domingo, 13 de julho de 2014

SETE TESES EQUIVOCADAS SOBRE A COPA E A BOLA CHEIA DO BAIXINHO



Franklin Douglas (*) 


Estão por volta de sete as teses equivocadas que foram proliferadas sobre a Copa do Mundo no Brasil. As quais:
1ª tese equivocada – NÃO VAI TER COPA. Máxima autoritária e complemente distante da identificação do povo brasileiro com o futebol. Evidente que não ganharia as massas para colocá-las em movimento. Mesmo as palavras de ordem com elaboração mais realista (“Na Copa vai ter luta” e “Torcer pelo Brasil no campo e nas ruas”) foram incapazes de reacender o fogo das manifestações de Junho de 2013.
2ª tese equivocada – DILMA COMPROU A COPA. A derrota humilhante para a Alemanha deixou essa tese tão inacreditável quanto o chocolate de sete a um que a seleção tomou.
3ª tese equivocada – DILMA VENDEU A COPA. Se a tese anterior era absurda, aos autores dela não há limites, inventa-se o seu inverso, ainda que seja também tão absurda quanto. Afinal, o que ganharia a Dilma, às vésperas de uma eleição, para vender a Copa?
4ª tese equivocada – AS OBRAS SERÃO O LEGADO DA COPA. O torneio finda, mas as obras ficam... quais obras, cara pálida? O que ficam são estruturas superfaturadas e outras tantas inacabadas, cuja conclusão será devidamente “aditada” a fim de ser terminada, quiça, até as Olimpíadas de 2016, no Rio, pois nas demais cidades, elas se arrastarão indefinidamente e nada de metrô, viadutos, aeroportos, etc. Ou tudo isso, mas pela metade.
5ª tese equivocada – A COPA DA PÁTRIA DE CHUTEIRAS. A mais ilusória das teses. A Copa não é do governo, muito menos do país ou da pátria. A Copa pertence à FIFA, uma entidade privada, sem controle público algum e dirigida por cartolas que estão mais interessados nos negócios milionários gerados pelo evento do que na saúde dos atletas ou na qualidade do futebol.
6ª tese equivocada – A COPA DAS COPAS. Afora os jogos emocionantes e os resultados inacreditáveis em algumas das partidas, a Copa de 2014 não marcará o futebol mundial como a melhor da História. E ficará muito longe do cenário desenhado pelo ex-presidente Lula da Silva que disse que esta seria “uma copa para argentino nenhum botar defeito”... talvez, realmente, só os argentinos terão muito a agradecer por este mundial organizado para eles no Brasil.
7ª tese equivocada – SÓ TEM “COXINHA” NA TORCIDA DOS ESTÁDIOS. Eis o motivo da vaia à Dilma. Se é verdade que nas “arenas” não havia “povão”, também é verídico que lá estava, ainda que em menor quantidade, aquela “nova classe média” propagandeada pelo lulo-petismo. Que comprou seus ingressos a R$ 60,00, nos primeiros lotes colocados à venda, e passagens nas diversas promoções das companhias aéreas. E que também, em boa parte, vaiou sim a Dilma, mesmo que fazendo coro aos que lucram pesadamente com o governo do PT-PMDB, como atores globais e classe alta do país.
Essa é a lógica de sustentação do governo: uma demanda com significativo apoio na sociedade; forte financiamento com fundos públicos a um programa governamental voltado a essa demanda; acertos com o grande capital envolvido na execução do programa; um bem montado esquema subterrâneo de captação de financiamento “impróprio” ao partido à frente do ministério que executa o programa; e um pouco de participação, devidamente remunerada, de entidades sociais da base do governo para fazer o “controle social” do programa...
E, ainda assim, os setores abastados pelas benesses do governo vaia o governo que os financia, que ganha repercussão pela situação social gritante que passa o povo brasileiro, que já não tinha educação, saúde e transporte de qualidade, e agora ficou sem o reinado do futebol.
Mas deixo essas sete teses equivocadas proliferadas sobre a Copa para registrar a melhor das críticas sobre esta “Copa das Copas”. Com a palavra o tetracampeão Romário:
(...) Fora de campo, já perdemos a Copa de goleada!
Nosso futebol vem se deteriorando há anos, sendo sugado por cartolas que não têm talento para fazer sequer uma embaixadinha. Ficam dos seus camarotes de luxo nos estádios brindando os milhões que entram em suas contas. Um bando de ladrões, corruptos e quadrilheiros!
Estou há quatro anos pregando no deserto sobre os problemas da Confederação Brasileira de Futebol, uma instituição corrupta gerindo um patrimônio de altíssimo valor de mercado, usando nosso hino, nossa bandeira, nossas cores e, o mais importante, nosso material humano, nossos jogadores. Porque não se iludam, futebol é negócio, business, entretenimento e move rios de dinheiro. Nunca tive o apoio da presidenta do País, Dilma Rousseff, ou do ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Que todos saibam: já pedi várias vezes uma intervenção política do Governo Federal no nosso futebol.
Em 2012, eu apresentei um pedido de CPI da CBF, baseado em uma série de escândalos envolvendo a entidade, como o enriquecimento ilícito de dirigentes, corrupção, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e desvio de verba do patrocínio da empresa área TAM. O pedido está parado em alguma gaveta em Brasília há dois anos.
A corrupção da CBF tem raízes em todos os clubes brasileiros, vale lembrar que são as federações e clubes que elegem há anos o mesmo grupo de cartolas, com os mesmos métodos de gestão arcaicos e corruptos implementados por João Havelange e Ricardo Teixeira e mantidos por Marin e Del Nero [Romário só esqueceu de citar o eterno vice-presidente da CBF, também integrante dessa máfia por ele denunciada: Fernando Sarney].
Dilma tem sim que entregar a taça para outra seleção. Este gesto será o retrato do valor que ela deu ao nosso futebol nos últimos anos! Eles levarão a taça e nós ficaremos com nossos estádios superfaturados e nenhum legado material, porque imaterial, mostramos para o mundo que com toda nossa dificuldade, somos um povo feliz.”
É ou não é um craque esse baixinho, caro leitor, cara leitora?

Mesmo fora do campo, Romário continua jogando uma verdadeira bola cheia. Valeu por essa, peixe!


(*) Franklin Douglas -  jornalista e professor, doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve ao Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Publicado na edição de 13/7/2014, opinião - p. 03


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