terça-feira, 1 de julho de 2014

E sobre a apologia à exploração sexual infantil no eixo Maranhão-Ceará, o que têm a dizer Edinho e Flávio Dino? Gastão e Roberto Rocha?

Seis (Edinho) e Meia-dúzia (Dino):
Nada sobre a nota de PH...

O candidato do PSOL, Luís Antonio Pedrosa,  já se posicionou pela imediata investigação por parte do Ministério Público. Não só condenou a nota, como reafirmou seu compromisso com a política em defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes e contrário à exploração sexual e tráfico de pessoas, reforçando a denúncia feita pelo candidato do PSOL ao Senado, Haroldo Saboia (leia aqui e aqui).


Enquanto isso, nada se ouve do candidato da oligarquia, Lobão Filho (PMDB), e da oposição consentida, Flávio Dino (PCdoB). Nada dos candidatos ao Senado Gastão Vieira (PMDB), pela oligarquia, e Roberto Rocha (PSB), pela dissidência oligárquica.

O Senado Federal já foi protagonista de importante CPI sobre a exploração infantil, proposta pela, então, senadora cearense Patricia Gomes. Não é esse um tema para as candidaturas majoritárias (governador e senador) nas eleições maranhenses?


O debate já está além terras maranhenses. Repercute também no Ceará, através do artigo de Carolina Peters, na íntegra, abaixo:

OLIGARQUIA E PATRIARCADO

Diário Liberdade - Por Carolina Peters

Deu no O Estado do Maranhão, publicação ligada à família Sarney (foto).

sarna

Colunista do suplemento Revista PH publicou, em 29 de junho, a seguinte nota de canto de página:

"GAROTAS DE PROGRAMA – Um grupo de mulheres maranhenses, ainda cheirando a leite, encontra-se em Fortaleza desde o começo da Copa do Mundo. As jovens só voltarão a São Luís após o encerramento dos jogos e o retorno dos turistas aos lugares de origem. Notícias que chegam de Fortaleza dizem que elas estão super felizes com os dólares e euros amealhados em função da Copa."

Aos que estranham o léxico, "cheirando a leite" é isso mesmo que lembra: desmamadas. Em outras palavras, meninas. O Ceará é tragicamente um reconhecido destino de turismo sexual, no qual a exploração de menores tem notoriedade. Com o fluxo de turistas homens, brasileiros e estrangeiros, exacerbado pelo mundial de futebol; o fluxo de meninas e mulheres para suprir a demanda sexual (ou de poder sobre os corpos de outras?) destes também cresce. (E pensar que há quem defenda que o auxílio financeiro de terceiros para a locomoção de pessoas para o exercício da prostituição não tem nadica de nada a ver com o tráfico de pessoas e a exploração sexual, mas cada um que durma com sua fantasia acerca da liberdade que supostamente existe em trocar seu corpo por dinheiro para subsistir. Esse debate rende artigos a parte).

Um dos grandes livros da literatura portuguesa contemporânea, as Novas Cartas Portuguesas (1972), faz o resgate da quase mitológica soror Mariana Alcoforado, autora/protagonista das Cartas Portuguesas (séc. XVII), para discutir, no contexto do salazarismo, o papel da opressão às mulheres – em particular o cerceamento de sua sexualidade – na manutenção do regime autoritário e, no limite, da ordem capitalista que o viabilizou. Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa traçam com primor estético essa relação capitalismo-patriarcado, já estudada e teorizada por autoras de não-ficção, e a inevitabilidade da esquerda enfrentá-los de conjunto, caso realmente desejemos por fim ao capital.

Onde predomina um sistema de concentração do poder político e profunda desigualdade social, as mulheres são particularmente afetadas. Daí que um veiculo de comunicação a serviço da oligarquia local trate com tamanha naturalidade a exploração sexual de crianças e adolescentes. Dentro do coronelismo, o poder político se mantém com amparo do controle ideológico e econômico. Opera através da concentração da terra, da mídia, e do controle sobre o que está no âmbito do privado, das relações sociais que se sobrepõem às relações de trabalho, e controle também sobre a sexualidade das mulheres.

Este talvez seja um caso mais caricato, mas não foge ao que se expressa nos grandes centros. As meninas maranhenses a quem não se permite sonhar mais do que em ganhar dólares e, quem sabe, tirar a sorte grande e desposar um gringo, estão mais próximas das nossas meninas formadas pela Disney do que gostaria a classe média, embora distanciadas pelo abismo social que faz de umas princesas, outras putas. Em nossas metrópoles tão modernas, também a política é regida pelos interesses dos grandes grupos econômicos, a ver pela extensa lista de financiadores de campanhas recompensados com largas fatias do orçamento público. A grande mídia a serviço de grupos políticos e econômicos, que criminaliza os movimentos sociais e barra as opiniões divergentes é a mesma que representa as mulheres como objetos do desejo alheio, sem autonomia, e sem diversidade de cor, de credo, ou tipo físico.

A política não se faz somente no espaço público. Ela adentra nosso cotidiano e delimita em maior ou menor medida nossas possibilidades de ser para além dos rincões onde a literatura sociológica tipificou o Homem Cordial. Modificar profundamente o sistema político brasileiro, sem mexer na mídia monopolizada e estabelecer seu controle pela sociedade, é uma ilusão.

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Revisado às 12h34 de 2/7/2014.

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