segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Vais com Ronaldo ou vais com Romário?



A Folha de São Paulo perguntou aos ex-jogadores e campeões mundiais de futebol: O Brasil aproveitará o potencial da Copa?
A resposta do SIM veio em texto de Ronaldo, Fenômeno.
A resposta do NÃO veio em texto de Romário.

Leia abaixo, e defina seu lado: quem argumentou melhor, Ronaldo ou Romário?


Romário: Copa para inglês ver

O sucesso de uma Copa do Mundo de futebol vai muito além do que se vê. Arenas lotadas e jogos televisionados para o mundo todo representam apenas 10% desse grande espetáculo, que une povos e faz o planeta vibrar em torno de uma paixão.

Para um país, sediar uma Copa é uma oportunidade rara --a última no Brasil ocorreu há mais de 60 anos-- de estimular a economia, alavancar o turismo, melhorar a formação das pessoas, expandir e aperfeiçoar a infraestrutura, elevando-a a um novo patamar de acessibilidade.

Analisando esse conjunto de ações, é fácil chegar a uma conclusão: não, o Brasil não aproveitará todo o potencial da Copa.

Seria ingênuo imaginar que uma Copa resolveria todos os problemas de uma nação, mas também não é confortável constatar que o evento poderá aprofundar alguns deles. Assistimos na televisão a um comercial de cerveja que transforma esse sentimento de frustração do brasileiro em pessimismo. Mas não é pessimismo gratuito, é puro realismo de quem vive o dia a dia das grandes cidades. Sim, imaginem, durante a Copa, todos os nossos problemas estruturais agravados pelo fluxo de milhões de pessoas!

O pessimismo do brasileiro é calcado em fatos: a incapacidade dos gestores de planejar atrasou inúmeras obras e, por tabela, encareceu em alguns bilhões o custo do Mundial --R$ 3,5 bilhões, para ser mais preciso--, segundo o último levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU). Para se ter uma ideia do que se poderia fazer com esses bilhões excedentes, vamos fazer uma projeção.

Em 2010, o então presidente Lula anunciou a construção de 141 novas escolas federais de educação profissional ao custo total de R$ 1,1 bilhão. Os R$ 3,5 bilhões acrescidos ao valor total da Copa dariam, portanto, para construir quase 500 novas escolas técnicas no Brasil.
O excesso de gastos, no entanto, não é o pior dos cenários. O tão falado legado social para a população parece ter ficado só no papel. Quase todas as obras de transporte estão atrasadas, a inauguração de algumas, inclusive, já foi remarcada para somente depois do Mundial e outras foram canceladas.

Salvador foi a primeira cidade-sede a cancelar uma obra de mobilidade. A construção de um corredor de ônibus Bus Rapid Transport (BRT) foi riscada da lista de obras para 2014. Em seguida, Brasília cancelou a construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).

Há ainda os problemas de pouca visibilidade, mas grande impacto social, como as remoções involuntárias. O tema foi destaque no jornal "The New York Times", em março passado. O diário informou que 170 mil pessoas devem ser despejadas até a Copa do Mundo e a Olimpíada, para dar lugar a intervenções urbanas para os eventos. O problema é que as indenizações estão bem abaixo do valor de mercado e, quando são oferecidas moradias, as casas ficam a até 60 km de distância do local de origem.

Vale lembrar, ainda, a naturalidade com que os projetos das arenas desrespeitam a lei que exige 4% dos assentos para deficientes físicos e pessoas com mobilidade reduzida. Nos casos em que os projetos preveem reserva de vagas, elas se limitam à margem de 1%, mínimo exigido pela Fifa. Como se as decisões da Fifa fossem mais importantes que a legislação do país.

Depois de ter rodado o mundo inteiro e participado, in loco, de tantos mundiais, posso afirmar, com convicção, que um país só é bom para os turistas se, antes, for bom para o seu próprio povo.

Hoje, não consigo presumir nenhum problema que inviabilize o evento, mas tenho certeza de que os brasileiros ficarão decepcionados ao ver perdida mais uma ótima oportunidade de tornar este país um lugar melhor para se viver.
ROMÁRIO FARIA, 47, ex-jogador da seleção, tetra campeão mundial, é deputado federal (PSB-RJ) e membro da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados



Eu passei a minha carreira ouvindo que nós tínhamos o melhor futebol do mundo dentro de campo, mas que estávamos atrasados e ficávamos muito a dever fora dele. Pois é, isso já mudou. Nunca imaginei que, ao mesmo tempo em que nossa economia mostra força e o país cresce, a Europa e os Estados Unidos sofreriam com problemas econômicos.

Nunca pensei que teríamos - de uma só vez - uma discussão nacional para reformar aeroportos, melhorar a infraestrutura hoteleira, acelerar obras de mobilidade urbana e construir ou renovar 12 estádios com padrão de qualidade internacional.

Mas é isso que está acontecendo. Por causa da Copa do Mundo da Fifa. Isso já é legado e está por toda a parte. Mais trabalho para a população (só nos estádios, são quase 30 mil novos empregos), capacitação profissional, aceleração de obras públicas que talvez só acontecessem daqui a alguns anos, melhorias dos centros de treinamento (CT), entre tantos outros progressos.

Vejo isso nas visitas e na mídia. Mas, infelizmente, vejo também uma parte que prefere diminuir esse legado. Dizem que os estádios recebem dinheiro público. Verdade. Até porque a maioria deles pertence aos Estados. Mas isso é parte de um investimento que já traz frutos. 

Sem estádios não há Copa.

E sem Copa, como seria?

Li um estudo da Ernst&Young Terco mostrando que a movimentação econômica da Copa é cerca de cinco vezes maior do que todo o investimento público feito para o evento. Os números estão aí para quem ainda não viu.

Que me desculpem os que acham o contrário, mas não há crítica que me convença de que sediar a Copa não é um bom negócio. Basta ver a disputa que ela provoca entre os maiores países do mundo, incluindo aqueles que a sediaram recentemente. E o brasileiro sabe disso. Segundo uma pesquisa da Sponsorship Intelligence, 70% dos brasileiros têm orgulho de sediar a Copa e acreditam que ela terá um impacto positivo. Tenho certeza de que esses números serão ainda maiores depois do evento.

Não é uma questão de perguntar se conseguiremos ou não organizar o torneio, ou se dará certo ou não. A Copa do Mundo já está acontecendo. Os estádios são uma realidade. Seis deles estarão prontos e testados um ano antes da Copa começar.

A Copa já é uma realidade não apenas para os brasileiros. O entusiasmo dos estrangeiros com o torneio é enorme. Prova disso são os números de venda de ingressos e camarotes e das inscrições do programa de voluntários. Em apenas um mês, mais de 130 mil pessoas de 146 países se cadastraram no processo seletivo que vai definir a equipe de voluntários para a Copa das Confederações e para a Copa do Mundo.

Desde que comecei a viajar pelas 12 sedes pelo Comitê Organizador Local (COL), acompanhando a Fifa e o governo federal, quando nos encontramos com prefeitos e governadores, vejo o empenho de cada um em deixar um legado. Gostaria que todos pudessem ver o que eu vi.

Os trabalhadores da obra em Itaquera se alfabetizando, a alegria dos operários em Fortaleza ao receber simbolicamente um ingresso para a primeira partida da Copa no estádio que ajudaram a construir, o trabalhador que participou da construção da Fonte Nova original e agora a está reconstruindo em versão moderna e sustentável, comparável às melhores arenas europeias.

Mas o maior legado da Copa do Mundo nem sequer pode ser medido. A Copa pode botar o Brasil de vez no mapa dos grandes destinos. Vai mexer com a autoestima dos brasileiros, vai trazer uma mudança de mentalidade, não para que as pessoas acreditem que é possível fazer o que parecia exclusividade de outros países. Mas para que percebam que nós já fazemos isso e não nos damos conta. Vamos deixar a ficha cair. Podemos, sim, organizar a Copa. Sim, ela é boa para o Brasil e para os brasileiros.

E a Copa das Confederações em junho é a primeira oportunidade de dar uma ótima impressão do Brasil para que a Copa do Mundo seja um convite irrecusável. Para deixar todos com a sensação de que, se o teste já foi bom, imagina na Copa.
RONALDO NAZÁRIO, 36, ex-jogador, é membro do Comitê Organizador Local (COL)

Um comentário:

Unknown disse...

Banqueiro Joseph Safra, que tomou Terras da União em São Luís, passa de Eike Batista

http://evandeandrade7.blogspot.com.br/2013/02/banqueiro-joseph-safra-que-tomou-terras.html