sexta-feira, 15 de março de 2019

MARIELLE VIVE!





Franklin Douglas (*)

Três perguntas não calam, desde o dia 14 de março de 2018:

Primeira – quem matou Marielle?

Segunda – quem mandou matar Marielle?

Terceira – quem acoberta os que mandaram matar Marielle?

Marielle era a síntese das classes subalternas que ousam não se calar.

Era negra, tal qual cerca de 17 milhões da população brasileira que assim se autodeclararam na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2017, divulgada pelo IBGE (PNAD Contínua 2017-IBGE) – precisos 8,6% dos brasileiros.

Era mulher, como a maioria da população do país, 51,6% (PNAD Contínua 2017-IBGE) – quase 107 milhões de mulheres.

Era da periferia, assim como significativa parte da população que reside em domicílios que têm dificuldades de acesso à água diariamente, de ligação com esgotamento sanitário, de coleta de lixo. Território onde juventudes estão sob a ameaça da violência, do tráfico de drogas, de milícias, da falta de escola e postos de saúde.

Por isso a vereadora do PSOL do Rio de Janeiro, em apenas um ano e meio de mandato, projetou-se como símbolo da luta antirracista, antimachista, por direitos de LGBTI´s, de jovens e da população da periferia. Foi, como diz o samba-enredo da vitoriosa Mangueira no carnaval deste 2019, a vez em que o Brasil passou a ouvir “Marias, Marielles e Malês”, pois trazia consigo “a história que a história não conta”.

Marielle ousou enfrentar os poderosos que se entranham no Estado e tratam a coisa pública como privada. Ousou ser uma voz de muitas e de muitos. Sua dureza na denúncia das mazelas sociais não se sobrepunha a sua ternura na forma de ver e encarar a vida.

Calar Marielle, assassinando-a, foi premeditadamente um crime para intimidar lutadores sociais, amedrontar os que vêm debaixo e exigem participar da cena pública como sujeitos de seu destino.

Os que a mataram, os que mandaram matá-la e os que acobertam os que mandaram matar Marielle falharam!

Foi-se a Marielle Franco no dia 14 de março de 2018, emergiram milhares de Marielles no dia seguinte! Vozes que gritam bem alto e exigem respostas para as três perguntas que continuarão sendo ecoadas enquanto o crime não for por completo elucidado: quem matou, quem mandou matar e quem acoberta quem mandou matar?

Uma CPI das Milícias, no Congresso Nacional, é urgente para buscar essas respostas. Todas as investigações, um ano depois, não avançam para jogar luz sobre os vínculos das milícias cariocas com o assassinato de Marielle. Só uma avalanche de assinaturas e mensagens junto aos parlamentares federais poderá garantir que essa CPI seja criada. Essa é uma movimentação a ser feita por aqueles e por aquelas que não deixam a voz de Marielle calar: exigir uma CPI das Milícias, já!

Tentaram calar uma voz, mas acordaram milhares! Não vamos deixar. MARIELE VIVE!!



(*) Franklin Douglas – professor e doutor em Políticas Públicas. E-mail: franklin.artigos@gmail.com

Um comentário:

João de Deus Castro disse...

Magnífico!