1974 e, após ter trabalhado efetivamente somente de
1982 a 1985 no serviço público, nossa representante máxima da elite política
maranhense perceberá uma aposentadoria vitalícia de R$ 23, 8 mil mensais. É ou
não é cúmulo do cinismo, ante um Maranhão tão pobre e cheio de miseráveis?
Certa vez, perguntado por alguns
alunos o que era o burguês, resolvi responder tal como vi na palestra do Prof.
Jun Moo Sung (da Universidade Metodista de São Paulo):
- se vocês ganhassem 50 milhões
de reais, o que faria com esse dinheiro? perguntei aos alunos;
Muitos responderam:
- ajudaria a família, viajaria o
mundo, doaria uma parte a crianças abandonadas, instituições de caridade, ajudaria
um amigo muito doente etc...
A resposta de um burguês seria
esta, disse-lhes:
- usaria os 50 milhões para
ganhar mais 50 milhões para, depois, ganhar mais 50 milhões!
Eis a lógica do burguês: acumular,
acumular e acumular, ainda que isso custe a miséria e a pobreza de muitos.
Aldenir Santana, Manoel Ribeiro,
Roseana Sarney, oligarquia... são a mais autêntica expressão de como se
comporta nossa elite. Como diz aquela personagem do programa humorístico Zorra
Total: é a cara da riqueza!! Só não
leva dez centarros... é tudo em milhões!
(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 21/04/2013, p. 12)
2 comentários:
Muito bom artigo meu caro Franklin. Parabéns!
Obrigado, caro Arnaldo. Abraços.
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