domingo, 14 de abril de 2013

TEMPO DE DIZER NÃO!


Franklin Douglas (*) 

Cheio de sofismas o debate acerca de quem tem e quem não tem um projeto para o Maranhão. A síntese mais capciosa é a que nivela a discussão ao entendimento de que o único projeto que importa ao povo é a superação da oligarquia e o atraso que ela traz ao Maranhão e nada mais... é a máxima do debate sem debate!
Debate sem ideias que advém de dois elementos: um engano e uma estratégia requintada. Dizer que a oligarquia não tem projeto é erro de análise que, certamente, conduz a uma ação política equivocada. Do outro lado, dizer que a oposição (consentida) não tem projeto é uma assertiva ardilosa no intuito de não deixar transparecer que ambos possuem os mesmos pressupostos. E, ante a percepção de que homines sunt ejusdem farinae ('são todos da mesma farinha'), evitar que a opção se dê pela farinha empacotada em saco mais novo!
Um projeto de sociedade requer apresentar uma visão sobre o mundo: o local não está desconectado do global; reclama uma concepção econômica; exige uma opção pelo tipo de Homem que se quer emancipar (ou não) nessa sociedade, em suas múltiplas dimensões (ética, política, cultural, religiosa, social etc). Disso resultam as políticas públicas nas diversas áreas: educacional, de saúde, trabalho, ambiental, cultural, de direitos humanos, de participação popular, agrária e agrícola, dentre outras. Um projeto de sociedade é mais do que a conquista do poder e sua manutenção por um grupo político. E muito mais do que tirá-lo do poder: Benedito Leite foi superado por Urbano Santos, que foi superado por Vitorino Freire, que foi superado por José Sarney... acaso o Maranhão modificou-se nesses últimos 124 anos?
Por isso erra quem diz que a oligarquia não tem projeto. Como não, se há 49 anos exerce seu domínio sobre o Maranhão?
Um projeto de sociedade nem sempre está explicitado, registrado num programa de governo. Eis o pulo do gato da oligarquia: ela sempre dá um jeito de camuflar o seu real projeto. De sua vinculação aos grandes grupos econômicos transnacionais (Alcoa), forças políticas internacionais (Partido Republicano dos Estados Unidos) e grupos financeiros é que derivam (1) sua opção econômica (neo)liberal, (2) sua concepção do maranhense subjugado a seu mando pela insuficiência educacional, pobreza e dependência econômica à política do favor, do clientelismo, (3) seu modelo de desenvolvimento baseado no enclave minério-ferrovia-porto (nos últimos anos também soja-rodovia-porto), que limita o Maranhão a um estado primário-exportador. Analfabetismo, sistema de saúde débil, desemprego, devastação ambiental de nossos recursos naturais, rios e ecossistemas, crime organizado e violência etc., tudo isso é consequência, não é causa de nosso sistema político.
Por ser sujeito ativo do projeto de sociedade predominante no Brasil é que o sarneismo atravessou a Ditadura Militar, alcançou inclusive a Presidência da República, e se instalou, pós-redemocratização, em todos os governos civis (Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma), até ser ponto de apoio central no lulo-peemedebê-petismo. Sarney só errou quando disse que a classe dominante precisava entender que Lula era o gargalo pelo qual o Brasil precisava passar; ele não imaginou que a conversão petista seria tamanha ao projeto de sua classe.
Esse é o debate que ser que escamotear, pois, se se explicitam tais variáveis, resta perguntar: o que une PCdoB de Flávio Dino, 'resistência' petista, clã dos Rocha e família Coutinho filiados ao PSB, PDT de Weverton Rocha e PTC da família Holanda? Como unificar, sob o mesmo projeto, agronegócio e reforma agrária? fichas-sujas e gente honesta? gestão patrimonialista e gestão participativa da coisa pública? O que os diferencia do PMDB de Roseana, Lobão, Sarney e Luís Fernando? Todos apoiadores do mesmo modelo de desenvolvimento posto em prática pelo governo federal...
Eis onde entra a astúcia da oligarquia ao afirmar que essa oposição não tem projeto. Precisa dizer que não tem para que ambos, oligarquia e oposição consentida, não disputem sob o mesmo campo de ideias. Evita, assim, que essa oposição possa vencer, pois, em aparência, a novidade tende a prevalecer diante do velho esquema, ainda que, em essência, trate-se da disputa entre o velho esquema original e sua dissidência, ainda que este sob uma nova liderança. Por isso se trata de uma oposição consentida, permitida, autorizada, uma vez que aceita as regras do jogo impostas pela oligarquia - e, por conseguinte, parte dessa oposição pode, a qualquer tempo, ser cooptada, neutralizada ou reincorporada ao grupo, seja via 'instrumentos' locais, seja sob articulações via Planalto e direções partidárias nacionais.
Por isso à oligarquia e à oposição consentida interessam o debate sem debate. Analise você mesmo, cara leitora, caro leitor, alguns casos concretos:
a) o que têm a dizer Luís Fernando ou Lobão, pré-candidatos da oligarquia ao governo do Maranhão, em 2014, e Flávio Dino, pré-candidato da oposição consentida, sobre o modelo de desenvolvimento maranhense capitaneado pelo tripé monocultura da soja/mínero-metalúrgico Alumar e Vale/energético Refinaria Petrobras e Termelétrica Eike Batista?
b) o que pensam sobre o 'caso do mensalão'? Ou sobre a eleição de Renan Calheiros à Presidência do Senado Federal?
c) E, para não desviar o assunto para a polêmica 'Marco Feliciano x direitos humanos' (sobre a qual não se sabe a opinião de nenhum dos três), se fossem chamados a votar no plebiscito acerca da privatização dos Hospitais Universitários, que se inicia nacionalmente esta semana nas universidades federais, como se posicionariam Luís Fernando, Lobão e Flávio Dino? Votariam à favor ou contra a privatização do Hospital Presidente Dutra e Materno Infantil?
Ante a política do 'sim' ou do 'sim, senhor', cara leitora, caro leitor, ainda é possível abrir a mente e pensar que também pode ser tempo de dizer não! Tempo de (re)organizar um projeto do povo, com o povo e para o povo maranhense; um projeto antagônico, coerente e verdadeiramente emancipador. Do contrário, em 2014, pode-se até derrotar o Sarney, mas não se derrotará o sarneismo no Maranhão.


(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos,  quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno  (edição 07/04/2013, p. 12)

Um comentário:

Anônimo disse...

Quem fala pelo povo é o Haroldo ? Mas ele nem fala com povo !