Franklin Douglas (*)
No dia 10 de fevereiro de 2010,
escrevíamos neste Jornal Pequeno:
"Ela nasceu em 1910. Ele, em
1980. Ambos no dia 10 de fevereiro.
Ela passou para a História do
Maranhão como mulher, negra, médica, comunista, lutadora da causa socialista,
da emancipação proletária. Ele por ter implementado a mais eficaz estratégia
político-eleitoral da história da esquerda brasileira.
Os dois são fruto do século que o
historiador britânico Eric Hobsbawm denominou de 'A Era dos Extremos'. Tanto
uma quanto outro cresceram sob um lado, naquele bipolar mundo dividido entre
capitalismo/Estados Unidos versus socialismo/União Soviética: o lado do 'proletários
do mundo, uni-vos!' – como conclararam Karl Marx e Friedrich Engels.
Situavam-se, ela e ele, no campo dos-que-vivem-do-trabalho, como atualiza
Ricardo Antunes. Para ela, 'proletários'; para ele, 'trabalhadores'.
Ela assumidamente comunista; ele,
predominantemente socialista. Ela, prestista. Ele, operário (do ABC paulista) –
católico (das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja) – pluralmente marxista.
Ambos internacionalistas, pela autodeterminação dos povos da América Latina e
do 'terceiro mundo' e apaixonados pelos exitosos índices sociais da Cuba de
Fidel Castro.
Ela – no Sindicato dos Médicos –
e boa parte dos militantes dele, fundadores da CUT maranhense; entusiastas da
luta pela terra travada no campo pelos trabalhadores rurais liderados por
Manoel da Conceição, Vila Nova, FETAEMA e MST; referências de jovens
progressistas da Igreja católica e estudantes da UFMA e UEMA, encantados pelos
valores que seduziam a juventude defensora da sociedade alternativa. Os dois
percorriam o caminho rumo ao horizonte, para nele se encontrarem com a utopia. Se
não a encontravam, regozijavam-se nas feijoadas e encontros promovidos por ela,
pois, afinal, o que valia era estar em movimento e não ficar parado – como
poetizou Eduardo Galeano.
Ela combateu a Ditadura Militar
(1964-1985). Ele só existe por ser resultado do acúmulo de força desse embate
com o qual ela contribuiu. Ela e ele se encontraram nas Diretas-Já (1985), nas
emendas populares da Constituinte de 1988 e no segundo turno das eleições de
1989 contra Collor. Desencontraram-se quando ela, junto com Luís Carlos
Prestes, Haroldo Saboia, Euclides Moreira Neto, Aldionor Salgado e outros,
filiaram-se ao PDT de Leonel Brizola e Jackson Lago.
Ela tornou-se a mulher maranhense
do século XX por escolha de seus conterrâneos, ficando atrás de João do Vale.
Ou melhor, ao lado. Ele deslocou-se da esquerda radical e chega aos 30 anos
apontando para o centro. No Maranhão, fez o mesmo caminho. Preservando,
contudo, sua história de enfrentamento ao esquema oligárquico.
Em seu centenário de nascimento,
Maria Aragão mantém acesa para as novas gerações a chama da utopia de que 'um
outro mundo é possível'. Em sua terceira década de vida, caso sucumba à
formação social oligárquica que ousou desafiar, o Partido dos Trabalhadores
pode apagar – para si, seus militantes e simpatizantes – essa mesma utopia. A
história não o absolverá, como fez com Maria Aragão. Cem vezes viva a
Maria! Três vivas ao PT." (Os 100 anos de Maria Aragão e os 30 anos do PT:
encontros e desencontros, Jornal Pequeno - 10/02/2010, p. 02 - grifo nosso).
Naquele ano de 2010, na convenção
de junho, as bases do PT maranhense derrotaram a aliança com Roseana Sarney,
mas a intervenção nacional garantiu à oligarquia o partido e seu tempo de TV.
Ali, a estrela apagou-se para a transformação do Maranhão. Nem greve de fome de
Domingos Dutra, Manoel da Conceição e Terezinha Fernandes traria o velho PT de
volta. Metamorfoseou-se ao contrário, de borboleta regrediu a lagarta...
Neste ano de 2013, se viva fosse,
Maria chegaria a casa dos 103 anos. Na verdade, chega viva, vivíssima, pelos
sonhos e utopias que sua trajetória nos deixou. Já o PT maranhense, chega a uma
triste situação em seus 33 anos: em seu interior, concilia oligarquia e
oposição; consegue ter cargos em três governos sem ter qualquer projeto próprio
de poder: está no Governo Federal e no Governo Estadual pelas barras das saias de
Dilma e Roseana e na Administração Municipal pelas calças com barras curtas de
Holanda Júnior. Uma cobra de três cabeças que engoliu a utopia.
Para nossa alegria, graças a ela ainda
vale comemorar o 10 de fevereiro, porque
por ele...
Que sempre para nós tu vivas,
Maria Aragão!
(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 10/02/2013, p. 13)
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