Franklin Douglas (*)
Estudantes, organizações
populares e comunitárias ocuparam a Câmara Municipal de São Luís. Principal
reivindicação: POLITICAS PÚBLICAS! Que nossos governantes e representantes
trabalhem, sejam transparentes com os recursos públicos, viabilizem saúde e
transporte de qualidade e que, sobretudo, OUÇAM AS VOZES DAS RUAS!
Transparência com os recursos
públicos, onde exigem, por exemplo, a abertura da "caixa preta" que é
a planilha de cálculo das passagens de ônibus em São Luís. Qual o medo da
prefeitura em tornar pública essa planilha?
Ouvir as vozes das ruas. O que
temem os vereadores que não convocam uma sessão extraordinária com a presença
dos movimentos para ouvirem as suas pautas?
A resposta dos vereadores veio
por seu vice-presidente da mesa diretora, Astro de Ogum: "Não fui eleito
com seu voto!", disse ele a um dos manifestantes para, em seguida, ser
vaiado pelos demais presentes.
Em sua resposta, o edil sequer
entende o sistema pelo qual foi eleito, onde, passada a eleição, ainda que
tenha compromisso com seu eleitorado direto, ele passa a ser representante de
TODOS os eleitores da cidade, e não de seus próprios interesses privados.
Das entradas ao plenário da
Câmara Municipal, algumas portas têm uma placa com a frase "EXCLUSIVO AOS
VEREADORES"... ao que os manifestantes acrescentaram: Só Q Não!
Eis a mais forte simbologia dessa
ocupação. O plenário do parlamento municipal pertence ao povo!
Desde 1989, vereadores como
Kleber Gomes (eleito por comerciários), ou 1993, como Ademar Danilo (eleito por
regueiros), ou 1997, Helena Heluy, eleita por católicos e movimento de mulheres,
e Joan Botelho, eleito por professores e juventude; ou em 2001, como Haroldo
Saboia, eleito por setores médios e populares da cidade, que se tenta aprovar
um projeto de TRIBUNA POPULAR, onde as entidades pudessem subir à tribuna da Câmara
para falar diretamente sobre suas demandas.
A resposta da maioria
conservadora daquele poder legislativo foi não, não, não e não! Não a
comerciários, a regueiros, a católicos, às mulheres, a professores, à
juventude, aos setores médios e populares da cidade e ao povo como um todo! Há
uma ojeriza dos vereadores em dar voz às organizações populares.
Por que os vereadores repudiam tanto
a tribuna ao povo? Por que, ao invés de implantar a Tribuna Popular, os
vereadores fecham-se num sentimento de corporativismo intransigente?
A resposta dos vereadores à
ocupação dos estudantes e populares foi recorrer à justiça pedindo a
"reintegração de posse" da Câmara a eles... Não entenderam nada.
Cidadãos ludovicenses é que estão pedindo a reintegração de posse da Câmara ao
povo de São Luís!
Salvo 2004, quando enfrentou
protesto estudantil contra a personalização do passe escolar, a última grande
ocupação da Câmara Municipal de São Luís deu-se em 1981... pelos mesmos atores
(os estudantes) e mesmos pelos motivos
(o transporte público) de hoje. À época, Ditadura Militar, vindo de uma audiência com o governador João Castelo, o presidente da
Câmara dos Vereadores, Edivaldo Holanda, chegou anunciando que havia empenhado
a palavra no Palácio dos Leões de que a Câmara seria desocupada, de qualquer
jeito. À meia-noite, soldados isolaram a sede do Poder Legislativo municipal,
onde hoje funciona a Junta Comercial, e fizeram uma espécie de corredor polonês
de lá até a praça Benedito Leite e o comandante encerrou conversas com um “Chega
de bate papo, agora é porrada na moçada!”
Acaso 32 anos depois o filho, Edivaldo Holanda Júnior, repetirá o pai?
Será esta a sua resposta e de seus vereadores aliados à reivindicação dos
estudantes, de novo PORRADA NA MOÇADA? Por que o prefeito não aciona sua base
parlamentar para liderar o diálogo com os ocupantes?
O balanço da ocupação, divulgada pelos
manifestantes via redes sociais, tem sido este:
"Dias de ocupação - 04; Ocupantes - 110 pessoas; Comunidades
representadas - 16; entidades e movimentos sociais organizados - 18; assembleias
públicas - 07; aulas públicas - 03; danos às instalações do prédio - NENHUM (R$
0,00).
Vereadores
que compareceram - 10 (de 31!); pautas atendidas - zero/nenhuma; valor da
construção da nova sede da Câmara - 46 milhões de reais; lucro das empresas de
transporte público - ??? (ninguém sabe, ninguém viu)" (#Ocupação em números - atualizados
em 26/7/2013).
Quanto ao saldo da violência,
estará nas mãos da Polícia da governadora Roseana Sarney e na omissão do
prefeito e seus vereadores...
Aos invés de porra na moçada, dê
voz, tribuna ao povo, senhoras e senhores vereadores!
(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 28/07/2013, p. 16).
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