segunda-feira, 31 de março de 2014

SÃO LUÍS PAROU DE NOVO!



Franklin Douglas (*) 
Na última sexta-feira (21/03/2014), das 8 às 15 horas, o trânsito praticamente não fluiu no Centro da cidade, travando as duas pontes de acesso a ele (São Francisco e Bandeira Tribuzi) e suas principais ruas.
Aturdidos, radialistas e metidos a tais, transmitindo diretamente do foco do conflito, reversavam-se, salvo raras exceções, entre má-fé e desinformação aos seus ouvintes no AM: eram “vândalos”... “mais um ato protesto forjado para desgastar a imagem do prefeito”... a “líder”, uma “radical” que, lembrando militantes do PSTU e do PSOL, não aceita diálogo, não quer conversa com as autoridades... e por aí construíam-se as interpretações sobre o fato...
Pobre radiojornalismo maranhense!
E a realidade impôs-se à versão do fato:
1) não havia líder...
2) não havia partido algum por trás...
3) a única coisa que “havia”: a FALTA DE POLÍTICA DE TRANSPORTES!
Suzane Sanches se tornou a expressão da gota d´água que transbordou no ineficaz Terminal da Integração da Praia Grande, na manhã daquela sexta-feira. Aquela que não aguentou e fez vir à tona a indignação de cidadãs e cidadãos que resolveram dar um grito contra um sistema de transporte público que mantém esses terminais como locais sujos, mal cuidados, espécie de depósitos de gado a ser transportado por ônibus “latas-velhas”, lotados e pertencentes a empresas que só visam ao lucro e não à prestação de um transporte de qualidade.
Como dizia a própria Suzane, “quem tem chefe é índio”. Ela não era líder, mas uma pessoa que tem o direito de exigir um transporte decente. Não era uma intransigente, mas uma cidadã que, juntamente com as centenas que se somaram ao protesto, não acredita mais nas promessas das autoridades municipais.
Na campanha, o prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PTC) prometeu um “GPS nos ônibus”, que possibilitaria ao passageiro saber o horário exato do ônibus. Suzane e os que aguardavam seus ônibus para o trabalho não tinham GPS algum ou qualquer justificativa para o atraso no serviço: é ponto cortado e pronto!
E mais: para ganhar o voto do eleitor, Holanda Júnior prometeu o BILHETE ÚNICO, um CORREDOR DE TRANSPORTES, a LICITAÇÃO DAS LINHAS DE TRANSPORTE, o VLS redimensionado. Como candidato, prometeu falar grosso com os empresários. Como prefeito, fala fino com os donos de ônibus, quando não fica mudo.
Empossado em janeiro de 2013, o prefeito pediu um tempo para reorganizar a casa. Até hoje, só o que mudou no transporte da cidade foram os secretários da SMTT: por lá já passaram três, mas é como se não houvesse nenhum.
Pressionado pelas manifestações de junho de 2013, o alcaide prometeu criar um Conselho Municipal de Transportes e tornar pública a planilha de cálculo do preço das passagens. Chegamos a março de 2014 e nem o Conselho foi criado e nem a planilha das tarifas foi tornada pública.
O prefeito teme a participação popular, por isso não cria o Conselho Municipal de Transporte? Do que tem medo, ao não tornar pública a planilha de cálculo das tarifas?
Não é a distorção do fato ou a espetacularização da notícia, na busca de saber para quem Suzane torce, o que faz da vida, de onde veio o que está em questão. O que está em foco é a absoluta falta de mobilidade em nossa cidade, o porquê a gestão municipal ser incapaz de cumprir suas promessas de campanha.
Ao invés de distribuir factoides, como o mais recente, de que as soluções do transporte da capital virão com os recursos garantidos junto ao Governo Federal, agora com o “BRT” (não é mais Bilhete único, nem GPS...), o prefeito deveria ouvir a voz das Suzanes e das ruas.
Ao inventar promessas atrás de promessas ao invés de dar conta aos problemas da cidade, a Administração municipal de São Luís assemelha-se ao melhor governo da vida da oligarquia, sobretudo na propaganda da televisão.
Não é por acaso que as pesquisas apontam tanto Roseana Sarney quanto Holanda Júnior com 70% de rejeição. Tão semelhantes em sua forma de governar, já faz lembrar aquela frase dos livros de História do Brasil Império: nada mais parecido com um conservador do que um liberal no poder...
Nada mais parecido com uma oligarquia do que uma oposição consentida no poder!
Nos transportes públicos, menos promessas mirabolantes, mais ação prefeito Edivaldo Holanda!


(*) Franklin Douglas -  jornalista e professor, doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve ao Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Publicado na edição de 23/03/2014, opinião - p. 03

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